CRÔNICAS & INDAGAÇÕES: LINGERIE E O PÂNICO DE UM HOMEM NUMA LOJA NA HORA DA COMPRA

Se você é homem e tem ou já teve uma companheira, deve saber que nem sempre é fácil comprar um presente. Claro, no começo, dá pra ser criativo e variar bastante, mas chega uma hora em que a gente inventa de fazer algo diferente e, pior, ainda tenta apelar para a sensualidade. Sim, meu amigo, você já sabe do que eu estou falando. Em poucas situações o homem, por natureza abestalhado, é mais panaca do que comprando lingerie para dar de presente. Para começo de conversa, uma coisa tem que ficar clara logo de cara: ser confortável é uma coisa, ser sexy é outra. Dá para ser os dois ao mesmo tempo? Não, porque se cobra tivesse asa, mordia na jugular. Certo, voltando ao assunto.

Fiquei chocado quando me dei conta, dia desses, que calcinhas de vinil preto cuja parte traseira não passa de uma linha da espessura do meu cílio não são a primeira escolha de uma mulher no seu dia a dia normal. Pois é, eu sei, também fiquei decepcionado, mas quem poderia imaginar? Portanto, se você, homem imbecil, por motivos que desafiam toda a lógica humana, continua decidido a comprar lingerie, tenha em mente qual será o uso dela. Calçolão bege, daqueles abduzidos das gavetas das avós país afora, são perfeitamente aceitáveis no cotidiano e até desejáveis. Se você acha incrível passar oito horas ou mais montada em um salto agulha, experimente fazer isso usando fio-dental. Não, energúmeno, eu não falei literalmente. Vá tirar essa roupa e pare de tirar foto no espelho, os vizinhos não aguentam mais.

 

Mas então. Você decidiu insistir, caiu no estereótipo do macho teimoso e vai a uma loja especializada comprar a maldita roupa de baixo. Um lugar de bom gosto, elegante, especializado e, claro, cheio de vendedoras. Isso, do sexo feminino mesmo. Um bando extremamente atencioso de mulheres que nem sempre compreendem que a experiência toda pode ser um tanto traumática para um homem, especialmente os mais tímidos. Enquanto você passa pelos cabides, manuseando sutiãs meia taça e camisolas transparentes, e fingindo estar muito à vontade, as assessoras de vendas te acompanham passo a passo, cheias de perguntas pertinentes e sugestões construtivas.

– Moço, é pro dia a dia? Ou pro rala e rola?
– Essa aqui não, fica toda assada, sabe?
– É da normal, de renda ou de comer? Quer ver os sabores?
– Essa aqui é ótima, minha neta comprou uma igual, de vez em quando eu pego emprestada.
– Cuidado, moço, essa daí fica entrando.
– Como ela é? Baixinha? Mais fortinha? Chama Sicrana lá do estoque pra mostrar, que ela é gorda também!
Em uma loja de lingerie, todo diálogo é constrangedor. Todo.
– Essa calcinha é da boa, meu filho. Veja. Pegue. Pode pegar.
– Hmmm… É, é boa sim. Uma beleza. Bom, eu vou ness…
– É nova, sinta o cheiro.
-… oi?
– Novinha, pode sentir. Sinta.
A vendedora sacudia a peça de roupa debaixo do meu nariz, como se eu fosse um cão rastreador da polícia.
– É que tem mulher que experimenta no provador e depois põe de volta, sabe?

Às vezes, também pode ser perigoso. Em um dia no qual acordei particularmente imbecil, resolvi ir atrás de um presente diferente e original. Fui à loja, ensaiei o meu melhor sorriso e abordei a vendedora, uma senhora de óculos com um crucifixo de proporções razoáveis no pescoço. Meu objetivo era levar algo para a minha namorada, tão pequena e magrinha que frequentemente comprava na seção infantil mesmo.

– Bom dia. A senhora tem calcinhas sensuais para crianças?
– SOCORRO! PEDÓFILO!
– Pedófilo? Onde?
– AHHHHHHH, SEGURANÇA!
– Pera… não. A senhora entendeu errado, hahaha, veja que engraç…

Tive tempo apenas de ver um enorme punho agigantando-se em meu campo de visão. Por essas e outras, me recuso a dar lingerie de presente. Até porque, faz tempo que eu decidi que ela é o que menos importa. O recheio é muito mais legal.