CAPA: A MÚSICA E O ESTILO VITÃO

Foi o fato de ouvir de tudo um pouco que o cantor Victor Carvalho Ferreira, ou melhor,  Vitão, como é conhecido, foi sem perceber formando o seu repertório próprio e criando músicas e estilos. A paixão pela música vem de criança, com influências trazidas dos seus pais que iam de clássico do The Police ao Gun´s N´Roses. Hoje aos 22 anos, Vitão é um sucesso na música e nas redes sociais juntando milhões de seguidores e inúmeros fãs por onde sua música alcança. “Eu cada vez mais tenho tido uma percepção que o sucesso é simplesmente poder correr atrás de seu sonho e fazer o que ama”, comentou nosso entrevistado ao longo da entrevista. Entre parcerias de sucesso com gente de peso na música brasileira em diversos estilos e músicas lançadas ao longo da pandemia, Vitão se prepara para lançar seu segundo álbum ainda pra este ano. Para celebrar tudo isso, uma entrevista que é música para os olhos. E se você tiver uma boa conversa e gostar de boa música, já conquista o Vitão.

Vitão, musicalmente você mistura ritmos que vão do R&B, Hip Hop, Samba, Pagode, Bossa Nova e Pop. Como isso surge em sua cabeça na hora de criar? Eu sempre ouvi de tudo um pouco na vida, meus pais sempre foram muito ecléticos. Meu pai sempre ouviu muito samba, muita bossa nova, muito rap e minha mãe sempre ouviu muito rock, mas também muito samba e bossa nova, em geral. E isso foi aflorando em mim desde criança, todos os ritmos já estavam inseridos na minha mente, alma e coração. E na hora de criar, eu gosto de poder caminhar por qualquer estilo musical e não me encaixar em algum estilo, poder ser de tudo um pouco, poder me transformar em qualquer coisa que eu quiser – do sertanejo, ao rap, ao samba, ao pagode, da bossa nova ao rock. Então,  eu gosto de ter de tudo um pouco.  

De onde vieram essas referências musicais? Alguma influência? Como falei, essas referências vieram muito de meus pais e sempre gostei de ouvir de tudo. Meu pai amava The Police, minha mãe amava Guns N’ Roses. Isso foi ficando em minha cabeça desde muito cedo. Eu também comecei a ouvir muito rock derivado do blues, hard rock. Assim, AC/DC e Guns sempre foram minhas bandas preferidas e Michael Jackson – quando ele morreu eu era criança. Depois, comecei a conhecer a fundo o trabalho dele, virei um fã aficionado do Michael. Tem  muita coisa assim, que virou referência para mim.

Com mais de 2,1 milhões de inscritos em seu canal no Youtube, mais de 2,5 milhões de ouvintes mensais no Spotify Brasil e mais de 3,5 milhões de seguidores no Instagram, não tem como negar que você também é sucesso nas redes sociais. Esperava por tudo isso? Imaginamos que você tenha uma equipe que dá todo o suporte, mas como lida com redes sociais? Sempre lidei com isso como um reflexo da música. Se ela caminha bem as redes sociais, caminham bem também, e eu gosto de ter esse lado do artista pop, de ser alguém que performa bem nas redes sociais também. Busco fazer isso de uma forma que seja musical e que sempre esteja ligado a minha música, mas sinto, que isso, às vezes, em algum momento, tem uma barreira nos mundo das redes sociais, pelo menos da forma que eu faço, mas estou encontrando  meu lugar. E acho que não podemos ficar nessa busca incessante por engajamento, por likes e comentários, porque se não a gente vira só isso, fica doente e é algo muito nocivo pra nossa cabeça. Então, eu esperava sim ser reconhecido dessa forma, já tem muitas pessoas me acompanhando e acompanhando meu trabalho. Graças a Deus consegui isso, mas esses foram só os primeiros passos, eu quero crescer e expandir muito ainda.

Hoje em dia, um cantor ter sucesso em mídias como Spotify, é o que vale a um disco de ouro? Um retorno de que o sucesso é real? Sim, é muito doido essa transição, essa mudança que a gente viveu no mercado e na forma que a música é vendida e consumida. Antes, era tudo disco e as pessoas tinham uma noção mais física da coisa. Hoje em dia, é tudo streaming e visualização. A gente não sabe ao certo quantos streamings equivalem a uma venda de disco. Então, isso acaba gerando uma certa confusão, mas com certeza os números equivalem ao sucesso de nossa música e quantos corações a gente está tocando.

Aliás, o que é sucesso? Ainda mais para você que, com apenas 22 anos, já alcançou tudo isso. Eu cada vez mais tenho tido uma percepção que o sucesso é simplesmente poder correr atrás de seu sonho e fazer o que ama. E o que acontece diante disso, é apenas consequência de como você trilha essa trajetória – de como você está trabalhando, mas eu acho que o sucesso, ser uma pessoa bem sucedida é isso – ser uma pessoa que tem a possibilidade de correr atrás do seu sonho e fazer o que ama. Isso pra mim, é ter sucesso.

Indo lá para o início, você começou cantando nas ruas e em bares e chamou a atenção do grande público, quando começou a postar vídeos na internet em 2016. O que guarda desse início e como você lidava com essa batalha? Pra mim, era um prazer gigantesco fazer tudo isso. Eu sentia que eu estava no caminho que eu tinha que estar mesmo – nos bares, dando aula de violão e fazendo vídeos pro YouTube. Eu sentia que eu já estava fazendo e trabalhando com música, e que tudo ia acontecer com o decorrer do tempo. Eu acreditava e acredito muito, até hoje, que sou muito sonhador, sempre fui. Então, pra mim era algo muito gostoso, óbvio que precisava de muita dedicação. Enfim, gravar os vídeos, tudo ao vivo do celular, era algo mais precário e com menos recursos, mas sempre foi muito gostoso e prazeroso para mim.

Nos seus mais profundos desejos chegou a imaginar que você tocaria em grandes festivais como Planeta Atlântida 2020, Planeta Brasil 2020 e Rock in Rio 2019? Que sensações essas experiências te trouxeram? Com certeza imaginei sim, inclusive era o que eu mais imaginava todas as noites que eu deitava na minha cama, deitava a cabeça no travesseiro e não parava de imaginar eu cantando em grandes palcos para grandes multidões, até do lado dos artistas que hoje são meus amigos, eu imaginava muito isso e atraia muito isso para mim. E é o que a gente busca a vida inteira, é uma sensação de completude. A gente se sente completo e inteiro, pra mim é um momento onde consigo ter um feedback mais honesto possível de como a minha música está entrando no coração e como ela cativa as pessoas.

Pra você, que momento de sua trajetória foi mais marcante até agora? Aquele momento que você percebeu que tinha chegado lá? Teve alguns momentos da minha carreira em que eu percebi que estava chegando lá, um deles foi a Embrasa com Luccas Carlos. Foi uma música que começou a fazer mais sucesso, começou a bater diferente e que as pessoas começaram a me conhecer por conta dela. Outra, foi a Sei Lá com o Projota, que foi minha primeira entrada no rádio. Depois, a Café que foi uma música muito importante pra mim – é a música pela qual todo mundo me conhece hoje. Complicado com a Anitta também foi um grande divisor de águas,- o momento quando eu vi tudo subir um degrau. Teve vários momentos.

Falando em momentos marcantes, o lançamento de seu primeiro álbum de estúdio, intitulado Ouro, em janeiro de 2020, alcançou números impressionantes – mais de 130 milhões de streams, 11 faixas no TOP 200 do Spotify Brasil, na semana de lançamento. Esperava por tudo isso? Sim, eu esperava porque sempre botei muita fé no álbum Ouro – fiz com muito carinho e muita dedicação, e acreditei muito que ele iria tocar o coração de muita gente. Agora, estou doido pra lançar o meu segundo álbum.

Falando nisso… O que podemos esperar desse novo trabalho? Já tenho falado muito sobre esse meu novo disco né – algo que venho trabalhando desde o começo da pandemia, lapidando e re-lapidando. Uma hora acho que estará pronto. Aí, mexo em mais alguma coisa. Então, ele está nesse processo ainda de maturação, mas sim, ele vai vir. Meu público pode esperar um Vitão muito renovado, depois de um grande respiro, depois de uma grande vivência, depois de muitas adversidades e muitas felicidades, muitos sentimentos intensos que me tornaram o Vitor que sou hoje, o compositor que sou hoje. Podem esperar também por um novo Vitão produtor. Tenho me descoberto muito como produtor musical, aprendido a tocar novos instrumentos e a produzir. Estou me desenvolvendo muito nisso e ganhando uma liberdade musical gigantesca. Então, tem sido muito gostoso poder fazer de tudo que eu quiser. Podem esperar por um Vitão mais diverso, mais eclético ainda do que sempre foi, e mais certeiro.

Você já teve diversas parcerias de sucesso com gente muito legal como Ivete Sangalo, Ludmilla e Léo Santana. Com quem você deseja ter uma parceria musical e que não rolou ainda? Qual seu “sonho de consumo” em matéria de parcerias? Um grande sonho que tenho até hoje é sentar pra tocar um violão e escrever com o Djavan e com a Sandra de Sá, que são referências gigantescas pra mim. A maioria das pessoas do Brasil com quem eu gostaria de ter feito música eu já fiz, mas é óbvio que ainda existem alguns sonhos de consumo, Djavan é um deles – uma pessoa com quem eu gostaria muito de só sentar pra tocar um violão junto eu já estaria realizado. E a Sandra, é uma referência de música brasileira, é uma mulher muito legal, simpática, amorosa e engraçada – eu a amo como pessoa e como artista. Djavan, uma grande referência pro meu som, de pegada de violão, melodia e ele também é uma grande referência pro Rael, que por sinal também é uma grande referência para mim. Um amigo sempre falou que para você ser fã de alguém, você precisa saber de quem essa pessoa era fã também – quem é o ídolo de seus ídolos. São pessoas com quem eu gostaria muito de estar ao lado, cantando.

Como foi enfrentar uma pandemia com todas as restrições necessárias e longe do público? Como tirou proveito desse momento? Foi muito complicado. Eu  sempre me enquadrei muito como um artista de show e de estrada. O nosso show sempre vendeu muito bem e as pessoas sempre gostaram, sempre foi algo que fortaleceu muito o meu trabalho e que fez as minhas músicas caminharem melhor. E quando tudo isso parou, foi um momento de muita dificuldade pra todo mundo que leva a vida na estrada – foi um momento complicado, mas continuei lançando muita música. Minha forma de suprir isso foi parar, pegar um tempo que antes eu não tinha e ficar no estúdio, fazendo música todos os dias. Lancei muita coisa nesse período. Então, é algo que acabou me sustentando artisticamente, foi um momento em que pude me desenvolver muito, fazer músicas diferentes, ir para outros lugares artisticamente. Então, me fez muito bem por um outro lado.

Foi um período de ócio criativo ou chegou a entrar numa bad? Como isso afetou seu lado criativo? Foi um momento muito criativo e tive momentos de bad também, como todos os seres humanos que passaram por esse período na Terra. Acho que todo mundo teve momentos difíceis. Tive muitos momentos de dificuldade e tristeza, junto com o fato de não estar fazendo show. Tudo em um momento que a gente não sabe o dia de amanhã. Não que em algum momento a gente saiba, mas no caso, num momento tão adverso como a pandemia, me vi nesse momento mais bad, ao mesmo tempo que foi um período muito criativo. Isso me trouxe criatividade. Então,  tudo casou de uma forma muito perfeita.

Pelo que vimos, 2021 foi um ano de vários lançamentos de singles. Se sentiu realizado e realizando? Com certeza, foi um período em que pude experimentar novas regiões musicais, novas regiões vocais, escrever e falar sobre sentimentos diferentes que antes eu não tinha. Meu amadurecimento também, como adulto mesmo, como compositor, me trouxe esse lugar de poder experimentar novas coisas. Então, me senti sim, realizando muita coisa e foi bom não me sentir parado em uma inércia, de estar sempre em movimento.

Agora em fevereiro você lançou o remix da faixa Pensei Melhor com participações de Thiago Barbosa e Luccas Carlos. Como surgiu a ideia desse remix e dessa parceria? Foi algo super despretensioso, quando lancei Pensei Melhor na primeira versão, eu nem pensava em fazer remix, e eu já tinha mostrado ela para o Thiaguinho antes de lançar e ele gostou muito da música, o que me fez botar mais fé nela, ainda. Depois que lancei, ele me mandou uma mensagem falando que estava escutando muito, que, para ele, era uma das melhores músicas desse ano. Ele valorizou muito a música, eu fiquei em choque e mandei mensagem para o Douglas, produtor da música, e falei que o Thiaguinho estava ouvindo-a muito e para propor um remix para ele. Quando falei com o Thiago ele topou na hora, “só me fala o horário e o lugar”, e aconteceu assim. A princípio, ia ser só o Thiaguinho, mas quando estávamos no estúdio, o Luccas apareceu por lá. Ele já estava na música como compositor – a escrevemos juntos, e quando a gente viu, aconteceu. Thiaguinho amou a ideia de ter o Luccas – ele  sempre foi fanzaço dele também. E foi de um jeito muito natural.

Você parece ser um cara muito zen, o que curte para relaxar? Eu sempre usei os momentos de atividade física muito para isso, sempre foi muito desestressante para mim sempre estar fazendo música também, nem que seja pegar o violão e tocar um pouco já é algo que muda muito meu estado de espírito, emocional e psicológico – isso me faz muito bem. E tenho encontrado a leitura como algo que me faz muito bem também, que é desestressante.

A qual pecado você não resiste? Em alguns momentos, é algo que tenho trabalhado muito em mim, mas acho que o açúcar é um dos pecados que em muitos momentos eu acabo não resistindo, acho que é uma “droga” que ainda me pega em alguns momentos (risos).

Por fim, para conquistar Vitão basta… Para conquistar Vitão basta ter boas histórias pra contar, uma boa conversa e gostar de boa música.

Fotos Marcio Farias

Styling Paulo Zelenka

Assist. de styling Aline Zelenka

Beleza Eucides Freitas

Assist. de fotografia Mariana Salles

Vídeo Vanessa Gall