Você pode não conhecer de cara Raffaele Casuccio, mas certamente já viu o resultado do seu trabalho aqui no Brasil em novelas da Globo, a coreografia de vários atores da novela “Rock Story” teve o comando dele e também algumas participações como ator em novelas, como “Flor do Caribe”, e mais recentemente na série “O Negócio”, como um investidor das protagonistas. Raffaelle é um italiano do mundo, já rodou por vários países com sua dança, morou em vários lugares e há 6 anos morreu de amores pelo Brasil, especificamente pelo Rio de Janeiro, e por aqui ficou. Sua carreira tem sido marcada por diversos momentos inesquecíveis, como ter feito parte da equipe de dança de Madonna e dançar ao lado do tenor Luciano Pavarotti e do cantor latino Rick Martin. Ultimamente ele tem se destacado com seu personagem Giancarlo em “O Negócio”, que está na trama desde a 1ª temporada e vai até o fim ao lado de Mia (a protagonista vivida pela Aline Jones).
Raffaele, há seis anos você veio para o Brasil e não saiu mais. O que te trouxe até aqui e que motivos te fizeram ficar? Vim de férias entre um trabalho e outro na Itália. Foi amor à primeira vista e tive a sorte de estar na companhia de uma carioca que morava em Roma. Ela me mostrou as maravilhas da cidade, a sua natureza exuberante, os ritmos, as cores, o calor e recepção de um povo diferente, mas ao mesmo tempo tão próximo de nós, os italianos. Como não pensar em ficar? Na minha segunda vinda, comecei a perceber que tinha um mercado fértil para mim e eu só segui o interesse do meio pelo meu trabalho e o fluxos dos acontecimentos. Foi assim que ficar virou uma escolha natural.
Antes disse o que fazia na Itália? Conta um pouco do seu início profissional em seu país… Por dez anos eu fui dançarino profissional na Itália e, a partir do meu trabalho, viajei pelo mundo todo acompanhando grandes artistas em turnê ou protagonizando programas da TV italiana que me deram grande visibilidade. Comecei numa companhia de dança especializada na mistura de dança de rua, contemporâneo e acrobática. Mas logo em seguida dei meu primeiro passo na televisão através de um teste com o coreografo número um na Itália: Luca Tommassini. Ele é agora diretor artístico de Xfactor, Amici e outros programas de grande sucesso no meu país. Na época ele estava dirigindo Gery Halliwell, Ricky Martin e Kylie Minogue e foi assim que comecei a participar dos videoclipes e dos tour promocionais desses cantantes.
Como começou sua carreira de coreógrafo? O que te encanta nessa profissão? Foi uma passagem muito natural. Quando morei em Londres meu estilo de dança começou a mudar, a se atualizar trabalhando com artistas e coreógrafos de grande talento, e foi assim que, quando voltei para Itália, os coreógrafos começaram a me dar espaço para criar meus próprios passos. Eles tiveram o insight que o estilo novo que estava trazendo poderia só agregar e valorizar as produções nacionais. O que me encanta quando coreografo ou dirijo, é criar uma atmosfera, um universo de sensações e experiências que possa acolher o espetador e leva-lo para um imaginário rico de emoções. Os passos, na verdade, são a coisa menos importante.
Você ficou conhecido nos bastidores da TV brasileira como o cara que coloca todo mundo para dançar. É verdade? Quais os desafios de colocar um ator sem experiência começar a dançar? Costumo dizer que faço dançar também um pedaço de madeira, (risos). Quando trabalhei em “Rock Story”, novela da TV Globo, tive o prazer de criar uma pop band onde os integrantes eram só atores. Fora um deles, todos desconheciam completamente o que significa aprender uma coreografia. Foi um processo muito rico e divertido. O meu trabalho vai além de ensinar um passo, é mais o entendimento de como lidar com as particularidades de cada temperamento e saber transformar as dificuldades em forças. E isso é muito bonito e no caso de “Rock Story”, criou-se um vínculo verdadeiros de afeto com a banda “4.4”, formada pelos Danilo Mesquita, Enzo Romani, João Victor da Silva e Nicolas Prattes.
Conta como foi esse teste com coreógrafo de Madonna sem ter ensaiado antes. Chegou a dançar com a equipe dela? Eu estava ensaiando com a minha companhia teatral, mas estava rolando ao mesmo tempo o teste do coreografo e dançarino da Madonna. Eu não tinha como chegar no horário, aí mandei meu irmão para segurar minha vaga e a claquete. Quase desisti porque cheguei três horas atrasado e todo mundo já tinha aprendido a coreografia para mostrar a ele. Sem pensar muito falei para a assistente do teste: “coloca uma música e eu vou improvisar “. E foi assim que entrei a fazer parte da equipe.
E como foi essa experiência com Luciano Pavarotti? Foi um marco na sua carreira? Foi sensacional. Ele é o maestro, o Tenor. Fiquei muito apreensivo no começo mas foi uma das experiências mais divertidas que tive num set de gravação. Fui caraterizado como ele: barba, barrigão, smoking e tive que dançar um can can e fazer os passos de Michael Jackson como Luciano Pavarotti. Foi difícil segurar o riso durante o dia todo. Foi uma pena que a equipe dele tirou essas imagens do vídeo clip, mas ficaram muitas outras cenas dançantes. Não diria que foi um marco na minha carreira mas com certeza posso me orgulhar de ter conhecido ele e dizer: dancei com o Maestro.
O que a dança brasileira acrescentou à sua vivência como coreógrafo? Algum ritmo em especial te tocou mais? Morando no Rio de Janeiro não poderia deixar de ser o samba. Mais que acrescentar diria que foi um espanto quando soube que tinha que coreografar a rainha de bateria Viviane Araújo, (risos). Costumo dizer que foi ela que me coreografou, (risos). Mas é a Bossa Nova que toca meu coração e que ainda me leva para o mundo que eu imaginava que fosse o Brasil.
Ao longo desse tempo no Brasil que regiões você conheceu e o que falta conhecer? Do que viu o que chamou mais sua atenção? O Brasil é gigantesco…se eu pegar um avião na Itália e viajar por duas horas eu chego na Espanha, na França, na Grécia ou na Dinamarca. Se pegar um avião no Rio e voar para três horas, aterrisso sempre no Brasil. Amo o estado do Rio inteirinho, a serra, o litoral norte e sul, a Ilha Grande, mas amo também o Nordeste, com Olinda e Praia dos Carneiros (Pernambuco) São Miguel dos Milagres (Alagoas) e as maravilhas de Foz de Iguaçu. Tenho muitos lugares que adoraria conhecer, como Bonito, Vale dos Videiros, Florianópolis, e o interior de Minas, como Ouro Preto e Tiradentes. Sou louco para ir à Inhotim.
Você já trabalhou como coreógrafo com as Spice Girls e Rick Martin. Dois ritmos musicais bem distintos. Qual te deixa mais confortável? E onde foi mais desafiante? Na verdade eu fui dançarino destes dois artistas, que fazem parte do universo Pop. Os ritmos na verdade são parecidos, só que Ricky tem uma pegada mais latina e isso me empolgava mais.
Além de coreógrafo você já fez algumas participações como ator, como em “Flor do Caribe” e agora faz parte do elenco da série “O Negócio”, da HBO. Como despertou para isso e que prazer te dar? Atuar hoje em dia é minha paixão. Foi algo que sempre esteve comigo desde pequeno, só que a dança liderou minha adolescência. A sorte foi ter feito tudo que eu queria na minha carreira de dançarino; assim eu pude abrir espaço para que a atuação tomasse conta de mim. Não consigo expressar em palavras o prazer que sinto, é perto da sensação de se apaixonar, uma iluminação. Vivendo o Giancarlo, na série “O Negócio”, assim como em todos meus papeis, fiquei embriagado de paixão. Este personagem foi um grande presente, pois a série é um grande sucesso no Brasil e está sendo exibida para mais de 50 países da América Latina e Estados Unidos.
Falando em “O Negócio”, como foi participar dessa temporada? Como foi interpretar o Giancarlo em uma série que ganhou projeção em diversos países? Foi uma das experiências mais prazerosas que tive até hoje. Os diretores, o elenco, a equipe, todos são sensacionais. Tenho muito carinho e muito amor por este oficio. Isso me estimulou a uma dedicação mais que total e a poder retribuir a confiança que me foi data para um papel tão legal. O Giancarlo tem um lado sombrio, extremo, fora dos padrões. A loucura dele é excitante e instigante. Tem fãs que amam esse casal, Giancarlo e Mia (a protagonista vivida pela Aline Jones), mas tens outros que gritam para Mia fugir desse psicopata… Nunca fiquei pensando nessa cobertura toda, meu foco foi sempre em entregar um bom trabalho mas com certeza é muito legal receber mensagens de fãs da série do Chile, Argentina, Espanha e até dos EUA.
Os homens italianos são referência de elegância no mundo. O quanto você é ligado em moda e estilo? Se considera um cara elegante? Não sigo nenhuma moda em particular. Misturo os estilos e me visto de acordo com meu humor naquele dia. Um dia sou mais despojado e vou até de camisa ao avesso e cabelo bagunçado; o dia seguinte me acordo como 007 e coloco uma camisa social e um blazer, (risos). Ao mesmo tempo acredito que não se pode fugir do contesto cultural do local onde você vive, ainda mais se você é artista. Meu olhar se influencia, de qualquer forma, para o que vejo na rua, nos eventos, na vida. Dessa forma você vira espelho desse momento histórico, e a moda é um desses espelhos. Considero a elegância um estado da alma, uma escolha de simplicidade, você nasce elegante, nunca se torna elegante. Posso dizer que minha família italiana sempre teve muita sensibilidade para o belo, não sei se tenho estilo mas com certeza posso afirmar que tenho bom gosto.
Você é um homem vaidoso? Como se cuida e até onde vai a sua vaidade? Acredito que sim mas estou tentando transferir minha vaidade para meus personagens e tirá-la do Raffaele. Para mim a beleza não é nada superficial, é um ideal, um conceito que vira forma. A beleza me inspira. Me cuido sim, gosto de comer saudável, faço natação E ando muito de bicicleta. Hoje em dia, mais perto dos quarenta que dos trintas, acredito que minha vaidade fica mais no intelecto. Ser reconhecido como uma mente que dialoga bem com os outros, que cria, que reflete e sabe mexer com o próprio trabalho me deixa mais orgulhoso que receber um elogio sobre minha aparência física.
E as mulheres brasileiras, o que elas tem de especial que agrada tanto os estrangeiros? A liberdade, o entusiasmo dos olhares delas, isso encanta todo mundo. Você quer ficar perto de uma mulher assim, daquele sorriso, quer se contagiar com aquela energia toda.
Morando no Rio há 6 anos já se sente um pouco carioca? O que te encanta na cidade? Total, eu sou carioca da gema. Todo mundo ri quando eu falo isso, claro pelo sotaque, mas eu falo sério. Me sinto parte dessa cidade, conquistei ela, conheço ela e ela me abraça de volta. Me encanta uma cerveja estupidamente gelada na mureta da Urca, me encanta o aplauso das pessoas quando o sol se põe no Arpoador, as nuvens que circundam o Cristo Redentor fazendo-o flutuar no céu, me encanta quando uma música toca e todo mundo, de qualquer classe, idade e cor, começa a cantar.
Quais os próximos desafios? Fazer um personagem totalmente oposto do Giancarlo. Um cara frágil, inseguro, delicado. Quero explorar esses lados do meu íntimo e dar vida a algo que me possa surpreender e, de consequência, surpreender o público. Fora isso, neutralizar meu sotaque e quando dizer “sou carioca da gema”, sem que ninguém ria! (risos)