Texto / Fotos Pablo Augusto Relly
Na maratona diária dos idosos – subir e descer escadas, na cidade de Amalfi, eles não esquecem a cortesia: “Buongiorno!” e “Buona sera!”. Os cumprimentos espontâneos e genuínos se repetem ao longo dos dias, e o turista brasileiro – fluente em italiano, aquele de novela, se delicia ao fazer contato com moradores locais. As ruas estão levemente vazias, a temperatura amena, o sol brilha e Amalfi também.
Amalfi é o centro da Costa Amalfitana, Patrimônio Mundial da Humanidade, sudoeste da Itália. O verão europeu traz milhares de turistas à região, cujas estradas estreitas, beirando precipícios vertiginosos, ficam lotadas, os hotéis encarecem – alguns cobram até quatro vezes mais em comparação com a baixa estação, e a tranquilidade abre espaço para a agitação. Se este for o desejo, trata-se de um lugar ideal para curtir a estação mais quente do ano.
Já para quem busca o mesmo cenário, porém com um pouco mais de calma e economia, visitar a Costa Amalfitana no inverno – sim, a água vai estar muito gelada para banho, mas é uma boa pedida. É a oportunidade para ver como a região funciona quando as hordas de turistas estão longe. É a chance de mais “buongiorno” e “buona sera” ao andar pelas cidades quase que verticalizadas.
O ponto de partida para explorar a Costa Amalfitana fica cerca de 70 quilômetros distante dali. Nápoles, a capital da região da Campania e a terceira maior da Itália, só atrás de Roma e Milão, tem fama mundial pela Camorra, a máfia italiana, corrupção, e por algumas notícias nos anos anteriores que não fazem bem à imagem de qualquer lugar: problemas sérios de recolhimento de lixo. Se esta for a única ideia que o leitor tem sobre Nápoles, é hora de rever conceitos. Nápoles impressiona o visitante de primeira viagem – e continuará a surpreender no retorno, pela quantidade de locais, pessoas, atrações a serem descobertas. É cidade vibrante, de trânsito insano, de pessoas gesticulando, cheiro de comida e de roupa lavada, pendurada do lado de fora das casas. Não importa a direção do olhar, esse é o cenário napolitano – com algumas variações.
Para chegar a Nápoles, usar o sistema de trens italiano (trenitalia.com) é uma solução para quem já estiver na Itália. O aeroporto internacional, o Capodichino, recebe as principais companhias aéreas europeias com frequência diária. Não há voos diretos do Brasil. O Capodichino fica a sete quilômetros de distância do centro. Trecho que pode ser feito de ônibus, ou de táxi – atenção, sempre procurar pelos oficiais. A tarifa é fixa, 25 euros, e certamente algo a mais para o “café” do taxista. Estando em Nápoles, não se incomode se ele parar no meio da rua para cumprimentar calorosamente os amigos. Cinco minutos de conversa não vão lhe tirar o bom humor, talvez só atrapalhar o já complicado trânsito local.
Situado no centro da cidade, perto dos pontos mais interessantes da parte histórica, o Hotel Piazza Bellini (três estrelas, na Via Santa Maria di Constantinopoli, 101) reúne preço bom e serviço também. Renovado recentemente, o Piazza Bellini funciona em um palácio do séc. XVI e fica próximo de duas estações de metrô.
Já fez o “check-in” nas redes sociais para mostrar que você é mais “in” do que seus amigos, que só ficam no circuito Roma-Florença-Milão-Veneza? Então, é hora de explorar animadamente Nápoles. Calçados confortáveis para sair – ou não, tudo para fazer bonito nas fotos para a posteridade, o ideal é ter pontos definidos, a eterna lista “Top 10 – Nápoles”. Mas como gosto é questão pessoal, as frases feitas e já gastas, “descubra a cidade”, “ande sem muito rumo”, ou “deixe-se surpreender por ela” são novamente bem empregadas quando se está na capital da Campania.
Próximo do hotel, a Piazza Bellini (praça que dá o nome ao mesmo), é um ponto de encontro para artistas e é também conhecida pelos cafés literários. À noite, o local é bem frequentado. As ruas “Via Anticaglia”, “Via Tribunali” e a “Benedetto Croce” são algumas das mais antigas de Nápoles, cujo centro histórico é Patrimônio Mundial pela UNESCO. Andar por elas é como andar em museu a céu aberto – vale a pena visitar a Igreja Santa Chiara.
Ao continuar a jornada, a Galeria Umberto I, erguida entre 1897 e 1891, com um impressionante teto de vidro, reserva espaço para lojas, cafeterias, livrarias, e é obrigação. A Piazza Del Plebiscito também faz parte do itinerário de todo visitante na cidade. Na praça, que recebe concertos de música, a Igreja de São Francisco de Paula, uma construção semelhante ao Pantheon de Roma, domina a cena. Próximo dali, as praças Tristes e Trento são os locais para dar uma boa parada e curtir os cafés italianos.
O Castelo Nuovo é uma obra que começou em 1279 e já serviu de residência real, depois virou forte e hoje sedia eventos culturais e o Museu Municipal. Ganhou o nome para se diferenciar dos castelos mais velhos como o Capuano e o dell’Ovo – o último a 1,5 Km do Nuovo.
O Castel dell’Ovo, por sua vez, acesso pela Via Eldorado, na pequena Ilha de Megaride, tem entrada gratuita e oferece vista para a cidade, também para a baía. A Via Partenope, necessária para se chegar ao Castel dell “Ovo, e na sequência, a Via Caracciolo – ruas onde os carros foram banidos de trafegar, proporcionam relaxante caminhada à beira mar. É um bom lugar para encarar um por do sol e observar os napolitanos praticando esportes no final do dia, além de casais apaixonados, ao longo do parque Villa Comunale.
Bateu a fome, é hora de jantar e o desejo de experimentar uma típica pizza domina os pensamentos! Foram os napolitanos que a inventaram e sair sem comer uma deveria ser enquadrado como crime. O Ristorante Pizzeria Mattozzi, na Piazza Carita, 2 – lembre-se, gosto varia – alia comida ótima, uma pizza divina, e preço adequado. A partir de, mais ou menos, 35 reais por pessoa. Incluído no valor, estão as brincadeiras do tipo bater com a faca(ão) na mesa, quando um funcionário notou que para mim seria difícil comer a pizza sozinho. Ambiente descontraído, divertido e que recebe turistas, assim como moradores locais.
O transporte público e a arte
Se caminhar pela cidade já se tornou cansativo, o metrô pode ser uma saída. Mais fácil do que andar de ônibus (gosto é gosto), em Nápoles, as estações como a “Universitá”, “Dante” e a “Toledo” – entre outras – também são atrações. Elas fazem parte de um projeto chamado “Art Stations”, com o objetivo de transformar áreas urbanas de transporte público mais atraentes, e acabam virando exemplos de arte contemporânea. Na Toledo, inaugurada em setembro de 2012, o projeto é do arquiteto espanhol Oscar Tusquet Blanca. Ele faz uma transição de “terra” ao “mar”. Algumas estações da cidade ainda integram resquícios do período aragonês às novas intervenções.
E é de metrô e/ou funicular, que se chega também à parte alta de Nápoles. Vomero, distrito central, garante um pouco mais de tranquilidade do que a parte baixa da cidade. O Parco di Villa Floridiana, entrada gratuita, tem belos jardins e é onde se localiza o Museu Nacional da Cerâmica (com cobrança de ingresso). Ele funciona na Villa Floridiana, uma casa de 1816 e um presente do Rei Ferdinando I para a segunda esposa. A vista para a Baía de Nápoles – melhor se o tempo colaborar – não vai decepcionar. Na vizinhança, o Castel Sant’Elmo é outro lugar para panoramas de tirar o fôlego.
A Caminho da Costa Amalfitana
Diversas são as formas de se chegar à Costa Amalfitana. Como já citado, o aeroporto mais próximo fica em Nápoles. A estação de trem, em Salerno. No verão, a via marítima também é possibilidade. Alugar um carro na capital da Campania é a maneira que propicia maior liberdade para explorar a região. No aeroporto, em Nápoles, várias empresas, estabelecidas internacionalmente, têm escritórios. Sair dali para a Costa é mais fácil do que alugar um carro no caótico centro da cidade.
Trate o GPS como necessidade e não acessório, e contrate os seguros possíveis para uma viagem sossegada. Nos meses de inverno europeu, o trajeto requer mais atenção, principalmente nas proximidades da Costa Amalfitana. As estradas são estreitas, e os penhascos – lindos, bem, são realmente penhascos. Estacionamento nas vias públicas, nesta época do ano, é fácil de conseguir e vários hotéis também dispõem de área privativa para os carros. É bom confirmar a disponibilidade com o hotel.
A Costa Amalfitana é um exemplo clássico da paisagem do Mediterrâneo. A topografia colocou a versatilidade dos habitantes locais à prova – a região é povoada desde a Idade Média, e as principais (pequenas) cidades são Amalfi, Atrani, Maiori, Minori, Positano, Praiano, Ravello, dentre outras.
Amalfi, com cerca de 5400 habitantes, tem passado bem sucedido no comércio marítimo – entre os séculos IX e XII, o que explica a influência do oriente na cidade (ver a Duomo di Sant’Andrea, do século XI, com traços árabes). A mesma influência árabe trouxe a arte de fazer papel, e Amalfi foi um dos principais centros europeus de produção do mesmo. É interessante planejar uma visita ao Museo della Carta, no centro de cidade.
Quando estiver em Amalfi, faça a maratona de subir e descer as escadas que levam às partes mais altas do local. Tem morador de idade avançada com condicionamento físico de impressionar – você para, eles seguem. Porém, a parada do turista é permitida e aconselhada. Apreciar a vista é outro requisito para levar boas lembranças e fotos da região. Ainda mais quando se trata da baixa temporada e as ruelas estão mais vazias.
Positano, distante 16 quilômetros de Amalfi, já foi cenário de filme e se no verão, as praias ficam lotadas e o comércio ferve – lojas com artesanato típico, cerâmicas e também boutiques –, no período mais frio, os turistas não são tantos. Vários estabelecimentos comerciais fecham as portas. Caminhe como se fosse o dono da rua, suba, desça, desça mais e suba de novo para vivenciar a pérola (levemente adormecida nos meses de inverno), da Costa Amalfitana. Certamente, as fotos mais famosas da região são tiradas na cidade. A Igreja de Santa Maria da Assunção pode ser vista de qualquer ângulo. A Spiaggia Grande é a maior praia local, no coração de Positano.
A Costa Amalfitana ainda reserva surpresas agradáveis com o resto da vizinhança – todas têm alguma atração: Praiano, Minori, Maiori, Atrani (ao lado de Amalfi), Ravello e a lista segue. Ter disponibilidade do carro facilita passeios diários pela região. Assim, os mercados a céu aberto, feirinhas e mesmo a população local podem ser vistos, e o ritmo da vida cotidiana, percebido.
De volta a Amalfi, onde fixei a base para a experiência na Costa Amalfitana, sigo a observar a vida. No final de tarde de um sábado, os idosos se apressam para ir à igreja, casais apaixonados, acostumados com a paisagem, contemplam o cenário de filme – solteiros também, amigos passam o tempo. Antes do retorno ao hotel para fazer as malas, sou novamente, e pela última vez, agraciado pela cortesia de moradores: “Buona sera!”.
Respondo, e seriamente encantado, me despeço de Amalfi e da região. E contando os dias – certamente meses, anos, para a próxima visita.
Acompanhe a MENSCH no Twitter: @RevMensch, curta nossa página no Face: RevMensch