COMO EMPRESÁRIO E PILOTO, LEONARDO SANCHEZ ESTÁ ACOSTUMADO A VENCER, MAS SEU MAIOR TROFÉU É ALCANÇAR A HARMONIA ENTRE OS VALORES FAMILIARES E A PAIXÃO PELA INOVAÇÃO NOS NEGÓCIOS DO GRUPO NC
Por Isabelle Barros
Nas lembranças de infância de Leonardo Sanchez, acionista do Grupo NC (as siglas NC vêm das iniciais dos nomes Nanci e Carlos, filhos do fundador da farmacêutica EMS, Emiliano Sanchez) e membro do conselho de administração da EMS, maior indústria farmacêutica brasileira, família e trabalho são indissociáveis. “Nasci praticamente dentro da fábrica da EMS, empresa fundada por meu avô, Emiliano Sanchez. Nos finais de semana, eu e meu irmão, Marcus, brincávamos de descarregar caminhões. Aos 6, 7 anos, minha avó nos pegava na escola e nos levava direto para a indústria para embalar caixinhas de medicamentos. Era algo lúdico para nós”. Aos 40 anos, o empresário é um apaixonado por inovação, investindo muito do seu tempo no fomento à pesquisa e desenvolvimento nas empresas farmacêuticas do Grupo NC. Sanchez também tem a função de desbravar novas frentes de negócios para o conglomerado, em áreas variadas como private equity, comunicação, energias renováveis, mercado imobiliário e biotecnologia.
“Somos muito otimistas com relação ao Brasil. É um mercado que cresce bastante e somos uma das empresas que mais investe em pesquisa e desenvolvimento na indústria farmacêutica brasileira”, ressalta Sanchez. O sucesso da EMS, onde Leonardo começou a trabalhar aos 16 anos, reinventou o mercado farmacêutico nacional com seu pioneirismo na fabricação de medicamentos genéricos. A vasta experiência corporativa acumulada pelo empresário o levou a ousar e a estruturar novas empresas para o Grupo NC. “Atualmente, estamos na vanguarda na área de pesquisa e desenvolvimento no Brasil. Adoro quando me dizem que algo é impossível, porque, ao me desafiar, consigo tornar as coisas possíveis, junto com uma equipe muito competente. Gosto muito de conversar com médicos, químicos, biólogos, farmacêuticos para saber das novidades em suas áreas”.
De todas as empresas geridas por Leonardo, uma delas tem significado especial – a Underskin, fundada por ele em 2015. “É uma homenagem à minha mãe, Nanci, falecida em 2009. Ela tinha o desejo de desenvolver uma linha de dermocosméticos brasileiros, algo que ainda não havia no país. Para tornar isso realidade, fundei um centro de pesquisa em 2011, a Luxbiotech, fizemos uma colaboração e transferência de tecnologia com uma empresa italiana, a Montereseach, e lançamos a empresa”. A Underskin começou com dermocosméticos e, atualmente, também oferece medicamentos e produtos contra queda de cabelo. Em 2017, a empresa foi internacionalizada, com abertura nos Estados Unidos. “Hoje somos relativamente importantes no mercado da beleza. Ainda não estamos no patamar de uma L’Oreal, mas chegaremos lá”, confia.
A EXCELÊNCIA NOS NEGÓCIOS
O Grupo NC também se destaca por manter a harmonia nos negócios há três gerações, desde que o espanhol Emiliano Sanchez fundou, em 1950, a Farmácia Santa Catarina, em Santo André (SP). O filho de Emiliano e tio de Leonardo, Carlos Sanchez, é presidente do Grupo NC. O irmão, Marcus, é o vice-presidente da EMS. O conglomerado chama atenção por seu desempenho empresarial e não por notícias sobre conflitos internos e problemas de sucessão, comuns em empresas familiares. “Algum dia vou escrever um livro sobre gestão familiar para falar sobre nossa experiência. Muita gente me pergunta qual é o segredo. Na minha opinião, é saber exatamente o que cada membro da família faz bem. Meu tio é bom em tudo, não tem nem como competir. Meu irmão entende, como ninguém, da parte comercial do grupo. Sou bom em pesquisa e desenvolvimento, em novos negócios. Meus dois primos também trabalham no grupo e nos damos muito bem. Os problemas acontecem quando as pessoas querem impor seus pontos de vista e desconsiderar as opiniões alheias. Não há problema em discordar. O importante é a discussão não virar uma briga”.
DO ESCRITÓRIO PARA AS PISTAS DE CORRIDA
Ao trocar a vida de executivo, sem horários e sem férias, pela vida menos corrida de acionista, Leonardo desacelerou a rotina. Com mais tempo livre, o empresário descobriu um hobby que rapidamente se tornou uma segunda natureza – o automobilismo. A paixão pelas corridas é tanta, que Sanchez lembra nitidamente o que aconteceu no dia em que tudo começou – 18 de agosto de 2018. “Era aniversário do meu sobrinho e um amigo meu disse que eu precisava conhecer uma pessoa. Era o piloto Lauro Traldi. Perguntei se ele era jogador de vôlei ou basquete, pois a EMS tinha um patrocínio forte nesses esportes e eu não conhecia o mundo do automobilismo. Lauro explicou que era piloto de corrida e agradeceu a EMS pelo patrocínio dado a ele – sendo que eu não sabia disso. Meus amigos começaram a brincar, a dizer que eu ia virar piloto e falei ‘Taí, vou ser piloto mesmo’. Fiz curso de pilotagem e Átila Abreu, que também era patrocinado pela EMS, disse que ia me ajudar. Ele se tornou meu coach. Fui pegando gosto, aprendendo. Carro de corrida é como andar de bicicleta, só se aprende treinando! Aí eu me descobri”.
De acordo com o empresário, embora o automobilismo seja uma atividade imensamente prazerosa, é preciso apresentar resultados, assim como no mundo corporativo. Como piloto, Sanchez estreou individualmente na Stock Light em 2018 e também fez parte da categoria em 2019. Junto com Átila Abreu, foi bicampeão da Porsche Endurance Series, na categoria GT3 Sport, em 2019 e 2020. Também com Átila, Leonardo venceu a Endurance Brasil na categoria GT4 em 2020 e a Cascavel de Ouro GT3 em 2023. “Quando comecei no automobilismo, todo mundo me chamou de louco. Há uma linha tênue que divide a genialidade e a loucura, e essa linha é o resultado do que você faz. Quando você apresenta o resultado, você é genial. Caso contrário, você é louco. Então acho que não sou louco”, afirma, bem-humorado.
Para conciliar duas atividades tão exigentes – a de empresário e a de piloto – , Leo tem a ajuda da tecnologia e de uma rotina bem planejada. “Graças a Deus inventaram as videoconferências e o WhatsApp. Estou online sempre que posso e sempre que precisam de mim. Tenho conseguido dividir bem minha agenda. embora, logicamente, as corridas interfiram um pouco na minha vida profissional. Às vezes, preciso fazer uma reunião presencial ou estar em algum lugar específico, mas, nas semanas em que vou correr, eu ‘desligo’ da quarta-feira em diante, porque o automobilismo exige muita concentração. Em um carro de corrida, não posso receber ligações ou me preocupar com problemas urgentes para resolver. Se eu fizer isso, meu desempenho nas pistas será ruim, pois minha mente estará focada em outras coisas”.
Quando não está nas pistas e nem trabalhando, Leonardo prefere desfrutar da companhia da família e viajar – a Disney é seu lugar favorito, por evocar memórias afetivas com os pais, já falecidos. Sua preocupação é a de repassar, junto com a esposa Caroline, valores sólidos para os três filhos. “Sempre fomos comedidos, não gostamos de ostentar nem de achar que somos melhores do que ninguém. Tive essa educação da minha avó e da minha mãe. Também ajudamos instituições, não apenas com dinheiro, mas com apoio, com assessoria técnica. Minha esposa faz trabalho voluntário em uma creche e meus filhos a acompanham e a ajudam, mesmo que ainda sejam pequenos. Também tento dar a eles uma boa educação e quero que eles estudem fora do país. Era algo que eu queria ter feito, mas não aconteceu. Também desejo vê-los trabalhando fora das empresas da família antes de trabalharem conosco, caso tenham vontade. Assim, eles serão tratados pelo que são, e não pelo pai e mãe que eles tinham”.
Fotos Lu Prezia
Assistente Paulo Hirayama Vídeo Ana Prereira
Direção e coordenação de produção Caio Fischer
Assista um pouco dos bastidores do ensaio: