“A dúvida me leva a caminhos mais interessantes”, é com essa frase que o Eriberto Leão encerra nossa entrevista e diz muito do homem e ator que ele é. Eriberto está de volta a capa da MENSCH e acabou de encerrar seu mais recente trabalho na TV com o personagem Samuel, em “O Outro Lado do Paraíso”, com aplausos do público e crítica, “Samuel foi um personagem integral. Por isso transitava entre drama e humor com a mesma autenticidade… Foi incrível”, conclui. Desde sua estreia na TV já vão aí quase 15 anos de trabalho o que inclui mais de 10 filmes no cinema e várias peças de teatro, a última foi o musical “Jim” que rendeu muitos elogios. Eriberto é daquele tipo de pessoa inquieta, seja como ator seja como cidadão, ele está sempre ávido em aprender, seja com seu filho pequeno seja com um novo personagem, e colocar suas ideias em prática. Apaixonado por rock, agora se prepara para encarar mais um desafio “maior que o mundo”. Concluímos, sempre bom ter Eriberto por aqui.
Eriberto, seu primeiro grande destaque na TV foi em Cabocla (2004), de lá até Samuel (em “O Outro Lado do Paraíso”) já vão 14 anos. Que análise faz da sua trajetória como ator? Vivi intensamente essa trajetória. Personagens marcantes e singulares me acompanharam nessa jornada, trazendo um sentimento de gratidão muito grande, pela oportunidade de sempre poder ter grandes desafios.
Em nossa primeira entrevista de capa, em 2012, você tinha acabado de fazer o personagem Gabriel em “A Vida da Gente” e tinha acabado de ter um filho. Como ficou sua vida depois disso? O que aprendeu com o nascimento do filho? Ficou melhor e mais completa. Tenho aprendido a ser cada vez mais generoso e maduro. Filhos nos conectam a uma missão atávica que engradece demais a vida.
Você leva algo dos personagens para sua vida? Aprende muito com eles? Levo as experiências e a consciência da luz e sombra de cada um deles. Aprendo muito, sempre.
E o “tigrão” Samuel, o que ele te ensinou e o que você leva para a vida? A ser verdadeiro independente do que os outros possam pensar. A assumir nossa identidade e nossa verdade interior. Mas o verdadeiro ensinamento veio mesmo do processo de construção e realização do personagem. Foi incrível.
Você conseguiu criar um personagem que trazia um conflito interior pelo fato de ser gay mas sem ficar dramático demais. Com um tom mais bem humorado vocês chegaram ao caminho certo. Foi um desafio muito grande? O que foi mais importante na construção de Samuel? A verdade, a interioridade e a criação de um universo particular que existia e podia se conectar ao exterior com muita integridade. Samuel foi um personagem integral. Por isso transitava entre drama e humor com a mesma autenticidade.
Você já viveu matuto da roça, mocinho, bandido, gay, cantor, médico… O que mais falta acontecer na sua trajetória de ator? O que te move? Exatamente, já fui muita gente diferente nessa vida (risos). As pessoas são tão complexas e variadas que penso que ainda vou ter a possibilidade de viver muitas outras variadas vidas. O que me move é exatamente o privilégio de viver várias vidas em uma. Esse é o grande prazer do meu oficio. E desafios me movem muito.
Em 2013 durante o musical sobre Jim Morrison você voltou à nossa capa e comentou que o momento político do Brasil era bem semelhante à época de Jim. Você comentou: “A mensagem de Jim é muito importante para o Brasil de hoje. É absurdamente atual. Nós estamos atrasados, ainda vivemos sob uma ditadura, antes velada, agora não tanto. Professores são tratados como bandidos e certos bandidos como pessoas nobres.” Ainda concorda com isso? O panorama melhorou em alguns aspectos ou piorou? Tudo que eu tinha pra falar sobre isso, foi dito naquele período dionisíaco, através do Jim. E olha que a cada espetáculo tinha um final improvisado que era sempre muito inspirado e corajoso. Prefiro falar através da minha arte. Caso contrário, correria o risco de minimizar a força das minhas ideias. Que são muitas.
O que é mais difícil de se admitir hoje em dia no Brasil? O egoísmo. A falta de honra. A mentira.
Na época do musical de Jim Morrison você se declarou um apaixonado por rock. Tá difícil manter essa paixão no panorama musical de hoje onde quase não se ouve rock nacional? Ainda sou salvo pelos antigos mestres. O rock não morre nunca. Ele é um estado de ser. É eterno.
Quem foram ou são seu ídolos na música e na dramaturgia? Alguma influência direta? São tantos. Posso citar alguns: Dylan, Belchior, Fagner, Beatles, Raul, Renato, Cazuza, Ferreira Gullar, Suassuna, Aldous Huxley, William Blake, Reinaldo Moraes. Todos me influenciam diretamente.
Falando no seu filho, que herança e influências você procura deixar para ele? Amor e honra. E a importância de ser você mesmo. De viver a lenda pessoal plenamente.
O que você como cidadão e como artista mais deseja hoje em dia para sua vida? Que despertemos.
Você é um homem ou um ator vaidoso? Até que ponto? Sou vaidoso na disciplina do meu trabalho. Na vida sou moderado.
Encerrando sua participação em “O Outro Lado do Paraíso” o que pretende fazer? Quais os planos? Começo a rodar o longa “Maior que o Mundo” do escritor Reinaldo Moraes.
Que certezas você tinha 10 anos atrás que mudaram hoje em dia aos 45? Acho que não tinha certezas aos 10 anos e continuo não tendo, (risos) a dúvida me leva a caminhos mais interessantes.
FOTOS NILO LIMA (@nilolima)
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AGRADECIMENTOS RAFAEL VILLAS BOAS E CRISTIANO MARTINS
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