INVESTIMENTO: O milionário mercado de cavalos de raça

A afeição entre homens e cavalos existe desde o princípio das civilizações, quando o animal começou a ser usado para o transporte ou conduzindo os soldados nas guerras. Hoje, a criação de cavalos, também chamada de “hobby dos milionários”, é na verdade um grande mercado que rende altas cifras para o restrito mundo dos haras. Segundo dados da Confederação de Agricultura e pecuária do Brasil, o mercado movimenta cerca de R$ 7,5 bilhões por ano, contabilizando 641 mil empregos diretos, estes números espantam, pois representam seis vezes mais que os empregos da indústria automotiva, e 20 vezes mais que os da aviação civil.

Ultimamente, houve um crescimento admirável de empresários de outros setores que partiram para o agronegócio de eqüinos. Muitos afirmam que é necessário conciliar as habilidades de gestão com o conhecimento sobre os animais, e aguardar o retorno do capital investido, que deverá ser em longo prazo. Mesmo com a inconstância da economia, o país mostrou-se vitorioso, houve um aumento da procura interna e externa pelos cavalos brasileiros. Empresários do porte de Luís Ermírio de Moraes, José Victor Oliva e Odebrecht, foram atraídos pelo aumento da rentabilidade no setor.
Segundo o presidente da Associação Brasileira de Cavalos Crioulos (ABCCC), Roberto Davis, o mundo dos cavalos não é como investir na bolsa de valores, pois todos inicialmente entram pela paixão, e acaba se tornando um negócio. Não é a toa que conquistou alguns famosos, como Ana Paula Arósio, Jayme Monjardim e Galvão Bueno, que são criadores da raça Mangalarga Machador e Crioulos.
Uma boa explicação para o crescimento do mercado no Brasil seriam os baixos custos para a criação no país, em relação aos altos preços praticados no mundo dos esportes equestres. Porém, é preciso paciência, pois para a atividade se tornar um negócio lucrativo, é preciso um período de maturação entre cinco e sete anos. Além disso, há os custos para manutenção de cada animal, que é bem salgado.
Grande parte dos números desse mercado são conquistados nos leilões, que costumam até ser transmitidos ao vivo, para os interessados que não estejam presentes. São leiloados, garanhões, matrizes, potros, embriões e até o sémem, para que as características genéticas e habilidades do animal sejam propagadas.
Os “filhos” dos grandes garanhões, como o cavalo americano Royal Academy, um dos mais requisitados reprodutores de Puro Sangue Inglês do mundo, tem grandes chances no mercado internacional. Este, que citamos, teve sua última vinda ao Brasil  patrocinada por um consórcio formado pelos haras Old Friends, Mondesir e Stud TNT, pela bagatela de 2 milhões de reais. Tudo que ele teve a fazer é saciar seu apetite sexual com as éguas brasileiras.
PRINCIPAIS RAÇAS
ÁRABE (O filho do vento) – É a raça mais antiga do mundo, seus registros foram encontrados com o Faraó Phihiri, que viveu no século XX A.C. Por conta da sua resistência tornou-se a montaria de generais famosos como Alexandre O Grande, Napoleão Bonaparte, além de outros reis e príncipes. Possui uma conformação elegante e nobre linhagem, o cavalo Árabe é bastante usado no melhoramento de outras raças e até de cavalos comuns. Atualmente, a raça é uma das que atingem os maiores valores em leilões e coberturas, um bom animal custa em média oito mil dólares, porém o preço dos campeões é incalculável. O Brasil passou a produzir mais e acabou fazendo uma boa troca: a da quantidade pela qualidade. Desta forma, os equinos brasileiros tiveram êxito entre as criações do mundo inteiro e hoje a nossa produção de Árabe é reconhecida internacionalmente, na posição de terceiro maior criador do mundo, atrás dos Estados Unidos e Canadá.
INGLÊS (PURO SANGUE) – Como já diz o próprio nome, surgiu na Inglaterra, do cruzamento de outras raças para se obter animais para corridas de longa distância. Além de velocista, é usado como saltador de obstáculos e um bom cavalo de sela para passeio, também uma das raças mais famosas e valiosas do mundo. A sua excepcional mecânica de salto permite um excelente resultado no hipismo. O cruzamento de garanhões ingleses com éguas das antigas linhagens de sela ou trotadoras Anglo-normandas, resulta na raça Sela francesa, do famoso cavalo tricampeão brasileiro Baloubet du Rouet, montado por Rodrigo Pessoa. Vale dizer também, que há estudos avançados para clonagem do Baloubet du Rouet e outros cavalos campeões, o que custará em média US$ 200.000,00.
MANGALARGA MACHADOR –Esta raça é Brasileira, surgiu em Minas Gerais, em 1812, do cruzamento da raça andaluza com éguas nacionais de linhagens menos nobres. É sempre alvo de crítica pelos criadores de raças mais tradicionais. Devido a sua marcha confortável, é apto para passeios ou grandes viagens. O  mercado nunca esteve tão aquecido como agora, segundo Magdi Shaat, presidente da Associação Brasileira dos Criadores do Cavalo Mangalarga Marchador (ABCCMM), o sucesso se deve a caracterís­ticas únicas da raça, como a de ser um animal pronto para qualquer trabalho no campo e também próprio para equitação técnica, além de extremamente dócil e fácil de ser manuseado por mulheres e crian­ças. Cerca de 800 novos investidores entraram no negócio desde 2005 só na raça Mangalarga Marchador, os 5,9 milhões de cavalos presentes no país geram um faturamento anual de US$ 3,6 bilhões.
QUARTO DE MILHA é fruto de garanhões da Arábia com éguas da Inglaterra. É conhecido por ser capaz de correr distâncias curtas mais rapidamente que qualquer outra raça. A raça é bastante conhecida em provas de vaquejada, tambores e corridas. Voltando aos leilões, é inquestionável que eles estão cada vez mais organizados, pois são as principais fontes de renda dos haras. Porém, antes de sair dando lances é importante analisar valores como genética, nutrição, manejo e criação. Além de checar a notoriedade da empresa leiloeira e verificar com cautela o catálogo de lotes. O leilão é de fato o termômetro mais confiável, demonstrando os altos e baixos das condições atuais do mercado.

Após adquirir seus novos animais, é hora de fazê-los render e criar a sua fábrica de cavalos. Produzir cavalos, como os puro-sangue, por exemplo, é uma atividade cara, demorada e de risco. Criar um potro, da concepção até o momento do leilão, aos dois anos de idade, custa entre dez e quinze mil reais, nos haras mais qualificados.

UM HOBBY LUCRATIVO

Os grandes garanhões como o cavalo Gadheer, do Haras Mondesir, do grupo carioca Peixoto de Castro, chegou a valer até quatro milhões de reais e foi o maior reprodutor brasileiro. A baia de Gadheer tem paredes revestidas de madeira, iluminada por lampiões e é climatizada para garantir uma temperatura amena no verão, além do detalhe da fechadura da porta, que é de bronze. Importante citar este cavalo como exemplo, pois ele rendeu mais de dez milhões de reais a seus donos, só como reprodutor.
Para tornar o hobby lucrativo é preciso computar item por item, reduzindo gastos excessivos para, no mínimo, empatar os custos de produção com o valor de comercialização. É preciso uma administração muito cautelosa, apesar desse trabalho não, necessariamente, representar uma fonte de renda que interfira na saúde orçamentária dos proprietários.
No Haras Mairiflor, propriedade de Luiz Augusto Sacchi, criador de Mangalarga Marchador, a política é visar o lucro dos negócios de sua fazenda, mas sua experiência de 12 anos como diretor de banco torna-se relevante na hora de saber a diferença entre custo e despesa. “Custo é o que se gasta para obter resultados. Despesa é a taxa de desperdício sobre a produção. Dessa forma, temos de fazer o nível de despesa ficar o mais próximo dos índices desejáveis do custo, uma vez que isso determinará maior ou menor sucesso na venda.
Eleito melhor criador-expositor do país em 2010, o mineiro Adolfo Geo Fi­lho também diz que o mercado nunca esteve tão bom e credita essa expansão ao aquecimento da economia rural como um todo, mas destaca que o Man­galarga Marchador leva vantagem sobre outras espécies por ter o “melhor custo­-benefício”. “O agronegócio tem crescido muito. Com o aumento da base da pirâ­mide da economia, mais trabalhadores rurais entram no mercado e todo si­tiante quer ter um cavalo. E o manga­larga tem uma marcha excepcional e agrada muito ao usuário final, seja ele o peão, a mulher ou a criança”, diz o pro­prietário do Haras Santa Esmeralda, em Belo Horizonte, com a experiência de quem está no ramo há 30 anos.
Os cavalos destinados aos esportes recebem um tratamento diferenciado, são inúmeros tratamentos veterinários, alimentação balanceada e equilibrada, treinamentos esportivos específicos para raça, estábulos climatizados, sessões de natação e até supervisão de acumputuristas.

ESPORTES

Hipismo – Além disso, muitos são os esportes que aquecem o mercado. O hipismo, por exemplo, é a arte de transpor obstáculos sobre os cavalos, sendo o único esporte em que competem homens e mulheres em uma mesma prova. Suas regras variam de acordo com a modalidade. O salto é a categoria mais conhecida e, dependendo da competição, ganha aquele que percorrer a prova no menor tempo possível. O esporte surgiu do costume de nobres europeus, tem como linha básica para um bom resultado a integração entre o conjunto cavaleiro e cavalo.
Os campeonatos movimentam e muito o mercado atual. Recentemente, a etapa final do campeonato mundial de hipismo foi no Rio de Janeiro, no evento Athina Onassis International Horse Show. O porte do evento é muito grande, contou com um investimento superior a quinze milhões de reais, com o apoio do Governo do Estado do Rio de Janeiro e patrocínio de empresas como Bradesco Private, CN e CN Worldwide, Copacabana Palace, Daslu, Gerdau, Rolex e Pamcary.
Pólo – Pouco conhecido no Brasil, porém não menos importante, o pólo, é um dos esportes mais empolgantes. É considerado um esporte para poucos, pois exige animais de alta qualidade, muito treino e estrutura. Geralmente usa-se a raça Petizo de Pólo, que poderá ser cruzado com o Puro Sangue Inglês para obter uma raça mais forte. É jogado a galope e é um dos esportes mais rápidos do mundo. Cada time possui quatro jogadores montados em cavalos, golpeando uma bola com um taco de 3 metros. O objetivo é fazer o maior número de gols. A partida  dura em média 1 hora e é dividido em 4 a 6 chukkas, que duram 7,5 minutos cada, os cavalos deverão ser trocados a cada chukka e só podem ser utilizados 2 vezes na mesma partida.
Corrida – Um dos esportes mais populares, sem dúvida, é a corrida. É pouco rentável no Brasil, mas isto é bem diferente no exterior, como nos Estados Unidos, por exemplo. A corrida de cavalo mais lucrativa do mundo fica em Dubai, a Dubai World Cup. Lá as premiações chegam a US$ 21.5 milhões.  Atualmente os Emirados, são conhecidos como o novo centro internacional de cavalos, sem falar, que é uma experiência única assistir a exibição dos cavalos da família real e dos melhores do planeta no local onde foram criados.
CURIOSIDADES
– Sendo tão valiosos e para melhor exposição aos compradores, os cavalos também têm direito a tratamento completo de beleza. Os cavalos, antes de participarem de exposições, apresentações e corridas, são aprimorados por profissionais especializados, os chamados groomers.
Há vinte anos, quando a quantidade de leilões de cavalos no Brasil era imensa, o embelezamento dos animais era bem mais comum. Entretanto, ainda hoje, os tratamentos valorizam os eqüinos, sendo capazes de harmonizar defeitos e realçar qualidades”, diz o groomer e esteticista de animais, Sérgio Villasanti, que é de Campinas (SP), mas realiza trabalhos em todo o país.
– O “spa” envolve banho, tosquia, embelezamento de pêlos, adornos de crina (como pentear, realizar tranças, sprays para dar brilho ao dorso e vernizes para casco), além de pintura de rosto, que geralmente destaca marcações no animal que com o tempo vão se apagando. Cada raça tem suas necessidades, como corte de crina diferente e pelagens específicas, é importante respeitar as especificidades de cada uma.
– Como se vê, o comércio dos cavalos de raça é bem agitado. Para quem tem uma visão leiga sobre o assunto, não imagina os saltos do negócio, principalmente no país. É um trabalho que mistura paixão e lazer, o que torna a corrida pelo lucro bem acirrada. Então se você se interessou pelo assunto, esqueça a fazendinha do facebook e comece a pesquisar onde será o próximo leilão.
– Vídeo: Galvão Bueno com Rodrigo Pessoa (3 vezes campeão do mundo, campeão olímpico)

FONTE:
– IstoÉ Dinheiro
– Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA)
– Associação Brasileira de Cavalos Crioulos (ABCCC)
– Revista Rural
http://www.dubaiworldcup.com/