Com uma trajetória de superação e vitórias, a vida do atleta Fernando Scherer podia muito bem figurar como um livro de auto-ajuda. Pois foi através de problemas de saúde que a natação chegou até ele e o transformou num homem que aprendeu a lidar com seus problemas e superar seus limites. Campeão olímpico consagrado, nem tudo foi fácil ao longo da sua carreira. Porém foi necessário para construir o grande homem que se tornou Fernando Scherer. Hoje, empresário, casado com a bela dançarina Sheila Mello, que conheceu em mais um desafio da sua vida, o reality show A Fazenda, Fernando procura passar para as pessoas em suas palestras exemplos de superação e palavras de incentivo. Incentivo esse que dedica ao patrocinar crianças de todo o Brasil pela a natação. Enfim, um campeão dentro e fora das competições, porém sem nunca desistir de sonhar e correr, ou melhor, nadar.
Você começou na natação aos 14 anos por conta de problemas respiratórios, mas se não fosse assim qual profissão você teria seguido, faz idéia?
Não faço idéia, pois foi à natação que me levou a tudo o que tenho hoje: a Hammerhead (empresa de material de natação), a Record como comentarista de natação, as palestras motivacionais (que são baseadas em minha experiência no esporte) e minha academia. Tudo veio através deste caminho… Não poderia ser outra coisa senão nadador.
Qual sua reação ao ouvir pela primeira vez seus amigos te chamando de Xuxa? Porque Xuxa?
Eu não gostei (risos)… Tinha apenas nove anos e foi por isso que o apelido pegou, porque eu não gostei. Tinha cabelos compridos e loiros até o ombro, coisa que hoje parece ser impossível, mas é verdade e era realidade na época! Mas pegou mesmo e eu tenho maior orgulho em ter este apelido, ainda mais depois de ter conhecido a minha madrinha em 1996. Nós chegamos a gravar um comercial lado a lado, foi muito bacana. Tanto Fernando como Xuxa fazem parte da minha pessoa.
Treinar nos EUA foi fundamental para sua carreira?
Não foi. Eu fui bi-campeão mundial e medalhista olímpico em Atlanta treinando em Florianópolis, com Carlos Camargo e no clube Doze de Agosto. Ir aos EUA foi uma opção boa na época (em 1998), por ter mais privacidade, mudar a rotina e assim buscar novas motivações e inspiração. Foi muito útil e me trouxe resultados maravilhosos, como ser número 1 do mundo nos 50 e 100 m naquele ano (98), mas não foi fundamental.
2000, um sonho que não aconteceu?
Nossa! Foi de pesadelo ao maior dos sonhos! Torci o pé, rompi três ligamentos e pelos médicos estaria fora das Olimpíadas, pois tudo aconteceu apenas a quatro semanas dos Jogos. Mas consegui ir e me superar, apesar das dificuldades físicas e da dor. E acabei realizando o sonho de qualquer atleta: representar seu país numa Olimpíada e ganhar uma medalha, mesmo estando lesionado e manco. Em vez da frustração por não ter competido em nível normal, pela lesão, sei que fui muito abençoado por ter conseguido não só participar, mas me tornar medalhista. Sou sim muito agradecido a Deus por isso.
2003, a realização?
Vejo mais como o fim de um ciclo vitorioso, porque eu vinha de muitas lesões após 2000, por culpa dos ligamentos, e elas acabaram afetando meu rendimento. Foi um ano complicado, pois havia treinado pra uma prova, os 50m borboleta, e há menos de um mês do Pan cancelaram esta prova. Fiquei sem chão, chorei e fiquei muito preocupado com isso, pois não havia treinado só para os 50m, na qual eu levei o tri-campeonato Pan Americano. Não digo que foi o momento de realização mais importante, mas todas as vitórias, todos os momentos em que alcancei meus objetivos, chamo de momentos de realização.
Por que expor-se em um reality show, dinheiro? Fama? Curiosidade?
Graças a Deus fiz a escolha certa. Estava em um momento certo da minha vida em que buscava novos desafios e lá encontrei vários. O principal: como ser e buscar o melhor que há em mim, e mostrar o verdadeiro Fernando, que ninguém conhecia. O brincalhão, moleque, divertido, amigo e apaixonado pela vida. E agora apaixonado pela Sheila Mello Scherer.
Nós temos que arriscar na vida sem ter medo e foi isso que fiz. Temos sim é que ter medo de ter medo. Sou muito agradecido a Record que me acolheu, me proporcionou esta maravilhosa experiência e conhecer a minha esposa. E ainda ser contratado como comentarista da natação, para o próximo Pan e para as próximas Olimpíadas, competições que a Record vai ser emissora oficial e exclusiva para o Brasil. Vou fazer o que gosto e o que sei fazer de melhor, falar e viver a natação ao vivo e a cores. A “Fazenda” foi um grande prêmio na minha vida. Não fui em busca de dinheiro, fama e muito menos por curiosidade. Fui em busca de ser feliz e me achei.
Qual sua melhor definição sobre Sheila Mello?
Minha esposa.
Foram as suas famosas braçadas que conquistaram Sheila?
Tenho certeza que não, porque dei muitas braçadas e quase morri na praia (risos).
Você já fez fotos sensuais para a revista NOVA, é sempre convidado para desfiles de moda e está sempre bem vestido. Isso tudo é reflexo de um homem vaidoso? Como você lida com a vaidade?
Sou vaidoso, me irrito com as rugas e adoro me cuidar. Eu me sinto bem me arrumando e uso até mesmo maquiagem se for preciso pra corrigir alguma olheira, não tenho vergonha disso, pois vivo da minha imagem até hoje. Gosto de fazer aquilo que me faça feliz. A minha vida gira em torno de felicidade, quero ser feliz e fazer quem estiver ao meu redor se sentir da mesma forma.
Aos 21 anos você foi considerado o Esportista Brasileiro do Ano (1995). O que isso significou para você na época. Mexeu com sua vaidade ou te puxou mais cobrança?
Falando a verdade nada me passou pela cabeça. Claro que este tipo de premiação me deixa orgulhoso, melhor atleta do Brasil, mas todos os atletas têm seu mérito. O atleta busca performance, isso nos engrandece, gera cobrança. O título de melhor atleta só veio porque eu tive de vencer tudo naquele ano: além do Pan, ser campeão mundial. A cobrança vem aí, o resto é conseqüência. Em 1998 fui considerado o melhor nadador do mundo, tenho orgulho disso também, mas sempre mantive os pés no chão, porque a vaidade no esporte não pode ter lugar. Se você se deixar levar ou acreditar que é superior por estas premiações você já era. Sempre haverá alguém mais novo ou treinando tanto quanto você, por isso eu sempre procurei dar tudo de mim sabendo que amanhã é um novo dia.
Dentre outros prêmios você conquistou 7 medalhas de ouro em jogos Pan-Americanos e 2 medalhas de bronze em Olimpíadas. Você se sente um atleta realizado?
Um ser humano realizado. Tenho uma filha formidável, uma esposa maravilhosa e sinto que sempre dou o melhor de mim em tudo que faço, podendo errar, mas buscando ser o mais correto e justo. Tento ser amigo, fiel e companheiro. A natação perto da família fica muito pequeno, mas certamente fui realizado como atleta, foi o esporte que me proporcionou tudo. Mas a família deu um significado que faltava no meu coração. Um filho vale mais que todas as medalhas de ouro que conquistei.
Todos sabem o quanto um atleta esportivo deve ter perseverança, dedicação e viver para o esporte por grande parte da trajetória. O que foi mais difícil de agüentar e que lições para a vida você tirou disso tudo?
Todos teremos momentos difíceis, dúvidas em relação ao nosso sonho, mas um homem sem sonho é como um céu sem estrelas. Precisamos sonhar e acreditar, persistir, lutar, trabalhar duro pra que nossos sonhos e objetivos aconteçam, nunca desistir deles. Minha palestra é exatamente sobre esse assunto… posso falar aqui por uma hora…sonhem e lutem por eles, continuo sonhando e batalhando.
Que conselho(s) você daria a quem está se dedicando a carreira esportiva?
Nunca aceitem um não, acreditem em vocês, todos somos capazes. Eu fui, sou e vocês também são capazes de chegar lá.
Segurar a onda e não cair nos braços das mulheres antes dos treinos e competições também foi uma barra difícil de segurar?
Não me lembro de nada disso… Houve outras mulheres??? (risos) Como sou casado hoje, não me lembro bem desta parte, mas caso tenha acontecido algo, nunca atrapalhou (risos).
Além de trabalhar na sua empresa de roupas e material para natação, você também participa de um projeto que patrocina crianças pelo Brasil. Como é esse trabalho?
Queria fazer um trabalho para desenvolver o esporte e junto com a empresa, decidi patrocinar crianças de 10 a 16 anos, em todo o Brasil, entregando todo material de natação necessário para prática do esporte. Chegamos a 2000 crianças. Tento retribuir ao esporte um pouco do que ganhei com ele, ajudando há desenvolver um pouco o que me fez ser quem sou. Tudo o que sei, devo a natação. Sou muito grato ao esporte.
Quais serão seus próximos desafios de agora em diante? O que você almeja?
São vários projetos, motivar as pessoas com as palestras e com a Record conseguir divulgar o esporte, no momento estou com um quadro no programa “Esporte Fantástico” com o quadro “Gigantes da Água” ao lado de César Cielo (ver vídeo abaixo). E fazer tudo isso de uma forma leve, alegre e verdadeira – como sou no meu dia a dia.
Texto: André Porto e Nadezhda Bezerra
Fotos: Divulgação
Agradecimento: Danielle Carvalho – D&D Assessoria de Comunicação