CAPA: THIAGO FRAGOSO DE VOLTA AOS PALCOS

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Thiago Fragoso está de volta à nossa capa e aos palcos. Após um hiato de oito anos ele estreou a peça “Dois de Nós” ao lado de dois grandes atores, Antonio Fagundes e Christiane Torloni. Peça essa que fala do homem do século passado que não cabe mais nos dias atuais e que precisa aceitar as mudanças e se modificar. E se modificar tem sido a constância na vida de Thiago, “Busco o fluxo da vida e a minha melhoria como pai, marido, ser humano”, comentou ele ao fim dessa entrevista. Seja como homem, cidadão ou artista, Thiago vive no momento de buscas e achados, sempre pronto a aprender, seja com os filhos, personagens ou a vida. De certo é sua sensibilidade e inteligência de estar aberto para o novo.

Thiago, estamos aqui em sua 4a capa. É sempre muito bom tê-lo conosco. Já falamos de diversos personagens, falamos de beijo gay, nudez em cena, paternidade… Em entrevistas, o que normalmente não te perguntam? E o que é mais chato de responder? Já é a quarta? Gente! Passa muito rápido… Olha, normalmente as grandes perguntas filosóficas ficam de fora, né? (risos) Eu adoro um papo cabeça. Com relação ao que não gosto de responder, é raro vir alguma pergunta inconveniente ou desrespeitosa. Quando a gente lança um trabalho é comum ter que responder a mesma pergunta cem vezes, fica meio repetitivo… Mas faz parte.

Desde sua estreia como ator já se vão 30 anos de carreira. Do que mais se orgulha e do que não gostaria de ter passado? O que mais tenho carinho é pelas relações que construí ao longo de tantos anos com tanta gente talentosa e querida. Eu amo minha profissão, não tenho do que reclamar. Sou aquele que chega cedo e gosta de ser o último a sair. Não sou de ficar remoendo o passado, mas não faria tudo outra vez, não. A maturidade traz entendimento e a gente percebe o que realmente importa.

Falando sobre entrevista e imprensa, recentemente você deu um depoimento (sobre não ter mais espaço na TV para homem branco, hétero e branco) que tomou grandes proporções na mídia. Acredita que hoje as pessoas estão mais interessadas em criar polêmicas do que saber de fato algo da carreira do ator. Querem é ver o circo pegar fogo. O resto é detalhe. Como você enxerga tudo isso? Esse episódio foi muito triste pra mim. Eu vi as coisas que eu acredito e o meu discurso descontextualizado a ponto de virarem do avesso. Nunca reclamei de nada… Sempre trabalhei muito e isso não mudou. O que eu observo é que os espaços estão mudando e essa mudança é bem-vinda e necessária.

Você sempre foi um cara muito discreto em relação a sua vida pessoal. Como se resguarda? Como blindar sua individualidade da super exposição? Eu sempre preservei a minha vida pessoal, mas com naturalidade. Não me incomodo em falar sobre a paternidade, a vida no casamento… Mas por ser um cara tímido, algumas exposições são difíceis pra mim. Eu acredito que o ator deveria aparecer pouco para o personagem ter mais relevância e consistência. Hoje em dia, com as redes sociais essa lógica ficou quase impossível de executar. Por outro lado acho incrível a possibilidade de ter um contato mais próximo com os fãs.

Hoje com muitos “críticos” e “olheiros da vida alheia” você tem que viver se policiando sobre como abordar certos temas que não soem como preconceituosos ou machistas. Estamos vivendo num mundo mais chato? Não sei se chato, mas pontos de inflexão exigem muito do ser humano, sim. Também acho que a autoeducação exige muito da gente em termos de atenção, dedicação e até um auto-policiamento como você mesmo mencionou na pergunta. No entanto, acredito que em algum tempo vamos chegar numa acolhedora homeostase.

Sua trajetória traz personagens diversos, polêmicos e trouxeram muitas pautas importantes. Na série Sexo Frágil você interpretava Soraya e Ana Paula, e trazia muitos temas feministas para o público. Ou em Amor à Vida, onde seu personagem Niko protagonizou o primeiro beijo gay masculino na TV. O que mais destacaria nesses anos de carreira? Eu sempre acho mais legal que o público faça essas distinções. A minha atitude como ator é encarar o último como o “melhor” e o próximo como o “mais importante”, a ideia de que o jogo nunca está ganho e que sempre tento me superar. Acho interessante o discurso desses personagens. Muitos deles vieram questionar estruturas sociais nefastas. Eu, particularmente, busco achar a vulnerabilidade da pessoa humana trazida em cada um deles… É através dessa vulnerabilidade que a gente acessa o coração do público.

E como foi se ver sem contrato fixo na TV após tantos anos? Qual o ônus e o bônus disso? Eu tenho muito carinho pela TV Globo e por tudo que construímos juntos. Foi um processo muito natural e integrado as mudanças dos últimos anos no mercado. O ônus é não ter a segurança de um contrato fixo, mas que tenho enxergado como um bônus pelas novas possibilidades. Posso me envolver em projetos que antes não conseguia me dedicar completamente. Pensar em coisas de longo prazo… Reinvenção, crescimento, desafios! A perspectiva é empolgante.

Após oito anos você volta ao teatro com a peça Dois de Nós, ao lado de dois grandes veteranos, os atores Antonio Fagundes e Christiane Torloni. Como está sendo essa volta aos palcos e ao lado desses dois grandes atores? Um sonho! Que alegria conviver com esses atores e poder estar no teatro com eles. Eu sempre estive presente no teatro ao longo da minha carreira, afinal é o meu berço. Então, esses oito anos de distância fizeram crescer uma saudade danada. Cada espetáculo é uma injeção de energia difícil de descrever. Estou amando cada minuto. A peça fala sobre esse homem do século passado que não cabe mais nos dias atuais e que precisa aceitar as mudanças e se modificar, crescer e amadurecer. O texto de Gustavo Pinheiro é uma obra prima.

Os desafios de encenar uma peça são diários. Qual o grande barato disso? A peça é diferente a cada dia, né? A plateia tem uma função importante nisso. Eles acabam se tornando um organismo com personalidade própria e assumem o lugar de quinto personagem. No teatro a gente percebe que sempre é possível desvendar significados escondidos, sempre é possível crescer… O Fagundes diz que o teatro é “a pátria do ator”. Acho bonito. É esse o único veículo onde a responsabilidade está inteira na sua mão, sem filtro.

Indo para o Thiago pai… Seu filho mais velho, Benjamin, já está com 13 anos, e o mais novo, Martin, com 4 anos. Gerações bem diferentes. Como se divide entre esses dois mundos e que tem em comum? É uma loucura! A adolescência é uma fase emocionante e difícil… Tintin numa fase totalmente diferente com outras demandas. Todo o dia aprendemos com os dois. Das coisas mais legais disso tudo é ver as diferenças… Eles já vem de fábrica com um ship diferente. Meus filhos são muito complementares entre si. É a parte que eu mais amo da vida e que me faz abrir um sorriso em qualquer situação.

Acredita que em geral os homens estão mais participativos na criação dos filhos e cuidados com a casa? Como é isso para você? Essa causa da paternidade já vem há algum tempo engatinhando, né? Eu sempre fui um pai vocacionado, sem aquela história de “ajudar”. Pai não ajuda, pai têm responsabilidades divididas. Sempre gostei de dar banho, trocar fralda, botar pra dormir, levar pra escola… Acredito que ainda temos, sim, muitos pais com uma mentalidade do século passado, por assim dizer. Mas vejo que isso tem mudado nos meus ciclos de relação. Só não dá pra idealizar. A realidade nas camadas sociais mais carentes é de uma figura paterna quase sempre ausente. Ainda temos muito o que transformar.

Aos 42 anos, quem é Thiago hoje? Que tipo de homem tem se transformado? O Thiago de hoje é um Thiago altamente imerso nas incertezas e nos mistérios da existência. Não tenho respostas… Busco o fluxo da vida e a minha melhoria como pai, marido, ser humano.

Planos para o futuro… São tantos que nem sei por onde começar. Tenho muita vontade de atuar num projeto que eu mesmo escrevi.

Fotos Priscila Nicheli

Styling Samantha Szczerb

Agradecimentos Amil Confecções e Raffer