ENTREVISTA: Felipe Solari

A idéia de que sempre podemos mudar à cada novo desafio que recebemos seja na vida particular ou no trabalho, é algo que termina nos movendo a ser cada vez melhor e despertando sobre novas possibilidades. Foi o que aconteceu com o apresentador Felipe Solari ao encarar o desafio no programa Legendários (da Record) e sua nova função, que terminou sendo social, ao tratar sobre o tema sustentabilidade. Felipe que sempre trabalho com música e bandas de diversos tipos quando era apresentador da MTV, descobriu que além de apresentador ele poderia cumprir uma função social ao falar sobre o tema sustentabilidade. Conversamos com ele para entender como tudo isso aconteceu e saber o que cada um de nós podemos fazer para contribuir, afinal é um desafio para todos nós. Ah claro, ainda falamos de conquistas, música sertaneja e sua paixão pelas mulheres.

 

Ator, apresentador, DJ…o que mais você faz que a gente não sabe e você vai revelar agora para os leitores da MENSCH? Quando não estou  azendo nada do que foi citado acima, estou praticando algum esporte, tentando viajar para algum lugar bem anormal ou fazendo Ativismo Ambiental, são ocupações de lazer… Ah, e aos Domingos não sou nada disso.

Um apresentador também representa ou isto é somente para o ator? Apresentador representa sim, acho fundamental. Mas todo apresentador é conhecido pelo seu próprio nome (menos o Ratinho, (risos) e por isso não pode exagerar nessa atuação, se não o grande publico percebe no olhar. Um bom apresentador é aquele cara que é carismático de verdade, no dia a dia. Mas eu já tive que entrar ao vivo com meu pai na UTI. Foi uma hora e meia de sorrisos e alegrias, mas eu estava destruído por dentro. Tive que representar, mas isso é um “fardo” que todo artista carrega.

Como começou esse seu trabalho pela sustentabilidade, foi o trabalho que te levou a isso ou já existia em você essa vontade e interesse? Existia vontade, existia interesse, mas era tudo no sofá de casa. O que o trabalho fez foi me levar no “olho do furacão”, me sacudir e dizer: “Viu Felipe? Está vendo como o bicho tá pegando?” Depois de dormir duas noites na floresta com o IBAMA combatendo o Incêndio Florestal, invadir os esgotos de São Paulo e correr 20 km como coletor de lixo, ser voluntário ajudando as vitimas das enchentes do Nordeste e chegar de barco até a plataforma de petróleo que explodiu nos EUA, você não consegue mais ficar indiferente e pensa: “como perdi tempo no meu sofá”. Ativismo pra mim, hoje em dia, não é mais trabalho, é opção mesmo.

O que você entende por sustentabilidade e do que estaria disposto a abrir mão em nome do meio ambiente? Sustentabilidade não é só meio ambiente ou natureza, sustentabilidade e o conceito “Comunidade” estão muito próximos. Temos que sustentabilizar nossas leis, nossos sistema penitenciário, nossa política. Sustentabilidade é um ciclo de ida e volta quase como uma reciclagem. Você pratica o bem aqui, pra receber de volta lá na frente de outra maneira.

Tendo infra-estrutura, respeito e segurança, é mais fácil abrir mão do seu carro e ir de bicicleta trabalhar. Mas entendo que o perigo de um motorista bêbado irresponsável passar por cima do ciclista bonzinho e responsável, é grande. É ai que eu falo de sustentabilidade. Em Amsterdã, os carros param pra bicicleta passar. Lá tem fila nos lixos recicláveis de rua para as pessoas jogarem cada coisa no seu lugar. E o melhor de tudo é que ninguém está sendo obrigado a fazer isso ou usando o papinho do “EcoChato”.

Qual o limite entre um cidadão ambientalmente responsável e um ecofreak? Não podemos ser radicais… É como eu disse, sabemos que não é fácil largar seu carro, comer soja, não usar embalagens de plástico, não gastar luz, tomar um banho de 3 minutos e plantar arvores. Aliás, também não podemos achar que é isso que vai salvar o Mundo. O que vai salvar o Mundo é uma mudança maior, de pensamento e comportamento. A tecnologia avançou, mas quem disse que foi pro bem? As máquinas de perfurar solo e desmatar florestas estão cada vez melhores e mais modernas. Isso sim é Freak!

O Brasil está muito atrasado, tanto em projetos práticos como na conscientização das pessoas, em relação à sustentabilidade em relação à outros países? Sim, MUITO atrasado. Mas acredito na mudança, embora a televisão sensacionalista das seis da tarde me dificulte essa esperança. As pessoas se matando por nada e eu querendo que joguem o lixo no lixo… Me sinto o Dom Quixote contra os moinhos de vento, mas Dom Quixote fez sua parte, e eu também vou fazer.

O que cada um pode fazer em prol da sustentabilidade? Digo coisas simples que não requerem grandes esforços, que podem ser feitas em casa e/ou no trabalho?As pessoas podem se unir e praticar a Sustentabilidade de maneira divertida. Combinar com a galera do escritório e ficar sem comer carne na segunda (Movimento criado por Paul McCartney #MeatFreeMonday), fazer rodízios de carona entre a galera, fazer festas sem uso de plástico… Enfim, pode ser divertido.

O que mudou em você depois que começou a trabalhar com a divulgação da sustentabilidade? Como você se via antes e se vê agora como cidadão e a sustentabilidade?Vejo-me mudado. Entendo melhor onde estão os erros e acertos, mas isso também aconteceu quando falei cinco anos de música na MTV. Eu podia ver melhor quais bandas eram boas ou ruins e por quê. O tema pode sempre mudar: música, sustentabilidade… O importante é sempre evoluir, aprender. Não estou evoluindo para mostrar aos outros, estou evoluindo porque me faz bem.

O que é ser um legendário? Nossa, é muita coisa! Mas basicamente é trabalhar firme e representar uma galera que vê na gente um grupo bacana e divertido.

Marcos Mion, chefe, colega de trabalho, amigo ou tudo isso junto? Como é a relação de vocês? Tudo isso junto. Ele deu o meu primeiro emprego há 10 anos, me abriu portas… É carinho de irmão e responsabilidade de profissional. Nunca misturamos.

Você dirigiu a turnê “Se for para ser feliz” em comemoração aos 40 anos da dupla Chitãozinho e Xororó. Como foi encarar essa grande responsabilidade e qual a ligação que você tem com a música sertaneja? Conheço toda a família por causa da MTV (acústicos, VMBs, etc.). Nessa turnê dos 40 anos, eles queriam algo mais moderno e me fizeram o convite. Não tem como dizer não a um convite dos reis Chitãozinho e Xororó, sou fã. O projeto ficou muito legal. Conseguimos fazer uma mistura do moderno com a raiz sertaneja. Além do prazer de trabalhar pessoalmente com a dupla, aprendi mais do que dirigi.

Entre uma reportagem e outra dá pra fazer um pouco de turismo quando você viaja pelo “Legendários”? Minhas viagens são sempre “roubadas”… Não tem hotel bom, não tem distância curta, não tem horários justos. Já viajei de monomotor no Monte Roraima, dormi no chão da Floresta, fizemos muitos quilômetros a pé, de barco e van. Mas a oportunidade de chegar a lugares totalmente difíceis e pouco explorados é a melhor coisa do trabalho. Ainda mais pra quem cresceu na megalópole.

 

O que te leva a se interessar por uma mulher, engajamento ambiental, inteligência, beleza ou simpatia? Tem que ter senso de humor, entender os nossos horários malucos e ser companheira. Inteligência é fundamental, também.

O que é mais difícil de lidar numa mulher e qual o principal característica que os homens deveriam aprender com elas? O mais difícil é lidar com aqueles momentos que os homens não têm e muitas vezes não entendem. Mas elas são fundamentais, e é uma mulher que vai carregar, heroicamente, meu filho por nove meses! Incríveis! Sou apaixonado por elas.

No futuro você pretende ser mais ou ter mais? O que você quer pro futuro? Quero qualidade, não quantidade.

Texto: André Porto e Nadezhda Bezerra
Fotos: Felipe Russo (www.feliperusso.com)
Tratamento de imagem: Jorge Souza
Agradecimento: Caroline Medeiros – Ponto 3

Agradecimento especial a Felipe Solari

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