ENTREVISTA: BRUNNO DALTRO – OPERÁRIO DA ARTE

Envolvido com arte, música e dramaturgia, o destino do ator Brunno Daltro praticamente já estava traçado. Vindo de uma família de pessoas ligadas às artes, foi aos poucos desbravando seus caminhos e se descobrindo um ator cada vez mais completo. Depois de sua estreia nos palcos, veio a TV e agora ele procura voos mais altos com sua produtora. E não satisfeito, tem se dedicado a música com aulas de canto e violão. “Como gosto de dizer, eu me considero um operário da arte”, conclui Brunno ao longo desta entrevista.

Brunno, indo para o início… quando e como descobriu que gostaria de ser ator? Desde pequeno tenho vontade de ser ator, pois sempre fui muito ligado à arte, em geral. Sou de uma família em que meus bisavós cantavam no coral da igreja, meu tio avô é artista plástico, minha mãe fez teatro na infância e adolescência…Todo esse ambiente familiar me incentivou. Com o tempo, fui crescendo e percebi essa vocação dentro de mim. Sempre fui um menino muito extrovertido que praticava esportes e, ao mesmo tempo, gostava de música antiga, jazz e rock. E de filmes clássicos! Ler, também, sempre esteve em minha rotina. Tudo isso me levou aos palcos, sou formado pela CAL, Casa de Artes de Laranjeiras, e me tornei um ator focado e muito centrado. Eu me considero um artista em construção: toco gaita, estou aprendendo violão e canto. Busco mais do que somente interpretar. 

Ao longo da sua trajetória foram surgindo novas oportunidades como produzir seu curta em parceria com sua própria produtora. Como é olhar o projeto com esse olhar de quem está correndo atrás e fazendo por trás das câmeras? Além de todos os papéis que realizei como ator nos palcos e na TV, atuei e produzi “A Serpente”, de Nelson Rodrigues. Sempre gostei de trabalhar esse olhar mais amplo sobre a arte. Essa inquietação me levou a abrir minha própria produtora, a Quântica Audiovisual, em parceria com a Carla Britto. Assim, tenho a oportunidade de poder criar e atuar. Quero deixar claro, que produzir não é meu objetivo principal, pois gosto mesmo é de atuar em novelas, filmes, palcos, musicais, digitais… Estou aberto a propostas. (risos).

E como andam os preparativos para o lançamento do curta “Solução”? O curta foi finalizado e vai ser inscrito em diversos festivais. O momento, a partir disso, vai ser de colheita. Falar de um cara que possui depressão, um vazio e uma angústia muito grande nesse momento pós-pandemia é praticamente uma obrigação. Faço o personagem que contracena com o ator André Luís Miranda, que vai fazer uma entidade justamente para tentar dar uma solução ao problema dele. Este filme é uma parceria da minha produtora, a Quântica Audiovisual, com a Radar Filmes, de João Guinho, que também assina o trabalho como diretor.

Em breve você voltará aos palcos com peça ao lado de Leonardo Berthollini. Como anda a expectativa para volta aos palcos e o contato direto com o público? Como o teatro te toca? Estou muito animado com a volta aos palcos e com essa parceria. O Leonardo é o meu “mestre”. Estamos construindo um projeto muito bacana. O teatro sempre é um processo muito instigante, de muita pesquisa, experimentação, doação de si…e autoconhecimento. Já o contato com o público é único, pois cada dia recebemos espectadores diferentes. O teatro é a nossa arte-mãe, tudo começou por ele. Eu me sinto muito feliz me desafiando, mais uma vez, num clássico. Mas amo tudo, TV, cinema ou digital Estou aberto para o que vier. Gosto de dizer que o ator está onde a arte está.

Aliás, como a arte te toca de forma geral? A arte me toca de uma forma muito profunda. Ela está presente em todos os dias da minha vida: desde a música que ouço na minha playlist, até algum trabalho que faço. Como gosto de dizer, eu me considero um operário da arte. É o local onde encontro o meu lugar de expressão, onde me sinto realmente completo e sei que posso promover esse ambiente de debate social.

Não satisfeito com tudo isso, você também tem se dedicado à música com aulas de canto e violão. A ideia é ter a música como mais uma ferramenta para o trabalho? Como surgiu esse interesse? Sim, com certeza. Tudo começou quando fiz um teste para uma série que fiquei nas finais, bem cotado, mas ela caiu. Tinha que tocar violão e cantar. A partir disso, nunca mais parei. Comecei a fazer aulas, já estou até tirando um som do Elvis. Tenho aprendido muito rápido e pretendo usar isso para meus futuros papéis. Estou preparado para tudo: musical, teatro, TV, cinema, streaming. O ator precisa ser completo. Estudo muito para isso.

Qual seu estilo musical? O que toca na sua playlist? Sou muito voltado a canções clássicas. Amo jazz, blues e rock: estilos musicais que não saem da minha playlist diária. Desde a adolescência, sou fã de nomes como Ella Fitzgerald, Robert Johnson, Elvis Presley, Billie Holiday e Little Milton. Confesso que sou mesmo à moda antiga: gosto de canções do passado.

Dia dos pais e como anda o coração desse paizão? Como participa da rotina de Maria Teresa? Meu coração está muito tranquilo! Em paz, risos. Já vinha num caminho de aperfeiçoamento espiritual e minha filha chegou para coroar isso. Cresci num ambiente familiar de muito amor e respeito. Por isso, busco passar o mesmo para a minha filha. Fico com ela quinzenalmente e faço questão de participar de toda a rotina: tem a hora de comer, brincar, dormir. Gostamos de pintar, desenhar e de praticar atividades lúdicas.

Que lições aprendeu com seu pai que tenta repassar para ela? A maneira correta com a qual ele lida com a vida, sempre íntegro, companheiro. Me levava para jogar bola, fazer natação, judô. Ele me ensinou a ser um pai presente. Sempre muito amoroso.

Hora de cuidar de si mesmo. Qual sua rotina de cuidados pessoais? Do que não abre mão? Não abro mão de cuidar da minha saúde. Como minha vida é muito corrida pois, além de ser ator, produtor e me dedicar aos estudos, corro todo dia no condomínio em que moro, na Barra da Tijuca. É um momento em que me conecto com Deus. Também malho com elásticos de tensões diferentes. Gosto de comer de tudo, mas sempre alimentos que fazem bem em porções essenciais para a minha saúde. Como de três em três horas, meu relógio biológico já avisa que estou com fome.

Hora de relaxar depois de tantas atividades. O que curte? Como recarrega suas baterias? Gosto de ler, tocar violão, meditar, correr e ficar com minha família e filha. Ouvir música também é um dos meus momentos preferidos: adoro ouvir jazz. No momento, tenho ouvido Billie Holiday e Elvis Presley.

 Fotos Pedro Giannini (capa), Lúcio Luna Eduardo de Paula