CRÔNICAS & INDAGAÇÕES: LICENÇA PATERNIDADE

Tenho vivido nos últimos três meses os melhores momentos de minha vida!  Dia 13 de maio chegou ao mundo a Valentina e junto com as noites mal dormidas, trouxe muita felicidade e encantamento!  Passei os oito meses que antecederam o nascimento dela (demora um mês para descobrirmos a gravidez, né!) lendo e me preparando muito para a tarefa de ser pai e isso ajudou muito, mas muitas coisas a gente só descobre fazendo mesmo.  O que mais ouvi de pais e mães – aliás não faltam pitacos durante a gravidez – foi “prepare-se para passar dois meses sem dormir”.

O que ninguém me disse foi “prepare-se para muita dor nas costas”! A falta de sono é gerenciável. Às vezes, na madrugada, a Dani e eu tentamos empurrar para o outro “arrota e troca a fralda você dessa vez, pleeeease”, mas saindo da cama e olhando pro rostinho da nossa filha, o sono passa rapidinho. O que machuca é ficar curvado 90% do tempo, seja para ninar no berço, seja para dar a mamadeira e ficar olhando pro rostinho dela. A gente sabe que as posturas não são boas, mas não se pensa em poupar o pescoço ou a lombar quando aqueles olhões estão nos mirando. Daí o corpinho vem e me avisa que tenho quase 40…

Esse não foi o único ensinamento. Cada dia aprendo uma coisa nova e tenho uma chance de melhorar como pessoa desde que me tornei pai. Quando a Dani estava grávida já troquei de carro por um mais familiar, com mais espaço e menos motor; já comecei a andar mais calmo no trânsito e perceber mais as imprudências dos outros. Mas só depois que peguei minha filha nos braços, comecei de fato a andar no limite de velocidade. Continuo apaixonado por motores e cavalos de força, mas semana passada viajei do Rio a São Paulo no limite de velocidade o caminho todo. 13km/l com o carro completamente carregado e um baú preso ao rack! Olha minha filha me apontando no caminho certo.

Quem sabe essa seria uma boa campanha de conscientização no trânsito: “Vire Pai”!!(risos) Acho que isso é mais um exemplo da sapiência da natureza.  Os filhos nos trazem maturidade para que em seguida possamos ser melhores pais. Desaceleramos  e nos acalmamos para poder educar e transmitir segurança e calma para nossos filhos. Nesses últimos meses acho que me tornei uma pessoa melhor. Estou mais amoroso com minha mãe e me tornei um marido melhor. Aliás, depois de ver o sacrifício, a força e a dedicação que tem uma mãe, passei a respeitar ainda mais as mulheres. Que trabalho de amor!!  Que ralação!  Só posso mesmo dar o melhor de mim e tentar facilitar um pouco a vida dessa guerreira que é minha mulher!

Aqui entramos em outro assunto: tempo com o bebê! As mães, merecida e necessariamente, têm agora seis meses de licença maternidade, enquanto os pais passaram a ter quinze dias. Tenho o privilégio de uma agenda folgada e de não estar gravando nada, então tenho sido pai em tempo integral, ou como alguns costumam dizer um “pãe”! Acho uma injustiça com os bebês, os papais e as mamães!!  Puerpério é coisa séria e merece cuidado especial. Todo aquele cuidado que temos com nossas mulheres durante a gravidez começam a desaparecer quando nascem os filhos. É como se disséssemos “agora que pariu seu trabalho foi cumprido e o bebê é o que importa”. De fato bebês são frágeis, carentes e necessitam de nossa constante atenção, mas esquecer as mães é SACANAGEM!

Assim que minha filha nasceu acompanhei o pediatra com ela até o outro lado da sala de parto para colocá-la naquele aquecedor e fazer os primeiros testes, cortar o cordão umbilical, etc. Assim que vi minha filha em ordem, comecei a andar em direção à minha mulher – ainda aberta e COMPLETAMENTE abandonada a não ser pelos médicos que costuravam-na de dentro para fora – e ouvi de alguém “não vai ficar com a bebê”?! A voz parecia indignada e recebeu com a mesma indignação minha resposta “vou dar atenção à minha mulher”!!

Na emoção do momento todo mundo deixa a mãe sozinha e esquece que ela acabou de passar por uma experiência intensa. Minha mulher estava super assustada e não conseguia ver nada por sobre aquele pano azul.  Fui até ela e disse “nossa filha é linda”!  Segurei a mão dela e esperei um pouco até poder trazer Valentina pra ela. Toda aquela resistência durante a gravidez, toda aquela força durante o parto, dão lugar a muita insegurança e fragilidade.  Nas semanas – ou meses – que seguem o nascimento, os hormônios fazem uma fuzarca com o corpo e a cabeça das mães.  Acho injusto que elas tenham que cuidar sozinhas de um bebê quando mal podem cuidar de si mesmas.

Aleitamento materno é comprovadamente importante e apesar das mães não serem feitas de Lalique, seus corpos agem como tal e qualquer destempero, angústia, cansaço, podem fazer parar a produção de tão importante começo para nossos filhos. Aqui fica meu recado para os pais menos sortudos que eu: aproveitem esses primeiros meses sem sono!  Só posso imaginar a dificuldade de trabalhar o dia todo e chegar em casa para dar banho, trocar fraldas e acordar no meio da noite para dar complemento e arrotar. Brincar com seus filhos é legal e vocês terão muito tempo para isso, mas essa relação que ganhamos na lida diária desses primeiros meses é impagável e irrecuperável.  Exijam que as mães esperem vocês chegarem para dar o banho.

Peçam para trocar as fraldas de cocô! Quando minha filha deu a primeira risada para mim foi numa dessas trocas de fraldas fedidinhas. Esse cheirinho ruim só me traz boas memórias e troco 95% das fraldas da minha filha. Dani e eu optamos por não ter babá nesses primeiro meses (sei que isso não é possível para todos), porque estamos nos conhecendo – Valentina como novo membro da família e nós dois como pais – e não queremos ninguém no meio desta dança. Se a coisa apertar, tem sempre minha mãe ou minha sogra para dar uma mãozinha.

Que maravilha poder ser pai nessa era de auto-descobrimento, nesse tempo em que percebe-se um movimento para melhorar o planeta e nossos relacionamentos.  Vivemos a idade da informação e nunca foi tão abundante a quantidade de recursos e conhecimento para uma melhor criação de nossos filhos. Muita luz, calma e sabedoria na sua trajetória paterna.  Feliz Dia dos Pais!!

Texto originalmente publicado em 14/08/2011