CULTURA: Folia de gigantes – Abram alas que eles vão passar

Você tá lá pulando, cheio de frevo no pé e de repente, em meio a toda a folia, se sente meio David de frente com Golias. A diferença é que contrário ao que acontece com o personagem bíblico, você não vai precisar derrotá-lo, mas juntar-se a ele, juntar-se a esse gigante em sua frente. Você vai fazer parte de uma das mais antigas tradições do Carnaval pernambucano: os bonecos gigantes.

Os bonecos gigantes – do tradicional Homem da Meia-noite às caricaturas de gente famosa, esses gigantes são uma atração à parte, encantando crianças e adultos. Segundo historiadores, a tradição de tais bonecos nasceu durante a idade média na Europa, em cultos pagãos. Por muito tempo esses cultos e, principalmente, os bonecos que representavam divindades, ficaram escondidos por receio da inquisição cristã. O costume desembarcou no Brasil trazido por nossos colonizadores portugueses que os usavam em festividades religiosas cristãs representando santos católicos. Mas a chegada deles no carnaval começa com a história de um homem muito bonito…

O HOMEM DA MEIA-NOITE 

Em meados de 1931, reza a lenda local, que em Olinda, todos os dias, por volta da meia-noite, um homem daqueles de parar o trânsito de tão belo, passeava pela Rua do Bonsucesso. As moças da cidade, ouriçadas, descobriram a rotina do tal galã e passaram a seguir seus passos das janelas e sacadas de suas casas, suspirando de tanta admiração. Tal história acabou se espalhando e se tornando uma brincadeira de Carnaval com a criação do tal homem em formato gigante. O Homem da Meia-Noite surgiu como troça, categoria à qual pertenceu até 1936, e seus fundadores foram: Benedito Bernardino da Silva, Cosme José dos Santos, Sebastião Bernardino da Silva, Luciano Anacleto de Queiroz, Eliodora Pereira de Lira e Manuel dos Santos.

É graças ao Homem da Meia-noite que o Carnaval começa na sexta-feira nas ladeiras de Olinda. Depois dele vieram outros – a Mulher do Dia criada em 1967, e em 1974, o Menino da Tarde, desenvolvido por Silvio Botelho que também criou o Encontro dos Bonecos Gigantes na terça-feira de Carnaval. Depois vieram vários outros sempre acompanhados de uma orquestra e muita folia quando desfilam pelas ruas de Olinda.

BONECO DO SERTÃO

Antes mesmo do Homem da Meia-noite, em Belém do São Francisco, sertão pernambucano, foi às ruas o boneco do Zé Pereira no carnaval de 1919. Graças a um artista plástico que ouvia encantado as histórias contadas por um padre belga, que estava na cidade, sobre a tradição europeia. O boneco era feito de madeira com cabeça de papel machê (técnica que utiliza sobretudo papel e cola branca). No ano de 1929 Zé Pereira ganhou uma companheira a boneca Vitalina.

TURMA GRANDE 

São vários os artistas que hoje confeccionam os bonecos gigantes que já desfilaram além das fronteiras do Brasil, entre eles: Antônio Bernardo, Aluísio de Nazaré da Mata e a estilista Sineide Castro. Leandro Castro deu início, em 2008, à criação de uma nova geração de bonecos a partir de ícones do Brasil e do mundo, gente famosa no futebol, na música, nas artes e até na política. Essa nova leva de bonecos tem impressionado muita gente pelo realismo das expressões faciais e figurinos, originando o título de museu popular itinerante de bonecos gigantes.

Esta qualidade vem da inovação dos materiais utilizados, a matriz moldada em argila para posterior aplicação de fibra de vidro, material mais leve e duradouro. Já as mãos dos bonecos permaneceram em isopor para não machucar nenhum folião durante as apresentações. A altura média dos bonecos é de 3,90m. Uma grandiosidade à altura do nosso carnaval.

ANTES E DEPOIS DO CARNAVAL 

Quando não estão nas ruas de Olinda ou de Recife, os bonecos costumam “descansar” para o ano seguinte em dois pontos abertos à visitação: a Casa dos Bonecos Gigantes, em Olinda e a Embaixada dos Bonecos Gigante no bairro do Recife Antigo em Recife.

SERVIÇO 
Casa dos Bonecos Gigantes: R. do Amparo, 45 – Olinda – Tel: (81) 3432-2443. Embaixada dos Bonecos: Rua do Bom Jesus, 183 – Recife Antigo – Recife/PE – Fones: (81) 3441.5102 / 8775.0540 (TIM). Aberto todos os dias das 8h as 18h.