MULHER EM FOCO: GEORGINA CASTRO, A THAIANE DE “UM LUGAR AO SOL”

Georgina Castro, que vem de uma carreira sólida no cinema, estreou nas novelas da Globo em “Um Lugar ao Sol” como Thaiane, neta bastarda de Noca (Marieta Severo). A jovem abandonou sua pequena cidade no interior de Minas e partiu para o Rio em busca da avó, que nem desconfia de sua existência. Apesar de “Um Lugar ao Sol” ser seu primeiro papel de destaque na TV, Georgina também participou da novela teen “Cúmplices de Um Resgate”, atualmente no Top 10 da Netflix, e das séries “Hebe”, “Sob Pressão”, “Supermax”, entre outras. Aos 41 anos de idade e 26 de profissão, além de atriz, Georgina é roteirista e diretora.

Cearense, morou 15 anos em São Paulo e atualmente vive no Rio de Janeiro. Em 2022 também poderá ser vista nos longas inéditos “Pequenos Guerreiros” de Bárbara Cariry, rodado no Ceará, e “Depois dos 40”, de Luiz Villaça, filmado em SP. A atriz estreou no cinema em 2006 no elenco central do premiado longa-metragem “O Céu de Suely”, de Karim Ainoüz e, desde então, desenvolve uma carreira artística voltada para o cinema. Georgina também esteve no elenco de produções internacionais como “Descalço sobre a terra Vermelha”, série em coprodução Brasil-Espanha, “Rosa Morena”, longa dinamarquês, “Crime Time”, produção francesa ganhadora do Emmy de Melhor série curta e também protagonizou o curta-metragem “Maria Was Born” filmado em Nova York e que contou com a supervisão de Spike Lee. Atualmente, finaliza seu segundo curta-metragem como diretora e roteirista intitulado “Hospital de Brinquedos”, filme cearense e que conta com um elenco inteiro formado por atores negros.

Quais são as diferenças e as semelhanças entre a Georgina e a Thaiane? Acredito que a principal diferença seja a introspecção da Thaiane, ela tem sempre o pé atrás com quem e o que ainda não conhece… Isso tem a ver com o histórico de vida dela, mas também vejo algo cultural. Como uma boa mineira, ela é meio desconfiada. Já eu, como uma típica nordestina, falo pelos cotovelos, sou capaz de contar a vida para uma pessoa que nem conheço em uma fila de banco. Semelhanças temos várias. Vejo muito a Thaiane na Georgina que já fui um dia… Ela tem uma questão forte com o não pertencimento, o anseio pela liberdade… Ela deixa tudo para trás e se joga na estrada em busca de seu lugar ao sol no mundo. Esse movimento da partida já fiz algumas vezes na vida. Assim como ela, estou sempre me reinventando. E nós duas somos aquarianas, (risos).

A Thaiane já demonstrou que é uma personagem de índole um tanto dúbia. Vc a vê mais como vilã ou mocinha? Uma grande característica dos personagens da Lícia Manzo é que geralmente eles carregam um pouco das duas coisas. Não vejo a Thaiane como vilã, mas ela é sim, meio torta. Já cometeu atitudes questionáveis, quando pela ótica dela, se sente ameaçada. Ela tem muitas sombras que vem de seu apagamento familiar, mas isso não apaga a luz dela. Nessa reta final da novela, essa luz cada vez vai ficando mais forte do que suas sombras. É uma personagem que vai se iluminando.

Você costuma assistir a seus trabalhos? Sempre! Mas a primeira vez que assisto um novo trabalho é sempre tenso, me critico muito. Só quando revejo que começo a me desarmar, a curtir. A primeira vez que me vi na tela foi no Festival de cinema do Rio, na estreia do meu primeiro longa “O Céu de Suely”, as pessoas saíram encantadas com o trabalho de nós atores e eu, me autocriticando. Da segunda vez em diante foi que relaxei. Por conta da pandemia a novela foi realizada em estrutura de cinema, estreou toda gravada. Quero muito ter a experiência de fazer uma novela no ritmo tradicional e ter a oportunidade de afinar algumas coisas. Gravar enquanto está no ar, deve ser uma experiência incrível.

Você também é roteirista. Como é seu processo de construção de personagens? Tanto na atuação quanto na escrita? Trabalho de maneira semelhante do lado de dentro e de fora da cena. Quando escrevo, me coloco no lugar de cada uma das personagens. Falo em voz alta os diálogos e de certo modo, interpreto cada uma ao mesmo tempo que crio. Certamente o fato de eu ser atriz, me ajuda a desenvolver uma escrita viva, mesmo quando ainda está no “papel”. Na atuação, amo a fase de preparação. Gosto de esmiuçar o texto e uso estruturas de escrita de roteiro para estudar os textos. Procuro criar uma base sólida teórica na preparação, pois quando começo a gravar, deixo as teorias de lado para dar lugar ao intuitivo, ao inesperado que vem depois do “ação”.

Em que linguagem você prefere atuar, no teatro, no cinema ou na TV? Cada um tem espaço único. O teatro faz parte da minha vida desde quando me entendo como “gente”. É meu ponto de partida, de chegada e de retorno. É meu chão, minha base, para onde sempre quero voltar. O cinema foi e é um encontro, onde realmente achei meu lugar na interpretação, é minha grande paixão. A TV é aquele sonho de menina, que eu sempre quis, quase como um amor não correspondido e que demorou pra acontecer de verdade. A televisão é algo bem novo para mim e quero muito conhecê-la cada vez mais.

Conta sobre o início da carreira: do teatro para o cinema, do cinema para a TV. E por que decidiu  seguir a profissão? Acredito naquilo de que não é a gente que escolhe a arte, é ela que nos escolhe. Quando eu tinha 13-14 anos eu fazia parte de um grupo de jovens da igreja católica, na região metropolitana de Fortaleza. Um dos Frades montou um grupo de teatro e passamos um ano ensaiando uma peça “Opereta Irmã Clara e Pai Francisco” onde interpretei Santa Clara. Ali me apaixonei pelo palco. No ano seguinte, entrei em curso de interpretação no Teatro municipal de Fortaleza e daí não parei. Toda minha trajetória artística no Ceará foi voltada para o teatro. Cinema e TV, naquela época, era algo bem distante. Apenas aos 23 anos, assim que mudei para São Paulo, fiz meu primeiro teste para cinema e peguei um papel importante no filme “O Céu de Suely”. Foi ele que me abriu as portas para o audiovisual. Na TV, eu havia feito apenas algumas participações. Trabalhei com o Maurício Farias no filme e série “Hebe” em 2018 e ele apresentou meu portfólio de trabalhos no cinema para a direção de dramaturgia da Globo, daí veio o convite para a novela.

Você protagonizou um filme em New York, o  curta-metragem “Maria Was Born” que teve a supervisão de Spike Lee. Como surgiu essa oportunidade? Já pensou em seguir carreira internacional? A Elena Grenlee, diretora do filme é Americana, mas já havia morado no Brasil. Ela estava se formando em NY e o Spkie Lee, orientador da universidade, escolheu o roteiro dela para financiar a produção. Ela veio ao Rio e SP fazer testes para a protagonista. Filmamos algumas cenas no carnaval de rua do Rio e seguimos para Nova York. Foi incrível! E conhecer o Spkie Lee é algo que jamais esquecerei. Nunca planejei uma carreira internacional, mas acabou acontecendo de eu participar de algumas produções estrangeiras filmadas no Brasil também. Estive no elenco de “Rosa Morena”, um filme Dinamarquês, “Crime Time” uma série Francesa, ambas filmadas em SP. E também na série Espanhola “Descalço Sobre a Terra Vermelha” rodada no Araguaia, que foi exibida no Brasil e Espanha e ganhou prêmios na Europa. Agora com o streaming, é mais um campo de oportunidades que se abre para nós atores Brasileiros.

Você é uma atriz Cearense que morou anos em São Paulo e agora vive no Rio. Como você vê atualmente o cenário cultural do nordeste? Se hoje ainda é difícil viver de arte no Brasil, quando comecei era muito mais, principalmente no Nordeste, com as oportunidades e financiamentos mais escarço. Na época que comecei a estudar teatro, nem faculdade de artes cênicas existia ainda em Fortaleza. Testes para audiovisual, muito menos . Geralmente, quando havia alguma produção lá, levavam o elenco central do sudeste e os atores locais faziam no máximo elenco de apoio, raras exceções. Não por falta de talento, tem muita gente talentosa lá. Só não existiam oportunidades. Hoje, muita coisa mudou. O cinema nordestino há anos está em uma crescente, é premiado no mundo inteiro. Fico muito feliz com essa efervescência. E mesmo estando há tantos anos fora de lá, já voltei algumas vezes para atuar em produções nordestinas. E como roteirista também, nos meus projetos, é sempre na minha terra que penso em filmar.

Como você lida com a passagem do tempo? Tanto na sua vida pessoal quanto na carreira. Me adapto sempre a cada fase da minha vida e tento tirar o melhor de cada uma dela. Nunca tive medo de envelhecer, ao contrário. Como mulher e como artista, penso que estou na minha melhor fase. Claro que tenho meus altos e baixos, como todo mundo… Mas nunca me senti tão segura, tão bonita e tão potente como agora. A carreira artística é daquelas que quanto mais a gente envelhece, melhor fica. Nosso trabalho é contar histórias e são as nossas histórias de vida o que nos alimentam.

Que conselhos você daria para aqueles que desejam seguir com a carreira artística? Foco, persistência e movimento. Trabalho, suor… E sorte. Penso que em 80% é ação. Você movimenta daqui, doa seu melhor em cada pequena janelinha de oportunidade. Os outros 20% é o universo. É entregar. A gente não tem o controle de tudo. E algumas coisas só vão acontecer quando você realmente estiver no tempo certo para receber. Confia!