Conhecida por filmes como “Parahyba Mulher Macho” e “Gaijin – Ama-me como Sou”, a cineasta Tizuka Yamasaki está de volta ao cinema depois de uma temporada em outros projetos. Em setembro estreou seu novo filme, “Encantados”, trazendo o universo indígena de volta às telas. E no mesmo ritmo acelerado, lutando contra um momento de falta de investimento nas artes de um modo geral, Tizuka já trabalha em seu novo projeto que trará para o grande público a revolução de 1817, no filme “A Noiva da Revolução”. A MENSCH conversou com a cineasta sobre cultura, projetos e, claro, cinema nacional.
Tizuka, falando em cinema nacional… como você vê o cenário hoje em dia? Está numa fase de baixas produções de qualidade em troca de filmes pipoca sem muito conteúdo? Continuamos fazendo filmes, bons e ruins, como em qualquer produção, incluindo as majors. É fato que os filmes espetaculares de muito efeito especial, com espaçonaves ameaçadas por estranhos planetas, assim como a comédia nacional – que há muitos anos fazem sucesso – atraem a atenção do público, em sua maioria, adolescente. E isso cativa financeiramente os donos das salas de cinema. Fomos “viciados” pela cultura americana de tanto assistirmos suas produções! E continuamos à mercê de suas produções de grande apelo comercial que dominam o mercado nacional, não deixando espaço para as produções independentes. Em que sala de cinema do Brasil, você pode ver os excelentes filmes europeus, asiáticos, árabes, africanos? Para vê-los, temos que frequentar os festivais internacionais ou esperar anos pra achá-los perdidos entre os filmes exibidos em algum canal de assinatura. Mas, considero importante ressaltar que tem muita gente produzindo bons trabalhos no Brasil. Por exemplo, veja só o polo de cinema pernambucano – com excelentes produções que têm emocionado as plateias, no Brasil e fora dele.
Desde seu último filme “Aparecida, o milagre”, já se vão cinco anos… e agora você está para estrear o filme “Encantados”, programado agora para setembro. Por que tanto tempo de uma produção para outra? Faltava uma boa história para contar ou ocupada com outros projetos? Histórias não faltam. Nesse intervalo, dirigi a série “As Brasileiras” – de Daniel Filho, para a TV Globo e fiz um média metragem sobre a artista plástica Tomie Ohtake. Também escrevi um roteiro para cinema, e desenvolvi um projeto para TV. Estamos preparando o lançamento comercial do “Encantados” e considerando estes tempos de falta de investimentos, acho que tenho trabalhado bem. (risos)
Sem falar da parte de investimentos, o que falta ao cinema nacional? Produzir mais filmes! E também regular melhor o mercado das salas exibidoras.
Por que se produz tantas novelas e seriados de qualidade mas no cinema a coisa fica a desejar? Desculpe, mas assim como no cinema, há bons e péssimos trabalhos televisivos. Há uma quantidade grande de péssimas novelas e péssimos seriados. Entre eles, há excelentes trabalhos também. É certo que, depois da Lei da TV por Assinatura que garante uma parte de produção independente aos canais, houve um crescimento grande na área, aproximando mais o cinema das TVs, rompendo esse histórico longo período de produção sem parceria. Nos países mais desenvolvidos, com bons investimentos em cinema, as emissoras não produzem, elas apenas transmitem os produtos. A população sabe da importância cultural do cinema e luta pra não deixar a TV engolir esse patrimônio. Não é o que acontece no Brasil, apesar da eterna luta dos cineastas para defender esse direito que a população mereceria ter.
O boom dos seriados nos canais pagos virou uma saída alternativa para quem não quer produzir novela e não tem recursos para ir produzir cinema? Não vejo assim. Trata-se de mais uma janela de exibição para você, como realizador, escolher onde atuar.
O poder da massa, do grande público tem influenciado mais produções para TV e cinema. A que se deve isso? Não tenho essa certeza. Acredito que as emissoras oferecem um conteúdo que influência o público. Audiovisualmente, o brasileiro, assim como plateias do mundo todo, está mais para produtos de entretenimento, fácil de ser assimilado. Bom seria se o espectador pudesse escolher. Ter acesso a várias opções, o que não tem acontecido aqui onde o mercado é dominado pelos gigantescos lançamentos comerciais que empurram para fora as outras possibilidades de filmes.
Voltando a “Encantados”… conta pra nós um pouco desse novo trabalho! Que desafios e prazer te trouxe? “Encantados” foi um desafio. Temos na nossa cultura um universo extremamente rico em misticismo. Mas, essa temática é perigosa, difícil de abordar. Fiz o filme com cuidado, tentando entender a fundo o universo da pajé marajoara Zeneida Lima. Quero que a plateia veja em sua história uma sabedoria milenar que vale a pena assistir. Espero que saiam do cinema encantados.
Falando em novos projetos, você está em fase de captação para o filme “A Noiva da Revolução” que trata que amor e revolução situado em 1817 na época da revolução. O que esse novo filme te desafia a contar? “A Noiva da Revolução”, baseado no romance de Paulo Santos de Oliveira, é um achado como enredo cinematográfico. Além dessa paixão entre um homem e uma mulher, trata-se de um evento desconhecido no Brasil. Por 74 dias, Pernambuco deu ao país uma experiência de independência, antes de D. Pedro I formalizar a libertação do Brasil de Portugal. A conjuração mineira que fez Tiradentes um herói da pátria, não chegou a se realizar como independência, como Pernambuco realizou com a revolução de 1817. Este feito histórico precisa ser revelado para o resto do Brasil e do mundo, registrando que desde os tempos das Capitanias, os pernambucanos nunca se curvaram diante de uma opressão cultural, política e econômica. Pernambuco merece uma produção cinematográfica para apresentar em 2017, no bi centenário da Revolução.
A ideia é que “A Noiva da Revolução” seja lançado em 2017 em comemoração ao Bicentenário da Revolução. Não é isso? Como anda a parte de produção, captação e roteirização desse novo projeto? Estamos atrasados. O tempo é o nosso cruel adversário para que o filme fique pronto em dois anos. Não posso fazer o filme sozinha. Preciso de cumplicidade e apoio do povo pernambucano, como já tive quando filmei no estado o “Parahyba Mulher Macho”, no início dos anos 80. Acredito que esse espirito de solidariedade do pernambucano e muito orgulho da cultura local, serão a força motriz pra irmos em frente nesta produção. Somando a isso, arregaço as mangas e me atiro neste projeto movida a desafios. Há de dar certo!
Você costuma ir ao cinema ou prefere assistir filme em casa? O que costuma escolher para assistir? Costumo buscar filmes que me despertem a curiosidade, sempre por uma história bem contada, uma cultura desconhecida e pelo simples prazer de ver e me emocionar com o cinema!
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