Quando convidada para escrever o perfil do empresário João Marinho, confesso que em mim habitava aquela Idea, aquele rótulo de que iria conversar com um belo playboy esnobe. Corta pra realidade. De bate pronto, ele me atendeu e tentou me encaixar na sua agenda, que estava bem atribulada, devido a uma viagem marcada para o exterior. Aos poucos, em trocas de mensagens, ele ia dando indícios – como presteza e dedicação ao seu trabalho – que de playboy não tinha nada.
Data agendada, fui ao encontro em seu escritório. Lá, sou recepcionada por um sorriso de gente feliz e que sabe o que quer. Depois notei – era João Marinho. Ao entrar em sua sala, vejo inúmeras obras de arte espalhadas por toda parte e, em seu semblante, um certo ar de timidez, “É que eu não sei falar muito de mim. Fico todo errado pra essas coisas”. Pra quebrar o clima, puxei assunto sobre os quadros que ali estavam e ele começou a me contar sobre sua dedicação, “Sou apaixonado por arte, é algo que não meço esforços e me invade de uma maneira arrebatadora. Enxergo nela a mais pura expressão do ser humano. Em minha casa, tenho muitas peças de artistas incríveis e que faço questão de ter sempre mais, pois é através dos olhos deles que podemos enxergar um novo mundo”.
Noto ele muito mais à vontade, menos tímido e mais leve, e assim, a conversa correu solta. Começo querendo saber como tinha sido sua infância, “Minha infância foi feliz, fui criado em meio a muito amor. Passei tudo que toda criança passa, sem grandes atropelos. Minha adolescência também foi, apesar de ser uma fase complicada para todos, tranquila. Sempre tive gosto pela prática de atividade física e de uma vida saudável, isso carrego até hoje. Gosto de praticar esportes – normalmente aqueles que só depende de mim, nada em equipe. Acho que trouxe esse conceito pra minha vida, abraçar a responsabilidade das coisas.
Casei muito jovem e desse casamento vieram dois filhos que são meus bens mais preciosos – Nilson e Maria Paula. A relação com a mãe não deu certo, me separei e nos tornamos verdadeiros amigos. Ela mora, temporariamente, em São Paulo e eles (os filhos) aqui no Recife, a poucos prédios depois do meu e marco presença, mesmo, na vida deles. Gosto de acompanhá-los nas baladas e faço de seus amigos, meus também. Aquele rapaz ali (aponta através do vidro) é um dos melhores amigos de meu filho e hoje, trabalha aqui comigo”, conta ele e completa “não é porque moramos em casas diferentes que eles não convivem comigo. Os dois possuem a chave de meu apartamento e podem usá-lo da maneira que quiserem. Fiz minha casa sozinho, sem arquiteto na linha de frente. Fui usando de meu gosto e senso espacial, seguindo a filosofia de que aquele lugar era para receber amigos, sejam meus ou de meus filhos. Confesso que prefiro muito mais receber na minha casa, do que sair por aí pra badalar. Não estou dizendo que não faço, claro que saio e me divirto, mas não é com a frequência que aparenta ser. Acho que, por acompanhar meus filhos nos eventos, ter os amigos deles como meus e uma cabeça mais aberta, criaram esse rótulo de playboy”, completa.
Eu nem ia falar nisso, mas já que o próprio tocou no assunto, questionei como ele interpreta essa fama, “Coisas da mídia. Só me importo quando o que falam vem a me prejudicar, como já aconteceu algumas vezes. Quando não, deixo quieto e vou vivendo a vida. Aprendi muito na minha jornada, principalmente, a dar valor àquilo que realmente merece como a minha saúde. Já passei por maus bocados que me fizeram rever meu conceito de vida”, explica João, fazendo referência a um câncer de rim descoberto em 2011, “quando ouvi a notícia, aquilo me soou como uma bomba. Era uma avalanche de questionamentos, medos e insegurança uma vez que perdi minha mãe aos 49 anos da mesma doença. Comecei o tratamento imediatamente. Tive uma equipe maravilhosa, extremamente generosa que me deu todo o suporte que eu precisava para me erguer. É por isso que sempre incentivo as pessoas a colocarem a saúde e a família (isso inclui os verdadeiros amigos) em primeiro lugar”.
Questiono como é sua rotina. “Muito simples. Ler jornal, ir ao escritório, academia, aula de artes. Não tem muito mistério. Faço tudo no meu tempo, sem pressa ou confusão. Não abro mão da academia e participo de um grupo de amigos que se reúne pra aprender sobre o universo da arte. Minhas raízes estão fincadas verdadeiramente aqui”. Então, adentramos no lado profissional e pergunto como tudo começou, “Meu pai deu um apartamento a cada filho, valendo U$ 90 mil, vendi o meu e entrei em sociedade com essa empresa. O tempo passou e tornei-me dono. Hoje, sou o único representante das vitaminas Sundown no Brasil. Tenho um grande mercado no Rio e, principalmente, em São Paulo. Estrategicamente, poderia ser interessante eu morar lá para tocar os negócios, mas não abro mão de viver em minha terra e de ter a vida que eu tenho aqui. Sou feliz”, conta ele abrindo um largo sorriso. Mas qual sonho João Marinho não realizou? “Ah! tenho o sonho de conhecer o oriente. Existe um encantamento em mim por aquela região. Tenho essa viagem toda montada em minha cabeça, mas não consigo passar muito tempo fora do escritório. Não sou workaholic, longe de mim e nem quero isso, mas nessa viagem preciso de mais de 20 dias afastado e para que isso aconteça, tem que ter muita programação que ainda não consegui organizar”. Logo depois, nos despedimos e ele seguiu para a aula de artes. Em menos de uma hora chega um alerta no meu celular com uma mensagem dele enviando uma foto da aula, da harmonia do espaço, da alegria e da gentileza. Cadê o playboy, mesmo?