Por Nadezhda Bezerra
Mãe Michelly da Cigana é mais que a vidente dos famosos, é alguém que viveu na própria pele as curas proporcionadas por sua fé e recebeu de entidades a missão de levar suas crenças adiante ajudando ao próximo. Para ela, “a espiritualidade dá o caminho, mas nós que precisamos trilhar, com dedicação e força de vontade”. E ainda que tenhamos um destino traçado, o livre arbítrio nos dá a opção de traçar outros caminhos. Com tantas histórias e curiosidades cercando sua vida em prol da religião, conversamos novamente com Mãe Michelly. Uma coisa é certa, conhecer as religiões, seja quais forem, é de suma importância para derrubarmos preconceitos.
Conta para a gente um pouco da tua trajetória espiritual. Como você chegou até as crenças ciganas, a ser Mãe de Santo? Na verdade, minha família sempre foi simpatizante com a religião, desde a minha avó que era umbandista. Aos 9 anos eu tive um problema de saúde, onde precisava fazer uma cirurgia para amputar minha perna, e na véspera uma entidade me abençoou com cura. Esse evento com certeza fortaleceu mais ainda a minha fé. Já na fase adulta, segui frequentando e estudando sobre a religião, começando a desenvolver e trabalhar com a Cigana Madalena do Oriente, aprendendo como filha de uma casa de religião por 15 anos. Em uma sessão que estava incorporada, a cigana deixou um recado que a minha missão seria abrir uma casa de religião para atender e ajudar o próximo.
Você vive da sua religiosidade. Em algum momento entra em choque profissionalismo, valores e negócios? Sim, algumas pessoas não entendem que eu não vivo DA religião, e sim PARA a religião. Eu vivo 24h em prol de ajudar ao próximo, fazendo atendimentos e dando direcionamento espiritual para as pessoas. Portanto, não tenho tempo de exercer outra profissão paralelamente, então a espiritualidade precisa prover o meu sustento e o sustento da minha família.
Com o crescimento da casa de religião e aumento da demanda de atendimentos, tivemos que fazer um CNPJ para organizar as finanças, pagar os impostos devidos e para contratar funcionários para auxiliar nos trabalhos. Hoje contamos com um número significante de funcionários, entre eles: secretárias, cozinheiras, profissionais da limpeza, profissionais que ajudam na montagem das oferendas etc. Portanto, para manter uma casa de religião desse tamanho, com luz, água, internet, IPTU, e todos os gastos como qualquer outra empresa, precisamos cobrar pelos trabalhos oferecidos. Infelizmente, se dependêssemos da caridade para mantermos a casa aberta e fazer as devidas manutenções, isso seria inviável. Por conta disso, eu valorizo sim o meu tempo e abdicação em prol da religião, cobrando pelo meu trabalho e conhecimento.
Dentre a pluralidade de crenças que temos, não somente no Brasil, mas no mundo, a algo em que você não acredite? Acredito e respeito todas as crenças e religiões que são para o bem maior, que servem para ajudar e melhorar a vida, a saúde e trazer esperança para as pessoas. Tenho muito orgulho de vivermos em um país laico, onde podemos exercer nossa fé de forma livre.
O que considera charlatanismo? Considero charlatanismo as pessoas despreparadas, que só entram na religião visando enriquecer às custas da fé dos outros. A maioria dessas pessoas não tem vivência nenhuma dentro da religião, não aprendem e não se preparam como filhos de santo. Eles só buscam os títulos, os aprontes e o “axé imediato”. Eles vendem algo que desconhecem, que não têm preparo e conhecimento para cumprir. Você não pode prometer aquilo que você não tem na sua vida, seja na área amorosa ou financeira. Se você não tem caminhos abertos, como irá abrir os caminhos de outra pessoa? Quando você desempenha bem uma profissão, seja ela religiosa ou não, você colherá os frutos. Tudo que você faz bem e com amor, terá um retorno positivo, seja de caminhos abertos, reconhecimento e prosperidade.
Em quase 30 anos de vida religiosa, acha, que por vezes, as pessoas colocam as responsabilidades de suas escolhas muito no espiritual e se vitimizam de má sorte, ou coisa do gênero? Sim, muitas pessoas entram para a religião acreditando ser como uma “varinha mágica”, onde você pode pedir todos os seus desejos, e todos os seus problemas serão resolvidos da noite para o dia. As pessoas querem ter ganhos rápidos, sem esforço algum. Quando fazem trabalho para abertura de caminhos, por exemplo, muitas pessoas acham que magicamente alguém vai bater na porta delas oferecendo trabalho. A espiritualidade dá o caminho, mas nós que precisamos trilhar, com dedicação e força de vontade. Religião é abdicação, comprometimento, doação, esforço e fé.
Falando isso, como lidar com destino e livre arbítrio? Fala para a gente o que significa cada um e como funcionam. Destino é tudo aquilo que está traçado para acontecer na tua vida, que está predestinado. O livre arbítrio é o poder de escolha, é a liberdade de decidir qual caminho você quer seguir.
Qual o perfil de pessoa que te procura mais para assuntos de negócios, sobre escolhas profissionais e o perfil de quem busca mais os assuntos do amor? Antigamente, o público em geral me procurava para assuntos amorosos, por isso sou conhecida como a “Rainha da Amarração Amorosa”. Esse público era em sua maioria feminino. Ressalto, porém, que não são todas as amarrações que eu concordo em fazer. Como também, não faço nenhum tipo de trabalho para o mal de crianças, mulheres grávidas e idosos. Hoje em dia a maior demanda é para questões profissionais, para melhor a vida financeira. O público hoje se divide bem entre homens e mulheres, já que a mulherada está a cada dia mais empoderada e com maiores ambições.
Como alguém pode se “proteger” de uma amarração amorosa quando nem ao menos sabe que algo está sendo feito neste sentido? O único trabalho que desmancha qualquer tipo de feitiço ou magia, é a limpeza espiritual. O correto seria fazer uma manutenção anualmente dessa limpeza, porém, se a pessoa sente que está sob feitiço de amarração amorosa, ela deve fazer essa limpeza espiritual o quanto antes. Se for amor de verdade, a pessoa vai continuar amando seu parceiro (a). Se for efeito de amarração amorosa, o sentimento irá acabar, e você conseguirá se desprender desse parceiro(a).
Como você se descreveria como mulher de negócios e como mulher religiosa? Há algum conflito entre as duas faces, ou já aconteceu de haver alguma vez? Sem dúvidas eu me descrevo como uma mulher religiosa. A minha aparência, a forma que eu me visto e que eu me porto, foi mudando ao longos dos anos. Tive que ir construindo uma imagem de uma mulher empreendedora, diante de uma sociedade que sempre teve muito preconceito com nossa religião e nossas vestes. Conforme eu fui me inserindo em lugares de mais visibilidade, tive também que modificar a forma que eu me apresentava, para assim conseguir levar conhecimento e informação sobre nossa religião para lugares que antes não nos aceitavam.
Se uma pessoa ateia te pedisse para quebrar sua falta de crença no invisível, o que você faria? Se a pessoa estivesse aberta a um diálogo honesto e respeitoso, eu contaria um pouco das inúmeras experiências que eu vivenciei, tanto na minha vida pessoal, como na vida de terceiros. Na falta da fé dessa pessoa, eu emprestaria a minha. Dividindo experiências milagrosas, de cura, de fé, de saúde, de mudança de vida, que iriam demonstrar para essa pessoa que o mundo espiritual é incrível e a fé realmente move montanhas.
Onde e como recarrega suas baterias? Com uma rotina de trabalho muito intensa, com poucas horas de sono, quando tenho uma brecha na agenda eu dou prioridade para estar com aqueles que eu amo, meus filhos e minha família. Aproveito sempre que eu posso para descansar o corpo físico, tentando dormir nas horas vagas. As energias espirituais eu recarrego uma vez por ano, fazendo um retiro de 4 dias recolhida no quarto de santo, aos orixás.
O que podemos esperar, de forma geral do ano de 2024? Esse ano de 2024 tem como regente o orixá Bará para nós, do Batuque do Rio Grande do Sul. Esse orixá irá abrir muitos caminhos, trazendo oportunidades financeiras para o Brasil e para sua população. É um ano ótimo para quem quer abrir um negócio, ou para expandir. Infelizmente, teremos ainda muitas perdas também. Eu vejo que será um ano com muitos desastres naturais, com terremotos, enchentes, muita chuva, deslizamentos, desmoronamento, rachadura no solo etc. A natureza pede socorro e pede que olhemos para ela com mais cuidado e respeito.