“O fotógrafo é aquilo que ele vê e sente”. E assim Pino Gomes define a profissão que abraçou e a si mesmo. Seguindo o conselho da mãe “fotografia serve pra registrar momentos das pessoas não das coisas” se lançou ao universo das imagens sempre levando emoção, verdade, arte e claro, técnica. Fora do Brasil desde alguns anos, Pino tem viajado o mundo e explorando as peculiaridades de cada lugar que visita e registra na memória e na câmera. E a cada novo projeto seu coração acelera, seu olhar se inspira, suas mãos fazem o click e nós nos surpreendemos.
Pino, quando você descobriu a fotografia? Como foi no início? Eu descobri a fotografia através da minha mãe, que sempre foi interessada em registrar os momentos da família e amigos. Tem uma estória interessante: Uma vez por volta dos 10 anos de idade meu avô me levou para passar o dia na praia juntamente com meus primos, minha mãe me emprestou a câmera fotográfica e disse que era pra eu fazer uma fotografia do meu avô com todos os primos pra gente guardar no álbum. Eu fiz a foto que ela pediu, mas, também decidi ir um pouco mais além do encomendado. Subi numa pedra muito alta que tem na praia do Recreio onde estávamos e resolvi fazer uma foto da paisagem pegando toda a orla do Recreio e ao fundo a praia da Barra da Tijuca, que na época eram bem pouco povoadas e pareciam o paraíso.
Alguns meses depois, quando o filme voltou do laboratório onde fora revelado, naquele tempo, o filme levava muito tempo para ser processado, as fotos chegaram e minha mãe me chamou a atenção e passou um sermão dizendo que foto de paisagem não servia pra nada e que era desperdício de dinheiro. E então me ensinou a primeira lição, talvez torta, mais lição que ficou marcada pra sempre na minha cabeça: “fotografia serve pra registrar momentos das pessoas não das coisas”. Não sei se foi o início, mas, com certeza, alguma coisa aconteceu na minha cabeça naquele momento. Logo depois disso ganhei uma câmera e comecei a fazer experiências. Depois aos 16 anos fiz um curso de fotografia profissional no Senac do Centro do Rio de Janeiro e comecei a trabalhar como assistente para outros fotógrafos e a fazer pequenos trabalhos comerciais.
Representar o Brasil no exterior através do seu trabalho significa o que para você? Dá um friozinho na espinha? Eu fui morar fora do Brasil buscando ampliar meus horizontes. Passei cinco anos em Zurique, na Suíça e estou há dois anos em Nova York. E embora um pedacinho do meu coração seja suíço por opção, ele bate num ritmo de samba. As possibilidades no Brasil são imensas e evidente que o foco internacional está no crescimento econômico do país. Trabalhando no projeto Smart Luxury Moments, passei por 38 cidades em 24 países, nesses dois anos eu percebi muito interesse das pessoas do mundo todo em relação ao Brasil. Acho que ainda estou no começo de uma carreira internacional, mas espero poder representar o Brasil com um trabalho digno e bem feito em todas as oportunidades que me forem apresentadas.
Como surgiu o projeto Smart Luxury Moments? No início a ideia era ter um fotógrafo em cada país e cada um fotografaria um grupo de personalidades empreendedoras em diversas áreas. Essas fotos fariam parte de uma exposição local promovendo o trabalho do fotógrafo e a obra dessas personalidades, assim sendo, a marca estaria sedimentando seu conceito naquele mercado. Em 2010, Foi feito um evento piloto, do qual eu ainda não fazia parte do projeto. Em 2011, o projeto chegou à Suíça para sua segunda edição, então a CEO da GC Watches, Cindy Livingstone, a qual eu havia conhecido através de uma sessão fotográfica para uma revista suíça me indicou para o seu departamento de marketing.
Eles me contrataram para desenvolver o projeto na suíça fotografando seis pessoas de destaque em diversas profissões como artes, culinária, música, teatro, moda. Passei uma semana viajando pelo país, conhecendo os escolhidos e fotografando seus momentos de luxo inteligente. Quando as fotos ficaram prontas para a exibição na Baselworld 2011, Cindy Livingstone e Paul Marciano, legendário diretor de arte e fundador da GUESS e da GC watches decidiram que ao invés de um fotógrafo em cada pais, eles estariam enviando um só fotógrafo a todos os países e me ofereceram esse trabalho.
Qual o limiar entre uma foto meramente técnica e uma obra de arte fotográfica? A técnica serve pra dar suporte à criação fotográfica. Se o fotógrafo não for criativo e não colocar o coração naquele momento que ele está fotografando ele não vai ter os melhores resultados possíveis. A melhor câmera não faz o melhor fotógrafo nem a melhor fotografia. O olhar do fotógrafo vê através da câmera e esse é o grande lance.
Pode-ser treinar o olhar para se tornar um bom fotógrafo? Acredito que sim. Prestar atenção nas coisas que acontecem ao nosso redor é muito importante. Alimentar o universo visual interior com imagens ajuda a apurar o olhar para a fotografia. Hoje em dia temos acesso a muitas imagens através da internet e hipoteticamente qualquer um pode ser fotógrafo com um bom aparelho de celular nas mãos. Isso não diminui as chances dos profissionais, mas, gera uma necessidade de se treinar o olhar para um mercado consumidor cada vez mais exigente. O fotógrafo é aquilo que ele vê e sente.
Quais as delícias e agruras de ser fotógrafo profissional? Boa pergunta. Tudo na vida tem seu lado bom e seu lado ruim. Em fotografia não seria diferente. Não gosto de ser fotógrafo quando a parte burocrática fica maior do que a artística. E gosto de ser fotógrafo quando tenho liberdade para criar e fotografar aquilo que toca o meu coração.
+ sobre Pino Gomes: www.pinogomes.com
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