Um dos mais relevantes formadores de opinião em Negócios de Luxo e Premium na América Latina. Carlos Ferreirinha atualmente preside a MCF Consultoria especializada em inteligência da gestão do varejo de luxo, em São Paulo, atendendo clientes como General Motors, Swarovski, Tiffany, Nextel, Natura, Boticário, Mastercard e Samsung, entre outras. Está entre os cinco consultores brasileiros mais requisitados sobre negócios que envolvam varejo e luxo, realiza anualmente mais de 45 palestras ao redor do mundo, compartilha sua expertise em operações de mercado, desenvolvimento de negócios e marketing.
Como definir estilo? Como compõe o seu próprio estilo? Possivelmente eu não seja o profissional mais adequado para responder essa pergunta!! Sou totalmente focado em gestão. No que diz respeito ao estilo, eu o defino como um mix de informações que você vai juntando e desenhando no modo de vestir, na postura… Um pouco do que sabe, do que gostaria e evidentemente, atento ao que está acontecendo ao lado e o que é indicado como interessante. Definitivamente, meu estilo é informal. Jeans e blazer.
Fale um pouco sobre sua trajetória profissional, quando e como foi o seu day 1 no mercado de luxo? O day 1 no setor formal do luxo, foi na empresa Louis Vuitton… E há quase 22 anos atrás… Tem tempo!! Preciso comentar que trabalhar na americana EDS – Electronic Data Systems por 8 anos, mesmo não sendo do luxo, mas uma empresa, sem dúvida, de vanguarda e muito prestigiosa para a época, foi uma escola do marketing emocional. E isso me ajudou muito no luxo da Louis Vuitton. Lembro bem do início – tenso… Eu e nem a região éramos estratégicos para as áreas de apoio em Paris. Cada conquista de atenção era uma guerra! Minha trajetória é de trabalho. Professor de inglês, recepcionista de hotel, office-boy, estagiário de administração… Trabalho desde os 9 anos.
Qual o entendimento das marcas de luxo em relação aos conceitos da indústria da economia criativa? Como essa tendência está sendo utilizada pelas marcas de luxo? Essa pergunta é muito interessante! Muito da economia criativa vem da atividade do luxo. Assim, tem sido o luxo a ensinar muito à economia criativa. Consumir luxo é consumo emocional, do desejo, da vontade e não racional. Aqui, então, há muito a ser trocado. Trata-se de um alinhamento natural e quase orgânico.
Há uma linha de pesquisa que defende que a classe média age de forma emocional em relação ao dinheiro, já os ricos agem de forma lógica, você concorda com essa afirmação? Como isso pode interferir na percepção de valor e comportamento de consumo de produtos de luxo? Não concordo. Eu considero todo o consumo que não seja da necessidade, onde o luxo entra, mas não somente o luxo… Consumo emocional e não racional, lógico. Seja no consumo da pasta de dente ou no consumo do barco. O que muda são os patamares de valores, mas a inclinação de consumir algo ou alguma coisa por vontade, desejo, emoção é inerente e permeia qualquer produto ou serviço e, qualquer que seja a classe social. Evidentemente, quando falamos de produtos ou serviços de luxo, essa questão é acentuada – potencializada.
Como se comporta o e-commerce no mercado de luxo no mundo e no Brasil? O e-commerce não é mais um bicho de sete cabeças. Inexplorado em sua total possibilidade? Sim. Mas, vem sendo usado e muito usado. Vivemos uma era digital e o e-commerce acompanha esse movimento. A atividade do luxo ainda é modesta na utilização. Essa atividade sempre foi pautada pelo formato tradicional de consumo. E-commerce é uma transgressão do modus operandi de sentir, tocar, conhecer, descobrir, ouvir… Mas, é fato e diante dos fatos, lidamos, aprendemos e usamos. O luxo pouco a pouco e rapidamente, tem dado sinais excelentes nessa direção das tecnologias digitais. Vale aqui uma reflexão da surpreendente Burberry que possivelmente se tornará a primeira marca de luxo digital. No brasil tudo que se refere ao digital, é muito forte. Expoente mundial atualmente.
Qual o perfil e características de consumo de produtos de luxo pelo público masculino? A principal diferença do homem para a mulher é o fato do homem não pesquisar tanto e ser mais objetivo no consumo. Mas, os traços de impulso são os mesmos. Se a mulher o faz nos sapatos, o homem o fará nos carros. Se ela o faz nas bolsas, o homem o fará nos relógios. Alguns setores têm um alinhamento muito masculino como carros, imóveis, lanchas, aviões. Chamamos de o luxo absoluto. Entretanto, vale aqui ressaltar o forte incremento do homem no consumo de cosmético.
Você é um empreendedor por natureza inquieto, que busca sempre participação em empresas inovadoras como por exemplo a BENTO STORE, primeira loja especializada em mobile food, como você definiria o perfil do gestor Ferreirinha? Inquieto é a palavra. Curioso. Decidido. Mas, definitivamente o que mais me define é força de trabalho e trabalho com pessoas. Meus dois traços mais fortes e relevantes.
Você é Presidente da MCF Consultoria especializada em inteligência de gestão do varejo de luxo, empresa que atua em toda a América Latina, qual sua opinião sobre o atual cenário econômico mundial e como isso vem afetando o mercado de luxo? O mundo está de cabeça para baixo. Os mercados mais tradicionais como Europa, EUA e Japão passam por provações e perdem força. Entretanto, a Ásia como um todo, o leste europeu, alguns mercados da América Latina, o Brasil, os países árabes vêm compensando essas perdas e ao final, no consolidado, o setor cresce. Mas, temos que reformatar a forma que pensamos estrategicamente. Tudo alterado – mercados, forças, consumidores, perfis…
É possível afirmar que um dos maiores desafios das empresas de luxo é continuar crescendo, aumentando sua lucratividade ao mesmo tempo em que mantêm a exclusividade? Como é possível equilibrar esse processo? Excelente. Absolutamente excelente. Sim, é isso que tem tirado o sono das marcas. Como crescer e expandir, mantendo a exclusividade. São muitas as formas para alcançar esse equilibro. Distribuição, matéria prima, preço, inovações e direção criativa são elementos que podemos ser usados para garantir a exclusividade ou ao menos equilibrar.
Como a tradição e o nível de excelência em produtos e serviços do segmento de luxo podem influenciar e determinar um preço diferenciado mesmo em tempos de crise? Luxo tem a tradição como um dos elementos-chave. Não importa aqui quanto tempo, mas sim deixar claro ao longo do tempo quem é você na história. Quanto à excelência… É o adjetivo máximo da atividade. Dizemos que luxo significa o patamar máximo da excelência – do excepcional de produtos e serviços de luxo!
Os conceitos usados pelas marcas de luxo são aplicáveis somente por quem trabalha diretamente no mercado de luxo, ou podem ser utilizados por qualquer marca? Cite uma marca de alto padrão que se destaca por suas estratégias inovadoras e as transformações socioeconômicas globais como cases de sucesso. Nem todas as marcas e empresas deveriam ou poderiam ser de luxo. Mas, todos os setores, marcas e empresas podem aprender com a inteligência da gestão do luxo. Aqui o jogo é quanto do “luxo” posso ter em minha operação, em meu produto, meu serviço – pílulas de luxo, em muitos casos. Eu considero bem mais inovador no luxo a forma com que estimulam as associações e levam o consumo na utilização – não muito no produto ou no serviço em si. Falamos do patamar mais elevado. Da matéria prima mais rara. Do atendimento ímpar e extraordinário. Do ir além, em cada ponto de contato. Elevando a barra sempre. Farei aqui algo muito simples mas efetivo. A Louis Vuitton consegue tornar um pedaço de lona em um produto adorado e desejado em todas as partes do mundo. O jogo aqui é de produto, de história, de mão de obra artesã, de qualidade não negociável… E assim vai, fascina.
Sendo a hospitalidade dos brasileiros um ponto positivo no relacionamento com stakeholders, como as marcas devem dialogar emocionalmente com os clientes e como transformar relacionamento em vantagem competitiva? De uma forma geral as pessoas precisam ser conectadas novamente à emoção de consumir. A era atual pede mais sinestesia. São muitas as forças contrárias ao consumo. Temos que entender a causa, a essência, a razão de existir das marcas. Para isso, profissionais precisam ser contadores de histórias e estórias. Acho importante dizer que a hospitalidade brasileira é sim um diferencial. E isso nos torna muito especiais. Gostamos de gente. Tocamos as pessoas pela emoção genuína. Mas, um pouco mais de técnica nos faria muito bem.
Quais os principais obstáculos estruturais que precisam ser superados para que o setor de luxo possa dar um salto qualitativo e quantitativo no Brasil? São muitos. E não são apenas para o luxo. O Brasil perde competitividade. O nosso contexto econômico. A falta de previsibilidade. A ausência de uma forte base de educação. Nossos gargalos de logística. A surreal burocracia. Os impostos severos. São tantos…
Os brasileiros estão cada vez mais sofisticados nos hábitos de consumo. Quais as grandes mudanças que você destaca na evolução do segmento de luxo no Brasil? Contemporaneidade e atualização. Para esse tempo de menos de 25 anos, o brasileiro rapidamente se tornou atualizado. Muito conectado. Muito atento. Novidadeiro como perfil. Viajou muito nos últimos anos, levando as expectativas à patamares mais altos.
Em plena era do conhecimento você foi o responsável por planejar e implantar o primeiro curso de MBA de gestão de luxo das Américas, sendo Diretor do programa na FAAP, quais foram e quais são os principais desafios de se ensinar práticas de gestão no mercado de luxo? Nos falta mercado denso, amplo e que faça parte do nosso dia-a-dia. Bem contrário ao que acontece na Europa por exemplo. Faltam oportunidades para a quantidade de pessoas que querem aprender sobre gestão do luxo para trabalhar com a atividade. Entretanto, meu ponto de reflexão principal aqui vai de encontro ao MBA. No brasil temos tornado MBA como pós graduação e isso é um equívoco.
Quais são os mercados de luxo mais relevantes no mundo? EUA e Japão sempre foram os mais relevantes. China surpreende em um ritmo admirável. Europa tradicional.