Ator consagrado e diretor renomado, Wolf Maya construiu uma carreira invejada e que serve de referência para muitos profissionais da dramaturgia. Seja por seu talento, seja pelo seu profissionalismo, Wolf virou uma marca que todo ator iniciante quer ter em sua carreira e todo ator consagrado que ter por perto. Wolf respira arte, dramaturgia e cultura. Não é à toa que já lançou teatro, dirigiu inúmeras novelas, já atuou e ainda tenta repassar todo esse conhecimento para os alunos de sua escola. Atualmente Wolf está com uma peça dirigida por ele que traz como protagonista a amiga e grande atriz Nathalia Timberg. Entre um intervalo e outro da peça (e suas outras inúmeras tarefas), a MENSCH conversou um pouco com ele para entender um pouco de como tudo funciona no seu ritmo acelerado.
Wolf, depois de dois anos finalmente agora em janeiro tivemos a inauguração do teatro Nathalia Timberg. A triz deu alguns depoimento expressando sua alegria e satisfação com tudo isso. E para você, o que esse teatro representa? Está realizado? E por que Nathalia Timberg? O que ela significa para você? Estamos muito felizes com a criação do Teatro Nathalia Timberg. Nathalia e eu somos amigos e parceiros de longa data e sempre tivemos esse sonho. Criar um teatro com todos os recursos como esse, nos dias de hoje, é uma atitude heroica. Mas estamos recompensados com os aplausos que recebemos todas as noites do público que se encanta com esse novo espaço que o Rio de Janeiro ganhou e que se emociona com a beleza do espetáculo “33 Variações”.
Como nasceu essa relação de amizade, profissão e admiração? Nossa amizade e admiração vem de muito tempo. Fomos sócios, somos compadres e grandes amigos. Praticamente estreei em teatro com a Nathalia (fazendo um filho em “Longa Jornada Noite adentro”) e continuamos trabalhando juntos em teatro e televisão por todos esses anos. É mais que natural que meu teatro tivesse seu nome, e sua presença na peça de estreia. Temos planos de encenar grandes textos nesse teatro que deve se tornar referência de espaço moderno e equipado com alta tecnologia, apto a receber qualquer montagem de teatro, música ou dança nos dias de hoje.
E para celebrar isso tudo uma peça dirigida por você e encenada por ela. Por que a escolha dessa peça para esse reencontro de vocês e abertura do teatro? “33 Variações” esteve em cartaz na Broadway em 2007/2008, estrelada por Jane Fonda e foi grande sucesso. É um belíssimo texto onde uma pesquisadora desenvolve seu estudo a procura de entender porque Beethoven dedicou seu talento a compor 33 brilhantes variações a partir de um tema banal composto por um músico insignificante. Beethoven criou uma obra prima a partir do nada. E tudo isso é vivido na peça por 8 atores, um coral de cantores e uma das maiores pianistas clássicas do Brasil, Clara Sverner. Não haveria espetáculo melhor para abrir o Teatro Nathalia Timberg.
Essa é a terceira vez que você dirige uma peça com Nathalia. Como é a relação de vocês dos ensaios até chegar na estreia? Que particularidades você guarda como diretor e que ela guarda como atriz? Somos cúmplices e apaixonados pela Arte. Somos incansáveis a procura do melhor para nosso público, nossa época. Isso sempre nos aproximou e hoje nos tornaria quase um só. Nos completamos em nossas diferenças e nos aproximamos em nosso amor pelo teatro.
Inaugurar um teatro é como colocar um filho no mundo? O que o teatro o traz? Nos dias de hoje, inaugurar um teatro – quando tantos estão se fechando, se transformando em algum tipo de igreja ou em auditórios descaracterizados – é uma atitude quase suicida. Se o Brasil já vai tão mal em tudo, imagina no Teatro com um foco mais artístico e menos comercial, com um grande número de atores em cena, cenários ricos e música erudita e de qualidade. Não é só colocar um filho no mundo, é criar uma família à serviço da arte.
Você sempre investindo na arte e cultura como abertura de teatro, escola de atores… Como você avalia a arte e a cultura no cenário nacional atual? Está mais fácil ou difícil que há tempos atrás? O Teatro Nathalia Timberg é meu terceiro teatro e o maior e mais qualificado de todos. Criei o Café Pequeno (150 lugares) no Leblon nos anos 90. O Teatro Nair Bello (250 lugares) no Shopping Frei Caneca em São Paulo no início de 2000 e agora o Nathalia Timberg (400 lugares) no Rio de Janeiro. Todos sempre atendendo às minhas escolas de atores em SP e RJ. Meus alunos estudam e se abrigam nos teatros desde o início de sua formação artística e isso os aprimora e estimula. Habitualmente, encenam peças em todos os espaços cênicos que criamos. Sem dúvida, nosso cenário político econômico atual dificulta a realização de um projeto artístico cultural como o nosso, mas somos resistentes e criativos e não desistiremos jamais.
Sempre vimos atores e diretores chamando as pessoas para irem ao teatro. O brasileiro não tinha (ou tem) costume de ir ao teatro. Mas ao mesmo tempo temos visto muitas peças com lotação esgotada. Isso do brasileiro não gostar de teatro e preferir cinema, por exemplo, está mudando? Ou ainda existe muita resistência? O brasileiro gosta de teatro e se não o frequenta mais é por falta de condições ou facilidades, jamais por desinteresse. Estamos abrindo um espaço novo, na Barra da Tijuca, um bairro sem muita tradição teatral e temos nos surpreendido com a frequência do público jovem que se encanta com a modernidade da peça e do mais idoso reencontrando um grande texto teatral, um grande elenco, a grande atriz Nathalia Timberg e o conforto de uma bela casa de espetáculos.
Falando em sua escola de teatro, como você avalia quem realmente tem talento? Existe um vestibular de acesso com três dias de avaliações aplicadas por quase dez professores de teatro, voz, corpo, cultura contemporânea, etc. São aproximadamente 400 a 500 inscritos para apenas 150 vagas e dessa forma avaliamos e estabelecemos quem já se mostra apto e decidido a estudar, quem já tem algum talento e vontade de aprimorar, e aqueles que procuram essa profissão por vaidade, carência ou falta do que fazer. Percebe-se facilmente quem pode e quer crescer e se profissionalizar e nos orgulha. Eles são os eleitos.
O que te dá mais tesão em fazer, atuar ou dirigir? Atuar é mágico, exaustivo, estimulante. O palco (ou o set) são espaços de fé, sem limites de emoção, de vida. Ao dirigir me desapego de mim, do ator, e se ele acontece é para ajudar a esclarecer o que eu quero e para quem eu dirijo. É contar uma história toda. Com todos os olhares que podem recair sobre ela. Em detalhes, em coral. Uma tradução particular do que o autor escreveu. Eu adoro dirigir. Agora um novo espaço é escrever. Roteiros, cenas, histórias… o que me vier a cabeça. Não sei como vou realizar tudo isso que me estimula ainda sendo dono de dois teatros e duas escolas e estando à frente de tudo.
Algum conselho para quem pretende se inscrever em uma escola de atores e pretende viver disso? Pense bem se é isso que você quer; Procure as melhores parcerias (escolas/grupos) e troque sempre com todos. Viva para valer essa sua vontade; Controle a vaidade e o retorno do aplauso fácil; Resista às dificuldades e decepções porque elas virão; Não desista nunca, se é isso mesmo o que você quer.
AGRADECIMENTOS
Drica Donato (produção executiva) / Igor Marinho (assistente)