Por Ivan Reis
O retorno às atividades presenciais marcou, nos últimos meses, a ocupação de espaços que estavam com as portas fechadas devido à pandemia. Modernas, imersivas e com inúmeros recursos sensoriais e tecnológicos, exposições de arte chegam a São Paulo em formatos e estilos inusitados de artistas de diferentes gerações. Espalhadas pela capital paulista, as mostras estão em cartaz ou recebem o público nos próximos meses. Em meio ao clima urbano das ruas, é possível aguçar os sentidos com arte na cidade grande.
NOVO ESPAÇO
A Pinacoteca de São Paulo, museu da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado, celebrou a inauguração da Pinacoteca Contemporânea no mês passado. Integrado aos outros dois edifícios do museu – a Pinacoteca Luz e a Pinacoteca Estação -, o prédio é um dos maiores museus de arte da América Latina, com 22.041 m², e potencial para receber até 1 milhão de visitantes por ano. O projeto foi pensado para ser integrado ao centenário Parque da Luz e aos bairros do Bom Retiro e da Luz. “Localizado ao redor de uma grande praça, aberto ao parque e à livre circulação do público, o edifício da Pinacoteca Contemporânea promove o encontro e o diálogo, de forma acessível e inclusiva, fomentando a diversidade, a educação e a sustentabilidade”, explica Jochen Volz, diretor geral do museu.
Para o novo espaço, foram mantidos dois blocos. Um mais antigo e outro da década de 1950, de autoria do arquiteto Hélio Duarte. Conectando as duas construções, há uma grande praça pública coberta, com 1.339,2 m², e um pavilhão onde está localizada a Galeria Praça, com 200 m², dois ateliês para atividades educativas e a loja do museu. Com 1.000m², a Grande Galeria, situada no subsolo, e um mezanino com vista para o Parque da Luz, onde está a cafeteria, complementam o projeto. Para este ano, há uma programação variada. Desde a inauguração, a Pina Contemporânea recebe o público com obras do acervo da Pinacoteca, como a mostra Chão da praça até 30 de julho, com curadoria de Ana Maria Maia e Yuri Quevedo, e obras da coreana Haegue Yang, destaque no cenário da arte contemporânea, até 28 de maio, na Grande Galeria.
ENCONTRO DE GERAÇÕES
Até o fim do mês, a capital paulista também recebeu exposições imersivas e interativas. The Art of Banksy: Without Limits reúne mais de 150 obras entre originais certificados, gravuras, fotos, litografias, esculturas, murais, instalações de video mapping, além de um documentário em vídeo com informações sobre a vida e a obra do artista.
Banksy é um artista que adora provocar, chocar e até perturbar a sociedade com poesia, humor e uma capacidade enervante de penetrar o cerne de cada questão. A mostra de São Paulo entrega uma experiência com algumas obras, como Gangsta Rat, Monkey Queen, Game Changer, além das icônicas e celebradas Flower Thrower e Ballon Girl. Os itens estão distribuídos em 14 ambientes, incluindo uma sala dedicada à Ucrânia com intervenções feitas em uma área bombardeada na guerra com a Rússia. Nesta seção, há um vídeo sobre o drama dos refugiados ucranianos criado pela VVolunteer, plataforma de ação social e ajuda humanitária que fechou parceria com a exposição para arrecadar doações. Existem QR Codes espalhados para quem quiser doar e ajudar a causa.
Para Rafael Reisman, produtor executivo da exposição, a presença de Banksy é constante. “A mostra foi preparada para que, em vários momentos, as pessoas consigam se sentir inseridas no ambiente de algumas de suas criações, estejam com ele no momento e no local em que sua arte foi gerada”, explica.
Divindo o mesmo espaço, Frida Kahlo: A Vida de Um Ícone aborda o legado da mexicana que fez de si a própria musa e esgarçou as dores e as mazelas de seus dramas, tornando-se um ícone feminista. Depois de temporadas na Europa, América do Norte e Salvador, a exposição chega à capital paulista em uma proposta inovadora sem apresentar fisicamente os trabalhos da artista. Fotografias históricas, filmes originais, ambientes digitais, instalações artísticas, itens de colecionador e música original fazem parte do trajeto em que o público é convidado a mergulhar nos momentos mais relevantes da vida da artista e nos valores que ainda ressoam de sua obra. Existem ambientes que simbolizam e recriam fatos marcantes, como O Instante, holografia que reproduz o acidente de bonde e O Sonho, instalação que explora a imaginação e os sentimentos de Frida durante sua recuperação na cama, lugar onde criou grande parte de suas obras.
No salão principal, é possível fazer uma viagem sensorial em 1000 metros quadrados de telas projetáveis pelo Universo de Frida, onde o espectador se mistura às obras enquanto se entrega à profusão de cores e movimentos com imagens de sua infância e adolescência. Em realidade virtual, a experiência Cadrave Exquis, inspirada nas obras de Frida, explora seu imaginário particular. Outra atração é a Cabine Fotográfica com tecnologia capaz de identificar rostos e recriar retratos únicos com técnicas de colagem.
PARA ENCHER OS OLHOS
Até 30 de abril, Michelangelo: O Mestre da Capela Sistina está em cartazno MIS Experience, instituição da Secretaria da Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo. A reprodução gigante do teto da Capela Sistina, com estrutura criada para essa exposição, proporciona uma experiência imersiva inédita. Com recursos de alta tecnologia de animação e sonorização, a mostra mergulha nos detalhes das obras de Michelangelo.
Em 14 salas expositivas, a exposição traz, além da sala com projeções gigantes no teto e nas paredes, espaços dedicados à arquitetura, história e curiosidades da Capela Sistina. Há uma sessão dedicada ao Conclave, reunião dos cardeais para escolher um novo Papa, assim como a réplica da chave da Capela Sistina, trazida diretamente do Vaticano. Os conteúdos das salas, elaborados pelo curador da mostra, o professor e historiador de arte Luiz Cesar Marques Filho, trazem informações sobre a construção e as tradições da Capela, com destaque para uma maquete que reproduz afrescos de seu interior.
No percurso, há desenhos, estudos e projetos do artista renascentista Michelangelo. A reprodução em larga escala de seu ateliê apresenta gravuras gigantes das obras, cartas, manuscritos e documentos. As réplicas das esculturas selecionadas contemplam diferentes fases do artista, como “Madonna da escada” (1491), “Centauromaquia” ou “A batalha dos centauros”. Todos os itens são homologados por instituições italianas que preservam o legado do artista. As nove réplicas de esculturas foram produzidas em Florença, na Itália, pela Gipsoteca dell’Istituto D’Arte di Firenze.
Até 18 de junho, Imagine Picasso Brasil – A Experiência Imersiva reúne mais de 200 obras-primas de Pablo Picasso, artista espanhol consagrado e um dos mais influentes do século 20. Em 78 anos de trabalho, produziu mais de 120 mil itens entre pinturas, desenhos, gravuras, esculturas e cerâmicas. A exposição utiliza a tecnologia Image Totale©, conceito original e inovador criado pelo jornalista e especialista em imagem Albert Plécy em 1977. Convidados a entrar nas obras de Picasso por meio de uma viagem multissensorial, os visitantes terão contato com as influências do artista, conferindo o estilo cubista de sua produção diversa, única e intensa.
“Quando eu tinha 15 anos, sabia desenhar como Rafael, mas precisei de uma vida inteira para aprender a desenhar como as crianças”, declarou Pablo Picasso. A exposição também destaca a inspiração no universo da infância do artista para a produção de origamis, cerâmicas e histórias. Picasso reforçava a ideia de que toda criança é um artista nato, cabendo a cada um criar caminhos para manter vivo o olhar de artista despertado. A experiência convoca os admiradores e as novas gerações ao encontro com o artista, celebrando sua obra e permanência na história da humanidade.
CLÁSSICOS REVISITADOS
Um dos museus mais icônicos de São Paulo recebe obras que tratam de temas sobre a formação da arte brasileira. O Museu de Arte de São Paulo (Masp) abrigará a mostra Paul Gauguin: O Outro e Eu, de 28 de abril a 6 de agosto. Esta será a primeira exposição a problematizar a relação do artista com a ideia de alteridade e da exotização do “outro” com foco em dois temas: autorretratos e trabalhos produzidos no Taiti (Polinésia Francesa), onde realizou suas pinturas mais conhecidas e passou a maior parte de sua vida. Seus trabalhos suscitam temas como noções de primitivismo, um imaginário sobre o “exótico” e os “trópicos”, e apropriação cultural; além de questões relacionadas à sexualidade, androginia e erotização do corpo feminino. A mostra enfatiza a tensão entre a biografia do artista, a imagem que criou de si mesmo, e a maneira como sua obra reforçou um imaginário sobre o “outro”. O Taiti que Gauguin representou ia além da realidade encontrada por ele, reproduzindo as fantasias que um homem europeu tinha de uma ilha paradisíaca, intocada pela “civilização” europeia.
Os visitantes podem conferir trabalhos do artista reunidos por meio de empréstimos internacionais de museus como Metropolitan Museum (Nova York), National Gallery of Art (Washington), J. Paul Getty Museum (Los Angeles), Musée d’Orsay (Paris), Tate (Londres), National Gallery (Londres), entre outras instituições dos Estados Unidos e da Europa.
Chagall é outro artista emblemático para quem é dedicada uma mostra. Chagall: Um Sonho de Amor está de portas abertas até 22 de maio no Centro Cultural Banco do Brasil de São Paulo. A instalação contemporânea Air Fountain, cedida pelo artista norte-americano Daniel Wurtzel a pedido da organizadora Cynthia Taboada, recebe o público para uma seleção de obras que remetem a diferentes fases da vida do artista.
A exposição está dividida em quatro seções. Os trabalhos retratam origens e tradições russas; o amor e o exílio na representação do mundo sagrado; o lirismo e a poesia, além do amor transcendente e uma ode ao sentimento de estar apaixonado. Sobre suas origens, Aldeia Russa, de 1929, e Vendedor de Gado, de 1922, são trabalhos que mostram a vida campesina da infância e adolescência no vilarejo de Vitebsk. Deste período, a série gráfica inspirada nas fábulas de La Fontaine, escritor francês do século 17, mergulha no universo onírico e reflexivo das fábulas, atraído por uma forma tradicional da arte popular russa.
As obras relacionadas aos textos sagrados e ao universo espiritual de Chagall compõem o segundo bloco da exposição, intitulado Mundo Sagrado, que se subdivide em Bíblia e A história do Êxodo. Nele, se destacam as pinturas No caminho, o asno vermelho (En route, l’âne rouge), de 1978, e Davi e Golias (David et Goliath), de 1981. Em Um poeta com asas de pintor, terceiro segmento da exposição, há a reunião de trabalhos ligados ao regresso de Chagall do exílio nos Estados Unidos. Em sua casa em Saint-Germain-en-Laye, nos arredores de Paris, Chagall recebia visitas de amigos intelectuais e poetas, tais como Paul Éluard, Yvan Goll, Pierre Reverdy e Aimé Maeght, além do editor grego Tériade, responsável pela publicação de livros de arte com obras do pintor.
No quarto e último módulo da mostra – O amor desafia a força da gravidade -, o sentimento de amor, a sensação de estar apaixonado e o enlace dos enamorados são os temas das pinturas, reforçando o fato de o amor ter sido a força motriz do artista. Ao seu lado, a musa e primeira esposa, Bella Rosenfeld, com quem partilhava uma visão muito particular de perceber e habitar o mundo. Apesar de sua morte prematura, Bella continuou a inspirar trabalhos de Chagall. Nesta seção, encontramos Buquê de rosas (Bouquet de roses), de 1930, Os amantes com buquê de flores (Les amoureux au bouquet de fleurs), de 1935-1938, entre outras obras.
Um dos propósitos da exposição é aproximar o público do artista, proporcionando uma imersão em seu universo vibrante e poético. Para Lola Durán Úcar, curadora da mostra, a seleção dos trabalhos gera uma experiência única na qual é possível “dialogar e se sentir tocado pelos diversos sentidos do amor que perpassa a obra de Chagall, […] num momento de fragilidades mundiais”, completa a curadora.
SERVIÇO
PINA CONTEMPORÂNEA
Quando: de quarta a segunda, das 10h às 18h / Onde: Avenida Tiradentes, 271 – São Paulo/SP / Ingressos: R$ 20
THE ART OF BANKSY: WITHOUT LIMITS E FRIDA KAHLO: A VIDA DE UM ÍCONE
Quando: até 30 de abril / Onde: Shopping Eldorado (Av. Rebouças, 3.970 – Pinheiros – São Paulo/SP) / Horários: Segunda a sábado das 10h às 22h (última entrada até 21h20) | Domingo das 11h às 21h (última entrada até as 20h20). / Ingressos: eventim.com.br
Valores para cada exposição separadamente: Segunda-feira a quinta-feira: R$ 90 (inteira) e R$ 45 (meia-entrada). Sexta-feira a domingo e feriados: R$ 130 (inteira) e R$ 65 (meia-entrada). VIP Experience: R$ 170 – Valor único com direito a atividade VR (apenas em Frida Kahlo), entrada sem filas e sem horário marcado, além de brindes.
MICHELANGELO: O MESTRE DA CAPELA SISTINA
Quando: até 30 de abril / Onde: MIS Experience (Rua Cenno Sbrighi, 250 – Água Branca – São Paulo) / Horários: Terças, quartas, quintas, sextas e domingos: 10h às 18h; sábados e feriados: 10h às 19h. / Valores: Gratuito às terças; quartas a sextas: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia); sábados, domingos e feriados: R$ 50 (inteira) e R$ 25 (meia). Crianças até 7 anos têm entrada gratuita. / Ingressos: site michelangelocapelasistina.com.br, e nas bilheterias do MIS Experience
IMAGINE PICASSO BRASIL – A EXPOSIÇÃO IMERSIVA
Quando: Até 18 de junho / Onde: Morumbi Shopping (Avenida Roque Petroni Júnior, 1089 / Estacionamento G4 – São Paulo, SP) / Horários: de segundas a quintas: das 10h às 22h, sextas e sábados: das 10h às 23h, domingos e feriados: das 10h às 21h. / Ingressos: Bilheteria local e mais informações pelo site imagine-picasso.com
PAUL GAUGIN: O OUTRO E EU
Quando: De 28 de abril a 06 de agosto / Onde: MASP — Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (Avenida Paulista, 1578 – Bela Vista, São Paulo, SP) / Horários: terça grátis, das 10h às 20h (entrada até as 19h); quarta a domingo, das 10h às 18h (entrada até as 17h); fechado às segundas. Agendamento on-line obrigatório pelo site masp.org.br/ingressos / Ingressos: R$ 60 (entrada); R$ 30 (meia-entrada)
CHAGALL: UM SONHO DE AMOR
Quando: até 22 de maio / Onde: Centro Cultural Banco do Brasil São Paulo / Horários: todos os dias, das 9h às 20h, exceto às terças-feiras. / Ingressos gratuitos: disponíveis em bb.com.br/cultura e na bilheteria física do CCBB SP