Paola Antonini é daquelas pessoas que ilumina o lugar, preenche, hipnotiza. A menina de sorriso fácil e beleza natural é uma das poucas influenciadoras que usa – como ninguém – sua força nas redes sociais para ajudar o próximo. Hoje, já são quase três milhões de seguidores no Instagram. As vendas de seu livro “Perdi Uma Parte de Mim e Renasci” conta a história do acidente que a fez perder a perna e tem a venda revertida para o Instituto Paola Antonini, fundado por ela em 2020, com o propósito de promover a reabilitação e a inclusão social das pessoas com deficiência física. Em um bate papo leve e descontraído, Paola dá uma lição de vida, otimismo e amor. Com vocês Paola Antonini!
Por Patrícia Alves
Paola, depois do acidente em 2014 sua vida mudou drasticamente. Hoje você entende esse fato como destino, algo que estava predestinado ou foi meramente um acidente? Que reflexão você faz desse fato? Na época do meu acidente muita gente me dizia que isso tinha que acontecer, que foi um livramento, e que era uma missão. E eu parava e pensava: será que é mesmo? Refletia e pensava que poderia ser, mas também que poderia ter sido só um acidente e fui vivendo. Mas, hoje, oito anos depois eu acredito muito que isso tinha que acontecer. Para você ter uma ideia eu só machuquei a perna, não tive mais nenhum outro ferimento. E tudo que aconteceu depois, as mensagens, as pessoas que consegui atingir através da visibilidade nas redes sociais, o meu Instituto, que veio vários anos depois – eu acho que isso tudo me faz pensar que foi um propósito. Diversas vezes eu já conversei com Deus e falei: eu sei que tinha que ser comigo. Não consigo lembrar como a minha vida era antes disso. Eu sou esta pessoa. Esta mulher com a “perninha brilhante”, com a perna amputada. Isso faz parte da Paola, é minha maior essência.
Em entrevistas você já comentou que se pudesse ter sua perna de volta que não queria, pois sua vida está bem melhor hoje. Pois depois do trauma e adaptação você descobriu um monte de oportunidades que antes não existiam. Como foi se construindo isso? Pois é. Comentei que se eu pudesse eu não teria a minha perna de volta. Porque eu mudei muito! Hoje vejo a vida de outra forma, sou uma outra Paola. Hoje dou peso diferente para as “coisas” e o acidente trouxe um propósito na minha vida. Sim, sou uma mulher com deficiência e tive que aprender várias coisas, fazer várias adaptações. É importante que eu mostre para pessoas que também passam por problemas similares, que elas podem tudo, podem ir mais além e realizar seus sonhos.
Qual foi seu maior desafio nesse processo todo? Foram muitos desafios neste processo, primeiro tive que superar muitas dores. A perna amputada tem que ter um cuidado especial e até hoje dói em alguns momentos. E preciso encontrar estratégias e alternativas para lidar com ela. Tive que reapreender tudo de novo – andar de novo, andar com a prótese, foi tudo muito desafiador. Tiver que reaprender a me amar, amar meu corpo com e sem a prótese.
Você diria que o esporte foi um presente nesse momento de readaptação para a nova vida com perna mecânica? O esporte foi um presente gigante na minha vida no momento em que estava me adaptando prótese. A primeira coisa que fiz foram as aulas de dança. Depois que percebi que consegui dançar, comecei a me aventurar e experimentar coisas que nunca havia feito. Fui esquiar, surfar e sigo em busca de novos e grandes desafios.
Você virou atleta e nunca mais parou de se superar. O que é superação para você e onde se sente mais desafiada? Superação para mim é a nossa capacidade de seguir em frente, de ter resiliência. A vida é muito mais especial quando saímos da zona de conforto e nos desafiamos. Gosto de fazer coisas que não tenho domínio. Na vida precisamos tentar coisas novas e deixar as crenças limitantes de lado. Ter fé para seguir e arriscar. Esta é a magia da vida.
Sua prótese terminou virando sua marca registrada e até um elemento de moda quando você pisa na passarela. Como foi construindo isso ao longo do tempo? Comecei usando uma prótese cinza, até que cansei. Mas, em um Carnaval pensei, vou revestir minha perna com um tecido brilhante (risos). No começo, fiquei insegura, mas foi um sucesso e virou minha marca registrada. Hoje tenho de todas as cores e estampas (risos) Faço a minha mala pensando na minha perna e sei que isso inspira muitas pessoas com deficiência. Me emociona muito!
Hoje em dia você é muito assediada para modelar, as campanhas incluem moda funcional? Como você enxerga isso hoje? A moda funcional vem crescendo, mas temos uma longa caminhada pela frente. Algumas marcas já se preocupam em mostrar corpos diferentes, pessoas com deficiência. Mas, ainda é exceção, infelizmente. Precisamos ver a moda inclusiva em todos os lugares e marcas e para isso ainda caminhamos de forma lenta no Brasil.
Quando e em que situação surgiu o Instituto Paola Antonini? Como ele funciona atualmente e o que significa para você? Logo após o acidente comecei a visitar crianças em hospitais. Conheci muitas crianças que haviam amputado as perninhas por conta de uma doença ou de um acidente. E isso me fez perceber que a maioria das pessoas não tinha acesso à prótese. As próteses são muito caras e precisam de muita manutenção. Então, infelizmente, é uma realidade que a maioria das pessoas não tem no nosso país. Assim, resolvi usar a força de meu Instagram e organizar “vaquinha virtuais” e fui doando também. Mas, em 2020, por conta da pandemia que estava confinada, resolvi organizar toda a parte burocrática e surgiu o Instituto. Hoje, doamos cadeiras de rodas, próteses, fornecemos apoio psicológico e isso é a realização do meu maior sonho, meu maior propósito.
A adaptação física já te fez repensar alguma aventura ou isso te estimulou a se superar? É muito raro (risos). Eu amo desafios, quando me falam nem tente que não vai conseguir. Aí que vou mesmo (risos). Claro, que já levei vários tombos e preciso ter muito cuidado. Mas, amo me aventurar e tenho uma lista enorme de coisas que ainda quero fazer, e a maioria vou conseguir (risos).
Como descreve sua participação minissérie sobre o incêndio na discoteca Kiss? Quais as partes que mais gostou ou foi mais difícil de fazer? Eu recebi o convite para fazer o teste no final de 2021. E eu quis muito fazer este teste. Me preparei muitooooo, estudei bastante. Quando soube que passei foi uma alegria enorme e me entreguei de corpo e alma. O grande desafio na série foi a cena em que a personagem descobre que perdeu a perna. Eu já vivi aquela cena na realidade, um momento muito parecido como aquele. Minha personagem, Grazi, é completamente diferente de mim – o que fez me conhecer melhor e me abrir para minhas vulnerabilidades. Sou eternamente grata a direção do filme, me sinto muito honrada em participar da série.
Para o futuro próximo se vê mais como atriz, modelo ou atleta? O que você mais deseja? Quero continuar atuando e também quem sabe apresentar um programa. Tenho alguns planos, mas quero que a vida me surpreenda, acho que esta é a melhor parte.
Você se vê como um exemplo? O que diria a quem passou por algo parecido? Não me vejo como um exemplo, mas fico honrada quando me falam isso. Eu me vejo com uma menina que lá atrás passou por uma situação super desafiadora e que, talvez, várias pessoas achariam que seria super negativo para a minha vida. Mas, eu encarei com otimismo e transformei isso na grande oportunidade da minha vida. O ser humano é muito adaptável e pode tudo. O que eu diria para alguém que passou por algo parecido é para acreditar que pode vir uma vida linda pela frente. Todos nós passamos por momentos desafiadores e cabe a nós olhar de uma maneira positiva e seguir.
Fotos Angelo Pastorello
Styling Nicole Nativa e Revoltx Cardoso
Beleza Lukas Garcia