CAPA: OS DESAFIOS DE ANDRÉ LUIZ FRAMBACH

A diversão de criança terminou se transformando na profissão da vida. Hoje aos 25 anos, André Luiz Frambach vive tudo isso com muita paixão. Para nós que vimos o pequeno André atuando ao lado de veteranos da TV é como se fossemos próximos a ele. Atualmente interpretando o Rico em Cara e Coragem, ele encara os desafios de interpretar um dublê. “Então, para interpretar o Rico, o Heitor Gabriel, eu tive que aprender parkour, tive que aprender flyboard, tive que aprender uma série de coisas que eu sempre tive vontade”, comentou ele ao longo dessa gostosa entrevista. Que venha mais André por aí.

André, olhando seu início de trabalho como ator, aos 8 anos, foi tudo muito intenso, né? Foi um trabalho após o outro. Como encarava essa rotina de gravação e como fazia para não atrapalhar a escola? É, para falar a verdade, sim. Para quem está de fora e analisando a situação como um todo, realmente é. Foram trabalhos sem parar, trabalhos consecutivos, graças a Deus. E trabalhos muito bacanas e muito importantes que me fizeram crescer muito como pessoa e como ator. Agora, para mim mesmo, que estava vivendo tudo, foi complicado. Eu acho que como em toda profissão e todas as fases. Eu fiquei um tempo parado, uns anos parado. Fiquei mais ou menos dos 13 aos 18 anos, parado. Então, acho que foi importante. Eu costumo falar sempre que a vida e o universo protegem a gente. Então, foi muito importante também esse tempo que eu fiquei parado para poder focar mais no estudo médio, na minha formação… Me dedicar mais, tirar a minha carteira de motorista… Enfim, ter um pouco mais de atenção ao período final de estudos.

Mas durante todas as gravações e durante todos os trabalhos, eu SEMPRE (ênfase) consegui conciliar muito bem. Inclusive, era uma exigência de todas as diretoras – a Denise Saraceni, que sempre esteve comigo e outros diretores e diretoras também que estiveram comigo. Era uma exigência deles sempre ver meu boletim para saber como é que estava, como é que eu estava me saindo na escola, se estava indo bem, se eu estava indo mal… Porque elas sempre falavam “primeiro a escola, depois o seu trabalho que, na verdade, ainda não é um trabalho para você, é uma grande diversão”. Hoje em dia é o meu trabalho, hoje em dia realmente é da onde eu tiro o meu sustento, né? Mas antes era uma grande diversão. É claro que eu era muito profissional, eu levava muito a sério tudo, mas era uma diversão. Então, eu sempre estudei de manhã para poder gravar na parte da tarde e ter esse tempo, esse período para poder me dedicar à escola e ao trabalho também. Então, eu conseguia conciliar bem, até.

Naquela época já tinha ideia que ator era o seu futuro como trabalho? Bom, como eu disse na primeira resposta, naquela ideia – eu amava fazer aquilo por me sempre me divertir muito, fazendo. E, aos poucos, eu fui vendo que era isso que eu queria para minha vida. E hoje, eu ainda tenho aquele frescor daquela criança que se diverte fazendo tudo. Eu acho que esse é o maior segredo da nossa profissão – a gente tem que se divertir fazendo todas as cenas por mais difíceis e mais densas e complexas que sejam. A gente precisa estar se divertindo, a gente precisa estar animado, a gente precisa estar vivendo aquilo como se fosse tudo muito novo e isso é o mais importante. Então, naquela época, onde eu me divertia apenas, eu não via ainda como um trabalho, como “ah, eu vou fazer isso na minha vida”, mas eu amava aquilo. Eu tinha oito anos quando eu comecei, né? Assim, não tem como uma criança de oito anos já pensar nisso. E aos poucos, eu fui vendo que era aquilo que eu queria fazer, de fato. Era aquilo que ia me realizar como pessoa, como, enfim, tudo. Então, é pegar aquele frescor e aquela diversão daquela criança que adorava tudo e trazer para minha vida hoje em dia, de um adulto que ama o que faz e que depende disso para viver, e que, em todos os sentidos, não viver só financeiramente, mas viver como uma pessoa feliz que ama o que faz e que se diverte sempre com o que está fazendo.

Mas como e quando despertou para isso? Cara, eu acho que logo nos primeiros trabalhos. Comecei com oito, então eu acho que a gente pode dizer que, se teve um marco para mim, foi depois que eu fiz Queridos Amigos e depois, eu já emendei em Ciranda de Pedra, que era uma minissérie, uma novela das 6. Tanto que, na primeira cena de Ciranda de Pedra, eu acabei de gravar Queridos Amigos no Rio, no estúdio, e fui para São Paulo gravar minha primeira cena com o Bruno Gagliasso em Ciranda de Pedra. Eu acho que depois desses dois projetos, eu comecei a encarar aquela diversão como trabalho, como era isso que eu queria para o resto da minha vida. Então, eu acho, que foram esses dois trabalhos que me despertaram esse desejo de fazer isso para o resto da minha vida e que era isso que ia me fazer feliz, que ia me deixar realizado. E, realmente, iria abrir mão de muitas coisas para poder me dedicar inteiramente à minha profissão, à minha carreira. E, como consequência, a gente tem que abrir mão de certas coisas para depois colher lá na frente, bons frutos.

Ainda muito novo, você contracenou com muitos veteranos como Marcello Antony e Vera Holtz. Encarava com naturalidade ou chegava a ficar nervoso diante dessas feras? Cara, para ser sincero até o hoje eu fico nervoso. Quando eu paro para pensar que eu contracenei com Tarcísio Meira, com Vera Holtz, com Marcello Antony… Pô, hoje eu contraceno com Paola Oliveira, com Marcelo Serrado… São atores e artistas que estão no mercado há muitos anos e com quem a gente tem muito o que aprender e tem muito o que trocar. Mas eu acredito muito que quando a gente está gravando no set, todo mundo é igual. Todos os artistas são iguais. Atores e atrizes, todos os diretores, toda a técnica, todo mundo – a equipe inteira que está ali no set de gravação é igual.

Assim, no set, no ‘gravando’, eu que sempre deixei fluir muito e sempre, fui muito feliz porque eu também sempre fui muito acolhido. Agora, é evidente que, quando a gente para pra pensar nos nomes, nessas pessoas e quantos anos de carreira essas pessoas têm, quantas experiências essas pessoas têm, gera um nervosismo do tipo “será que eu vou dar conta?”, “será que eu vou conseguir entregar?”, “será que eu vou conseguir trocar como eu preciso trocar em cena?”…  Então, isso é muito importante. E é importante também esse nervosismo para a gente poder crescer, para a gente poder estar vivo, para a gente não se acomodar, entende? Então, até hoje, eu sinto esse nervosismo. E quando eu vou contracenar com certas pessoas, quando eu sei que eu vou fazer uma novela ou um projeto com certas pessoas, depois, no dia a dia, é o que eu falei – vira todo mundo igual. Está todo mundo fazendo o que ama, está todo mundo trabalhando e se dedicando à sua profissão, que é o que torna a gente realizado.

Que lições você aprendeu nessa época que levou para sua carreira de ator? Acho que eu também respondi isso na pergunta quatro, mas pontuando aqui – eu acho que aprendi que o nervosismo é sempre muito importante e a diversão também. É sempre importante a gente se divertir ao máximo em cena porque, se não for para se divertir, não faz sentido a gente fazer o que faz. E o nervosismo é bom, porque ele te deixa vivo, ele não deixa você se acomodar, entrar numa zona de conforto de fazer o mesmo, sabe? E eu sou um ator que gosto muito de inovar e gosto muito de ser muito diferente de um personagem para o outro, de trazer coisas novas e gestos e características e caracterização e forma que se veste… Assim, esse nervosismo do “Será que eu sou capaz?”, “Será que dá certo?”. Controlado, evidente, ele te deixa instigado a não entrar numa zona de conforto, a não relaxar completamente. Então, eu acho que eu aprendi com esses grandes artistas a deixar sempre esse frescor e essa diversão e esse nervosismo, em dosagem correta, vivo dentro da gente, para a gente poder também estar vivo em cena e com os personagens.

Na sequência veio Malhação que mostrou um André mais maduro e adulto. Podemos dizer que foi um divisor de águas na sua carreira? Cara, eu acredito que não um divisor de águas na minha carreira, mas um divisor de águas para o público enxergar o André Luiz Frambach, entende? Para mim, eu não costumo falar “esse trabalho foi um divisor de águas na minha carreira”, não. Todos os trabalhos são muito importantes, por menor ou maior que sejam. E eu sempre costumo falar isso. Eu sempre vou para todas as cenas e para todos os trabalhos como se fosse o primeiro e o último da minha vida, como se fosse a primeira e a última cena da minha vida. Eu não doso o esforço, eu não doso a entrega, não. Eu me entrego sempre, todos os dias, ao máximo que eu posso, porque eu acredito que tem que ser assim na vida. Mamãe e papai me criaram de uma forma para a gente sempre se dedicar ao máximo no que a gente for fazer. Não importa o que a gente vá fazer, sabe? Então eu tenho muito isso, como a mamãe falava “Eu não gosto de fazer as coisas pelas coxas”, sabe? Fazer meio bem feito. Não, eu vou fazer sempre muito bem feito ao máximo que eu posso. Então, eu acho que Malhação foi muito importante na minha carreira, na minha vida. Aprendi muito. Era um elenco muito jovem, todo mundo muito novo. Muita gente que nunca tinha feito nada. Então, eu, querendo ou não, por já ter trabalhado desde os oito anos, pude levar coisas para as pessoas aprenderem, pude aprender muita coisa com essas pessoas que sempre se dedicaram e estudaram muito, mas nunca tiveram, entre aspas, uma oportunidade e tiveram pela primeira vez em Malhação. Então, foi muito importante para mim, como todos os trabalhos são muito importantes. Mas eu acho que, de fato, foi um foi um divisor de águas no sentido de o público enxergar um André Luiz Frambach diferente.

Hoje você está interpretando o esportista Heitor em Cara e Coragem. Como foi a preparação para esse novo desafio? Cara, foi uma das preparações mais incríveis que eu tive. Eu, na vida, amo esporte, amo deixar o meu corpo em movimento, aprender coisas novas, aprender esportes novos e estar no mar, estar enfim, sentindo a adrenalina… Então, para interpretar o Rico, o Heitor Gabriel, eu tive que aprender parkour, tive que aprender flyboard, tive que aprender uma série de coisas que eu sempre tive vontade, sempre olhei e falei “Caraca, que coisa incrível, queria muito aprender.”, mas nunca tive, talvez, a oportunidade, nunca tive o tempo, nunca tive conhecimento de quem poderia me ajudar, ensinar e tudo mais. Então, eu acho que essa também é a magia da nossa profissão. É a gente poder vivenciar coisas que, pessoalmente, a gente possa ter vontade, mas não tem oportunidade ou não tem tempo. Enfim, ter essa preparação que a gente teve desde novembro/dezembro para começar a gravar, foi incrível. Aprendi com os dublês que eu aprendo até hoje a como cair, a como ter uma reação de soco, como sentir, como dar o soco, a como ser atropelado, a como fazer um salto, o parkour também, o flyboard… Então, assim, foi maravilhoso, foi uma experiência incrível que, graças a Deus, eu vou levar para a vida, não só para esse trabalho. Eu saio de Cara e Coragem com uma bagagem de dublê muito grande, vamos dizer (risos). Então foi muito incrível mesmo.

Desafio esse de viver um dublê com mil aventuras. A adrenalina sobe e você leva tudo numa boa? Em algum momento já encarou alguma cena sem dublê? Cara, eu brinco que eu sou muito o Rico em relação a isso. O Rico se joga em tudo, sem dosar esforço e sem dosar, vamos dizer, as coisas negativas que podem acontecer. E o André também. Todas as cenas eu me jogo, eu quero saber, eu quero fazer tudo, eu quero aprender… Claro que a gente tem sempre o auxílio da equipe, do impacto dos dublês, que é do Waltinho e tal. Toda cena de parkour, o Vance tá lá, que é nosso professor, o Alexandre, que é o dublê do Paulinho está lá… Então, a gente tem sempre um auxílio muito grande. E, geralmente, em quase todas as cenas, eu sempre faço. Mas não é por não valorizar o trabalho dos dublês, pelo contrário, eu sempre pergunto, falo assim “Vocês fazem ou querem que eu faça?”. Porque querendo ou não, é um pouco mais fácil, dependendo da cena, que o ator faça. Se o ator consegue fazer, que o ator faça. E o dublê, claro que é importante estar ali o tempo todo em cena, para poder auxiliar, para poder explicar e para poder mostrar como é que tem que ser feito. Mas, para o jogo de câmeras, se o ator consegue fazer, é importante que o ator faça, né? Então, eu, como eu gosto e como eu me jogo, a maioria das cenas sou eu que faço. A não ser coisas muito específicas, como no caso do flyboard. Eles queriam um mortal no flyboard, eu não treinei o mortal. Eu tive duas, três aulas de flyboard. Então, precisou meu dublê fazer o flyboard – ele teve que fazer o mortal. Mas, de resto, a maioria das coisas, eu faço.

E até coisa que eu não quero fazer, o Waltinho, que é o chefe da Impacto, fala assim “Não, não, o André faz.” e eu falo “Não, Waltinho, deixa o Andrézinho fazer” que é um outro dublê também de parkour. “Não, deixa. Não, não, você faz. Vai lá, faz lá. A gente está aqui te auxiliando. Vai, pode fazer”. E aí botou uma lenhazinha, o fogo já pega na hora. Eu já vou lá e faço mesmo, porque aqui eu adoro e me jogo mesmo.

O esporte já faz parte da sua rotina diária? Se sim, o que pratica? O esporte sempre fez parte da minha rotina diária, sempre. Desde menor, desde moleque. Eu comecei jogando bola, como todo o garoto, e também já fui para o hipismo clássico, para o hipismo rural… Porque eu sou apaixonado por cavalo – desde os quatro anos eu ando a cavalo… Apaixonado. Assim, é uma das minhas maiores paixões da vida. E aí logo depois, também comecei a jogar tênis, comecei a jogar vôlei, comecei a jogar handball, comecei a jogar futsal… Então, desde muito novo o esporte sempre esteve muito presente na minha vida.

Quase fui federado em vôlei, só não fui federado porque eu precisava escolher entre a minha carreira e virar atleta de vôlei. E como desde muito novo também eu já comecei a trabalhar, abri mão de ser um profissional, de ser um esportista, para poder, de fato, me dedicar à atuação e virar um ator. Enfim, desde muito cedo o esporte estava na minha vida, eu sempre amei o esporte. Acho que, até hoje, se eu mesmo atuando e me dedicando completamente à minha profissão, se eu não fizer esportes, eu não vou ser feliz. O esporte, para mim, para o mundo, é a maior ferramenta de desenvolvimento e de escape, de tensão e de várias coisas e de educação também. Principalmente, te ensina a ter disciplina, te ensina a ter tanta coisa… Então, hoje em dia, eu faço futevôlei, hoje em dia eu faço futebol, hoje em dia eu faço crossfit… Hoje em dia, o que tiver para eu fazer, vôlei, vôlei de praia… O que tiver para fazer, o que eu tiver tempo de fazer, eu vou me jogar, eu vou fazer.

Na trama, seu personagem é apaixonado por e Lou (Vitória Bohn) e na vida real, Larissa Manoela, que conquistou seu coração. Se considera um cara romântico do tipo que manda flores? Eu me considero o último romântico (risos). As pessoas falam muito isso nas redes sociais: “André é o último romântico”. Eu sou muito romântico e eu sou um romântico à moda antiga. Assim, de mandar flores, de fazer surpresa, de me dedicar o tempo todo, de fazer declarações o tempo todo… Porque eu tive isso em casa, entende? Então eu cresci vendo o papai fazer isso com a mamãe, eu cresci vendo um homem respeitar uma mulher acima de tudo. E mais do que isso, vendo dois seres humanos se respeitarem, acima de tudo. Então, se eu estou com uma pessoa, eu vou respeitar ela acima de tudo, sempre. Sempre foi assim e sempre vai ser. E com a Lari não tinha como ser diferente, por ela ser exatamente como eu, por ela ter a mesma referência também de vida, porque os pais dela também são exatamente como os meus. Estão juntos há 30 anos, se dedicando e se amando e se conquistando todos os dias. Então, a gente realmente se encontrou, foi um encontro de almas e não podia ser diferente. Então, eu sou realmente o romântico e, com ela, eu consigo ser mais ainda do que eu sempre fui na minha vida.

Chega a hora de relaxar o que você procura? Minha família, meus amigos que cresceram comigo em Niterói e estar em paz o máximo possível na casa dos meus pais, com meus sogros, com a Lari, com a minha irmã, com o meu cunhado, com a rapaziada toda que cresceu comigo, fazendo um churrasco, tocando um pagode, fazendo uma zona, tocando todo tipo de música, indo para a praia jogar uma altinha… Eu procuro estar sempre que eu posso e sempre que eu tenho tempo, o mais ligado possível na minha família. E na “minha família” quando eu falo, inclui a grande família que a gente já criou com os meus sogros também, com os meus amigos que cresceram comigo… Então, nos momentos de relaxar, eu procuro estar em casa, literalmente. Em casa, não “em casa” o lugar, mas em casa no coração, onde que eu me sinto em casa com essas pessoas.

Planos para quando a novela terminar? Algo que possa nos adiantar? Bom, infelizmente ainda não tenho planos que eu possa adiantar pós-novela. Existem muitas possibilidades já, especulações de coisas que podem acontecer e de projetos que eu posso fazer. Existe, evidente que existe, graças a Deus. Mas, de concreto, ainda não tenho nada. Assim que eu tiver, quem sabe, eu consigo falar com vocês na hora que for confirmado. Mas, por enquanto, ainda nada. Por enquanto, a novela está no meio ainda, a gente só acaba de gravar em dezembro. Então, tem muita coisa ainda para acontecer. Eu estou com a cabeça totalmente focada na novela. Acho que quando for para ser alguma coisa pós-novela, vai acontecer naturalmente – eu acredito muito nisso. A gente se dedicando no presente, o futuro retribui. Então, eu estou totalmente focado no presente para que o futuro, quem sabe, possa me retribuir com projetos tão incríveis quanto Cara e Coragem e tão incríveis quanto todos os trabalhos que eu fiz até hoje. E é isso, aguardando ansiosamente esse futuro. (risos)

Fotos: Sergio Baia

Styling: Marlon Portugal

Beleza: Yago Maia