Quando fez sua estreia nos palcos Flávio Tolezani encarou duas histórias bem marcantes, ‘Ensaio Sobre a Cegueira’ e ‘Otelo’. Era meio que uma preparação para o que viria pela frente em sua trajetória como ator. Na TV não foi diferente, sempre com personagens marcantes e com muita personalidade. E Flávio dá a todos eles o valor de um protagonista tamanho sua dedicação em atuar. No momento, Flávio voltou ao ar com seu personagem Victor, na badalada série DOM (Amazon Prime), um policial pai de um filho bandido. Intenso e dramático com Flávio bem gosta. Bicho do teatro, na sequência já ensaia seu novo espetáculo para voltar para sua ‘casa’, os palcos. Mas antes, um bom papo aqui com a MENSCH para contar um pouco dessas aventuras.
Flávio, o que foi mais difícil de encarar na trajetória de Victor Dantas ao longo dessas duas temporadas de DOM? Talvez o mais difícil de encarar na trajetória seja também o mais interessante – a intensidade dos acontecimentos. Victor está na maior parte do tempo operando em temperaturas altas. São poucos os momentos de leveza, ou melhor, quase inexistentes. A atenção tem que ser alta para que, na hora de filmar, essa pulsação não esteja abaixo do que a cena pede. Isso demanda um cuidado mental e corporal. Impossível manter a energia se o corpo não tem para dar. Por isso, entre outras coisas, um bom preparo físico é fundamental para estar disponível.
Você como pai muitas vezes se identificou com o seu personagem na série? É provável que todos os pais se identifiquem com alguma passagem. Acho que a dúvida, a incerteza de como nossos atos vão repercutir nos filhos é uma questão universal. Tem uma fala do Victor que diz exatamente isso: “às vezes a gente leva uma vida inteira pra saber se acertou ou errou”.
Como pai o que mais lhe chocou na relação do seu personagem Victor e os filhos? Acho difícil dizer que alguma coisa me chocou. Na construção do personagem, a gente procura não julgar seus atos para que não resulte numa atuação crítica. Mas posso dizer que a atitude mais extremada e que gerou graves conseqüências, foi a decisão em interná-lo na Febem.
Seu personagem Victor Dantas, erra mais como policial ou como pai? Tentando acertar, diria que errou mais como pai.
O que lhe atraiu mais quando recebeu o convite para participar da série? Num primeiro momento, o que mais me atraiu foi a forma apaixonada com que o Breno me contou a história. De verdade, a história é muito boa, mas ouvir sair da boca dele me deixou fascinado. Pude entender a complexidade do Victor e toda a riqueza das relações que se dariam na trama. Coisas que me deixaram louco pra fazer essa série – Breno dirigindo uma história sobre pai e filho, coisa que sabia fazer tão bem. Um personagem que era um prato cheio para passar por lugares que saem da curva da normalidade. Ter um parceiro como Gabriel Leone.
E como foi sua preparação? Afinal deve ter sido bem pesada. A preparação foi algo muito especial. Além da minha busca e estudo individual, tivemos um tempo longo de encontros para leituras, conversas e ensaios. Pudemos, ali, desenvolver as relações – o que acredito ser o eixo condutor de qualquer história. Essa troca entre todos do elenco fez com que tivéssemos uma construção bastante sólida e com uma linguagem em comum mesmo em épocas diferentes da história. Um exemplo claro disso, é o trabalho feito entre eu e Filipe Bragança para que nosso Victor tivesse o mesmo corpo, a mesma forma de pensar. E tive aulas especificas para demandas do personagem, como aulas de mergulho e de moto.
Chegou a trocar ideia com Tony Bellotto (autor do livro que originou a série)? Não. Só falei com o Tony depois de já ter gravado a primeira temporada. Todo nosso canal era o Breno. Ele nos colocava todas as impressões que teve e que escutou do Victor Lomba. Tony foi fundamental nessa coleta e elaboração do livro, que é fonte importantíssima para o roteiro.
Como está sendo a repercussão dessa 2a temporada? As pessoas estavam ansiosas, esperando por essa temporada. E a repercussão está sendo enorme e muito positiva. Chegam muitas mensagens do Brasil e do mundo todo. É realmente impressionante o alcance que essa serie tem em culturas, as mais variadas, pelo mundo.
Coincidência ou não, você tem tido uma seleção de personagens fortes, polêmicos e bem distintos ao longo da sua carreira. Como se sente olhando sua trajetória até aqui? Foi tudo planejado ou foi acontecendo? Acho que não é um planejamento claro, mas de alguma forma, acabo escolhendo o que me agrada. O que sei que me provoca e me instiga artisticamente. Se não for assim, não tem nenhum sentido pra mim. Olho pra trás e gosto dessa variedade. Gosto de ver que me diverti. Polêmicos, talvez por serem extremados e muitos deles causarem alguma discussão pertinente. Gosto de enxergar, quando possível, uma função social nesses trabalhos. E isso aconteceu bastante.
Onde se sente mais desafiado num novo trabalho? O que lhe motiva?
Acho que o desafio maior é lidar com tanta gente nova. A cada trabalho um novo coletivo se forma e a construção dessas relações é que vai determinar o resultado.
Tanto as relações do dia a dia com toda a equipe, quanto às relações entre os personagens. Me motiva poder, dentro de tudo isso, ter uma troca verdadeira na hora de rodar as cenas. É tão bom olhar nos olhos do parceiro de cena e sentir a cumplicidade e a disposição para vivenciar aquele recorte da história.
Deixando os personagens de lado, como você se vê? Quem é Flávio Tolezani hoje em dia? Me vejo em constante transformação e a maturidade está me trazendo bons frutos. Tenho vontade de fazer muita coisa ainda, muitos personagens. Há pouco tempo, isso me gerava alguma ansiedade. Hoje não. Hoje foco no presente e sei que esse é o melhor momento.
Trabalhar por obra lhe deixa mais livre ou mais inseguro? Como você vê isso? Acho ótimo. Sempre trabalhei assim e não senti necessidade de ser de outra forma.
Qual sua maior vaidade como homem e como ator? Ser escutado.
Hora de relaxar… o que procura? O que procuro? Tanta coisa… Se é pra relaxar, eu procuro assistir um bom teatro. Nem sempre saio relaxado, mas saio feliz por ter presenciado um acontecimento artístico único. Nas folgas mais longas, gosto de me refugiar no meio do mato. Um lugar que me renova é o campo, a mata, a montanha.
Projetos futuros, o que vem pela frente? Novos trabalhos? Uma bela viagem? Dias de ócio? Não lido muito bem com o ócio. Estou errado, eu sei, mas preciso produzir. Amo o que faço e me desgasta estar parado. Tenho como próximo projeto, um espetáculo que vai estrear no início de junho em São Paulo. Começo a ensaiar agora em abril com grandes parceiros de cena e o diretor com quem mais trabalhei na vida, Marco Antônio Rodrigues. Tenho ele como meu maior formador e uma referência. É um texto escocês chamado Gagarin Way. Volto para o palco, lugar que preciso sempre estar. É onde comecei tudo e para onde preciso sempre retornar. Quase uma dependência.
Fotos Vinícius Mochizuki
Edição de moda Alê Duprat
Styling Kadú Nunnes
Assessoria Equipe D Comunicação