CAPA: JAYME MATARAZZO – SE APRIMORANDO COMO ATOR E EVOLUINDO COMO SER HUMANO

Em meio a lives, livros e séries o ator Jayme Matarazzo aproveita o momento de isolamento social para se reinventar e se aprimorar. Depois de participar da novela “Tempo de Amar”, onde interpretou seu primeiro vilão, para dar um tempo para seu ócio criativo e dar uma geral na sua vida, bom para nós que deu tempo dele fazer estas fotos antes da quarentena. “Devemos aproveitar esse momento de ócio criativo para fazer nossa parte, com nossas inspirações. Seja da forma que você escolher para isso”, comenta ele sobre esse momento. Aos 34 anos, Jayme segue se aprimorando como ator e evoluindo como ser humano em meio a esse novo mundo.

Jayme no meio desse isolamento social todo existe espaço para o ócio criativo? Tem que existir! Mesmo que nesse momento, exercer nossa criatividade seja difícil pelo excesso de informações, preocupações e medos, causados por tudo que estamos vivendo, na minha opinião, nunca foi tão importante desenvolver a criatividade. Em tempos onde o “novo” está presente a todo momento, ser criativo, se abrir para as novidades e adaptações e se reinventar se fazem condições muito necessárias. O ócio criativo nos ajuda a olhar para dentro de nós mesmo. Tenho visto muitos artistas usando esse período com muita criatividade! Descobrindo novas formas e maneiras de se comunicar e entreter. Muitas vezes descobrimos que o talento por si só de um artista, as vezes é maior do que mega produção. O importante, mais do que nunca, é passar uma mensagem. É se ajudar! É motivo de muita alegria para mim ver a arte como peça fundamental para tanta gente conseguir manter o equilíbrio mental nesse período. Em tempos de isolamento, são filmes, séries, novelas, livros e lives, que estão ajudando as famílias a se distrair e a se entreter nesse momento tão difícil. Uma cultura que sofre críticas intensas a tantos anos e que nesse momento se mostra tão valiosa, como sempre será em qualquer sociedade sadia. A cultura sempre será nossa principal arma. Devemos abastecer todos os dias nosso povo de arte e cultura. E devemos aproveitar esse momento de ócio criativo para fazer nossa parte, com nossas inspirações. Seja da forma que você escolher para isso.

E entendo que como espécie, devemos aproveitar esse momento de ócio para cuidar mais do que nunca da nossa saúde mental. Como peça fundamental, acho que devemos começar a entender melhor sobre valores, entender que legado estamos deixando para as próximas gerações, e o que estamos fazendo pelo e com o meio ambiente… com nosso planeta e com nós mesmos. Mas tenho muita fé, de verdade, que vamos sair disso mais forte. Sentidos com tudo que passou e com todos que perdemos. Mas continuo acreditando que nada é por acaso. O ser humano precisa reavaliar seus hábitos e precisa cuidar muito melhor da sua própria “casa”. Por isso, use também esses momentos de ócio e criatividade, para criar novos hábitos e novas formas de enxergar as pessoas e o nosso planeta.

O que te inspira nesse momento? Ver pessoas se ajudando. Ver solidariedade acontecendo. Como brasileiros, vivemos uma dura realidade política e social há muito tempo, e que se agrava ainda mais nesse período caótico. Nosso povo sofre na mão de péssimos governantes e está nesse momento à deriva, precisando muito de ajuda e solidariedade. Estamos abandonados pelas autoridades desse país, e muitos de nós estão sobrevivendo de vaquinhas, de ajuda financeira dos colegas, da família, de vez em nunca com algum tostão do governo. E isso é uma dura e triste realidade. Não vou mentir para você e dizer que nesse momento são muitas as coisas que estão me inspirando. Mas a solidariedade do povo brasileiro entre si é sim muito forte. Tenho visto pessoas tentando manter ao máximo seus funcionários, muitas ações de arrecadação de fundos para distribuição. Isso sempre me alegra. Não é fácil viver no Brasil, mas ser brasileiro é uma honra. Um povo solidário e carinhoso por natureza, que merecia muito mais por parte de seus péssimos e desastrosos governantes.

Você é um cara muito caseiro? Ou esse período de quarentena está fazendo você descobrir um novo Jayme caseiro? Eu tenho fases. Já fui de sair bastante, de curtir festas e encontros de galera, mas essa fase caseira de agora, já durou bastante. Tenho tido muita vontade de estar mais em casa, de curtir minha esposa, minha cachorra, meus filmes, livros… Mas o que mais eu tenho feito nos últimos tempos em casa é cuidar do jardim. Estar em contato com a natureza. Enfiar a mão na terra. Plantar uma muda e ver nascer um fruto. No fim do meu último trabalho (“Tempo de Amar”), eu pedi um tempo para descansar um pouco, para cuidar mais de mim, para conseguir estar mais com meus familiares. Nos últimos dez anos eu trabalhei muito e eu estava num ritmo onde, muitas das coisas realmente importantes, estavam ficando de lado. Resolvi mudar com minha esposa para uma casa que tivesse como prioridade um quintal. E nesses dois últimos anos, o que mais me alegrou foi esse contato com a natureza, foi cuidar do meu jardim, das minhas plantas. É indescritível o sabor de uma fruta que nasce de um pé que você plantou. E essas pequenas coisas da vida são para mim fundamentais. Acredito que toda a exposição que nós artistas adquirimos, com o nosso trabalho, também acaba nos levando a dar muito valor ao nosso lar, a nossa alma e a nossa privacidade. Em tempos de quarentena, tenho aproveitado para cozinhar mais, ler mais, escrever mais e aproveitar esse momento para tirar do papel todos os nossos planos e projetos. A diferença para meses atrás é que ser caseiro não é mais uma escolha. Só de perder esse direito de escolher já bate um medo, mas temos que aproveitar esse tempo em casa com inteligência, equilíbrio e sem comodismos. Criar uma rotina nunca foi tão necessário para deixar a mente equilibrada e ativa.

Como imagina esse “novo normal” na sua vida pós pandemia? Preparado para novos hábitos? Acredito que essas mudanças realmente não serão pequenas. Temos que abrir muito a cabeça para a real necessidade de criar novos hábitos. Acho até que em algumas questões relacionadas ao meio ambiente, esses hábitos já extrapolaram o limite de tolerância! Mais uma vez eu gostaria de levantar a importância de criarmos um “novo normal” com relação ao modo de como vemos e cuidamos do nosso planeta. Que esse seja o ponto de partida para um novo começo. Além disso, com relação aos nossos hábitos diários, acho que já estamos nos adaptando a muitas coisas novas. A higiene, a proteção com máscaras, o distanciamento sugerido entre pessoas… São novidades muito diferentes, impossíveis de serem imaginadas por qualquer um, dias atrás. O que mais me faz falta é poder abraçar as pessoas. Poder trocar carinho físico, abraços e beijos sem se preocupar. Isso é cruel. Mas estou pronto para encarar esse novo dia a dia, tendo como bandeira principal a coletividade. Onde mais do que nunca as pessoas precisam cuidar umas das outras com respeito, proteção e amor (máscara e álcool gel).

Crise política somado a pandemia, como não pirar nesse momento?  Acompanhar a política do Brasil já é o suficiente para fazer qualquer um pirar. É inacreditável o que estamos vivendo no nosso cenário político. Não me sinto em nada representado ou cuidado por esse governo atual. Isso é enlouquecedor e muito preocupante. Mas também entendo que devemos cruzar essa linha e mais do que nunca acompanhar as notícias, acompanhar de perto os movimentos que estão sendo feitos pelos governantes, ler e consumir política todos os dias. Acho que também temos culpa nesse caos que virou a nossa administração pública. Esse abandono de anos pelo tema, nos levou a perder o controle da situação. Até pouco tempo atrás, tínhamos menos instrução, sabedoria e engajamento nesse universo. Mas de tempos para cá, acho que nos atentamos mais a importância de estarmos atentos as decisões sociais e políticas do nosso país mais do que nunca. Temos que participar. Temos que nos informar. Temos que cobrar e exigir mudanças e melhorias para nossa sociedade de maneira instruída.

Pelo que soubemos você estará na série “O Anjo de Hamburgo. Isso é verdade? Eu nunca estive nos planos da produção da série. Essa informação não procede e me atrapalhou bastante nos últimos tempos. Foram muitas as pessoas que ligaram meu nome a esse trabalho e acabaram não pensando em mim para suas produções. Mais uma Fake News, muito comum nos tempos de hoje, onde nunca se fez tão importante um jornalismo sério e comprometido com a verdade e apuração real de fatos. Seria muito legal poder participar desse projeto que está ficando muito bonito. Tive oportunidade de acompanhar algumas gravações em Buenos Aires e não tenho dúvidas que será um grande trabalho da emissora junto com a Sony. Uma parceria que deve nos render muitas futuras produções incríveis.

Como é a troca entre você e seu pai quando surge um novo trabalho? Ele te inspira? Ele sempre foi, e sempre será uma grande fonte de inspiração para mim. Tanto como artista e profissional, como quanto pai e ser humano. Uma pessoa muito iluminada, de alma boa e talento de sobra.

Seu último trabalho na TV foi em “Tempo de Amar”, em 2017. Como você a experiência e que te acrescentou como ator? “Tempo de Amar” foi bem importante para mim como ator. Foi meu primeiro vilão. Um vilão que usava o charme como sua principal arma. Um personagem de várias facetas e cores. Foi realmente uma delícia. Uma oportunidade de mostrar para as pessoas que podem pensar em mim para outros personagens que não sejam meninos corretos e amáveis. Tenho diversas versões para oferecer como ator. Quero explorar várias delas e sempre vou ficar feliz quando o trabalho requer algo que não foi explorado antes. Foi o caso do Fernão. Personagem que levo com bastante carinho e trabalho que deixou saudades pelo clima e pelas pessoas envolvidas. Fazer novela da um trabalho gigante, mas quando estamos de férias, da uma saudade ainda maior.

Representar homens idealistas, românticos, livres… É um exercício eterno de troca com os personagens e de certa forma uma análise do papel do homem. Como isso mexe com você? Eu tento realmente aprender o máximo que posso sobre o universo ao redor do meu personagem do momento. É um mergulho bem profundo no universo em questão, na psicologia em questão, e todo esse estudo deixa um legado muito grande a cada trabalho. Um legado que vai nos fazendo entender e descobrir a nós mesmos como pessoa. Tento aprender com cada um deles, acertos, erros, qualidades que quero para mim, defeitos que dispenso daquela personalidade a ser trabalhada. Isso é muito legal na vida de um ator. É poder viver muitas vidas e uma só. Vivenciar mesmo que em realidade fictícia diversos e diferentes mundos. Essa experiência e vivência são riquíssimas em nossas vidas. Tenho certeza do quanto estudar e explorar diferentes formas de ser e viver, me moldou muito no que sou hoje como pessoa e na maneira como enxergo o mundo. Trocar experiência com nossos personagens é uma viagem muito gostosa! Emprestamos nossa imagem, nossa arte e nosso tempo para viver a vida deles, mas levamos em troca muita experiência e aprendizado para nossa casa.

Como é seu processo de criação de um novo personagem? Tento começar sempre do onde, como e por que daquela situação. É um processo inicial de exploração do universo em questão, seguido de um estudo do contexto social e histórico, para depois mergulhar na magia de dar vida aquela história. O processo antes de chegar no estúdio é longo, árduo mas para mim é o momento mais rico. Eu sou apaixonado por fazer a pré dos meus personagens. É tudo novo. É tudo permitido. É tudo diferente. A criação inicial é deliciosa. Ela vem acompanhada de altas doses de medos e incertezas, mas que fazem parte do processo e deixam as coisas numa temperatura interessante. Em diferentes fases do processo, eu vou mergulhando num pedaço da história ou da rotina daquela pessoa. O que come, o que faz, o que lê, o que veste, o que sonha. É uma fina sintonia entre a escrita e a criatividade. É você colocando sua arte em cima do texto de outro artista, em sintonia com a sua imaginação, intuição e principalmente seu estudo.

Nesse intervalo entre a novela e a série o que aconteceu para você? Eu aproveitei esse período para colocar todos os meus sonhos em dia. Aproveitei muito bem, e sem culpa esse tempo para cuidar de mim, da minha saúde mental e da minha família. Eu precisava desse tempo para analisar tudo que tinha acontecido nos últimos anos, todo caminho trilhado até aqui. Foi importante para colocar as coisas em equilíbrio, e para dar um descanso com relação a exposição de imagem e de privacidade. Quando se está no ar, as coisas ficam um pouco mais puxadas. Tem sido muito bom e inspirador. Tenho tido tempo de tocar outros projetos, de escrever mais, de trabalhar mais pela minha produtora. Enfim… Trabalhar é muito bom e necessário, mas as vezes ter tempo para si, faz um bem danado a saúde.

Qual a maior vaidade do ator? Eu acho que os grandes atores são aqueles que conseguem se despir de qualquer vaidade. Acho esse um ingrediente perigoso da profissão. Penso que a maior vaidade que um ator pode cometer é se ver maior do que seu personagem. Se enxergar maior do que a história que está sendo contada ou mais importante do que qualquer um que está ali naquela produção contando aquele enredo. Seja em qual área for. Nosso trabalho só existe em coletivo. Existe uma grande estrutura por trás de nós para que possamos colocar a nossa arte em cena. É por isso que a grande vaidade que um ator não pode cometer é se colocar nesse pedestal de importância que transcende a obra. Trabalhamos em equipe, e cada é peça fundamental na engrenagem do trabalho.

O que te tira do sério? E o que coloca um sorriso no rosto? Me tira do sério ver o povo trabalhador desse país sofrendo com o descaso governamental. Um país tão lindo, com um povo tão especial, sendo governado de forma tão cruel e injusta. O que me coloca um sorriso no rosto é ver o quanto nosso povo é forte, é guerreiro, é batalhador e que mesmo com tudo que está vivendo, ainda consegue se ajudar e ser solidário. Nossos próximos dias não serão nada fáceis. Mas será a nossa força, a nossa união e a nossa alegria que vão tirar a gente dessa situação e nos levar a uma reconstrução como sociedade e país.

Em tempos normais o que faz sua cabeça na hora de relaxar? Minha cabeça tem dificuldades com essa palavra relaxar. Eu sou muito ativo. Muito criativo e pensante e é difícil essa missão de relaxar. Nos tempos de hoje então…. Mas a cada dia que passa, e por bastante influência da minha esposa, tenho compreendido a importância da respiração correta, da meditação, da ioga e tudo isso com doses diárias de chás milagrosos que a Luiza prepara para a gente. Conseguir relaxar é uma missão que deveríamos tentar levar mais a sério nos dias atuais e com toda essa loucura acontecendo mundo a fora.  O stress e a angústia nunca estiveram tão presentes como agora. E meditação e respiração correta são grandes aliados nessa batalha aí. Vejo muitas pessoas dependentes em remédios para dormir, remédios para isso, para aquilo. Mesmo não sendo contra, minha vontade é de perguntar se já tentaram de verdade usar produtos naturais para ficarem mais calmas. Eu não tenho nada contra remédios mas prefiro essa linha mais natural.

O que tem lido, ouvido e visto? Nesses últimos dias tenho feito alguns cursos pela internet, coisa que acho super legal e com diversos profissionais incríveis de diferentes áreas e atuações. Tenho lido poesias para acalmar um pouco a alma. Tenho assistido a bastante Filmes e séries e tenho tentado acompanhar e ler muita política por achar fundamental estar atento a tudo o que está acontecendo nesse momento nessa área. Além disso tenho ouvido muita música budista e de meditação e tenho visto muita coisa errada sendo feita pelas pessoas que administram esse país.

Depois que passar essa quarentena, qual o passeio ou saída mais desejado? Estávamos com planos bem avançados de conhecer a Índia. Tenho um sonho muito grande de conhecer aquele país e aquela cultura mais de perto. Essa era uma vontade gigante de tempos já, mas que nem consigo imaginar quando poderá ser realizado de forma segura. Mas que está no nosso próximo plano de viagem e passeio está. Por enquanto se eu puder ir para praia ou puder sair por aí dando abraços nas pessoas, sem me preocupar, já está bom demais.

Fotos Vinícius Mochizuki

Styling Samantha Szczerb

Agradecimento Amil Confecções e Ellus