ENTREVISTA: Marcos Breda com ou sem drama, mas com muito humor e paixão por atuar

PAIXÃO. Essa é a palavra que pode descrever o ator Marcos Breda. 32 anos de carreira e a paixão só aumenta. Esportista, kartista amador e a paixão pelo esporte é firme. Dois filhos e a paixão pelas crias é gritante. Marcos Breda é daqueles que faz por amor e o que vier depois é fruto de um trabalho bem feito, de uma dedicação ímpar. Com ou sem drama, mas sempre com muito humor, desabafa sobre política, Brasil, Copa…e claro, sua paixão por atuar. Com um históricos de grandes trabalhos na TV, no cinema e no teatro, Marcos Breda conversou com a MENSCH sobre passado, presente e futuro.

No ar em Vale a Pena Ver de Novo, você é do tipo nostálgico? Que olha pra uma novela antiga e tem saudade, lembra como foi fazer, do contexto da época? Como é sua relação com o passado, o presente e o futuro? Gosto muito de rever antigos trabalhos para aprender com meus erros e acertos. Tenho ótima memória e relembro com carinho o contexto da época e, principalmente, as relações afetivas em cada trabalho. E, claro, projetar novas possibilidades para o futuro. Mas procuro sempre focar no “Presente do Indicativo” que – não por acaso – é o tempo verbal das rubricas de um texto teatral. Teatro e Vida, portanto, são a arte do aqui-agora.

Em uma entrevista à rádio Estadão ESPN você disse que novela era feita pra vender produto de anunciante no intervalo. Há menos arte e mais interesse comercial hoje em dia? Como equilibrar essa equação para não se perder mercado nem qualidade artística? Essa minha declaração foi feita em tom de brincadeira, claro. Mas o fato é que essa equação arte + mercado pode ser resolvida a partir de uma premissa básica: qualidade e paixão. Não há problema algum em conciliar uma novela, filme e/ou peça de teatro com as necessidades do mercado, desde que se realize o trabalho com competência, honestidade, integridade e comprometimento. Sou ator desde 1982 porque amo o que faço. Ganhar dinheiro com isso é consequência necessária e bem vinda, claro, mas nunca foi meu objetivo principal. Trabalhei muitas vezes de graça (e até mesmo pagando para trabalhar…) porque a paixão pela profissão sempre falou mais alto nestes meus (nem tão) modestos 32 anos de estrada. Fui, sou e serei sempre assim, creio, porque deste jeito me sinto honesto comigo mesmo. E travesseiro melhor não há.

 

Você era estudante de Letras quando começou a carreira de ator, como se deu essa “mudança de caminho”? Começou bem antes, quando eu ainda era um teenager, estudante de Engenharia Mecânica. Assisti ao Grupo “Asdrúbal trouxe o Trombone” fazer a peça TRATE-ME LEÃO em Porto Alegre (1979) e saí do teatro alucinado, pensando “é isso que eu quero fazer para o resto da minha vida.” Continuo pensando assim, 35 anos depois…

A novela Mandala foi seu divisor de águas na carreira? Tive vários “divisores de águas” na carreira, em teatro, cinema e televisão. Mas creio que nenhum foi mais decisivo do que o filme FELIZ ANO VELHO, de Roberto Gervitz. Foi com esse trabalho que saí de Porto Alegre para morar em São Paulo e, posteriormente, Rio de Janeiro. Poderia citar ainda peças de teatro como ARLEQUIM, SERVIDOR DE DOIS PATRÕES e novelas como MANDALA, QUE REI SOU EU? e VAMP.

Mandala, Vamp, Que rei sou eu? São novelas clássicas, que fizeram diferença na dramaturgia, o que, em sua opinião, elas tiveram de tão especial? E qual o seu sentimento por ter feito parte delas? Essas novelas foram experiências únicas, com a desejada alquimia “a obra certa na hora certa, feita do jeito certo com as pessoas certas.” Ninguém tem a fórmula, essas coisas simplesmente acontecem e me considero um cara de sorte (além de claro, muito obstinado e trabalhador) por ter feito parte de obras tão bem sucedidas, junto com profissionais/pessoas pelas quais tenho admiração, carinho e respeito até hoje. No momento estou gravando a série ANIMAL, da TV Globo, e tenho o palpite de que será outro “divisor de águas”. A história é sensacional, a equipe é extremamente competente e o diretor Paulo Nascimento é um talento raro. Estou muito, muito feliz de fazer parte deste projeto que já está virando uma realidade.

 

Você fez parte da novela “Amor & Revolução” do SBT. Como vê todas essas manifestações no Brasil? As pessoas aqui estão cansadas de viver num país com preços de Primeiro Mundo e serviços de Quinto Mundo. No Brasil paga-se uma fortuna em impostos para receber quase nada em troca. O país está um LIXO, resultado do descalabro administrativo de governo após governo desde que me entendo por gente. Dizem que “você pode encher um copo até a borda, nem uma gota a mais. Esse copo está transbordando…

E o que o teu personagem, um comunista revolucionário te ensinou? Que TORTURA NUNCA MAIS. Acho inacreditável que, em pleno 2014, uma corja de imbecis venha reivindicar um novo golpe militar. O lugar dessas ideias – e dessa gente – é a lata de lixo da História.

E o grupo teatral “Vende-se Sonhos”? Como surgiu a ideia e pode-se dizer também a coragem e ousadia de montar um grupo teatral, o que representa pra você? O “Vende-se Sonhos” nasceu em 1980, numa oficina do Grupo Teatral carioca Asdrúbal trouxe o Trombone” e tinha a criação coletiva como método de trabalho. Um grupo de teatro estável é a melhor formação que um ator pode ter. A gente aprende a fazer de tudo (cenário, figurino, iluminação, sonoplastia, etc.), meter a mão na massa (limpar, cuidar, montar e desmontar toda aquela parafernália) e, last but not least, ainda aprender uma Ética. Aprender a respeitar o colega como um igual, um parceiro, um irmão. E não alguém que deva ser ludibriado, superado, subestimado e maltratado, como se vê nesses “neo-atores” competitivos e despreparados que se vê por aí.

 

30 anos de profissão. Qual o balanço que você fez de todo esse tempo dedicado à arte? São 32 anos com dezenas de peças de teatro, filmes, novelas, seriados, trabalhos em publicidade, cursos, workshops, oficinas e até mesmo um mestrado em Artes Cênicas, seguido de um ano de bolsa de estudos de Teatro em Londres. Sou muito feliz por ser um ator e AMO trabalhar, pois, como dizia meu saudoso pai, “quem trabalha naquilo que gosta, meu guri, rende o dobro e cansa a metade.” Papai sabia das coisas…

Em uma entrevista você disse que o palco separa os meninos dos homens (e as meninas das mulheres). O que o teatro proporciona pro ator e espectador que nenhum outro meio proporciona? No Cinema e na TV você tem que ser bom uma vez só, precisamente na hora que está filmando/gravando. Mas no Teatro você tem que ser bom toda santa noite… Sem falar na relação direta com o público, na necessidade de se reinventar a cada sessão e na peculiaridade de, no Teatro, o ator chamar para si quase todas as instâncias da representação. É o ator que dita o ritmo (e não a edição), o posicionamento (e não a câmera), a voz (e não o microfone) e tudo o mais. O Teatro é, mais do que qualquer outra, a arte do ator.

Amante da velocidade você faz parte do Kart dos Artistas e Desafio das Estrelas, quando essa paixão deu início e você resolveu vive-la intensamente? Comecei a praticar kartismo quando teve início a febre dos karts indoor no Brasil, em 1994. De lá para cá nunca parei de competir em eventos e campeonatos de Kart por todo o Brasil. Sou amigo de muitos pilotos e absolutamente apaixonado por velocidade. É um hobby que pratico com a mesma dedicação e prazer do meu trabalho como ator. Sou kartista amador, portanto AMO andar de kart e me dedico bastante.

 

Você faz o tipo esportista, tendo praticado várias modalidades, ansioso pela Copa e Olimpíadas no Brasil? Pratiquei/pratico judô, karatê, capoeira, meia-maratona, musculação, alongamento e kartismo. Sempre fui – e espero continuar sendo – um atleta. Mas não estou nem um pouco empolgado com Copa e Olimpíadas no Brasil. Sinceramente acho que toda essa montanha de dinheiro público seria mais bem investida em tudo aquilo que nos falta desde sempre: escolas, hospitais, transporte, etc. O Brasil sempre foi assim, infelizmente.

Como é a sua relação com seus filhos? O que deseja pra eles, o que ensina, aconselha? Sou um pai-solteiro super presente com meus dois filhos Jonas (12) e Daniel (7) e tenho imenso AMOR (assim, maiúsculo) por eles. Desejo que eles sejam muito felizes, cada qual com suas escolhas. Que sejam homens honrados, amorosos e leais com seus afetos. Que tratem bem suas namoradas. Que tenham Sorte na vida e que “o Acaso os proteja quando andarem distraídos.” Que tenham saúde, amor, prazer, bom humor, alegria de viver e ainda sejam capazes de perseguir seus objetivos (sejam quais forem) com diligência e honestidade. E que, ao lembrarem de seus pais, tenham a certeza de que sempre foram MUITO amados.

O que deveria estar com o Pé na Cova no Brasil? (risos) A corrupção e falta de vergonha na cara de quase todos os políticos de quase todos os partidos.

Quais os próximos projetos para esse ano? Estou em cartaz no Teatro Gláucio Gill (RJ) com uma excelente peça chamada OLEANNA (de David Mamet), com direção de Gustavo Paso. Também gravo a série ANIMAL, da Globo, com direção de Paulo Nascimento e estreio dia 5 de abril o seriado OXIGÊNIO, de Pedro Zimmerman, na RBS TV. Devo filmar em maio um longa-metragem com o diretor Marcelo Santiago, além de estar no ar em “Vale a Pena ver de Novo” com a novela CARAS E BOCAS (TV Globo) e ainda tenho a estreia – em agosto – do longa-metragem SENHORES DA GUERRA, de Tabajara Ruas. Sem falar do Campeonato Brasileiro de Kart dos Artistas 2014, no qual defendo – ao longo do ano – o título de Campeão que conquistei na temporada 2013. Esse é o meu aqui-agora e estou muito feliz com esse momento.