Não, nem tudo pode ser sobre os prazeres elaborados na vida. Se tivermos como exemplo a culinária: um chocolate Ferreiro Rocher é uma experiência estética magnífica. Sua apresentação é impecável (aquela pequena pepita dourada sobre um suporte de brigadeiro com um adesivo gracioso da marca no topo) passando para a degustação de texturas crocantes e macias de sabores perfeitos. Em contrapartida imagine um chocolate ao leite da Nestlé, com a embalagem simples e o sabor homogêneo do início ao fim, previsível e sem altos nem baixos.
Nenhum dos dois é melhos nem pior, assim como todos os outros prazeres da vida. E sim, isso se aplica aos momentos a dois.
Existe uma ideia latente (ou uma cobrança, quem sabe) em especial no início da relação de que cada momento de casal deve ser um grande evento, elaborado, pensado, especial! A roupa é uma produção, o horário é ideal, o programa é significativo e vai gerar memórias duradouras. O que esquecemos é o peso que colocamos sobre isso. Expectativas geradas trazem a possibilidade de desapontamentos, além do que essas produções elaboradas são cansativas.
Falo por mim quando digo (mas creio que não estou só ao dizer) que existe felicidade também na familiaridade. Programas repetidos, restaurantes revisitados, o cineminha no domingo à tarde, tudo isso me faz apreciar o que realmente importa: a minha companhia, afinal todo o resto eu já estou careca de conhecer, certo?
Compartilhar familiaridade aprofunda a relação e fortalece os laços de casal. Investir nisso pode ser muito bom, caso seja a proposta. O perigo é a mesmice, que vai chegar invariavelmente se o familiar for tudo o que existir. Como tudo o mais da vida, o equilíbrio é a chave do sucesso.
A barra de chocolate ao leite e o bombom de amêndoa recoberto de flocos crocantes se complementam e nós nos deliciamos com cada um exatamente por existir o outro.