Atriz, dubladora e roteirista, Larissa Ferrara começou desde cedo a se envolver com a dramaturgia e não parou mais. Estudou dois anos no renomado Grupo TAPA com orientação de Eduardo Tolentino. Foi integrante do Teatro da Rotina com Leonardo Medeiros. Formou-se na Escola de atores Wolf Maya e também em Dublagem na escola Dubrasil. Fez cursos com Fátima Toledo, estudou o Método Meisner e é adepta ao Método Ivana Chubbuck. Além disso, Larissa é graduada em Comunicação Social na ESPM. Ou seja, preparada ela é! E seu primeiro grande trabalho foi a série “Contos do Edgar” (Fox em 2013), série produzida por Fernando Meirelles e pela O2 filmes. Daí em diante vieram filmes, peças e mais séries. Seu trabalho atual é a série “As aventuras de José e Durval” (Globoplay), onde interpreta Adenair a primeira esposa de José (Chitãozinho), personagem de Rodrigo Simas. Eles foram casados por mais de 20 anos e têm dois filhos juntos (Aline e Allison).
Soubemos que sua vivência na dramaturgia começou aos 13 anos. Como foi que despertou para isso? E como foi esse início e evolução? Acredito que o momento em que eu decidi ser atriz foi aos 12 anos de idade quando eu assisti o musical “O fantasma da ópera”. O palco, os atores, os figurinos, a luz, a música, tudo me encantou de uma forma avassaladora. Meus pais me contam que eu fiquei extasiada e falava sem parar “eu quero fazer isso!”. Eu insisti tanto que eles toparam me colocar na escola de atores do Nilton Travesso, onde eu fiquei um bom tempo. Fiz minha primeira peça (Cinderela) lá, aos 13 anos de idade. Como meus pais trabalhavam fora o dia todo, eu ficava muito tempo com o meu avô materno. Ele me levava na escola, depois no teatro, depois na aula de canto e passava o resto do dia comigo.
Meu avô era cantor, eu cresci vendo a paixão que ele tinha pela música, por cantar e o desejo de ter público para ouvi-lo. Eu sempre parava e escutava a sua potente voz ecoando, era profundo demais. Ele não teve o reconhecimento que merecia (como a maior parte dos artistas), porque teve que trabalhar duro para sustentar 4 filhos. Mas se ele pudesse ter escolhido, esse seria o seu destino. Cantar dia e noite, noite e dia. Ele sempre foi a minha inspiração para seguir em frente na carreira artística. Eu até dizia, “se meu avô morrer algum dia, eu também morro”. Meu sobrenome vem dele, Ferrara. Eu passei por diversas escolas de teatro, métodos e cursos profissionalizantes. Quando comecei a receber testes, fui colecionando incontáveis “nãos”. Quase pensei em desistir e eu só tinha 17 anos de idade. Mas então, teve um acontecimento muito forte na minha vida. Que me fez entender o estado de presença e a finitude das coisas. Minha querida mãe, ficou doente. Com uma doença neurodegenerativa muito séria. Ali, eu tive que focar na saúde e no bem estar da minha mãe. Ao cuidar dela, entre a dor e os aprendizados, fui entendendo que a vida é realmente o agora. E que eu precisava persistir no que eu amava fazer, afinal, tudo poderia mudar a qualquer momento sem que eu tivesse controle.
Eu tinha a fonte de superação na minha frente. E então, a decisão foi tomada. Vou ser atriz. A partir dali, fiz inúmeras peças sem ganhar um tostão. Eu trabalhava em uma empresa e ia pro teatro de noite. Comecei a fazer mais e mais testes. Até que eu peguei um trabalho dos sonhos em 2012. A série “Contos de Edgar” foi produzida por Fernando Meirelles para o Canal Fox. Eu fiz a protagonista de um episódio, a Íris. Aquela personagem foi meu “início” no audiovisual. Infelizmente, no meio das filmagens, meu avô Ferrara se foi. Lembra que eu disse “se meu avô morrer, eu também morro”? O dia do falecimento dele foi o dia em que eu gravei a morte da minha personagem. Aquilo foi uma simbologia gigantesca pra mim. Eu coloquei toda a minha dor naquela cena. Eu enxerguei. Se eu não tivesse ido filmar após o enterro, eu estaria perdida. Atuar me renova, me provoca, me flexibiliza, me traz novas perspectivas. Atuar pra mim não é apenas um trabalho, é uma filosofia de vida. É o lugar onde eu me sinto mais livre. Onde eu me testo sem pudor. Sem muitas delongas, fiz muitos trabalhos após isso e ainda recebi dezenas de “nãos”. Eu digo que a carreira do ator são passos de formiguinhas. De degrau em degrau, você vai subindo, ficando melhor e mais forte. É dedicação, persistência, muito amor, vontade, confiança e uma pitada de sorte. Misturei minha vida com a minha carreira. Mas é impossível falar de carreira, sem falar de quem me inspirou. Espero que me compreendam (risos).
Seus primeiros trabalhos foram para a TV fechada e depois vieram alguns trabalhos para o cinema. Como foi esse início? Sim, como eu disse anteriormente, meu primeiro “grande” trabalho foi na série “Contos de Edgar” da Fox. Depois veio o filme, “Jogo das decapitações” de Sérgio Bianchi. A série “O Negócio” na HBO. O filme “Todas as razões para esquecer” do Pedro Coutinho. O filme “ON” do Lucas Romano. E mais alguns bons outros. Ser atriz é estudar muito e aceitar que você terá altos e baixos. É como uma montanha russa. Você sentirá prazer e angústia na mesma medida. E esses sentimentos dançam e se desequilibram entre si. O que eu posso dizer é que tive vários inícios.
Das telonas para os palcos, como foi e é sua relação com o teatro? O que mais te encanta? Minha relação com o teatro é muito íntima. Sou apaixonada pelo palco. O teatro foi o lugar que me acolheu, me ensinou, me tornou a atriz que eu sou hoje. Eu tive muitas possibilidades de personagem, muitas experiências distintas, coisa que no audiovisual é raro conseguir. Porque normalmente te colocam em caixas com etiquetas. No teatro você pode ser qualquer coisa. Eu tenho uma parceria muito longa com alguns diretores. Um deles é o Dan Rosseto que aliás é um dos roteiristas da série que estou estreando. Ele escreve personagens complexos para mim e eu me entrego em cada um deles. É delicioso! Nossa conexão é muito especial. No teatro, você pode achar a sua personagem no erro. É possível errar inúmeras vezes até você encontrar sua personagem. E isso me encanta muito. Se perder para se achar.
Para quem ainda não conhece seu trabalho, terá oportunidade agora com a estreia da série “As Aventuras de José e Durval”, Globoplay. Como estão suas expectativas para esse trabalho? Estou vivendo um momento muito especial. Não consigo contar a quantidade de testes que eu fiz ao longo desses anos, chegando na última fase dos testes e acabava não rolando. Quando um acontece, é muita emoção! Estou muito feliz de ser apresentada para o grande público e para a Globo com essa série e com essa personagem. Adenair foi um acontecimento pra mim. Eu tenho certeza que o público vai amar a série. Eu já assisti. E está espetacular! O roteiro, os atores, a direção, os figurinos, a direção de arte, enfim tudo muito, muito bom.
Na série você interpreta a esposa de Chitãozinho, Adenair. Como veio o convite e como foi sua preparação para essa personagem real? Olha, convite eu só tenho no teatro ainda. (risos) A Adenair chegou pra mim através de testes de elenco. O diretor e criador da série, Hugo Prata assistiu muitas peças minhas. Ele é um dos raros diretores que vão ao teatro. Ele me viu em cena com diversas personagens diferentes e nada melhor do que o teatro para mostrar um trabalho consistente de atriz. Quando o projeto começou, a diretora de elenco me chamou para o teste de Adenair a pedido dele. Eu não sabia quem ela era, então comecei a pesquisar muito. Me preparei muito para o teste. Fiz, enviei e demorou muito para sair a resposta. Eu já achava que seria mais um “não”. Quando recebi a ligação de que fui aprovada, eu caí no chão e comecei a chorar de alegria. (risos) Quando recebi o roteiro, eu mergulhei nele por semanas.
Depois fui pesquisar a fundo sobre a época (década de 80 e 90), como as pessoas eram, como se vestiam, o que escutavam, o que assistiam, como falavam e por aí vai. Escutei todas as músicas da dupla para entender a atmosfera do projeto em que eu estava entrando. Assisti muitos filmes e documentários que me trouxeram referências à música, ao sertanejo, a década de 80, aos programas de TV, as danças, a situação política e social na época. E então, entrei no Instagram da Adenair e obsessivamente olhei todas as fotos e vídeos. Depois de tudo isso, eu comecei a criar a minha própria Adenair. Uma mulher forte, carismática, leve, divertida, fala o que pensa, mas com muitas dores também. Entre elas, a dificuldade que ela teve de engravidar e a busca por ser aceita na família Lima que tinham certos receios por ela ser dançarina de programa de TV e com uma personalidade yang.
Você já conhecia algo do universo de Chitãozinho e Xororó? Fez algum mergulho na música sertaneja? Eu já conhecia sim. Mas não era íntima das músicas. O que eu posso dizer é que eu fiquei 1 ano escutando todas as músicas de Chitãozinho & Xororó. E fiquei extremamente apaixonada pelo trabalho deles. Até hoje eu canto Rancho Fundo e Fogão de Lenha. É lindo e poético demais!
O que foi mais desafiante neste trabalho? Meu maior desafio foi criar minha Adenair sem estereótipos. Achar a essência dela. Quando você faz um personagem real, de uma pessoa que existe, está viva e vai assistir o seu trabalho, é preciso ter cuidado e respeito. Mas também revelar a pessoa que o público não conhece. Esse paradoxo foi desafiador.
E falando em desafios, como foi participar do filme “Apanhador de Almas”, que traz suspense e terror? Gênero totalmente diferente de outros trabalhos seus. Olha, nem tão diferente assim. Eu costumo fazer personagens bem intensos e desafiadores. A Adenair foi uma exceção. E eu amo isso. Em Apanhador de Almas, eu faço a Isabella, uma mulher com muita personalidade e determinação. Devido às circunstâncias de vida e morte do filme, Isabella começa a enlouquecer e vira quase uma psicopata. Foi intenso. Esse filme está massa demais! Fazer um filme de terror é muito divertido. Eu e Klara Castanho nos debruçamos nas personagens e jogamos uma com a outra intensamente. Quero muito trabalhar com ela de novo. Como eu disse pra ela, “você é meu número”. (risos)
Quando chega a hora de relaxar o que procura? Eu passo um tempo de qualidade com meu companheiro, estamos juntos há 11 anos. Ele é artista plástico e nossa relação é deliciosa. De muita troca, arte, parceria e amor. E claro, fico com o meu cachorro maravilhoso “Mano”. Vejo minha família e amigos. Amo bons encontros. No meu dia-a-dia, eu costumo assistir muitos filmes, séries, peças de teatro e vou em diversas exposições de arte. Agora, eu amo viajar, ficar em contato com a natureza é minha paz interior. Até por isso, minha casa parece uma floresta, lotada de plantas. (risos)
Quais os planos daqui pra frente que pode nos adiantar? Essa semana, eu terminei as filmagens da série Estranho Amor, escrita por Ingrid Zavarezzi e dirigida por Ajax Camacho. É uma produção da Sony, da TV Record e da Visom digital. A série abordará um tema sério e sempre em pauta, que é a violência praticada contra a mulher. Todos os capítulos serão baseados em histórias reais. Cada capítulo abordará um casal diferente. Eu protagonizo o episódio 2, junto com Emílio Orciollo Netto e Gabi Cardoso. Minha personagem se chama Glorinha, uma mulher que sofre sérios abusos do seu marido Sérgio (Emílio Orciollo Netto). Ela é mãe de Gabrielly (Gabi Cardoso) que também sofre com a violência do pai. A história dessa família são fatos reais e muito chocantes. O marido trancava a mulher e a filha em cárcere privado. As filmagens foram bem intensas. E estou com dois projetos de teatro para 2024. Que serão incríveis!
Para conquistar Larissa basta… Ter senso de humor. Ser verdadeiro. Ser gentil. E claro, me dar um chocolate amargo. (risos)
Fotos Vinícius Mochizuki
Edição de moda Alê Duprat
Produção de moda Kadú Nunnes
Direção de estúdio Rodrigo Rodrigues