CAPA: Igor Angelkorte, o Clóvis de Babilônia, e seu talento para fazer humor sem perder a graça

Se você não chegou a conhecer o personagem Clóvis da novela Babilônia ou Ivan de “Dupla Identidade”, talvez não conheça o ator Igor Angelkorte. Dois personagens bem distintos, um denso, o outro cheio de humor que beira o ridículo. Em comum o talento de Igor que com sua versatilidade paira por universos distintos com a tranquilidade (para quem está assistindo) e a segurança dos grandes atores. Apaixonado pela arte de atura, Igor veio do teatro, onde encenava peças dramáticas, e encara a TV cheio de gás e com papéis bem desafiadores. Um cara tranquilo e bem humorado que guarda uma caixinha de surpresas na hora de interpretar papéis que surpreendam o público e a ele mesmo. Conheça um pouco mais desse ator que promete grandes atuações, seja no humor ou no drama.

Igor você é um ator com formação em teatro e está em sua 3ª novela. Como tem sido atuar na TV, fazer novela… é como explorar um mundo novo para você ou não faz diferença? Sim e não. Na essência o trabalho é bem próximo. Se trata sempre de estar em relação ao outro ator, de exercitar a escuta, de explorar o autoconhecimento para viver personagens críveis. Mas, em vários aspectos técnicos o trabalho é bastante distinto. Posso dar um exemplo muito simples: Na televisão o enquadramento costuma ser bem fechado no rosto do ator, logo, qualquer gesto maravilhoso que você criar com as suas mãos próximo a cintura tem grande chance de não aparecer! Só existe o que está em quadro. Aprendi a fazer tudo mais perto do peito e do rosto. No teatro o espectador costuma ver o ator por inteiro. Só essa diferença de visualização já é suficiente para modificar completamente as nossas escolhas de interpretação.

 

Você começou atuando em produções mais densas como “O Casamento” de Nelson Rodrigues e depois se direcionou para o humor. Foi um caminho natural? Algo que você se sente mais à vontade ou apenas está no humor temporariamente? A comédia foi uma descoberta fundamental na minha vida. Durante minha formação no teatro e ainda um bom tempo depois de ter me formado sempre me considerei um ator puramente dramático. Todas as peças que fiz foram peças dramáticas. Foi só na televisão que comecei a explorar o humor. Tem sido uma surpresa extraordinária. Realmente jamais imaginei que minha porta de entrada na televisão fosse a comédia. Jamais imaginei mesmo! Então, não me preocupo com isso. Tenho aproveitado a nobreza de ser ridículo, de ser palhaço, de ser o perdedor. É lindo fazer comédia. É o que há de mais subversivo na televisão. E sei que naturalmente estarei transitando por outros gêneros em breve porque sou ator.

 

Seus personagens até então dentro do humor tem um jeito leve e simples de fazer rir. Isso faz parte de você ou é algo que procura dar aos personagens? Outro dia estava conversando com a Arlete Salles e perguntei a ela como estudava seus textos. Ela me contou que estudava muito. Mas, muito mesmo. Me disse que nós tínhamos trabalho dobrado, exatamente por vivermos personagens cômicos. Falou que temos o desafio de ser ao mesmo tempo engraçados e verdadeiros. Concordo, e por isso o humor que encontro nas minhas cenas são fruto de trabalho cuidadoso e escolhas conscientes. Luto muito para dar credibilidade para as maiores trapalhadas que temos que fazer em cena. Não quero fazer a piada, quero fazer a cena. Procuro pensar que se a cena for verdadeiramente patética talvez as pessoas venham a rir.

Por falar em humor, quando quer rir e ver algo mais leve o que costuma ver? Quem são seus ídolos no humor? Recentemente um filme me arrebatou especialmente no sentido do humor, foi o “Francês Há”. Um filme com cara de documentário onde a atriz não parece estar atuando. Parece que ela é exatamente daquele jeito. Parece que ela não sabe que tá fazendo piada. É meio estranho e perturbador. Porque a gente sempre sabe que o ator sabe que aquilo que ele tá dizendo é irreverente e engraçado. Mas, a atriz desse filme não. Parece que ela não sabe que ela é uma figura muito específica e extremamente engraçada. A atriz se confunde demais com a personagem e é difícil dizer qual o limite de uma e outra. Costumo buscar filmes com esse aspecto mais sutil e menos afetado. Se tiver que eleger ídolos eu vou em dois ícones: Chaplin e Woody Allen.

Você é um cara bem humorado no dia a dia? E o que te tira do sério? Me considero bem humorado, sim! Me tira do sério a injustiça.

 

Como foi a dobradinha entre você e Marcos Veras, dois atores de humor travando uma “batalha” engraçada de forma “séria”? Nós tivemos um encontro muito lindo. Já quando começamos nossas conversas sobre a novela a gente desejou que nos enxergássemos como uma dupla. Isso parece pouco, mas muda muito a sua relação com o trabalho e com o outro. Porque de modo geral, em novela, você se pensa como indivíduo, você pensa em você sozinho inserido no contexto geral. Mas, nós pensávamos sempre como se um fosse complementar ao outro, como se fossemos um único organismo, uma unidade feita de dois. Acredito que essa visão mudou completamente nossa relação com o trabalho. Assim, nasceu nossa parceria.

Atuar numa novela em horário nobre dá um peso maior para você? Pronto para outra? Chamaria de responsabilidade. É muita gente assistindo. A gente esquece que está ali no estúdio com 20 pessoas ao redor, e fazendo uma obra pra milhões de brasileiros. Esquecemos para termos saúde e conseguir criar, senão seria muito opressor. Já criei também meus mecanismos pra lidar com essa megaexposição. Me concentro na cena e me sinto completamente em casa. Tô super pronto pra outra. Quero emendar em outro trabalho. Gosto da dinâmica de fazer televisão.

É fácil fazer rir no Brasil? Que temas te inspiram mais? Fazer rir não é nada fácil. E quando você se propõe a fazer uma cena cômica você se joga no abismo. O frescor e o risco são fundamentais pra construção de uma risada. Risco porque você sempre está sujeito a errar o tempo, a intenção, a verdade, e não ter graça nenhuma! Mas, esses momentos são tão iluminados e fundamentais quanto aqueles muito engraçados. Me inspiram os temas mais prosaicos e as histórias onde o humor está a serviço da trama para potencializá-la. Gosto menos quando é só a piada pela piada.

Em “Dupla Identidade” você entrou mais no clima de suspense e policial. Como foi a experiência? É um universo que te deixa à vontade também?! Foi muito louco entrar no universo do Dupla. Eu tinha acabado de sair de uma novela das sete super leve e cheia de amor. Eu estava numa fase que pensava que, como ator, eu era um canal entre a obra e o público pra levar amor, afeto, e ternura (características clássicas de um palhaço). Saí desse trabalho e entrei num outro de terror! No início tudo me parecia ilógico. Pensava que como artista o mundo já estava duro demais, que fazia mais sentido toda a minha recente pesquisa como comediante. Descobri nesse período algo importante, que a gente não só cresce à luz do sol, a gente também cresce à sombra. Um pouco de sombra é sempre importante.

Falando nisso, você é de assistir seriados? Quais? E cinema e teatro, o que te atrai mais? De seriado eu confesso que sou ruim. Acho o máximo essa gente que consegue assistir temporadas inteiras e sabem tudo das séries. Eu concordo que essas séries são incríveis, mas não consigo terminar nenhuma! As últimas que tentei foram as maravilhosas: House of Cards e The office, mas parei antes de chegar no meio. Já teatro e cinema eu sou bastante assíduo. Procuro assistir ao máximo de peças em cartaz sempre. Se viajo pra uma cidadezinha de interior, por exemplo, eu vou ficar realmente curioso de assistir aos artistas locais. Gosto do cinema e do teatro pelo caráter de arte artesanal, feita com tempo e cuidados especiais.

 

O que é mais fácil e mais difícil na vida de um ator? Qual o ônus e o bônus disso tudo? O mais fácil é manter a paixão pelo trabalho. A todo momento somos desafiados. Cada novo personagem apresenta um novo mundo e você tem que lidar com sua ignorância. Parece que sempre estamos começando do zero. Parece que eu tenho sempre que aprender a interpretar. Por isso, talvez, pessoas como a Fernanda Montenegro e a Natália Timberg sejam tão assombrosamente jovens. Ficar sentado esperando para gravar ao lado delas é ficar meio chocado. As ideias delas e o nível do assunto delas são sempre muito contemporâneos. Acho que esse exercício que nossa profissão nos traz é o responsável. O ator não se aposenta. Já o ônus é deixar de ter a opção do anonimato. Isso é ruim inclusive para o próprio trabalho de pesquisa artística.

Com o destaque na novela o assédio aumentou? Como lidar com esse lado da fama sem abrir mão da privacidade? O assédio aumentou sim. Parece que agora a maior parte das pessoas me conhece, é engraçado. Me olham na rua com um certo olhar cúmplice, como se elas soubessem de alguma coisa minha. Costumo sorrir de volta. Por enquanto tive sempre boas experiências com as pessoas. Mas, também não deixo ninguém atravessar os meus limites. Isso é fundamental.

Esse ano você participou da campanha “Liberdade na vida e na arte”. Você acha que o ator tem um papel social maior que outras profissões? Acha que um ator expressar e se envolver em campanhas políticas ou sociais é algo mais positivo que negativo? Como você ver isso? Acho que o artista é por essência um provocador. É alguém que tem o hábito de dilatar os limites impostos pelo seu tempo fazendo com que as coisas avancem e se modifiquem um pouco. Muitas vezes na história foi aquele que vislumbrou uma outra alternativa. Mas, isso se dá por conta da própria natureza do ser artista. Não quer dizer que ele tenha um papel social maior que os outros. Pelo menos não deveria. Todos temos o mesmo papel. A única diferença é que o artista conhecido tem maior visibilidade naquilo que faz. Particularmente prefiro quando o artista se posiciona através da sua obra. Eu não faria campanhas políticas. Meu jeito de ser político é fazer trabalhos ficcionais que possam refletir sobre o que desejo para o mundo.

 

Criar polêmica tem sido uma “febre” nas redes sociais hoje em dia. Infelizmente grande maioria delas não levam a nada a não ser exposição de privacidade. Como você lida com redes sociais e tenta se preservar disso? Tem como? Tem como sim. Não dá pra se prevenir cem por cento da exposição da privacidade. Mas, temos exemplos de atores muito famosos que vivem na moita, como o Wagner Moura e o Selton Mello. Não é habitual vermos fotos ou fofocas envolvendo eles. São um exemplo que me parece saudável. E nesse sentido, me considero relativamente discreto nas redes sociais.

O que te dá mais prazer quando não está atuando? Gosto de ficar com meus amigos. Tomar um vinho, bater um papo e rir da gente.

Com o fim da novela quais os próximos passos? Tenho algumas propostas recentes pro cinema, conversas com projetos para a televisão, e o trabalho com meu grupo, a “Probástica Companhia de Teatro”. Quando a novela acabar preciso me organizar com calma para escolher com sabedoria os próximos trabalhos. Acredito que a gente conhece um ator através das escolhas que ele faz.