ENTREVISTA: Sergio Santoian e o projeto Ophelia em três tempos

Sergio Santoian, ou Serginho, como é carinhosamente chamado por todos, é daqueles meninos grandes com alma de criança. Tem doçura na alma, crença na vida e nas pessoas, romântico e apaixonado se entrega com prazer ao que se determina fazer, não à toa quando faz, faz mais que bem feito. Serginho é “prata da casa”, não negamos, mas a razão de estar aqui e ser hoje nossa capa (depois de fotografar tantas delas) é mérito próprio, é pela criatividade de ter criado um projeto que já ganhou ruas e pessoas sendo destaque em algumas mídias de renome nacional. É porque a MENSCH acredita que talento deve ser celebrado e que histórias como a dele devem ser contadas para servirem de inspiração. Conheçam o fotógrafo por trás das câmeras, o ator à frente do Projeto Ophelia.

Primeiro veio a paixão pelo teatro e depois pela fotografia. Como surgiu uma e outra? Minha paixão pelo teatro veio meio que do nada. Na verdade eu acho que a gente já nasce com esse “bichinho” e a vida se encarrega de te dar um estalo em algum momento. No meu caso o estalo veio assistindo a uma cena de “Dona Flor e seus dois maridos”. Achei incrível ver o Edson Celulari de Vadinho logo após ter visto um outro trabalho dele em que estava completamente diferente.

Lembro que instantes depois de ver a cena passei a mão no telefone da casa da minha avó e liguei pra telefonista pedindo o número do teatro mais próximo da minha casa. Ela me passou o telefone do teatro Miguel Falabella. Depois de uns dias fui lá e fiz minha inscrição. Fiz sem ter a mínima noção de nada. Sem saber, de fato, o que faria ali. Fiz minha inscrição e ali comecei uma carreira que hoje tem 15 anos, além de ter feito amigos pra toda vida.

Já a fotografia apareceu de surpresa na minha vida. Nunca pensei em ser fotógrafo. Fiquei desempregado como ator e fui buscar alguma coisa artística que pudesse me dar um dinheiro. Alguma coisa em que as pessoas “dependessem” do meu trabalho e não eu do trabalho delas, como acontece sempre com os atores nos testes. Foi aí que vi na fotografia uma oportunidade. Pois sempre via os fotógrafos fazendo algo mais voltado pra moda com os atores, o que foge do que os produtores de elenco sempre pedem, que é uma coisa mais crua, mais a pessoa mesmo sem firula. Então resolvi arriscar por esse caminho: fotografar atores, colocar um olhar de ator na fotografia. Graças a Deus funcionou. Não foi fácil. Aprendi na marra, indo pra rua fotografar estátua pra ver sombras provocadas pelo sol. Saindo com tempo nublado pra ver o efeito que a ausência do sol causaria nas fotos e por aí vai…A fotografia me pegou de jeito e desde então andamos lado a lado. Quase uma espécie de Dona Flor e seus dois maridos: de um lado o teatro e todo um olhar de ator que desenvolvi durante anos. Do outro, a fotografia que alimenta a minha alma e me possibilita colocar todo meu olhar artístico pra fora e trabalhar com pessoas que nunca pensei que fosse trabalhar um dia.

Onde fotografia e teatro se misturam? Nas composições. É muito diferente, por exemplo, o trabalho de um fotógrafo que faz moda do trabalho do cara que faz fotojornalismo, do trabalho que eu faço. Não tô falando que é melhor ou pior. Uma coisa é apenas diferente da outra. As minhas fotos sempre terão uma carga dramática, sempre lembrarão uma cena. É como se fosse uma assinatura involuntária de toda vivência que está em mim e do gosto artístico que desenvolvi durante os anos.

 

Você é um jovem fotógrafo autodidata. Pensa em fazer cursos para aprimorar a técnica? Não vou dizer que nunca vá fazer. Vai que um cara que eu super admiro dá um workshop! Mas, só se for assim! Curso regular, com professor falando, não. O melhor curso, pra mim, é sair todo dia com a câmera por ai e enfrentar as mais diversas situações na hora de clicar. Eu gosto do risco de poder não dar certo, gosto que o improviso faça parte do meu trabalho.

O que busca com a fotografia? Tanta coisa! Conhecer cada vez mais pessoas. Colocar pra fora minha visão do mundo e das pessoas que chegam até mim nele. Reinventar-se a cada dia. Me desafiar. Me permitir, seja lá o que for.

E o que encontra naturalmente? Tudo que eu falei anteriormente. Quando a gente faz o que ama, as coisas simplesmente vão acontecendo, sem esforço, sem pressão. É só trabalhar e se dedicar. Assim, todas as suas metas e objetivos acontecem naturalmente.

Como extrai o melhor de cada um que posa pra você? Tento deixar o ambiente das fotos o mais descontraído possível. Ser fotografado pode parecer uma coisa fácil, mas não é. Precisa ser um momento de entrega e confiança total. É uma troca entre a pessoa que está na frente da câmera e eu. Por isso converso muito, brinco muito e tento deixar a pessoa a vontade. Assim, estando relaxada, a pessoa se entrega por completo, sem crítica, sem cobrança consigo mesma…E ai a coisa flui.

 

“Pai, mãe vou fazer teatro”. Como foi a reação dos seus pais quando anunciou sua vontade? “Você é maluco.” Foi a única coisa que escutei. Mas ao mesmo tempo em que tinha essa insegurança por parte deles, sempre tive muito apoio também. Meu pai saía do trabalho pra me levar e me buscar em vários cursos. Com certeza, se não fosse por eles e por tudo que investiram em mim eu não estaria dando essa entrevista hoje aqui pra vocês.

Como nasceu o projeto Ophelia? Hamlet sempre foi muito presente na minha vida desde quando comecei a estudar teatro. O auge do “fanatismo” pela história veio quando terminei minha faculdade como ator e fiz a monografia sobre esses personagens tão complexos. Quando me tornei fotógrafo, com o passar do tempo, fui clicando cada vez mais celebridades. Meu trabalho então ficou conhecido um pouco por fotografar essas pessoas com destaque na mídia. Claro que isso é bom e seria hipocrisia dizer que não gosto de fotografar o cara que vejo na novela todo dia. Mas, como a fotografia apareceu na minha vida como uma segunda opção de trabalho artístico e acabou me arrebatando, tomando todo meu tempo pra ela, decidi que não poderia permitir que meu trabalho ficasse reconhecido somente a partir das pessoas que fotografo. Queria um projeto com uma assinatura estética, que unisse ao mesmo tempo o Sérgio ator e o Sérgio fotógrafo e que ficasse conhecido pelo conceito, não por quem fosse participar dele.

 

Então comecei o projeto fazendo versões para a morte da personagem Ophelia apenas com atores desconhecidos do grande público. Graças a Deus o projeto ganhou força e aconteceu da forma que eu queria: ele cresceu pelo mérito que tem e não por quem estava ou não nele. Graças a essa força que o projeto tomou pude passar para outra fase dele: chamar então pessoas conhecidas pela mídia, artistas que sempre tive vontade de trabalhar como Ney Matogrosso, Miguel Falabella, Mateus Solano, Thiago Fragoso e Alexandre Nero entre tantos outros, pois nesse momento o projeto tinha vida própria e não dependeria da imagem de ninguém para sobreviver, apenas para fortalecer, como vem acontecendo.

Sou muito grato a cada um que se propôs a posar pra mim nesse projeto, tanto os atores não tão conhecidos, quanto aos conhecidos por todo país. Sem eles, sem a entrega deles, nada disso seria possível.

Vale lembrar que o projeto Ophelia se desdobra ainda em 3 partes:
1- exposições + livro; 2 – peça (que estou dirigindo); 3- curta metragem

E por que Ophelia para tema? Por ser um babaca que acredita que o amor é a salvação para humanidade. Por identificar esse amor nessa personagem. Por gostar do trágico. Por achar lindo o amor enlouquecer alguém que só tem como liberdade a morte.

Um monte de gente já se tornou uma Ophelia. Como os convenceu? (risos) Olha, no começo era meio difícil, por conta de muitas fotos terem nudez, serem na lama e tal… Mas graças a Deus fotografo atores, e qual ator que não gosta de se jogar numa nova experiência? Acho que deu certo porque agora recebo um monte de pedido de gente querendo ser Ophelia (risos). Fico feliz demais!

Como vê todo o sucesso que o projeto vem tendo? Sabe quando parece que você está sonhando? Pois é… Tipo isso! Muito, muito feliz mesmo de ver que o esforço vale a pena. De ver que a entrega de cada um que participou do projeto é super reconhecida. Mais feliz ainda de ter a certeza que fazer o novo e arriscar sem medo sempre vale a pena.

Além das exposições vem livro e peça, já tem ideia de quando estreia nos palcos? Sim! Estamos ensaiando. Quem fará a Ophelia nos palcos será o ator Tiago Martelli, que é de São Paulo e está no Rio de Janeiro para fazer o espetáculo. A peça estreia no segundo semestre desse ano.

Depois de Ophelia já sabe o que vem por aí? Sim! Mais uma personagem Shakespeariana: Julieta! “Sonhos de Julieta” Mas só pro ano que vem, antes preciso de férias (risos)

Soube que uma editora de revista vai posar pra você, preparado pra essa responsabilidade? (risos) (risos) Super preparado. E olha que ainda a deixo nua e a jogo na lama pra fazer Ophelia, hein (risos)