No ar como um sujeito violento com a mulher, Adriano Toloza se mostra o inverso do seu personagem e espera que as cenas que vão ao ar possam servir de alerta e motivação para denúncias. De bem com a vida Adriano é esportista e precisou driblar a família oriunda do Direito para seguir a carreira artística, hoje são todos fãs e sentem orgulho do ator. No papel de um enfermeiro, Adriano ainda conversou com a gente sobre a polêmica da saúde pública no Brasil e dos planos para depois do fim da novela.
Conta um pouco da sua vida artística, como iniciou a carreira de ator? Em que momento decidiu por esta profissão? Estudo teatro há dez anos. Comecei a fazer por hobbie, durante meu período de faculdade. Cursava psicologia de manhã, administração de empresas à tarde, e comecei o curso Teatro Escola Célia Helena à noite. Quando comecei me apaixonei completamente. Aí foquei toda minha energia na arte e levei os últimos anos das faculdades “nas coxas” (risos), mas cheguei a me formar. Não tive o incentivo da minha família, pois ela é toda da área do direito. Meu pai é Juiz, minha mãe procuradora e meus avôs advogados, por isso queriam que eu cursasse direito, mas nunca me interessei e não é da minha personalidade fazer algo forçado que não me dá prazer. Só que mesmo não incentivando a minha carreira artística meus pais aceitaram e ainda me ajudaram financeiramente com os cursos. Se não fosse por eles não teria chegado aonde cheguei.
O primeiro curso que fiz foi o teatro escola Célia Helena, em São Paulo, fiz junto com as faculdades. Depois trabalhei com teatro profissional por alguns anos, cheguei a fazer cinco peças profissionais. Já trabalhei com os grupos Folias D’arte e o grupo Tapa. Durante esse período também dava aulas de interpretação teatral para os adolescentes detentos da Fundação Casa (antiga FEBEM). Sempre me deu prazer praticar trabalhos filantrópicos e quando ligados à arte, melhor ainda. Durante essa trajetória no teatro, fiz alguns cursos de interpretação para câmera, dentre eles Fátima Toledo e Escola de atores Wolf Maya. E no último semestre do curso Wolf Maya, rolou o teste para a novela. Passei por três testes e, no fim, fui aprovado.
Novela de horário nobre, mais exposição, divulgação, mas também maiores responsabilidades. Como lida com as críticas? Fui aprendendo a lidar com as críticas ao longo dessa minha trajetória e ainda estou, não é fácil (risos). É preciso saber distinguir quais críticas são válidas porque as pessoas podem mentir, tanto para te agradar como para te prejudicar. Nunca levei a sério os elogios dos meus pais, por exemplo, eles sempre acham tudo ótimo! (risos). Sempre dou importância às críticas da direção e de amigos em que confio. Mas a pior crítica de todas é a autocrítica, ainda mais numa novela das nove, em que você está contracenando com uns dos melhores atores do Brasil. Isso faz com que o público cobre uma perfeição. Só que não somos perfeitos. Temos que usar essa cobrança como um incentivo para melhorar sempre, e não como uma pressão para sermos sempre impecáveis. Por isso temos que estar equilibrados emocionalmente e mentalmente.
Fazer novela das 21h dá mais frio na barriga do que encarar o público ao vivo no teatro? Na hora de gravar não. Talvez nas primeiras semanas de gravação enquanto estava me ambientando. Dependendo da intensidade da cena dá mais frio na barriga quando vou assistira a cena na TV (risos).
Em Amor à vida você faz o papel de um sadomasoquista. E na vida real, até onde vai por prazer e fantasia? Não tenho prazer em sexo sadomasoquista. Nunca experimentei (risos). Acho que toda fantasia é válida, sendo de comum acordo entre o casal. Acredito que o prazer possa se estender até aonde vai o respeito com o próximo.
Esse lado violento do seu personagem Ivan te assustou em algum momento? Na verdade, sim. A última cena que gravei em que o Ivan espancava a Marilda na cozinha do hospital foi muito intensa. Tivemos uma preparação da direção e fomos bem a fundo. No fim da cena, a Renata Castro Barbosa, intérprete da Marilda, continuou chorando e aquilo realmente me comoveu, me fez sentir pena. E ai eu pensei, “Nossa, fui eu que fiz tudo isso? Será que eu seria capaz disso mesmo?” (risos). Me assustou um pouco, mas era porque eu estava imerso na cena. Depois o susto passou, mas a tristeza, o sentimento de pena continuou. Mas a tristeza não era pela Marilda em si, mas sim por todas as mulheres que sofrem violência doméstica. Cenas como aquela acontecem diariamente no Brasil e no mundo inteiro. Depois de gravar a cena rezei, pedi a Deus para que eu pudesse chocar, com a intensidade da cena, essas mulheres que são agredidas e ajudá-las a tomar uma atitude. E chocar principalmente os agressores; meu desejo é que eles se vissem num espelho, percebessem o quão cruéis são capazes de ser.
E como tem sido a reação das mulheres na rua? Nas ruas as mulheres brincam comigo, “cadê o chicote?”, “Por que você é tão ruim?” (risos), mas sempre com educação.
Na cena forte de ontem, Ivan espanca Marilda e é preso graças a Lei Maria da Penha. Você já conhecia essa Lei? Sim. Já conhecia. E fiquei sabendo que hoje em dia a vítima não pode mais retirar a queixa, o que acontecia com frequência. Elas denunciavam, e depois retiravam a queixa, e as agressões retornavam. Toda a mulher agredida deveria denunciar, quando não denuncia, é como se estivessem sendo cúmplices de um crime contra elas mesmas. Um homem que tem esse comportamento agressivo frequente, não mudará sem uma punição ou um tratamento. Achei que o final foi mais que merecido. Infelizmente não tenho argumentos para defendê-lo.
Você concorda que tapinha de amor não dói? Concordo. O que é de comum acordo é de comum acordo. Entre quatro paredes vale tudo! (risos). Só que não é o caso do Ivan. Além dos fetiches, dos desejos sexuais sadomasoquistas, ele tem um sério desvio de caráter, estende o prazer sádico da relação sexual para a relação como um todo; humilha e agride a Marilda dentro e fora do ato sexual, o que se torna, além de uma relação sado masoquista, um caso de violência doméstica.
Você faz a linha cabeça aberta ou acha que as mulheres precisam seguir algumas regras de conduta para serem consideradas “boas pra casar”? Mais ou menos (risos)! Venho de uma família bem conservadora, mas sou cabeça aberta para muitas coisas. É bom ter certo equilíbrio. O que eu não gosto é de mulher vulgar, aí não dá.
Seu personagem é da área de saúde e recentemente vivemos a polêmica dos médicos cubanos aqui no Brasil. Como vê a saúde pública e privada no Brasil e qual a sua opinião sobre a vinda dos médicos cubanos? Não preciso citar o quão precária é a saúde pública do Brasil. Tanto as condições dos hospitais, quanto o salário dos médicos. Não culpo os médicos brasileiros por não quererem, ou não poderem, trabalhar em lugares pobres, distantes e em péssimas condições; Nem culpo o governo Dilma por procurar médicos estrangeiros, desde que esses, sendo cubanos ou não, sejam bons médicos. A culpa toda dessa situação é da corrupção do nosso país. Se não fosse um país com um governo tão corrupto e o dinheiro público que é extraviado para fins privativos não fosse extraviado, daria e sobraria dinheiro, para reverter esta situação precária em que a saúde pública do país se encontra.
Por conta do Ivan, seu corpo vira e mexe fica á mostra na novela, como lida com o corpo em cena? Faria tudo por um personagem? Não tenho problema com exposição do corpo. Já fiquei totalmente nu em cena, em duas peças de teatro. Se está dentro do contexto da obra não vejo problema algum. Por um personagem que eu quisesse muito, acho que poderia fazer quase tudo (risos). Sem passar por cima de ninguém, jamais.
Como cuida da saúde do corpo? Adoro comer! Meu apetite é insaciável! (risos) Por isso faço esportes diariamente. Corro na orla, faço musculação, prático Bykram yoga, boxe, tênis e comecei a praticar kitesurf.
E da mente? A Yoga ajuda bastante. Gosto muito de ler também e estou sempre em contato com a natureza. Sempre que posso vou à praia fim de tarde, e fico meditando ao pôr do sol. Isso me ajuda a descansar a mente.
O personagem é garanhão, mas e você? Faz a linha namorador ou solteirão convicto? O que atrai mais as mulheres? (risos) No momento estou mais pra solteirão, mas não convicto (risos)! Estou solteiro há quase cinco anos, estou sentindo falta de uma namorada. Não acredito que tenha uma regra… Tem mulheres que preferem os românticos e outras que preferem os garanhões, e têm também, infelizmente, mulheres como a Marilda, que aguentam durante anos homens que às maltratam.
O ritmo de novela geralmente é intenso, mas nos momentos de folga, o que costuma fazer? Amo praia! Esportes. Sou viciado em seriados. Adoro ficar com meu cachorro. Gosto de jantar fora, ir ao teatro, cinema e sair com os amigos.
Já tem planos para depois do fim da novela? Sim. Teatro. Estou sentindo muita falta dos palcos. E estou abrindo uma empresa com a minha amiga Drica Donato. Vamos promover workshops de fotografia e interpretação para TV e cinema. Por enquanto pretendo permanecer no Rio de Janeiro.
Fotos Drica Donato (www.dricadonato.com)
Beleza: André Accioly
Agradecimentos: Vivian Ghreice