Que mistérios esconde a mente de um homem de idéia tão criativas e surpreendentes? Em se tratando do roteirista e diretor João Falcão, nenhum. Com muita simplicidade e nenhum estrelismo, João Falcão conquista atores, diretores e o grande público simplesmente pela sua arte de entreter e pensar. Sempre com textos que todos imaginam pensar e com atos que marcam suas obras, João Falcão é além de tudo um grande romântico, romântico pelas suas raízes, pelas suas idéias, mas principalmente por seu grande amor, Adriana Falcão. Conversamos com esse homem simples e mente sofisticada, e o resultado você confere logo abaixo.
João, seu começo de carreira foi escrevendo, atuando….? Como foi seu início?
Comecei fazendo música. Meu sonho era ser um popstar. Na época da faculdade descobri o Teatro. Eu e uns amigos batalhamos os direitos de uma peça e quando conseguimos, cada um ficou dizendo o personagem que gostaria de fazer. Eu disse que queria dirigir e todos acharam ótimo porque significava menos um a disputar papel.
O que foi ou pode ser pior, o preconceito contra o nordestino que se destaca no sul ou a falta de reconhecimento e incentivo na sua região? Você enfrentou isso?
O melhor seria se pudéssemos viver do nosso talento na nossa região. Bastaria para anular as duas hipóteses.
Você viveu parte da sua vida numa usina de cana no interior de Pernambuco. Quanto desse período da sua vida influenciou no homem e no profissional que você é?
Sou o que sou, porque sou de lá. Sou muito o garoto da Usina Tiúma.
Pra você existe alguma diferença entre escrever para a TV, para o teatro ou para o cinema? Alguma preferência?
O tempo de sedução faz diferença. No teatro o público te dá mais tempo para a conquista, no cinema também. A TV é um veículo frenético, o controle remoto pode é implacável. São jogos bem diferentes, igualmente prazerosos.
O Auto da Compadecida talvez seja uma de suas obras de maior sucesso do grande público. A que você deve esse sucesso todo? Esperava que fosse ter essa grande receptividade?
O Auto é um fenômeno. Não esperava o sucesso que foi.
Por que Chicó desperta tanto o interesse feminino?
Talvez por possuir o charme do safado desprotegido.
É mais engraçado escrever sobre o universo masculino ou o universo feminino? Tem diferença?
O ser humano é muito engraçado, somos uns patetas, homens e mulheres.
Quem é o sexo frágil, homens ou mulheres?
Ainda penso como no tempo em que escrevi a série. Acho que o homem é o sexo frágil.
Essa sua “parceria” com Guel Arraes é resultado dos mesmos desejos criativos, das mesmas oportunidades ou de laços regionais de amizade?
Sem dúvida, dos mesmos desejos criativos.
Você acha que A Máquina funcionou melhor no teatro que no cinema?
Adoro o filme. Revi semana passada e gostei mais do que já gostava. Mas com a peça acho que cheguei mais perto de onde pretendia.
Adriana Falcão. O que esse nome lhe inspira?
Amor.
A Dona da História nos coloca em contato com os “como teria sido se” que sempre norteiam nossas vidas. As escolhas que temos de fazer e as conseqüências que vem delas. O que faz você pensar “como teria sido se…”?
Eu penso isso o tempo todo. Acho que vem daí minha criação.
Com a peça “A Máquina” você revelou 4 grandes talentos, Wagner Moura, Lázaro Ramos, Bruno Garcia e Gustavo Falcão. Como foi que se deram esses encontros?
Wagner, Lázaro e Vladimir Brichta conheci na Bahia enquanto montava A Ver Estrelas. Conheço Bruno, desde que ele tinha uns catorze anos, em Recife, mas ele não fez a peça, porque ia ser pai e precisava curtir o momento. Gustavo Falcão é meu sobrinho, mas só o conheci como ator quando estava buscando alguém para substituir o Bruno.
“Seu coração disse pra sua cabeça, vá, e sua cabeça disse pra sua coragem, vou, e sua coragem respondeu, vou nada, mas sua boca não ouviu e beijou.” Quando a impulsividade romântica toma conta de um homem, que normalmente é mais racional que emocional?
Quando esse homem deseja chacoalhar um pouco a sua vida.
Sua mais nova obra da TV, a série Clandestinos, de onde partiu a idéia inícial? Foi difícil adaptar do teatro pra TV?
Desde que vim pro Rio pela primeira vez, há muitos anos, vi e vivi histórias que me inspiraram algo que ainda não se chamava Clandestinos.