Do garotinho que sonhava em ser artista até tornar esse sonho realizado, o mineiro Matheus Dias ralou um bocado, claro, não tinha como ser diferente. Mas o esforço valeu a pena pra ele e pra gente que pode conhecer e admirar melhor o talento desse cara que atualmente vem emocionando o público com seu personagem Bento, na novela Além da Ilusão (Globo). Batemos um papo com Matheus e ele protagonizou um belo ensaio exclusivo para MENSCH. Que venha muito mais Matheus!
Matheus como está sendo estrear numa novela e com um personagem tão rico como o Bento de Além da Ilusão? Estrear numa novela das seis é muito enriquecedor, é um horário dedicado as fábulas ou algo sempre mais leve. E o Bento é um personagem que tem diversas fases de personalidade ao longo da trama. Pra mim, é ótimo poder brincar e amadurecer em frente às câmeras e amadurecer também o personagem ao longo da trama. Além da representação de ser um homem preto, que se torna escritor, também pelo contexto histórico da guerra – é a história que sempre quis contar. No começo, era a história de um jovem apaixonado e sonhador e agora, estou interpretando um homem tentando recuperar a esperança na vida e tentar voltar pra sua família e para o seu amor.
O personagem passou por várias fases, do romance em sua cidade natal, a parceria com o amigo-irmão, até sua ida para a guerra e os desafios da mova condição. Como tem recebido e vivenciado esses momentos de Bento? O Bento é um dos personagens que mais teve viradas na trama, muita coisa aconteceu até aqui. Gravar as cenas da guerra foi uma das minhas melhores experiências como profissional. Foi complexo, mas foi uma delícia. Desde o início o Bento sempre foi muito íntegro, apaixonado, leal e sonhador e o público se afeiçoou muito à pureza dele, foi legal de ver. Demorei pra aceitar que o público está com raiva dele por essa mentira (de ter morrido na guerra) e ele vai pagar caro por isso. Mas ainda assim recebo muito carinho das pessoas que acompanham o drama e posso dizer que vão torcer muito por ele nessa reta final.
Antes na TV você tinha participado de Malhação – Pro Dia Nascer Feliz (2016) e uma participação em Cidade dos Homens (2018). O que mudou em participar de uma novela que possui vários capítulos e dura meses? Já tinha sentido um pouco do que é isso quando fiz Malhação, mas com um personagem bem menor. Agora, tenho uma história que tá sendo contada desde os primeiros capítulos e que só vai ser resolvida no final, isso é muito rico pra mim. Tenho um personagem com densidade e camadas pra serem pensadas e trabalhadas, com um ritmo bem maior de trabalho e muitas reviravoltas. Me sinto muito mais seguro e muito mais consciente no trabalho e também em relação a nossa profissão mas, ainda assim, sigo aprendendo muito. Estou amando essa fase!
Como surgiu o convite e como foi a sua preparação? Em meados de 2020, eu vinha participando de oficinas on-line da Globo. Desde então, percebi que havia um interesse em meu trabalho e me dediquei em tudo. No início de 2021, participei de uma oficina bem legal e dividi tela com Renata Sorrah, Betty Faria, Eliane Giardini e outros atores incríveis. Foi através dessa oficina que o Luiz Henrique Rios e o Fábio Zambroni, me pescaram. O convite veio em maio do ano passado e me surpreendi quando o Fábio me contou sobre o personagem – era muito parecido com uma história que escrevi em 2017. A preparação foi muito rica, pesquisei imagens, textos e áudios da época e fui em busca de filmes sobre a guerra. Pesquisei também filmes com diferentes temáticas em que os casais pretos eram protagonistas e isso me ajudou a construir a história de Bento e Letícia. Eu e Larissa Nunes trocávamos cartas já como personagens, quando ela ainda estava em São Paulo. Foi lindo!
Verdade que você foi uma criança que sonhava em ser ator? Desde os cinco anos eu já falava que iria aparecer na televisão, que seria artista. Brincava que tinha um programa infantil de entrevistas, que tinha um seriado e eu era o personagem principal e meus DVDs eram as atrações desse programa imaginário. Sou um apaixonado pelo audiovisual, pela dramaturgia brasileira, pela correria do set e por poder dar vida a alguém que não sou eu. Esse sonho cresceu comigo e cá estou fazendo uma novela linda.
Mineirinho de São João Del-Rei, o que você levou com você da sua terra natal? Minha timidez, o jeito acolhedor e agregador de todo mineiro. Além da culinária, pela qual sou apaixonado!
Com Bento acredita que será um divisor de águas? Acredito que sim! Sempre ouço coisas muito positivas da galera do elenco e da equipe e dos fãs da novela. É uma grande oportunidade e acho que eu soube aproveitar. Dei o melhor de mim, o melhor que pude fazer até aqui. Sei que tenho muito o que aprender ainda, mas estou muito satisfeito com o que tenho visto. Creio que o Bento veio para abrir muitas portas!
Voltando ao personagem… ele faz uma escolha radical ao voltar da Guerra. Você concorda com a decisão dele? Como defenderia o personagem? Não concordo com a atitude dele, porque ele não pensou no pai e nem no sofrimento da Letícia. Mas ao mesmo tempo, eu entendendo a decisão dele. Era outra época, as pessoas não tinham essa visão de que a vida poderia continuar normalmente, embora que com algumas limitações. Além dele estar extremamente traumatizado, eles viveram um horror no meio da guerra e o trauma de talvez nunca mais andar. Mas essa atitude é um tempero pra essa história, pois quando o Bento voltar tudo vai estar revirado.
E quais os medos e anseios de Matheus Dias hoje? Ficar sem trabalhar com o que amo! Nossa carreira é muito instável, mas sinto que isso não vai acontecer. As coisas mudaram bastante de uns tempos pra cá e sinto que as portas estão mais abertas e também estou numa grande vitrine. Mas é um medo grande, pois já passei por isso e foi um momento complexo.
Já sentiu o peso que a visibilidade que a TV aberta traz? Como isso repercute na sua vida hoje? Até agora tem sido tranquilo, lido com naturalidade. Acho incrível o quanto as pessoas se envolvem com a história, elas te amam e te odeiam com muita facilidade, basta uma atitude ou fala. E isso acontece também na vida real – sou bem reservado em relação a minha vida, principalmente nas redes sociais. Então, as pessoas conhecem mais o Bento do que o Matheus, tento não levar esse peso comigo ou tento me adaptar a isso. Quero sempre que as pessoas reconheçam sempre o meu trabalho antes da minha vida pessoal. Vejo como uma consequência do nosso trabalho, temos que aprender a lidar com isso e vou tentar mostrar o melhor de mim.
E como a arte te transforma? A arte sempre fez parte de momentos incríveis pra mim e ela me salvou no momento em que pensei em desistir dela. Tenho alguns artistas na família – meu avô cantava e já foi puxador de samba-enredo, meu primo é dançarino, uma prima trabalha com artes plásticas e eu sou ator. Então, a arte sempre esteve presente em minha vida de alguma forma e não me vejo fazendo outra coisa.
Depois de Além da Ilusão o que vem por ai? Havia um filme em que eu seria um dos protagonistas, mas acabou colidindo com o fim da novela. Por enquanto não tenho nada previsto, mas enquanto não surgir algo vou me dedicar a projetos independentes e ir à procura de novos trabalhos.
O que te coloca um sorriso no rosto? Ver minha família reunida. A notícia de um novo trabalho e estar junto dos meus amigos. Valorizo muito esses momentos.
Foto lee.fashionphoto
Direção de arte e styling Marco Antônio Ferraz
Beauty Karen kim
Assistente Pedro Jorge
Agenciamento artístico DNAart
Matheus veste: terno e boina Armani, jaqueta preta e camisa listra Zara, gravata, calça xadrez e blazer Hugo Boss, saia calça Junior Dias, smoking Elcyr Modas, sandálias Havaianas.
Todas as roupas tem uma pegada vintage. Acreditamos nas atitudes de menos consumo que possam fazer o mundo menos nocivo à natureza. Menos consumo faz do mar mais limpo, menos espuma tóxica.