Por Patrícia Alves / Fotos Angelo Pastorello
Há 42 anos Olivier Anquier chegou ao Brasil, para passar férias. Nunca mais foi embora. A paixão pelo povo acolhedor e o país tropical arrebatou seu coração de tal maneira que, para nossa sorte, ele decidiu ficar. Começou, sem querer, como modelo para conseguir se manter no país e, depois, abriu seu primeiro restaurante, em 1989, em Jericoacora, quando esse paraíso ainda era completamente desconhecido. Hoje, aos 63 anos e à frente de vários restaurantes de sucesso, esse francês de sorriso fácil nos recebeu, carinhosamente, para uma entrevista em que falou sobre gastronomia, projetos na TV, a paixão pelo rally e as aulas de trompete, seu mais novo hobby. Merci, Olivier!
O que esse francês tem de mais brasileiro, e o que esse brasileiro tem de mais francês? O que tenho de mais brasileiro é a alegria de viver. A forma de encarar a vida. Adoro me comunicar e sou muito afetuoso, expansivo. Já de francês, trago a cordialidade e, talvez, o olhar empreendedor. Esse olhar que me faz ter uma visão bem particular para os negócios e para a vida, em geral.
Como a gastronomia surgiu em sua vida? Que influências teve? Surgiu através da influência familiar. Desde pequeno, ajudava meu pai a preparar o almoço dominical e era sempre uma alegria aquele momento. Do lado materno, sou a terceira geração de padeiros de uma família. Minha mãe, com 81 anos, ainda exerce a profissão em uma padaria na Austrália.
Chef, empresário e apresentador. Quais os desafios em conciliar as três funções? Não sou chef. Sempre digo que sou padeiro e todo mundo se espanta, como se isso fosse algo pejorativo ou sem glamour. Uma bobagem (diz sorrindo). Em função dos empreendimentos que criei me tornei chef. Já o apresentador, foi uma coisa que aconteceu na minha vida, um novo caminho que se abriu. Uma coisa acabou levando a outra e adoro todas as vertentes. Embora a cozinha seja minha grande paixão.
O que a gastronomia brasileira tem de mais especial que lhe encanta? A diversidade de ingredientes e sabores. O prato brasileiro que mais me remete ao país é o Tacacá, um prato de origem indígena. Você deve estar se perguntando, mas porque o Tacacá? Sua base é caldo de tucupi, com uma goma de mandioca por cima. A gastronomia brasileira é riquíssima, cheia de possibilidades, sabores e temperos.
Deixando o trabalho de lado, como é Olivier pai? O que aprende e ensina com eles? O Oivier é aquele pai que procura passar as noções de respeito, de postura, de família. Procuro construir e passar a eles um alicerce forte e valores que considero essenciais – aqueles inegociáveis, que vão levar para a vida. Além de mostrar a arte, cultura, música e o comer bem. Procuro passar a eles uma “educação gustativa” e, também, transferir o prazer de comer, de forma saudável e com comida de verdade. E não sou o “amigo”, sou o pai que procura prepará-los para os desafios da vida.
Você já declarou que tem pavor de academia, mas que é apaixonado por rally. Como surgiu essa paixão? Você, certamente, nunca vai me ver em uma academia. Sou muito agitado e me exercito diariamente. Faço natação e a própria correria do dia a dia, faz com que eu seja saudável e me movimente muito. Mas essa história de “puxar ferro”, não é comigo não. O rally é uma paixão antiga, adoro moto. Mas, no último, sofri uma contusão no ombro da qual estou me recuperando.
O programa Diário de Olivier unia viagem e gastronomia. Foi um enorme sucesso. Além disso, você foi jurado do Bake off Brasil também com grande repercussão na mídia. Como foi para você essas duas experiências? O Diário do Olivier foi uma criação minha do começo ao fim e que me deu muito prazer em fazer e que até hoje está na memória afetiva da maioria das pessoas. O Bake off Brasil foi algo que nunca sonhei em fazer, um desafio muito interessante. Após 4 temporadas, decidi que era hora de dar um tempo. Mas, fui muito feliz em todos os projetos.
Tem planos de voltar à TV? Algo que gostaria de fazer nesse sentido? Se surgir algo que me encante e que faça sentido, claro que sim! Estou sempre aberto a novidades, sou um capricorniano inquieto e curioso (risos). Mas, no momento, estou dedicado a meus empreendimentos.
Você tem feito aulas de trompete? Como começou esse hobby? Adoro o som e ouço muito jazz em casa. Faz uns dois anos que resolvi começar as aulas e me divirto muito. Música boa e arte fazem parte do meu cotidiano. Agora, sofri uma contusão no ombro durante o rally dos sertões, outro hobby que eu adoro. Mas, assim que me recuperar, quero voltar às aulas.
Com pouco tempo de abertura, o Esther Rooftop virou referência. A que se deve esse sucesso? O sucesso do Esther se deve à ousadia de abrir um restaurante no centro de São Paulo, fora do eixo mais badalado. As pessoas precisam “sair da bolha”, experimentar. A vista é surpreendente. Sou completamente apaixonado por este projeto. Mas, aqui tudo tem alma – é de verdade, e as pessoas sentem. Faço questão de estar presente, de ir às mesas e conversar com cada cliente que vem até aqui. Há seis anos, o Esther é um grande sucesso e uma das minhas maiores paixões. Agora, estamos abrindo (aqui ao lado), como uma extensão – o “Esther eventos”, um espaço que começou como um lugar diferente para assistir aos jogos da Copa e, depois, vai receber muitos outros eventos.
Planos para 2023? Ainda não tenho nenhum desenho exato para o ano que vem. Quem sabe, em 2023, aparece algo que me faça entrar em uma nova aventura. É assim que eu gosto de viver… Fico atento ao que está acontecendo no mundo, mas sem planejar muito. Como dizem por aí – deixo a vida me levar, sempre de olhos bem abertos.