Cria dos palcos, Samuel de Assis era uma cara bem conhecida nos streamings por ter participado de diversas séries como Aruanas, O Doutrinador e 3%. Agora com a estreia do seu personagem Benjamin, protagonista na novela ‘Vai na Fé’, Samuel é que o grande público tem conhecido um pouco mais do ator que tem conquistado seu espaço. “Acabei virando muito conhecido no mundo dos streamings. Não fiz muita coisa na TV aberta e, sim, essa é minha primeira novela inteira!”, comentou Samuel ao longo do bate-papo com a MENSCH.
Samuel, a novela Vai na Fé mesmo com pouco tempo de estreia já caiu nas graças do público e tem arrancado elogios da crítica. Pra você a que se deve esse sucesso? Acho que é um conjunto de fatores. Essa novela é uma revolução – retratamos a vida dos brasileiros de uma forma honesta e verdadeira! O Brasil como ele é! O Brasil suburbano, o Brasil apaixonado e apaixonante, o Brasil que sonha e é feliz! Falamos sobre seguir em frente cheio de esperança com tudo e apesar de tudo! Acho que o público estava carente de uma novela que causasse tanta catarse!
E como surgiu o convite para interpretar o Ben? Que desafios tem lhe trazido? O diretor artístico (Paulo Silvestrini) me conheceu num outro teste em julho de 2021. Em fevereiro de 2022, ele pediu um teste meu pra Produtora de Elenco! Já cheguei lá fazendo o teste com a Sheron! Nossa química foi imediata (graças a Deus)!
Curioso que você já fez muita coisa na TV, mas essa é, praticamente, sua primeira novela (com o devido destaque). Escolha sua ou o acaso que foi lhe levando para outros projetos? No país em que moramos, com o apoio escasso para a cultura e o entretenimento, não acho que temos muitas oportunidades de “escolher” trabalhos, quando não somos muito conhecidos do grande público! Eu fui traçando a minha carreira da maneira que eu gostaria – no teatro e, tentando os testes para as séries! Acabei virando muito conhecido no mundo dos streamings. Não fiz muita coisa na TV aberta e, sim, essa é minha primeira novela inteira!
Como está sendo interpretar o Ben e seus desafios? Eu costumo dizer que o Ben me ensinou a ser mais sereno e centrado! Eu tenho me divertido muito com ele e com as parcerias que tenho na novela! Muito complicado falar “advoguês” de uma forma tão natural, eu e a Carol brincamos muito com isso. Nos ajudamos e damos força um ao outro!
E a troca entre Carolina Dieckmann e Emílio Dantas? Já tinha trabalhado com eles? Quando estavam escalando os atores da novela, eu fiquei sabendo que o Emílio estava cotado pra fazer o Téo e eu liguei para a produtora de elenco e disse “Por favor, não tira o Téo do Emílio, eu preciso de um amigo fazendo a novela comigo, não conheço ninguém lá!” (risos). Nos conhecemos há 9 anos e além de admirar o trabalho dele, queria ter esse prazer de contracenar com ele! É sempre uma alegria quando temos cenas juntos! A Carolina foi um dos maiores presentes que essa novela me deu! A gente se conectou já na preparação, ali nos entendemos, levamos essa química pro set e tô muito feliz que o Brasil inteiro reconheceu nossa parceria! A gente deu muito certo, na vida e no trabalho!
Indo para o início… Você nasceu em Sergipe, mas foi criado em Salvador. Que referências e influências você carrega dessas duas cidades? É engraçado porque todo mundo acha que eu cresci em Salvador! Acho que alguém me mostrou que tem isso no Wikipédia! Mas eu morei em Salvador depois de adulto, já! Saí de Aracaju com 17 pra 18 anos e sem nunca ter feito teatro lá. Por isso não carrego muitas referências de lá! Quando morei em Salvador, entendi que o mundo podia ser muito maior do que o eu tinha vivido até então! Mas, foi São Paulo que me deu os meus primeiros ídolos, onde eu dei meus primeiros passos artísticos e onde minha carreira começou, de fato!
E como foi a mudança para São Paulo aos 17 anos? O que foi mais difícil encarar e o que lhe fez crescer? Tudo foi difícil! Me adaptar àquela cidade imensa, àquelas pessoas, àquele clima, tudo! O Benjamin disse uma frase há alguns capítulos, quando perguntaram sobre a primeira vez que ele se sentiu negro e essa frase representa muito essa minha mudança “Eu precisei sair da minha bolha pra encontrar gente como eu”! Foi em São Paulo, longe da minha bolha privilegiada, que entendi que eu era preto, que o racismo é uma pandemia que ataca nosso país e que Xenofobia é muito mais comum do que as pessoas acham que é! Mas, foi em Sampa, onde também aprendi a fazer o que mais amo e que sinto que é minha missão na terra! Tudo isso me faz crescer a cada dia!
Seu início como ator foi em 2006 na TV. É isso? E como foi daí em diante? Como se sentia preparado para encarar os novos desafios de entrar para uma grande emissora? Meu primeiro trabalho na TV aberta foi Ciranda de Pedra em 2008, uma participação! Eu não estava nem um pouco preparado pra isso, mas óbvio que só soube disso agora (risos)! Depois, fui protagonista no seriado Na Forma da Lei, em 2010! De lá pra cá, fiz algumas participações, mas as séries ocuparam todo o meu tempo! Agora, sinto que não poderia ter momento melhor pra uma personagem como o Benjamin na minha vida! Me sinto pronto!
O filme Chico Xavier foi um marco em sua vida? O que representou? Foi, por dois momentos muito especiais que vivi lá! Foi o meu primeiro set de cinema na vida e tive dois professores maravilhosos – Ângelo Antônio e Daniel Filho! Ângelo, foi um lord e me ajudou muito na construção das cenas! Daniel, me pôs ao seu lado e me deu a maior aula de interpretação que tive até hoje!
Já no universo das séries, no ano passado você estreou Rensga Hits e este ano, vem com a 2a temporada de As Fives. Aliás, você está em tudo que é seriado. Como foi e é estar nesses trabalhos? Depois da segunda temporada de 3% em 2017, abri uma porteira e hoje tenho, entre participações e personagens grandes 16 séries no currículo, em quase todos os streamings do Brasil! Eu amo fazer série, amo saber tudo do começo ao fim antes de gravar! Acho, inclusive, fazer novela uma coisa extremamente difícil! Pra mim, é um desafio diário essa coisa de obra aberta! Desafio este que estou amando desbravar!
Com o Ben você foi para o patamar de galã. Se vê assim? Qual o lado bom e ruim desse rótulo? Eu acho que os brasileiros estão reavaliando esse rótulo! O que era Galã há alguns anos, hoje não é mais! (Aquele papo de homem, branco, viril, com pegada e corpo escultural). Esse galã não cabe mais no Brasil de hoje! Acho que, galã hoje é o homem que desperta no público uma identificação imediata e uma catarse! Por ser o Benjamin um homem negro, de meia idade, bem sucedido, feliz, honesto e que acredita na justiça, ele é uma pessoa que a gente olha e, ou quer ser, ou quer ter por perto, ou conhece alguém parecido. Logo, conseguido isso, ele é um galã! E eu sou só felicidade por isso!
Sente a TV mais democrática hoje em dia? Se sim, vê isso como tendência, necessidade ou modismo? Sim, estamos quebrando paradigmas fortíssimos de muitas décadas de televisão. Nossa novela é uma revolução. Temos 70% do elenco preto, sem ser novela de escravo! Pretos na direção, produção, autoria, em todos os departamentos! Teremos pela primeira vez na história as três novelas da noite, protagonizadas simultaneamente por atores negros: Diogo Almeida em Amor Perfeito, eu e Sheron em Vai Na Fé e vem aí Paulinho Lessa e Bárbara Reis em Terra e Paixão! Isso tudo depois de Mar do Sertão brilhar com 80% do elenco nordestino! Isso não é tendência, necessidade ou modismo! Isso é uma revolução produzida por muita gente incrível durante muitos e muitos anos e que agora faz com que o Brasil se enxergue em sua telinha e possa dizer “Eu sou assim, eu existo e posso ser o que eu quiser”! Temos muito que andar ainda, mas a revolução começou e não vai dar pra retroceder!
O que lhe inspira e onde recarrega as baterias? O que me inspira são os meus parceiros de trabalho, os meus amores, a minha família, a minha fé, a minha luta e a luta do meu povo! Me recarrego no Meu Terreiro “Asè Alaketù Ilè Ogun” em Santo André-SP. Minha Yalorixá Emanuela de Xangô é quem me ajuda, me ensina e me faz transbordar! Volto sempre de coração quente e alma limpa.
Para conquistar Samuel basta… Ser você mesmo! Tenho muita queda por quem sabe de si e sabe viver seu eu profundo. Isso me faz admirar e querer saber mais da outra pessoa!
Foto Catarina Ribeiro (@catarinaribeir.o)
Stylist Salisa Barbosa (@salisabarbosa)
Grooming Andreia Jovito (@andreiajovito)