Um dos grandes destaques no streaming este ano, a série Sintonia (Netflix) também revelou um jovem talento que deu o que falar e agitou as redes ao longo de 2022, a gatíssima Bruna Mascarenhas. Carioca da gema, mudou-se para São Paulo quando aceitou o desafio de interpretar a personagem Rita, e viu sua vida mudar completamente. De funcionária pública a realização do sonho de viver da arte. Louca por dança, Bruna vai do forró ao samba e funk, que é muito de sua cultura. Bruna encerra o ano com muitos planos para 2023. Mas isso você descobre ao ler nossa matéria abaixo. E fique de olho que ela ainda vai dar muito o que falar.
Bruna você fez sua estreia no audiovisual com a série “Sintonia” da Netflix, ao lado de Christian Malheiros e MC Jottapê. A série deu tão certo que já estão gravando a quarta temporada. A que se deve esse sucesso todo? Acho que o sucesso parte da identificação que o público tem de assistir a série e conseguir ver que aquela é a história dele ou de algum familiar, algum amigo. Por outro lado, todas as pessoas que fazem o projeto acontecer sabem da responsabilidade que é estar tratando de temas extremamente importantes como a religião, o crime, o funk. A gente sabe o tamanho da responsabilidade, e por saber, a gente busca ao máximo pessoas que assessorem a gente nesses núcleos e nos que vêm na quarta temporada, que vocês vão saber em breve. Temos essa preocupação de estar o mais alinhado possível com a realidade, nos mínimos detalhes, de todos os setores, da arte à fotografia, ao elenco, à direção, à produção. Acho que esse é o trunfo que a gente tem e que a galera se identificou tanto.
Como foi que surgiu o convite e como foi a preparação para a personagem Rita? Eu tinha me mudado recentemente para São Paulo. Fui chamada para o teste, fiz em um dia e no dia seguinte já estava fazendo prova de figurino e maquiagem. No mesmo dia recebi a aprovação e pedi demissão do restaurante em que estava trabalhando. Tive um trabalho muito intenso com a Mônica Montenegro, minha fono desde então. Na primeira temporada eu tive só duas semanas para pegar o sotaque, foi um desafio incrivelmente assustador. Fomos descobrindo esse corpo da personagem junto com essa embocadura paulista. Além de ela me sugerir falar todos os dias e em todos os momentos possíveis no “paulistês”, por conta da nossa falta de tempo. Hoje eu já domino o sotaque, mas sempre quando começamos uma nova temporada eu volto a fazer fono. Além de sempre pesquisar e conversar com pessoas que sejam do universo que a personagem percorre.
A série fala tanto de religião quanto do tráfico de drogas. Dois temas bem polêmicos. Como sente a repercussão desse trabalho no público? Eu sinto que as pessoas refletem e debatem sobre. Eu sei que tem muitos professores que levam “Sintonia” para dentro da sala de aula. Olha que importante uma série brasileira poder estar sendo debatida por conta dos temas que aborda. “Sintonia” mostra um recorte da nossa sociedade. Eu lembro que antes de estrear a primeira temporada havia muitos comentários como “aff Netflix falando de favela de novo?! De funk? Que merda” e hoje escuto muito mais “caraca que incrível uma série falando sobre crime, religião, funk de uma forma leve, mas trazendo consciência”. E a gente sabe da responsabilidade de adentrar nesses temas.
E o que deixa você em boa sintonia? Passar mais tempo com a minha gata, minha filhota. Sair para dançar forró, ir à praia, encontrar meus amigos final de tarde pra tomar uma cerveja ouvindo uma música, vendo o pôr do sol.
Nascida no Rio de Janeiro você se mudou para São Paulo onde sua carreira de fato começou. Como foi esse período de mudança, adaptação e trabalhos? Eu já estava formada há um ano e meio, trabalhando em Prefeitura, e pagando mais para fazer teatro do que ganhando. Fora que estava me sentindo estagnada, como se caminhasse, caminhasse e continuasse no mesmo lugar. Passei dois meses pesquisando de trabalhos à moradia, de cultura à política. Em quatro dias morando aqui já estava empregada. Mas foi difícil morar pela primeira vez sem os pais, com uma relação recém terminada, num outro estado, no inverno pesado de São Paulo (inverno que desconhecia), com pessoas completamente diferentes, com hábitos e uma cultura ímpar. Me surpreendi com a cidade e seu tempo, e com a poluição, claro. No início sentia a vista seca demais e ardendo muito, o corpo cansava rapidinho. Mas devo admitir que a curiosidade inicial foi se transformando em paixão, e hoje estou construindo uma história de amor com essa cidade.
A dança ainda tem espaço na sua vida? Ou isso ficou lá pra trás? Não só tem espaço como alimenta a minha alma. Quando saio para dançar é sempre uma alegria, me sinto reenergizada, principalmente quando é forró, samba e funk, que é muito minha cultura. O balé clássico, que é no que sou formada, que me deu a base de tudo, já não faz parte da minha vida, não tenho tesão em voltar a dançar balé. Mas claro que se eu pegasse uma personagem bailarina o tesão voltaria imediatamente, eu iria me dedicar com muito prazer e alegria, mas fora do foco de trabalho não tem mais espaço. Mas dançar é pulsante, vem da alma, é uma forma de se expressar, então com certeza faz parte da minha vida.
Você é totalmente engajada no movimento feminista. Quais são suas lutas? A minha luta está no meu dia a dia. Está em ler livros de mulheres pretas, entender e somar com o feminismo negro, está em somar com a luta e inclusão das mulheres trans, me posicionando, dando voz às essas mulheres. Está em respeitar mulheres que as vezes não têm um olhar feminista a respeito de algumas circunstâncias, mas entender que, independentemente de qualquer coisa, ela também é impactada pelo machismo. Assim como os homens. Vivemos numa sociedade muito patriarcal e preconceituosa. A luta precisa começar revendo nossas próprias atitudes e padrões de comportamento, lapidando nossa empatia.”
Acha que hoje em dia às vezes há uma visão deturpada do feminismo que às vezes extrapola e perde o ponto? Visão deturpada das pessoas a respeito do feminismo ou a visão deturpada das feministas?! Acho que o extremo sempre existiu em todas as esferas. Mas também não é justo generalizar as atitudes da exceção e não dá regra. Acho que tem pessoas que por mais informações que possam alcançar, não estão dispostas a entender o que é o feminismo, e nem desconstruir o que o sistema fala a respeito. Colocam as pessoas numa caixinha e se limitam.
Como ser feminista sem cometer os erros do machismo? Acho um desafio, por mais engajada e desconstruída eu sinto que a gente precisa estar sempre atento, de repente a gente pode escorregar num comentário, numa brincadeira que a gente cresceu ouvindo, num ditado popular… Eu sempre falo, orai e vigiai rs. O processo de aprendizado, desconstrução para reconstruir um novo pensamento e atitude, não tem fim.
Onde homens e mulheres precisam aprender mutuamente? Mutuamente no diálogo e na empatia. Mas claro que os processos de desconstrução são diferentes, quanto mais no topo da pirâmide social mais padrões a serem quebrados.
Nas redes sociais você é bem engajada. Como lida e como separa o que é público e o que é privado? Tomo cuidado com as minhas redes, não saio postando qualquer coisa sem precedentes. Quando não é sobre meu dia a dia, mas sim sobre alguma notícia, algo relacionado à política…, tenho bastante responsabilidade, principalmente hoje em dia com as ondas de fake news. Mas já é bem natural pra mim essa relação. Tem épocas que não posto e tudo bem, outras que compartilho tudo. Vou dosando, mas sempre no limiar da minha vontade.
Você é muito vaidosa? Como lida com o espelho? Do que não abre mão? Eu nunca fui muito vaidosa, mas de um ano pra cá estou cada vez mais. Antes eu não tinha paciência e disciplina pra fazer skin care todo dia, hoje em dia é um cuidado que eu gosto de ter, mesmo quando chego de trabalho, balada, rolê, cansada, faço questão de limpar meu rosto, de ter esses meus cuidados também. Então acho que estou separando mais tempo pra mim, pra cuidar do meu corpo, da minha alimentação. A vaidade está em vários campos da minha vida hoje em dia.
Para conquistar Bruna basta… Não basta só uma coisa não (risos), mas acho que ser engraçado e alto astral não tem preço.
Planos para o próximo ano que possa compartilhar com os leitores… Ano que vem eu volto para o teatro. Estou louca para voltar ao teatro há anos e agora estou com uma galera muito massa, um texto muito bom, divertido e crítico socialmente, então vou voltar aos palcos e estou muito feliz. Tem também a estreia da série “Cenas de um crime”, da Paramount+, que eu gravei esse ano. Vai ser um ano de muitas estreias. Além de começar a fazer um curso profissionalizante de dublagem, que é outra linha que quero seguir, quero entrar no mercado, trabalhar como dubladora. Estou muito animada pra começar esse processo inicial do estudo, mas já é um novo caminho.
Fotos Thiago de Lucena @thiagodelucena
Beleza Vivi Gonzo @makegonzovivi
Stylist Andre de Moraes @moraesde
Assessoria @explaneassessoria