CAPA: EDUARDO MOSCOVIS NOS PALCOS COM “DUETOS”

Quando pensamos nessa matéria com Eduardo Moscovis veio a mente diversos de seus personagens mais marcantes, afinal são mais de 30 anos de carreira. Lembrando que tudo começou no teatro alguns anos antes de sua estreia na TV com Timbó Guitierrez em Pedra Sobre Pedra (1992). De lá pra cá vieram mocinhos, como Nando de Por Amor, ou o inesquecível Petrucchio, de O Cravo e a Rosa, o clássico Carlão, de Pecado Capital, até o serial killer Cláudio Brandão, na série Bom Dia, Verônica. Isso sem falar de seus personagens no cinema (foram 27 filmes até agora) e no teatro. Que por sinal em sua peça que acabou de estrear, ele interpreta quatro personagens distintos. Tranquilo, seguro do seu papel de ator e homem nos dias de hoje, batemos um ótimo papo com Du Moscovis (já ficamos íntimos) e o resultado não poderia ser melhor.

De sua estreia na TV com Pedra Sobre Pedra (1992) e de lá pra cá, já são mais de 30 anos de carreira. Olhando para trás como avalia sua trajetória até aqui? Quais os momentos que destacaria (são muitos!)? Pedra Sobre Pedra foi minha estreia na TV, mas eu já trabalhava no teatro desde 1988. Já é uma trajetória longa, né? (risos). Eu entendo que todos os momentos são importantes na construção artística do ator. Se pego um novo personagem hoje, vou estudá-lo com todo o material que tenho até hoje. O querido Pedro Paulo Rangel costumava dizer que fazemos personagens que vão ser rascunhos de outros personagens, mais à frente.

Do drama ao humor, do mocinho ao vilão, você já fez de tudo um pouco o que demonstra sua versatilidade como ator. O que lhe faz ficar interessado num personagem? Como se sente desafiado a aceitar um trabalho? Os motivos podem ser muitos… A chance de trabalhar com um profissional que você já admira há tempos e nunca trabalhou, ou alguém com quem você já tenha trabalhado e gostou, o projeto por inteiro, o personagem etc. Dentro das escolhas, é importante pra mim conseguir transitar pelo TV, cinema, teatro e áudio. 

Pegando dois exemplos bem distintos e marcantes de sua carreira, nos divertimos com seu Petrucchio de O Cravo e a Rosa (Globo) e ficamos tensos com o Claudio Brandão da série Bom Dia, Verônica (Netflix). Que tipo lhe diverte mais ao assistir? O desafio em fazer rir é o mesmo de fazer medo? São dois exemplos realmente muito distintos, incluindo o espaço de tempo entre eles. Nesses dois casos específicos o que me interessou foi o desafio que os dois me provocaram quando fui chamado para interpretá-los. O Petruchio me parecia necessitar de um ator maior do que eu. Aí entram os profissionais que nos auxiliam nas composições. A figurinista da novela era a Beth Felipeck. Uma craque!!! Conversei muito com ela sobre isso e daí veio o casacão que o Petruchio usava sempre, as calças maiores, a barba… Brandão foi um desafio por um outro lado… Fiquei com o roteiro do Verônica em minha mesa até uma semana antes de começar a gravar. Não conseguia me aproximar daquele cara. Ficava aflito, angustiado. Em uma ligação com uma das autoras da série, a Ilana Casoy, a chave virou e ela me deu o caminho das pedras – “não julgue o Brandão. Faça!”

Depois do Nando de Por Amor (Globo), você virou o galã do momento. Esse rótulo em algum momento incomodou ou atrapalhou? Já se sentiu limitado em algum momento nesse período da carreira ou abriu portas? Esse assunto é curioso. Normalmente, existe uma necessidade de sermos colocados (e, às vezes, colocarmos os outros) em caixas ou rótulos. Na televisão, que sempre foi uma indústria, principalmente na época do Nando (1997/8), ser considerado galã me soava como um diagnóstico limitador. Eu não me incomodava com o fato de ser considerado galã, pelo contrário, até me divertia porque eu não me achava galã (risos), mas não queria que meu trabalho fosse veiculado a isso. Sempre busquei projetos e personagens distintos uns dos outros.

Como procura construir um personagem? E como desapegar? Já teve algum a que se apegou mais ou sofreu mais influência dele? A construção de um personagem se faz de maneiras diversas. Depende do diretor, do elenco, da complexidade de cada personagem, etc. Gosto muito do processo das leituras de mesa, onde normalmente estamos com os outros atores e diretores. Acho sempre muito produtivo no processo criador. O desapego, dependendo do projeto, não  acontece apenas em relação ao personagem, mas sim de toda uma equipe com quem convivemos intensamente por um determinado tempo. Às vezes a despedida é sofrida. Às vezes você dá Graças a Deus. (risos)

Já são três décadas envolvido no audiovisual. Que mudanças mais impactantes percebe ao longo desses anos? Muitas. Estamos atravessando  uma transição muito potente. Todo o movimento das TVs abertas e fechadas, as grandes plataformas, a chegada do digital… Como o cinema se reorganiza dentro disso tudo. Enfim, novos tempos.

Ao longo de sua carreira você já recebeu vários prêmios por atuação, isso envaidece, motiva? Qual a importância que tais prêmios têm para um ator? Os prêmios são sempre bem-vindos. Acho que eles confirmam através do olhar de um júri a relevância ou o destaque de uma performance.

Você também é uma referência no meio teatral com uma média de 15 peças  Que importância o teatro exerce sobre você? O que diferencia em seu trabalho? Como já disse, tento estar sempre transitando entre o teatro, a TV e o cinema. São exercícios completamente diferentes, principalmente o teatro. Comecei minha carreira no teatro. Necessito, fisicamente, estar no palco. O desafio de estar em cena lidando com todas as possibilidades de imprevistos, é viciante. Estar com públicos diferentes a cada noite é outro desafio. Executar o mesmo texto por meses, anos, é a maior chance que temos de refinar nossa aproximação e construção de cada personagem. Teatro para mim é fundamental.

Falando em teatro, você está de volta aos palcos com DUETOS, peça do premiado dramaturgo britânico Peter Quilter. Como surgiu o convite e como tem sido trabalhar uma obra que já foi encenada em mais de 20 países e em 10 idiomas diferentes? Sobre Duetos, o convite partiu do diretor Ernesto Piccolo e é uma peça que me oferece a oportunidade de experimentar algo que não faço normalmente em teatro, que é o humor. Duetos conta quatro histórias distintas, com 4 casais também distintos. Ou seja, interpreto nessa peça 4 personagens diferentes e contraceno com Patricya Travassos, que é uma mestra nisso. 

A peça, acima de tudo, fala do caótico mundo dos relacionamentos modernos. Como você avalia esse tema? Se surpreendeu com algo do texto da peça? Peter Quilter é um ótimo autor inglês. Sua peça End of the Rainbow, sobre a vida de Judy Garland, foi adaptada para o filme vencedor do Oscar de 2020, Judy. A qualidade dramatúrgica de Duetos é impressionante. Ele retrata 4 situações de relacionamentos absolutamente hilárias e próximas às nossas vidas.

No palco você está ao lado de Patricya Travassos, encenando personagens distintos em quatro histórias diferentes. Alguma passagem ou curiosidade que te chamou mais atenção nessas quatro histórias? Cada uma das quatro histórias tem suas características e em todas elas eu me identifico. Seja pelo desenho do personagem ou pela situação proposta.  

Como é contracenar com Patricya? Como é a troca entre vocês? Patricya é um brinde!!! Uma atriz que conhece o palco e sabe como trocar com o público, como poucas! Uma atriz que é atenta à contracenação o tempo todo, com uma ‘escuta’ cênica aguçadíssima. 

Quem é Eduardo Moscovis hoje e o que procura? Sou um ator cada vez mais inquieto na minha busca criadora.

Fotos Priscila Nicheli

Styling Samantha Szczerb

Beleza Titto Vidal

Agradecimentos ao Hotel Windsor Marapendi 

Du Moscovis usou: Amil Confecções, DLZ, Eduardo Guinle e Doct Jeans