CAPA: MARCELO FARIA, PAI E FILHO

O que o filho de Seu Reginaldo e pai da Felipa, Marcelo Faria segue sua trajetória de aprendizados e ensinamentos que fazem dele um cara em evolução. Se questionando sobre seu papel de homem, pai, filho e artista, aos 50 anos ele mantém o ar jovial de quem caminha aliado do tempo. Vivendo o hoje da melhor forma e em sua melhor forma. Com estreia no teatro, Duetos, uma comédia que faz ao lado da amiga Patricya Travassos, Marcelo segue dando suas braçadas diariamente na piscina do seu clube, ao som de Gil e Caetano e de bem com a vida. Assim como nos recebeu para essa sessão de fotos e ao responder nossas perguntas. Bom tê-lo de volta aqui na MENSCH.  

Marcelo, final de semana do Dia dos Pais. Que memória afetiva você tem do seu relacionamento com seu pai? Minhas memórias são atuais, pois meu pai está presente em minha vida – no cotidiano, e nos encontros familiares. Quando criança, me lembro de irmos para a fazenda perto de Friburgo e passar dias e dias sem luz, curtindo o silêncio e as comidas caseiras da minha avó. Viagens com teatro nos anos 90, quando fazíamos pai e filho nos palcos. E uma viagem inesquecível em 2019, pouco antes da pandemia, com meu pai e meus dois irmãos – Regis e Carlos André.

E como é Marcelo pai hoje em dia? Aplica algum ensinamento que veio da relação com seu pai? Tento buscar a sua generosidade e tranquilidade nas decisões. Sempre meditar nos momentos mais difíceis, antes de tomar uma decisão. Passar para a Felipa os ensinamentos de meus pais e buscar aprender com ela, as mudanças nas atitudes mais modernas da nova geração.

Reginaldo parece ser um pai bem presente, parceiro e amigo. Como se dá a cumplicidade entre vocês? Somos todos muito unidos. Buscamos sempre conversar sobre trabalho e sobre a vida para estarmos sintonizados. Temos negócios em comum e sempre nos encontramos para curtir bons pratos e bons vinhos, além de assistir a jogos do Flamengo… Nesses encontros, falamos de trabalhos e trocamos nossas experiências em família.

Ser pai de menina é entender um pouco desde cedo o universo feminino. Como pretende preparar sua filha para encarar o mundo que ainda é machista? Acredito muito nessa mudança mundial. As novas gerações vêm para nos ensinar a dar mais espaço para todos. Feminino e masculino. Sem diferenças e sem cores. Isso, ela já sabe e já ensina. 

Falando nisso, ainda enxerga em você traços desse machismo e como procura combatê-los? Tive essa criação machista. Desde a escola até dentro da família, mas hoje percebo que sou um machista em desconstrução. Busco, no dia a dia, enxergar de outra forma e respeitar as diferenças.

Desde sua estreia na TV em 1984 com Máfia no Brasil, já se vão quase 40 anos de carreira. Quais momentos destacaria como mais marcantes? Todos os trabalhos são marcantes. Aprendemos com os acertos e erros. Tudo faz parte dessa caminhada. Mas o mais importante é mantermos nossa essência, não nos perdermos em viagens egoísticas – o que pode acontecer quando alcançamos um nível de fama e notoriedade. Procuro estar sempre atento para ter uma dimensão humana daquele que aprende, acerta e erra. Respeito meus amigos e colegas. A ideia de que ter um número alto de seguidores nas redes sociais é sinal de sucesso profissional, é um grande equivoco na formação de atores jovens e isso é uma preocupação que devemos ter. A busca desenfreada pela fama, pela exposição e a falta de privacidade num nível absurdo, pode criar uma geração que não estuda, não se aprofunda, e o nosso ofício é basicamente dedicação e estudo.

Prefiro não destacar um personagem ou um momento da minha carreira porque cada um é único. Claro que alguns são grandes desafios e outros já mais próximos de mim. Procuro fazer o meu trabalho com amor e dedicação sempre, é o respeito que tenho pelo meu público.

Hoje em dia, com o contrato por obra e não mais longos contratos, como você enxerga isso? Como anda o mercado audiovisual hoje em dia? Acho que essa abertura de mercado é boa para todos, mas ainda está restrito. O streaming no Brasil é um consumidor de produto. Se seu produto é vendável e aprovado, as grandes companhias compram e passam a ser donos de seu produto e você, como criador desse produto, se torna um mero funcionário de seu próprio projeto. Isso deverá ser revisto com o tempo. Atores, produtores, diretores, roteiristas, certamente farão ajustes para buscar melhores condições no mercado. O teatro, por sua vez, está atrelado a condições políticas e ideológicas – ou se capta recursos e se submete ao contrato quase inviável, ou não faz o espetáculo. 

Onde e quando se sente mais desafiado na sua profissão? Sempre me sinto desafiado. Sempre precisamos aprender para criar um novo personagem. O palco nos dá a oportunidade de criar com mais tempo e vivenciar o mesmo processo diversas vezes, sendo sempre diferente pelo fato de ser ao vivo. Todas as noites experimentamos um pouco mais daquelas histórias que estamos contando.

O quanto as redes sociais são importantes para você? Se sente na obrigação de estar postando para ter engajamento? Como lida com isso? Acho gostoso quando podemos usá-la com prazer. Ser obrigado a postar, comentar e marcar presença maciça para ganhar “seguidores”, é muito chato. Muitas vezes a exigência é tão que grande nos vemos obrigados a participar para não nos sentirmos excluídos do processo de divulgação. Essa ideia e essa prática não me parecem saudáveis. O futuro dirá.

Você completou 50 anos ano passado. Como essa idade cronológica chegou para você? Como a encarou? Me vejo igual a quando tinha 30 ou 40. Isso de idade não dita minhas regras. Fisicamente, me sinto bem. Faço tudo o que quero. Talvez não com a mesma intensidade, mas não me privo de nada. A idade limitante é maior emocionalmente e, se temos saúde, está tudo certo. Todo mundo conhece velhos de 20 anos!

Tínhamos a ideia, antigamente, de que ao se chegar aos 50 não faríamos mais determinadas coisas, ou já teríamos conquistado algo ou que visualmente estaríamos como nossos pais. Você se imaginou aos 50 como está hoje? Não imaginei nada. Vivo o dia a dia. Procuro não projetar o futuro, somente buscar novos desafios nos meus projetos dentro da arte. As conquistas são detalhes do que construímos ao longo da vida. 

Você é um cara vaidoso? Qual sua rotina de cuidados pessoais? Minha vaidade é me realizar no meu trabalho. Ver minha filha feliz e sendo querida por todos, sendo uma boa aluna e amiga. Isso me envaidece mais do que qualquer cuidado pessoal. O que vale é uma cabeça boa e realizada. Cuido da minha saúde, me alimento bem e faço esporte – sempre. Amo. Nado quase diariamente no clube Flamengo. Lá vejo os atletas e eles me inspiram.

Hora de relaxar… o que curte ler, ver e ouvir? O que toca na sua playlist, por exemplo? Leio o que posso. Textos ou livros. Gosto dos autores brasileiros… ouço muito jazz. Rock. MPB. Gil e Caetano sempre. Baiana System que tenho uma relação íntima… ouço direto. 

Quais os planos futuros que pode compartilhar conosco? Projetos na Bahia que são em família. Para o futuro, tenho projetos de séries, peças, filmes. Tudo encaminhado na busca da produção e de parcerias. Mas, assim como Duetos, a comédia que faço com a Patricya Travassos, os convites são sempre bem vindos. Estou livre para trabalhar onde quiser e essa liberdade é gratificante.

Fotos Priscila Nicheli

Foto Marcelo com a filha Fernanda Cândido

Styling Samantha Szczerb

Agradecimentos Amil Confecções, Doct Jeans, Index Denim, Eduardo Guinle