Por Edi Souza / Fotos Carlos Cajueiro
Os chefs pernambucanos André Saburó, Joca Pontes e Duca Lapenda são atum, farofa e espaguete no filme que conta a relação afetiva desses três amigos com a gastronomia. É como se a essência de suas cozinhas se ampliasse em tela grande para mostrar ao espectador o quanto de sentimento, técnica e sabor podem estar presentes em um único prato. Basta saber de onde ele veio e a que se propõe. Resultado de vários anos de captação de imagem feita pelo diretor romano Riccardo Rossi no dia a dia e na viagem do trio para regiões do Japão, Roma e França.
Mesmo embasado por cenários tão distintos, o longa, com ares de documentário, tem um fio condutor básico, que é o convite feito a Joca para a realização de um jantar no estrelado Zé Kitchen Galerie, onde o chef trabalhou durante sua temporada de estudos em Paris. Para esse retorno tão apropriado a quem hoje comanda restaurantes de peso no Recife, como Ponte Nova, Villa e La Plage, veio a ajuda indispensável de uma dupla que reforça o movimento de união e compartilhamento entre os cozinheiros pernambucanos. O pedido para Duca, da marca de referência italiana Pomodoro Café, e Saburó, do premiado Taberna Japonesa Quina do Futuro, formarem a pequena comitiva rumo à França aconteceu sem nenhuma espécie de roteiro ou jogo ousado de câmera, o comum de superprodução. Aliás, os envolvidos neste filme foram os que também investiram na captação de verbas do road movie. “Acabou que todo mundo segurava a câmera e participava da cena ao mesmo tempo. Temos centenas de horas de gravação contínua, condensadas em pouco mais de uma hora”, lembra Duca.
INTERCÂMBIO GASTRONÔMICO
São cenas com os bastidores de um jantar importante, que começa pela escolha atenciosa dos ingredientes em feiras e supermercados, passando pela troca de informações com outros chefs e chegando à ansiedade de quem saiu da sua zona de conforto para fazer bonito. “Fomos muito bem recebidos. A França ainda me impressionou na riqueza dos detalhes, como numa maneira precisa de dobrar uma simples massa”, diz Saburó. Mas, entre os ensinamentos, houve a troca. Como na passagem pela Itália, onde o trio também cozinhou com pedidas regionais, como queijo de coalho e goma de tapioca, em cozinha típica de lá. “Marcou a qualidade dos produtos de origem, principalmente os vegetais e sua melhor berinjela, abobrinha e tomate”, comenta Joca. No vídeo, esses ingredientes crescem em forma e cor, que fica até difícil assistir com fome. Na chegada ao Japão, a vivência da comida servida na rua ou nos rituais domésticos, onde o respeito pelo alimento e tudo em sua volta se faz presente. “Foi importante não só conhecer o funcionamento do mercado de peixe, como também entrar naquelas casas e se deparar com uma história tão viva dos orientais”, completa Duca. Contexto perfeito para Saburó reviver momentos de família, com participação da mãe e do irmão em situações importantes da viagem.
Entre hotéis, restaurantes, avenidas e tantos ingredientes no fogão, os três foram ainda reafirmando a amizade e o alter ego que intitula o filme. “O que é possível trazer de uma viagem como essa são as técnicas que, talvez, sejam possíveis de aplicar em produtos locais”, resume Saburó. Em tempo, o longa já conquistou diversos prêmios internacionais, incluindo o de Melhor Filme em Língua Estrangeira, do disputado Hollywood International Documentary Awards. Já foi exibido no Festival Audiovisual Cine-PE. E continua inscrito em vários outros festivais mundo afora. Promete ganhar força para exibição em telonas brasileiras. Como tem que ser.