O simples prazer de atuar, de encarar personagens tão distintos é o que faz Mateus Solano se envolver em projetos tão diferenciados. A capacidade dele de se envolver com aquele personagem é tão única que não existe personagem secundário para Mateus, todos viram protagonistas. Seja o Seu Bonitinho, da Escolinha do Professor Raimundo, seja o atual Guilherme de Quanto Mais Vida Melhor ou o icônico trabalho na peça , (de volta aos palcos). E a cada novo papel, ficamos na vontade de trazer Mateus de volta à nossa capa. É sempre um prazer tê-lo aqui e dessa vez, não foi diferente. Dê uma conferida e fique mais fã desse ator incrível.
Mateus, é um prazer para nós ter você de volta, ainda mais num momento tão especial com novela e peça dando o que falar. Para você, realmente é um momento especial? Sim, tem sido muito especial estar em dois trabalhos tão bacanas, experimentando uma espécie de retomada. Afinal, O mistério de Irma Vap foi interrompida pela pandemia e a novela Quanto mais vida melhor teve de ser gravada inteira antes de ir ao ar (tudo por conta dos protocolos).
Como foi se dividir entre Guilherme de Quanto Mais Vida Melhor e Irma Vap? Chega a dar um nó no juízo às vezes (risos)? A novela foi gravada inteira antes de eu voltar aos palcos. Portanto, não fiz os dois trabalhos ao mesmo tempo. Difícil mesmo foi fazer a novela (161 capítulos) sem a resposta do público.
Isso sem falar que você saiu de Zé Bonitinho direto para esses dois trabalhos. Por sinal, que alegrias o Zé Bonitinho te deu lá na Escolinha? Parecia que você se divertia muito. Todos nós nos divertíamos muito! Uma pena que esse projeto tenha acabado, apesar de continuar sendo reprisado. A escolha do elenco não poderia ter sido melhor. Além do que, todos nós somos fãs uns dos outros. Portanto, torcíamos muito por nossas cenas durante as gravações (não conhecíamos o texto do outro, o que deixava tudo mais espontâneo).
Seu lema é “quanto mais variedade melhor”? Por que você já foi vilão, mocinho, bruxo, historiador…e até o Rei Poseidon! Isso tudo vai compor o grande ator que você é. Como isso te toca? Perfeito! O grande barato da minha profissão é mergulhar em seres (humanos ou não) absolutamente diferentes. Descobrir as motivações das personagens para se tornarem o que são e conduzi-las pela história é o meu grande prazer em atuar.
De onde vem a criação de um personagem? Qual sua “receita” (se é que tem) nesse processo criativo? Cada receita é diferente. Depende não só da personagem, mas também da direção, da preparação de elenco…gosto muito de mergulhar em processos diferentes, a cada trabalho. Mas a verdade é uma só – quanto mais informações (mentais e sensoriais) sobre a personagem, mais fino vai resultar o meu trabalho. Quanto mais detalhes para eu me inteirar de seu universo, mais detalhes conseguirei na construção da personagem.
Falando em Irma Vap, você e Luis Miranda reestrearam a peça em São Paulo depois de uma pausa por conta da pandemia. Como foi essa emoção de voltar aos palcos e como é para um cara como você ficar longe deles? Foi muito duro para nós, especialmente para a equipe técnica, ter de parar tudo durante a pandemia. Portanto, foi uma emoção muito grande voltar aos palcos. No primeiro dia, inclusive, assim que as cortinas se abriram, ouvimos um público muito emocionado gritando “Viva a ciência! Viva a cultura!”.
Em 2020, em meio a pandemia, nós tivemos uma capa com você com fotos feitas pelo querido Sergio Santoian via facetime. Agora, de volta, mas dessa vez no presencial, que é bem melhor. O corpo a corpo realmente é insuperável, não é? Como você, que parece ser um cara muito afetivo e vibrante, encara essas relações digitais dos dias de hoje? Eu escolhi uma profissão onde a aglomeração é fundamental! Portanto, pra mim é muito importante o contato humano dentro e fora dos palcos. Mas descobrimos também, graças à pandemia, que muitas coisas não precisam ser feitas presencialmente. Muitas reuniões presenciais são um enorme gasto de combustível, de tempo e de dinheiro e, portanto, podem perfeitamente, ser feitas no modo virtual. Mas, de maneira geral, acredito que a pandemia tornou o encontro presencial em algo ainda mais especial. E acho que o teatro tem essa função.
Na mesma velocidade que ficamos mais digitais, ficamos mais frios em nossas relações, sejam de amor, amizade ou trabalho? Como enxerga isso? Acredito que o grande problema não é o esfriamento das relações, mas uma certa ilusão…graças às redes sociais hoje conseguimos ouvir só aquilo que queremos ouvir. Isso é muito alienante. A convivência com aquele que pensa diferente, o debate, a troca de ideias, me parece cada vez mais rara. E isso vem causando discussões acaloradas e um pensamento estreito.
Tomar consciência disso, é também se ligar que todo esse mundo digital traz um preço que talvez não estejamos percebendo. Como por exemplo, as relações rasas entre as pessoas e o consumo alto. Como isso te toca? Acredito que a “digitalização das relações” tem muitos contras, mas também alguns prós – nunca estivemos tão a par do que acontece no mundo, nunca tivemos tanta noção do estrago que estamos fazendo no planeta. Nunca tivemos tanta noção de que somos protagonistas da história e que cada ato nosso traz consequências pro futuro. Tudo está acontecendo muito rápido e é difícil, ainda, concluir para onde estamos caminhando. Por um lado, o consumo nunca foi tão fácil, mas, por outro lado, nunca fomos tão bombardeados com a informação de que consumir muito é errado e faz mal para as futuras gerações. Mas ainda é cedo para conclusões.
Como o ativista ambiental em que você se tornou, o que sente que precisamos fazer? Falamos em relação a simples mudanças de hábitos e costumes? O começar em casa? Há muito a ser feito! Costumo dizer que se todo brasileiro separasse o lixo seco do molhado já daríamos um passo gigantesco em direção a um país mais sustentável, até porque uma empresa só vai mudar se a exigência do consumidor mudar, assim como o governo só vai tomar certas atitudes com pressão popular. Portanto, começar em casa é muito importante. Uma boa dica são os “R” – reduzir o consumo, reciclar e reutilizar o que se tem, repensar aquilo que realmente necessitamos e as empresas que estão de acordo com a sustentabilidade, ressignificar a nossa própria vida… Ser sustentável não é um bicho de sete cabeças. Se você se preocupa em levar uma sacola retornável ou uma garrafa de água quando sai de casa, se você economiza sua luz e a sua água, se você tem preocupação e interesse em seguir hashtags que falem sobre sustentabilidade, você já está sendo sustentável. Costumo dizer também que #umgestomuda. A sustentabilidade é uma reconexão conosco e o caminho para ela, acontece de forma natural. Só precisamos dar o primeiro passo.
Pandemia, guerra, política brasileira… onde encontrar alento para um sorriso, cultivar bons momentos e ter esperança? Eu acho que há sim uma forma de ter compaixão com todo sofrimento e ao mesmo tempo ser uma pessoa esperançosa e otimista, até porque não vejo sentido no pessimismo. Se alguém está vivo está contribuindo, querendo ou não, para tudo que aí está. Cabe a nós abraçarmos esta responsabilidade com leveza e gratidão por estarmos vivos.
E como anda pai Mateus Solano no meio disso tudo? Tem desempenhado bem este papel de pai (risos)? Acho que só quando meus filhos forem adultos vou poder dar esta resposta…
Voltando para Quanto Mais Vida Melhor, a troca de papéis trouxe um desafio grande para vocês. E o resultado não poderia ser melhor. Como foi imitar Valentina? Foi muito desafiador gravar um personagem durante tanto tempo sem o retorno do público…gravar dois então…tivemos muito pouco tempo para criar um segundo personagem no meio de uma novela que foi gravada inteira durante uma pandemia. Portanto, foram muitos os desafios e não poderíamos estar mais felizes com o sucesso do resultado.
Trocando de papéis… Com quem gostaria de trocar papéis na vida real? A troca de corpos acontece na novela como um castigo da morte…e acho que seria mesmo um castigo!! Prefiro exercitar me colocando no lugar do outro daqui mesmo, na minha alma e no meu corpo.
O que te diverte e coloca um sorriso no rosto (coisa que não parece ser difícil)? Ver meus filhos correndo….
O que ainda vem para este ano? Ou vai dar uma parada depois da peça? Tenho interesse em fazer meu primeiro monólogo no teatro, mas o projeto ainda é embrionário. Torçam por mim!!
Fotos Sergio Santoian
Grooming Louise Helène
E para quem quer curtir Mateus Solano no teatro com a peça Irma Vap, aqui vai a agenda de espetáculos pelo Brasil:
Curitiba – Festival de Curitiba – Teatro Guairão
02 e 03 de abril
Florianópolis – Teatro Ademir Rosa
09 e 10 de abril
Porto Alegre – Teatro do Sesi
16 e 17 de abril
Rio de Janeiro – Teatro Casagrande
07 de maio a 26 de junho
Belo Horizonte
02 e 03 de julho
Salvador
09 e 10 de julho
Recife
16 e 17 de julho (sábado e domingo)
São Paulo – Tom Brasil
03 e 04 de setembro
Sábado, 21h e Domingo