Focado, organizado, planeja a carreira com esmero e se entrega com amor, ousadia e muito profissionalismo a cada novo projeto e desafio. E sim, Marcos Veras também é o cara engraçado que o público se acostumou a ver em programas humorísticos. Mais que isso, é um cara que sabe levar a vida com seriedade, equilibrando tudo com leveza e bom humor, talvez aí esteja a razão do sucesso bater à porta (da frente) e levá-lo às telas da TV em uma novela das 21h. Verás, caro leitor, que o encontro desse artista com uma carreira de sucesso é bem merecido.
Do mundo digital para o papel. Essa é sua segunda capa MENSCH, só que desta vez na edição impressa. Como vê o jornalismo e o entretenimento em cada um desses formatos? Acredita que o papel vai “morrer” em breve? Bom, se depender do meu gosto, o papel nunca irá morrer. Ainda prefiro ler o jornal impresso, pegar na revista. É um ritual bacana. Claro que uso bastante a Internet pra me informar e me entreter, mas acredito que os dois veículos se complementam. Não tem como, por exemplo, o impresso concorrer com o imediatismo da Internet, onde acontece algo na cidade e logo já está na rede. Por outro lado, no impresso sinto talvez um cuidado maior com as matérias, talvez pelo mínimo de tempo que eles têm a mais em relação à internet. O papel está tendo que se reinventar, e isso é ótimo para todos.
O próprio “Porta dos Fundos”, no qual você participou por dois anos, surgiu e criou respeito por ser um programa na web. Hoje, vários veículos e canais estão partindo para essa nova realidade que é a web. O que acha disso? Como é também fazer parte disso (por conta do Porta)? O “Porta dos Fundos” profissionalizou o humor na Internet e revolucionou a publicidade na rede. Claro que ainda há espaço pra qualquer um gravar um vídeo de celular e postar, o legal da Internet é essa rapidez. Porém, hoje, muita gente antes de postar algo de humor ou qualquer tipo de dramaturgia, segue a linha do Porta. As empresas, por exemplo, querem mudar a forma de vender suas marcas, e muitas podem ter o receio de fazer algo diferente na TV e experimentam na Internet, se jogam, ousam. Acho que o Porta seguiu um caminho muito legal que já tinha sido aberto por vídeos que viralizaram como alguns stand-ups e clipes. O Porta produziu seu próprio conteúdo, seu próprio viral, usando a Internet como sua principal janela de exibição. Muitos grupos surgiram depois do Porta porque viram que era possível fazer um trabalho sem depender da TV, por exemplo. Hoje a web é pensada como o cinema, a TV, o teatro, enfim, mais um meio de comunicação oficial.
Falando sobre isso… Você vem de uma mídia mais antiga que é o rádio. Como vê hoje em dia o espaço do rádio? Ainda tem espaço para programas de rádio hoje em dia? Faço rádio há 12 anos e amo fazer. É uma escola. Aprendi muito nesse período. Muitos atores vieram do rádio. Não é o meu caso porque já fazia teatro, mas posso dizer que foi meu primeiro emprego como artista, meu primeiro contato com programa ao vivo, numa grande rádio. E desde que comecei ouvia que o rádio ia acabar, que estava ultrapassado – nunca acreditei nisso. No meu carro escuto rádio todos os dias, de informação a música, de programas de humor a futebol. O rádio também se reinventou, correu atrás usando a tecnologia a favor, usando o whatsapp onde os ouvintes podem mandar flagrantes, fazendo show de música, usando o humor cada vez mais. É um veículo íntimo do público. Quantas pessoas que trabalham de madrugada, por exemplo e que não podem ver TV, levam seus rádios de pilha pro trabalho como companheiro. A única coisa que ainda não consigo entender é a obrigatoriedade da “Voz do Brasil”. No Rio de Janeiro, por exemplo, é de segunda a sexta as 7 da noite em pleno horário de caos, onde você está no carro precisando saber por onde ir, onde está com obras… Isso sim é um retrocesso que o rádio ainda sofre.
Vivemos uma época de revolução da comunicação de modo geral? Onde cada um pode montar uma rádio, um site/blog e até uma TV na web sem necessariamente ter estudado ou ter técnica para isso. Isso te assusta ou instiga? Sou sempre a favor do estudo, da formação, porque senão vira um celeiro de aventureiros essa nossa profissão. Porém, há as exceções – pessoas que são extremamente talentosas e que se jogam num empreendimento e dão certo, fazem sucesso. O que faz a diferença é se essa pessoa depois que fizer esse sucesso imediato não correr atrás do estudo, do aperfeiçoamento – ela vai morrer na praia. Hoje o sucesso e o fracasso podem chegar com a mesma velocidade. Mas quem está melhor preparado, vai saber lidar com os dois momentos de uma maneira bem mais madura.
E essas “férias” do “Porta dos Fundos” tá deixando saudades? Sim, adoro o grupo e sou amigo de todos. Nos frequentamos sempre, saímos pra jantar, mas cada um tem sua carreira paralela ao grupo e nesse momento estou dedicado ao Encontro e ao novo desafio que é a novela. Costumo dizer que estou de licença porque eles fecharam com a FOX e eu tenho contrato com a TV Globo, mesmo assim, a Globo liberou vídeos meus de 2 anos atrás pra serem reprisados na FOX. Foi muito gentil por parte da emissora essa liberação. Fazer parte desse movimento só me dá orgulho. O Porta trouxe de volta o frescor que o humor brasileiro vinha perdendo, mas em breve mato as saudade porque vou fazer o filme do grupo.
Para alegria dos fãs você não vai sair do Encontro com Fátima Bernardes, qual a razão de ao invés de trocar, você acumular mais trabalho? A Fátima é irresistível? (risos) Sim, ela é. (risos). A Fátima é uma pessoa especial. A admiro, a respeito. E não sair do Encontro nem cogitamos essa possibilidade porque são produtos diferentes. De manhã estou como pessoa física, como Marcos comunicador, comediante. E à noite, como ator dando vida a um personagem, contando uma história. E além disso, sou louco por meu trabalho, adoro a adrenalina do ao vivo, dos desafios, gosto da correria.
Falando em acúmulo, você rodou 2 longas que estreiam agora em 2015, “Entre Abelhas” (provavelmente “Entre Abelhas” já tenha estreado até a publicação desta entrevista) e “O Troco”, e isso implica na maratona de divulgação, como conciliar tantos projetos que exigem tanto e ainda manter o bom humor? Sou um cara disciplinado. Tenho tudo organizado em relação à agenda, anoto datas, horários… Planejo a semana. E é claro que conto com pessoas que me ajudam nessa loucura, como as produções dos programas que faço, minha empresária, minha assessoria de imprensa, minha assistente… O Entre Abelhas rodei ano passado e está nos cinemas e adorei fazer porque é um filme diferente e com amigos. O Troco filmei em 2013 e será lançado em setembro. Lá eu faço um vilão, um papel diferente de tudo que já fiz e que as pessoas estão acostumadas a ver. Tem um super elenco – Debora Secco, Júlio Andrade, Lúcio Mauro Filho e a direção do André Moraes. Acho que isso é o suficiente pra manter o bom humor né?! (risos)
Em “Entre Abelhas” o seu personagem, o Davi é o macho alfa, pegador, trai a mulher e isso é muito “normal”. Como descreveria o homem atual e quais são suas maiores dificuldades nas relações? O Davi é um cara imaturo que acha que ainda tem seus 18 anos. É um babaca. A questão é que alguns homens não têm mais idade pra isso como é o caso do Davi que tem 35 anos, casado, trabalha, mas não liga pra nada disso. Acho que homem como Davi está mais raro, não porque o homem tenha mudado tanto assim, mas principalmente porque a mulher mudou. Hoje, qualquer mulher daria um pé na bunda de um homem como o Davi. Ela hoje não precisa mais desse cara. E por isso acho que o homem que é inteligente sacou isso e mudou um pouco a postura. Sempre fui namorador porque eu tive namoros longos. Meu menor namoro durou 9 meses, os demais, 2 anos, 4 anos e agora já estou há 10 anos com a Júlia, casados há 4. Nos damos muito bem, nos divertimos juntos, fazemos planos juntos, mas ao mesmo tempo, respeitamos nossas individualidades que, talvez, tenha sido a minha maior dificuldade no início – separar o espaço de cada um de nós. Fui com muita sede ao pote com a Julia e queria logo ficar junto, noivar, casar, era um pouco ciumento e com o tempo fomos nos entendendo e estamos aí, felizes.
“O Troco” é sobre um ator fracassado que consegue uma grana pra rodar um filme e convoca uma turma de amigos na mesma situação…Por que produzir ainda é tão difícil no Brasil? Cada vez mais difícil né?! Os teatros cada vez mais raros. No Rio, todo ano se fecha um teatro, e os que existem, alguns estão caindo aos pedaços. Uma pena. São poucas as salas novas, bem equipadas e essas são caríssimas pra uma produção que, mesmo com patrocínio, precisa de público pra ter um mínimo de retorno. O público cada vez mais longe do teatro porque a cultura não é prioridade. Até porque tem que comer, pagar a luz, aluguel e isso, cada vez mais caro, ou seja, é uma bola de neve. Tem produtor que prefere arriscar e bancar do bolso uma produção porque às vezes não tem habilidade ou paciência pra esperar a aprovação na lei que é confusa, e aí, depois, captar esse dinheiro numa empresa. Com patrocínio, ou não, sou a favor do artista empreendedor. Aquele que pensa, que produz, que escreve, que corre atrás e que é dono de seu negócio. Isso não anula você ser contratado pra uma grande produção, até porque isso também é bom, mas quando se sabe fazer sem depender de ninguém, o gostinho é diferente
E agora a novela “Babilônia”, horário nobre de uma grande emissora…Tá rindo à toa? Hahaha. Ri da pergunta tá?! (risos). Tô adorando fazer. Não vou esconder que estou muito feliz em estrear numa novela e logo cheia de vantagens. Elenco, autores, personagem e no horário nobre. É uma responsabilidade porque é uma exposição muito grande, parece seleção brasileira, onde todo cidadão tem o direito de ser técnico, dar pitaco na trama, nos personagens, isso é legal. É legítimo. É o público que consome isso há anos, é a hora que grande parte da família pára em frente à TV pra assistir à alguma coisa, então ela quer falar e quer ser ouvida.
Quais suas expectativas e como tem sido a construção do personagem? É muito diferente fazer novela? Pro ator é desafiador porque você vai descobrindo seu personagem no caminho. É uma espécie de ensaio de uma peça de teatro só que com ela já em cartaz. A cada capítulo que chega, você descobre algo interessante pro seu personagem. O Norberto é um cara tímido e que tem mania de organização. Me preparei pra fazer porque tive aulas de culinária com o chef Ricardo Lapayere na Casa Julieta de Serpa no Rio, tive aulas de clown com o Márcio Libar junto com o Igor pra gente investir na dupla cômica e também com o Igor. A gente vem fazendo um trabalho paralelo de estudo dos capítulos que chegam com a diretora teatral Miwa Yanagizawa. Estou adorando meus parceiros Gabriel Braga Nunes, Igor Angelkorte, Juliana Alves, Rosi Campos, Maria Clara Gueiros. A gente se diverte dentro e fora de cena.
E já que seu personagem é um chef de cozinha, qual sua especialidade nas panelas? No momento em casa venho fazendo muita tapioca e churrasco nos fins de semana. Tá bom né? Pra quem não era tão habilidoso.
O momento político do Brasil mais parece clássico no Maracanã, mesmo com ânimos tão acirrados o humor ainda cabe nesses assuntos? A política sempre foi matéria prima pro humor e agora não é diferente, só que a chapa tá quente e respingando cada vez mais na gente, cidadão. E a comédia tem a função não só de fazer rir, mas de também chamar atenção para o que está acontecendo.
O Brasil é mesmo o país da piada pronta? Infelizmente sim. Mas se você for perguntar pra comediantes de outros países, eles talvez respondam o mesmo. A política vai ser sempre alvo dos comediantes.
O que você não faria por fama ou dinheiro algum? Passar por cima de alguém, prejudicar alguém pra ter isso.
E o que o dinheiro compra que te dar um prazer danado? Comida e viagem. Meus dois programas preferidos. Amo conhecer restaurantes e gostaria de ter mais tempo pra viajar pelo Brasil e pelo mundo.
Você é casado com a atriz Júlia Rabello, que também tem uma veia cômica, o bom humor é o tempero que atrai as pessoas? Dá para manter o bom humor em casa mesmo com os probleminhas do dia-a-dia? O humor é sensual. Mais vale uma boa piada do que uma barriga tanquinho. Se tiver os dois, aí ninguém te segura. Mulher gosta de homem bem humorado, mas não gaiato que faz piada com tudo, sem noção e que não leva nada a sério. A Júlia é super bem humorada e os problemas do dia-a-dia, a gente, no final, acaba rindo de tudo e um dos dois já solta uma ironia, um deboche.
Que pai deseja ser e que filhos quer criar? Se eu puder ser parecido com o meu pai que criou três filhos trabalhando honestamente, sabia aproveitar a vida, tinha prazer em ver eu e meus irmãos felizes. Trabalhou a vida toda e quando parou de trabalhar não queria mais viver. Por isso quero trabalhar até os 100. E quero que meus filhos sejam como eu e Júlia, apaixonados pela vida, honestos e claro, bem humorados. Ah, e que sejam médicos pra cuidarem da gente.
FOTOS JEFF SEGENREICH
PRODUÇÃO EXECUTIVA MÁRCIA DORNELLES
STYLING SU TONANI
ASSISTENTE BRUNA MAGALHÃES
BELEZA MAX BITENCOURT
MARCOS VERAS VESTE – Look 1: Calça Handred, Colete de linho Handred, Camisa de linho Richards, Sandália Mr Cat, Pulseira Miriam Kimelblat; Look 2: Bermuda Foxton, Camisa de linho Richards, Sapato Reserva, Pulseira Miriam Kimelblat; Look 3: Malha Forever21, Calça Handred, Sandália Mr Cat, Chapéu de Palha Maria Antonieta, Pulseira Miriam Kimelblat; Look 4: Tênis Reserva, Camisa AD, Bermuda Reserva.
AGRADECIMENTOS ESPECIAIS
RELAIS & CHATEAUX HOTEL SANTA TERESA, Tel: 21-3380.0200 (locação) – www.santateresahotel.com