Quem assiste Larissa Bocchino na novela das 18h, No Rancho Fundo (Globo), como a protagonista Quinota, não imagina a trajetória dessa brilhante atriz até chegar aqui. Atriz, produtora e cineasta, Larissa tem 25 anos e formou sua base artística no Vale do Jequitinhonha, patrimônio da cultura mineira onde nasceram seu pai e sua mãe. Larissa tem dupla formação, cursou Teatro Universitário e Letras (português/italiano) na Universidade Federal de Minas Gerais. Fora a novela, Larissa marca presença no streaming com a série “Vidas Bandidas”, da Disney, que tem estreia prevista para 21 de agosto. Na trama, Larissa dá vida à Lara, personagem irmã de Bruna (Juliana Paes). Outro projeto em que Larissa atua é “DNA do crime”, de Heitor Dhalia, da Netflix. Já no cinema, protagonizou o filme “Teoria Sobre Um Planeta Estranho”, dirigido por Marco Antônio Pereira e vencedor de dois prêmios Kikito no Festival de Gramado. Em 2023, Larissa retornou a Gramado por conta do filme “A última Vez que Ouvi Deus Chorar”, também dirigido por Marco Antônio Pereira. E para o próximo ano Larissa já tem uma grande estreia marcada: a nova novela do Globoplay, “Guerreiros do Sol”, escrita por George Moura e Sérgio Goldenberg e dirigida por Rogério Gomes.
Larissa, para início de conversa… Como é ser mineira e fazer uma nordestina? E aí, pessoal, boa tarde. Primeiramente, agradecer por esse espaço, por essa entrevista, da gente ter essa troca. E vamos lá, primeira pergunta, como é ser mineira e fazer uma nordestina? Bom, é a segunda vez que no audiovisual eu faço uma nordestina, né? Eu fiz primeiro “Guerreiros do Sol”, no Globoplay, e emendei em “No Rancho Fundo”, também da Globo. E eu acho um presente muito grande, porque apesar de eu ter nascido em Minas Gerais, a minha família é do Norte de Minas, ali do Vale do Jequitinhonha, mais especificamente da cidade de Jequitinhonha, que fica numa região que é muito próxima à Bahia. E, socioculturalmente falando, é uma região que se aproxima muito mais da Bahia até do que ali de Belo Horizonte, que é a capital do Estado de Minas Gerais. Inclusive, várias pessoas de Jequitinhonha se consideram baianas mais que mineiras. O sotaque também se aproxima muito melodicamente, o sotaque é muito próximo. Hoje, inclusive, eu até conversei com uma atriz que veio fazer uma participação aqui na novela, e a gente estava falando justamente disso, que ela é baiana, e como se assemelha o sotaque da Bahia com o sotaque ali do Vale do Jequitinhonha. E, também, por outro lado, a minha família por parte de mãe, meu avô é de Caruaru. Ele é do interior do Estado de Pernambuco. Minha mãe morou seis anos em Recife. Eu cresci indo para Recife. Os irmãos da minha mãe todos moram em Recife. Meus primos, meus tios também. Então, eu cresci muito indo para Recife, indo para Caruaru visitar meu avô quando ele era vivo. E, quando eu entrei em “Guerreiros do Sol”, eu descobri através de um tio que o avô do meu avô, meu tataravô, era do bando de Lampião e que ele foi casado em uma das missões de Padre Cícero.
Então, eu descobri também essa raiz familiar. É óbvio que é sempre diferente você interpretar em outro sotaque, em outro dialeto, em uma cultura que não é, propriamente, a sua. Mas, de alguma forma, eu já me sinto muito dentro desse universo também por ter tido muita vivência sociocultural, dentro das tradições principalmente, de Caruaru, de Recife e do Vale do Jequitinhonha, que é um lugar muito importante em Minas Gerais. O Vale é incrível, muito rico culturalmente. Então, ter crescido com a cultura do Vale, eu acho que também me trouxe uma ferramenta para levar isso para a cena.
Como surgiu o convite para viver a Quinota de No Rancho Fundo e como foi sua preparação? Bom, na verdade eu não fui convidada, eu fui chamada para fazer o teste através da produtora de elenco, a Patrícia Rache, e da equipe de direção da novela. Como eu estava gravando “Guerreiros do Sol”, eles aproveitaram alguns atores que estavam lá para fazer teste para a novela, aproveitando que também era o mesmo nicho, que a gente também falaria sobre cultura nordestina. Eu fiz umas duas, três etapas de teste e fui aprovada. Na época dos testes, eu já comecei a fazer preparação; eu comecei a fazer os testes em outubro, ainda estava gravando Guerreiros – eu fiquei gravando Guerreiros até 28 de dezembro, até o final do ano; e eu fiz teste em 10 de outubro, meu primeiro teste.
Quando eu li o primeiro texto da Quinota foi muito forte, eu senti muito e falei: meu Deus, essa personagem sou muito “eu”. Eu lembro que eu imaginava que ela usava vestido de chita e aí fui em Contagem com o meu pai, onde a gente morava, comprar um tecido de chita; pedi para uma amiga minha costurar um vestido para a Quinota. Eu desenhei a ideia do vestido e a Dani, amiga minha do teatro, costurou o vestido. Eu cheguei de vestido no teste, eu trouxe o colarzinho de casinha que depois a Júlia Ayres, nossa figurinista, aproveitou e fez uma releitura desse colarzinho pra Quinota. Eu trouxe várias coisas para ela porque eu já estava estudando muito, comecei a fazer preparação lá em São Paulo com uma preparadora muito maravilhosa também. Comecei a estudar super, eu estudei muito texto e comecei a fazer vários exercícios de preparar esse corpo também, esse corpo mais da terra. Então, um dos exercícios era cultivar plantas e ficar tendo esse contato com a terra, outro era fazer trabalhos mais na casa, no chão, coisas que me trouxessem aterramento, porque essa personagem é muito do tempo presente, ela tem muito esse contato ali com o rancho fundo. Foi um privilégio poder ter tido esse tempo de estudo e fazer o teste, e durante o teste eu já ir me preparando para o início das gravações; e sim, a gente começou a gravar 15 de janeiro, mas eu já estava estudando desde 10 de outubro, desde o início de outubro, né, quando eu fui chamada. Então, eu já estava muito imersa dentro desse universo.
Essa é sua estreia na TV e já chegou como protagonista. Deu um frio na barriga e um “será que dou conta?”? Isso te pegou? Eu acho que minha trajetória como um todo é sempre um caminho de formiguinha e um passo de cada vez, um degrau de cada vez. E eu sinto que eu estudei minha vida inteira pra isso. Eu estudo teatro desde os 11 anos e eu entrei aos 16 no Teatro Universitário da UFMG, que é a maior escola de teatro no estado de Minas Gerais, uma escola que tem mais de 65 anos de existência e formação de vários atores pelo Brasil afora, principalmente mineiros. Sinto que eu vivi minha vida numa espécie de sacerdócio para viver como artista porque é uma dedicação exclusiva. Eu realmente me dedico, eu dedico minha vida inteira para fazer esse trabalho, porque é um trabalho muito humano, de muita vivência também, então você tem que estar muito vivo mesmo. Quando chegou o teste, eu estava muito nervosa, mas eu lembro que eu também sentia: “é o meu momento e eu tô muito pronta”. Eu me sentia pronta pra fazer. Porque eu saí do Teatro Universitário, eu fiz um curta-metragem, rodei vários festivais de cinema, ganhamos prêmios, ganhamos Kikitos em Gramado. Depois eu gravei “DNA do Crime”, uma participação. Depois eu gravei “Vidas Bandidas, da Disney, que vai estrear agora, dia 21 de agosto. E aí depois eu fui e entrei em “Guerreiros do Sol”, na sequência. Então, eu fui como disse degrau por degrau. E aí quando chegou a Quinota, eu já me sentia pronta pra fazer isso, porque já tinha aprendido muita coisa de set de filmagem, já tinha anotado muita coisa, já tinha aberto minha produtora, já tinha dirigido meu primeiro curta-metragem também em paralelo a tudo isso. Enquanto atriz, eu já tinha estudado muito, muito mesmo e me sentia pronta. Por mais que desse um frio na barriga, eu também sabia que era minha vida. Eu queria muito, eu me dedicava muito, eu me dedico muito pra isso, então acho que não tinha como ser de outro jeito; e daqui é continuar estudando mais, fazendo mais trabalhos.
É sua estreia na TV mas não é sua estreia como atriz. Você já participou da série DNA do Crime (Netflix) e no cinema As Aventuras de Poliana. Isso sem falar que aos 11 anos você já estudava teatro. Como você observa sua trajetória até aqui? A pergunta quatro é uma derivação dessas três, como eu já estava respondendo anteriormente. Porque é isso, eu sinto que minha trajetória é esse degrau por degrau e eu sinto que cada trabalho eu aprendo um tanto de coisa que vou acumulando os conhecimentos para aplicar em outros trabalhos. E sempre aprendendo coisa nova, porque o nosso trabalho é muito vivo. Cada dia de set é um dia de set. Cada dia é literalmente um dia.
Então, precisa estar pronto, estar preparado, estar aberto, estar com a escuta aberta. E é muito engraçado porque antes da novela “No Rancho Fundo”, eu gravei “Guerreiros do Sol”, “Vidas Bandidas” e “Aventuras de Poliana”, que já estreou no cinema. Inclusive, está disponível na Amazon Prime. Só que “Guerreiros do Sol”, essa série do Globoplay que é uma releitura sobre Lampião e “Maria Bonita”, e “Vidas Bandidas” não estrearam ainda. “Vidas Bandidas” estreia agora, dia 21 de agosto, na plataforma Disney Plus. E “Guerreiros do Sol” só estreia ano que vem no Globoplay. Então, é muito legal porque eu gravei tudo antes da novela. E tudo me preparou pra fazer a novela. E aí a novela saiu primeiro, então eu sinto que eu também já estava de certa forma com mais casca pra fazer a novela e estar aberta pro público, né? E vai ser muito legal poder assistir esses trabalhos também agora que eu já aprendi tanta coisa ao fazer da novela. Porque aí, com certeza eu vou olhar e falar assim: aqui eu podia ter experimentado isso, ter feito mais uma nuance aqui. Porque nosso trabalho é infinito, né? Nunca acaba. Mas eu fico muito feliz de acompanhar um pouco desse processo, de ver o crescimento também de maturidade de cena, de entendimento do meu ofício, do meu trabalho. É sempre um amadurecer, fico feliz.
Desde muito cedo estudando teatro, como isso te tocou pela primeira vez? Alguma influência ou referência? Eu comecei a estudar teatro muito cedo, tinha 11 anos, era uma criança, então era muito para brincar. Eu lembro que um amigo meu de escola começou a fazer teatro e eu lembro que eu gostava dele, então aquelas coisinhas de adolescente, pré-adolescente, quando a gente gosta de alguém e fica encantado pelo que ele faz. Aí ele foi e eu falei: Que legal, acho que vai ser legal para fazer. Aí eu fui fazer com ele e acabou que ele saiu e eu fiquei; e eu me apaixonei muito. E eu lembro que bem nessa época também, dos 11 anos, eu fiz uma viagem com meus pais para Cordisburgo, que é uma cidade de Minas Gerais, a cidade natal do Guimarães Rosa. E tem o Museu Casa Guimarães Rosa que tem o projeto do grupo Miguilim, onde eles fazem contações de histórias dos contos do Guimarães Rosa. Enfim, eu fui no museu com meus pais e eu assisti uma contação de história deles. Eu lembro que eu fiquei muito encantada. E meu pai acha que foi aí. Meu pai tem essa interpretação de que quando eu assisti essa apresentação do grupo Miguilim, das meninas contando as histórias do Guimarães, atinou para mim e eu decidi mais firmemente que era aquilo, porque aquilo me tocou muito, eu fiquei muito emocionada mesmo com a leitura desse projeto em específico. Mas eu lembro também, na minha família, a minha avó, mãe do meu pai, ela foi atriz e ela era dançarina no Rio de Janeiro. E o sonho da minha avó era ter sido uma atriz com mais oportunidades e ter se firmado também na carreira de alguma forma, mas a vida a levou para uma outra direção. Ela foi morar na Itália, a vida dela seguiu outro rumo. E eu acho também que é uma extensão da minha avó, concretização desse meu sonho que também é sonho dela. Eu também tive essa semente na minha família e esse incentivo muito grande dos meus pais e da minha avó, da minha avó Juremar. E, também, da minha avó Graça. A minha família inteira apoia muito, mas eu acho que foi isso, esse início de querer fazer teatro para enturmar e acabou que isso acendeu em mim uma chama de amor muito grande. E na escola eu tive muito apoio, porque eu adorava fazer teatro e ficava levando coisas que eu aprendia no teatro para as aulas. Então, a gente montou espetáculo na turma, apresentação de final de ano dos coleguinhas, e minha professora de literatura, Cacau, superapoiava. Então, eu tive um suporte muito grande de todas as pessoas que estavam em volta de mim que possibilitou que eu caminhasse nesse trajeto.
O sucesso da personagem Quinota te assustou de alguma forma? Como é ficar conhecida do grande público de uma hora para outra graças à abrangência de uma obra de grande escala? Então, não me assustou, eu não imaginava como era, nunca fiz isso, não tinha esse contato, mas eu também sou muito caseira e como eu gravo muito, eu fico muito em casa. E recentemente eu comecei a sair mais quando tive umas brechas de agenda e eu comecei a fazer algumas coisas no Centro do rio, no shopping, comecei a ter contato com as pessoas, de fato assim, mais na vivência. Foi quando começaram a pedir para fazer foto ou falar comigo sobre a novela e, realmente, toda vez que eu saio agora, me pedem foto ou falam alguma coisa da novela como por exemplo “adoro a Quinota”. E a recepção também no Instagram é muito gostosa, as pessoas comentam muito as fotos ou mandam mensagem em direct e é muito maravilhoso receber esse carinho do público. Eu lembro que a primeira vez que eu percebi isso, eu estava em Angra, tive um sábado e fui viajar com minha irmã e minha família para Angra. Eu estava nadando e um grupo de mulheres estava me olhando… e eu fiquei me perguntando se tava fazendo alguma coisa estranha. Quando saí do mar, elas me perguntaram se era eu que fazia a Quinhota! Eu falei claro, sou eu! Daí, elas disseram que tavam amando a novela e pediram uma foto. Tiramos, é quase minha primeira foto com o público e eu falei: nossa, mas me manda também que eu quero postar! Eu fiquei muito feliz e elas fizeram a foto, postaram no Instagram e aí eu repostei, agradeci e salvei a foto! Até hoje eu tenho essa foto salva! Acho muito gostoso, eu estou amando esse carinho, essa recepção muito maravilhosa, é muito especial, muito especial mesmo.
Você está do lado de grandes atores como Alexandre Nero e Andréa Beltrão, que fazem seus pais. Se intimidou no primeiro contato? Como é a relação entre vocês? Eu não me intimidei, eu estava muito empolgada para conhecer eles, muito empolgada. E como eu já estava estudando a Quinota desde outubro, para os testes, eu sentia que essa personagem era muito minha; então eu estava me sentindo confortável de alguma forma, confortável, pelo menos me sentindo acolhida pela equipe, pelos diretores, me sentia muito integrada com essa equipe que eu estou trabalhando. E no dia que eu conheci a Andrea e o Nero foi para uma leitura que a gente fez dos capítulos. Eu estava tão feliz, eu estava tão feliz de conhecer eles, e eles foram tão amorosos e tão acolhedores também, que essa intimidação nunca aconteceu, porque não é nem a postura deles e nem a minha. A gente se abraçou, ficou feliz de estar trabalhando juntos e se admirou ali na leitura, porque a leitura é esse nosso primeiro contato e é a descoberta também desses personagens em conjunto, a gente descobre essa troca. E a leitura foi tão linda, tão deliciosa, que eu acho que a gente sentiu essa sintonia que se estende para a novela, realmente acho que tivemos essa sorte desse trabalho ser muito alinhado, muito síncrono, é uma honra de um tamanho imensurável poder nesse meu primeiro trabalho em obra aberta, dramaturgia, com uma novela, trabalhar com pessoas e artistas como Andréa Beltrão, Alexandre Nero, a Debora Bloch; eu não tenho palavras para agradecer essa oportunidade na minha vida, o tanto que eu aprendo com a Andrea e com Nero, com a Debora, com essa equipe maravilhosa dessa novela; eu acho que eu estou sonhando várias vezes, tem uns cenas que eu faço com a Andrea, que eu gravo mais cenas com ela, né, por conta da relação da Quinota com a Zefa, e tem uns cenas que eu faço com ela que transbordam artisticamente para mim, é uma sensação de querer guardar aquele momento pra sempre… eu queria guardar num potinho, porque é muito especial, é muito sagrado, muito sagrado mesmo. E poder também não só aprender artisticamente sobre a interpretação, sobre o meu ofício, mas aprender sobre o comportamento também humano dentro do set de filmagem, da educação dessas pessoas, de como eles são bons profissionais, de como que cumprimentam todo mundo, entram nos sets e são pessoas muito humanas, conhecem todo mundo, sabem o nome de todas as pessoas da equipe, se integram. Estão ali pelo nosso trabalho, sabe, então é muito bonito ver isso ao vivo, e eles me inspirarem não só como artista, mas também como ser humano, de uma humanidade muito maravilhosa de se ver, de se admirar mesmo. Sou muito grata de ter essa oportunidade com essas pessoas!
Das aulas de italiano para a dramaturgia. Como foi essa, digamos, transição? Tudo na minha vida eu acho que é uma transição e é engraçado, porque eu sou formada em letras, italiano, pela UFMG, a Universidade Federal de Minas Gerais, e eu dei aula de italiano durante três anos e o teatro e o italiano sempre se mesclaram pra mim. Quando dava aula de italiano, eu levava exercícios de jogos teatrais para as aulas, para os alunos interagirem mais e brincarem. E quando eu comecei a fazer o audiovisual, eu usava o italiano às vezes até para fazer tradução de legenda para alguns curtas que eu fazia, ou inglês também, que eu também falo, sou fluente em inglês. E quando eu entrei em “Vidas Bandidas”, que é essa série da Disney que vai estrear agora, dia 21 de agosto, tinha um personagem da série que falava algumas palavras em italiano, porque é um personagem que acaba fingindo ser um italiano para algumas pessoas. E aí, como eu fui professora de italiano muitos anos, eu entrei para a série além de como atriz com a personagem Lara, que é a irmã da Bruna, personagem interpretada pela Juliana Paes, também entrei na série como preparadora de italiano e dei para o Rodrigo Simas algumas aulas de italiano para ele fazer a preparação do personagem dele. Foi muito legal porque começando ali um trabalho de atriz dessa dimensão, nessa plataforma que é a Disney, também entrei como uma outra função que eu amo e amava fazer, que é dar aula de italiano. Foi muito legal. Hoje em dia eu não dou aula mais, mas eu quero usar isso nos meus trabalhos, às vezes também estudar cinema fora ou às vezes uma novela meio italiana… eu adoraria poder usar um pouco disso também no meu trabalho, porque eu acho que tudo se integra, né?
Já soubemos que depois de Quinota, vem aí em 2025 a Ivonete, na novela Guerreiros do Sol (Globoplay). Outra nordestina na sua vida. Como foi participar dessa grande produção? O que podemos esperar de Ivonete? Bom, eu vou aproveitar essa pergunta para falar também de uma produção que vai vir antes, que vai estrear agora, dia 21 de agosto, na Disney Plus, que é “Vidas Bandidas”, série na qual eu interpreto a personagem Lara, irmã da Bruna, personagem da Juliana Paes. Foi uma série muito maravilhosa de fazer, dirigida pelo Gustavo Bonafé, e que muda completamente de universo; não é um universo nordestino, e não é um universo também parecido com o da personagem Quinota, que é essa mocinha mais romântica; a Lara é uma menina bem independente, ousada, que tá envolvida ali com o crime de alguma forma, junto com a irmã; ela tem uma outra faceta de personalidade muito interessante de pesquisar e de atuar. E foi muito legal fazer essa série, eu tô doida para essa série estrear, para a gente já assistir, maratonar aí na Disney. Poder trabalhar com a Juliana, com Simas, com Tomás Aquino, é uma honra enorme! Fazer a irmã da Juliana foi emocionante, eu lembro que quando eu a conheci, eu chorei super, fiquei muito feliz. É uma atriz que eu gosto muito e fazer a irmã dela foi muito especial. E a série está linda. E, aproveitando, falando do Tomás Aquino, que fez “Vidas Bandidas”, ele também é o protagonista de “Guerreiros do Sol”, a outra série que eu pude fazer para o Globoplay. E eu emendei de “Vidas Bandidas” com “Guerreiros do Sol” e foi muito legal trabalhar com Tomás de novo. Em “Guerreiros do Sol” eu faço a Ivonete, amante do personagem do Tomás; o Tomás interpreta o Josué, o protagonista que seria a releitura de Lampião; e a Ivonete é dona da birosca, uma coiteira ali dos cangaceiros; ela tem esse caso ali com o Josué. É uma personagem completamente diferente, muito mais adulta, tanto da Lara quanto da Quinota, e tem uma faceta um pouco mais mulheril, uma mulher com outra vivência, de uma década também completamente diferente. Década ali de 20, 30. Então, é um outro conceito histórico também e é uma série dirigida pelo Papinha, o Rogério Gomes, que é um diretor fantástico, com um arsenal enorme, já trabalhou em muitas produções, já dirigiu muitas coisas na Globo e fora e poder trabalhar com Papinha, aprender com ele, foi muito especial; eu me sinto muito honrada de ter entrado na Globo, pelo Globoplay fazendo “Guerreiros do Sol”, que é um produto tão incrível; a escrita, a dramaturgia é muito bonita, eu tô louca pra estrear, porque é um trabalho cinematográfico de alto nível artístico mesmo; tô muito feliz também de ter tido essa oportunidade de fazer a Ivonete pra “Guerreiros do Sol”.
Há alguns anos você abriu sua própria produtora, a Labocca Filmes. No que isso te ajudou nos seus projetos para o audiovisual? Quais os planos para um futuro próximo? Eu abri a La Boca Filmes na pandemia porque deu uma estagnada nos trabalhos presenciais e era uma forma de eu me manter ativa também dentro do segmento artístico. E aí eu e uma amiga, a Niely Meireles, decidimos abrir a produtora para criar conteúdo para o YouTube sobre cinema e produzir nossos curtas e filmes que a gente quer fazer nessa vida. E a gente gravou durante um bom período muitas coisas, fazendo teste, apresentando teatro em mais de 40 cidades de Minas Gerais, receitas de cinema… A gente fez a sopa do Almodóvar, do filme “Mulheres à Beira de um ataque de Nervos”, o macarrão de “A Dama e o Vagabundo” … A gente tinha vários quadros ali no canal do YouTube que a gente criou e, em paralelo, eu tinha escrito um curta-metragem que se chama “Graça”, que é um documentário misturado com ficção sobre a história de amor da minha avó, a Graça, que tem 70 anos, com o Rodrigo, que tem 81 anos. Eles se conheceram no Tinder na pandemia, e aí a gente rodou, gravou esse filme também. Foi uma forma de manter ativos todos os estudos que eu estava tendo no audiovisual, todos os meus sonhos também de projetos que eu gostaria de fazer. Eu fiz muitos cursos sobre história do cinema, história do cinema brasileiro, história do cinema da América Latina, fiz cursos de direção, de roteiro, tudo online na pandemia, então aproveitei para movimentar um pouco essa parte. E a gente inscreveu vários projetos em editais federais e municipais. A gente aprovou um edital lá em Contagem, que a La Boca é de Contagem, e a gente também increveu um projeto para o MINC, que é o Ministério da Cultura, que era um festival para diretores estreantes; eram 600 inscritos e a gente ficou em 12º lugar, em nível nacional e foi superlegal. Então, a nossa ideia é continuar escrevendo projetos para essas leis e rodar os nossos curtas e daqui a alguns anos rodar o nosso primeiro longa-metragem também da nossa produtora. Então, é muito especial, porque eu acho que é isso: eu sou atriz, mas antes de tudo sou artista e meu estudo é voltado para a grande área do audiovisual, e, obviamente eu foco no meu trabalho como atriz, mas eu quero muito também explorar esse meu lado como diretora e produtora audiovisual.
Longe das câmeras e holofotes, quem é Larissa Bocchino? Eu acho que eu sou uma pessoa muito simples, muito de boa. Eu quase não saio de casa, gosto muito de ficar em casa estudando, vendo filmes, série. Eu amo ir ao teatro, eu tenho uma coleção de ingressos de teatro desde os 12 anos, quando eu comecei a ir ao teatro com frequência. Eu ia semanalmente, religiosamente, as pessoas vão à missa, eu ia ao teatro, era religioso pra mim. E eu tenho uma coleção enorme de ingressos de teatro. Eu sou muito apaixonada pelo que eu faço. Eu amo estudar arte, eu amo fazer isso num nível muito, muito alto. Eu vivo disso o dia inteiro, eu respiro isso. Mesmo longe dos holofotes é só isso que eu sei fazer da minha vida. Ah, e eu amo cozinhar e comer. Eu amo! Também sou taurina, então realmente, são esses prazeres que eu tenho, a cozinha, a comida, a gastronomia, de alguma forma, e o audiovisual e o teatro. Eu acho que longe dos holofotes, meu sonho de vida é ficar bebendo dessas fontes eternamente. Indo num bom restaurante, comendo bem, vendo uma boa peça, ou saindo do cinema, assistindo um bom filme; acho que são os meus maiores prazeres. Eu amo fazer essas coisas.
Qual sua maior vaidade como atriz e como mulher? Nossa, eu tô um tempo aqui pensando sobre essa resposta, porque na verdade eu sou uma pessoa pouco vaidosa, sabe? Não tem muitas coisas, sou meio desligada em alguns aspectos, até tô aprendendo muito sobre esse universo estético também, até direção artística mesmo, mas eu acho que a minha vaidade tá muito no intelecto, sabe? Eu gosto muito de saber das coisas, eu sou muito curiosa, e às vezes se eu tô fazendo alguma coisa, lendo algo que eu não sei, me dá uma inquietação muito grande, e eu tenho uma vaidade de querer saber e de gostar de saber; eu acho que a minha vaidade é muito mental, de querer estar integrada naquilo, de querer saber o que estão falando ou algum conceito ali que estão falando; eu tenho uma vaidade também de querer saber, sabe?, de estudar aquilo, de estar por dentro, eu acho que é essa minha vaidade, de estar por dentro das coisas, ter esse conhecimento. Isso mexe muito comigo, me movem muito meus estudos, meu cotidiano, e eu acho que existe uma coisa que meu cabelo, de alguma forma também. Eu demorei pra assumir meu cabelo cacheado, na adolescência eu alisava o cabelo, e depois que eu passei a assumir meu cabelo com o volume que ele tem, com o cacho que ele tem, principalmente pelo volume, menos pelo cacho, mas o meu cabelo é muito volumoso e ele tem uma textura muito diferente de vários cabelos… meu cabelo é um cabelo muito específico e eu acho que essa é uma vaidade que eu tenho também quanto mulher, que é assumir meu volume, meu cabelo nesse lugar; é um processo que foi muito difícil e quando eu conquistei esse lugar pra mim, a minha autoestima mudou muito e me identificar com o meu cabelo foi um processo muito importante e muito difícil de conquistar. Mas graças ao teatro também que eu consegui, porque fazendo teatro a gente vai tendo muito autoconhecimento e aí vai entendendo sobre a gente e foi um processo de libertação que veio junto quando eu estava me formando enquanto atriz no teatro universitário: eu parei de alisar o cabelo e cortei, fiz a transição capilar de uma vez.
Nas horas de folga onde é mais fácil te encontrar? Provavelmente na cama deitada dormindo. Toda vez que eu tenho folga, eu tenho que botar meu sono em dia, porque eu fico com muito sono. Tenho que botar meu sono em dia, e se eu não tô assim, eu vou estar comendo em algum lugar muito gostoso. Comida boa, eu gosto de comida boa. Ou então no cinema, ou no teatro. Sempre esses lugares nas minhas folgas.
Para conquistar Larissa basta… Basta me dar alguma coisa boa para comer, se for doce então… eu amo doce, uma pessoa que me dá comida me conquista. Nossa, quando o set tem comida, que a gente vai fazer cena jantando, almoçando, lanchando, tomando sorvete, nossa, meu dia é tipo iluminado, abençoado. As pessoas têm uma brincadeira comigo e dizem: Larissa, só pode comer no “gravando”; tem essa brincadeira: “Larissa, não, não come antes…” Porque realmente eu falo: “gente, mas eu amo”. Teve uma vez que eu fui gravar uma cena no restaurante da Caridade, que era uma comida maravilhosa, e aí eu comi, só que eu esqueci que tem que gravar mais vezes, né? E aí eu comi muito no primeiro take, depois eu tive que repetir, e aí eu falei: “gente, eu vou explodir, porque eu comi muito”. Não consegui nem almoçar nesse dia, eu já tinha almoçado, né, em cena! Então, assim, realmente, para me conquistar, basta me alimentar bem.
Fotos Maria Magalhães @maga.maju
Beleza Carol Ribeiro @carolribeiromake