Elegante, talentosa e dedicada ao seu ofício. Basicamente é a impressão que temos da atriz, no real sentido da palavra, Camila dos Anjos. Se você deseja conhecer seu trabalho melhor, um lugar muito frequentado por ela é o teatro, seu habitat natural. Dona de sua própria companhia, Camila produz, atua e desenvolve seus projetos e ainda ganha prêmio. Mas se você deseja vê-la na TV, liga na HBO e assiste “A Vida Secreta dos Casais” onde ela interpreta a personagem Giordana. E para 2018 a novidade é o filme “SP: Crônicas de uma cidade real”. Camila é assim, seja em Nova York se reciclando pelos teatros, seja no Rio de Janeiro com uma nova peça ou mesmo em São Paulo, onde recarrega as baterias no seio da família. Camila dos Anjos não para e tem muito a dizer através de seus personagens.
O que você descobriu sobre “A Vida Secreta dos Casais”, série da HBO na qual você interpreta Giordana? Aprendeu algo? Acho que bons trabalhos sempre proporcionam transformações e aprendizados. Foi um grande desafio e um prazer enorme interpretar a Giordana. Ela é uma personagem complexa, com uma carga dramática densa e cheia de mistérios. Aprendi muito com ela e precisei fazer uma pesquisa intensa para compreender a natureza de seus conflitos.
Na sua opinião, o que é mais difícil na vida de um casal (seja casado ou namorados)? Acredito que o grande desafio de qualquer casal é conquistar um relacionamento onde ambos continuem conectados, de uma certa forma, com a sua individualidade.
A combinação entre homens e mulheres em geral é bem harmônica. Mas o que diferencia mais entre os dois sexos? Acredito na individualidade do ser humano, mas não acho que isso está relacionado ao gênero, está relacionado a personalidade de cada um.
O que os homens não sabem sobre as mulheres? Ainda vivemos em uma sociedade machista e, infelizmente, muitos homens ainda não sabem lidar com a busca das mulheres pela igualdade. Muitos não conseguem compreender a importância do feminismo.
E como você tem aprendido sobre o ser humano, as pessoas, com sua profissão de atriz? Uma das coisas mais legais que aprendi como atriz é que nunca podemos julgar uma personagem, independente das escolhas que elas façam. Se você julgar uma personagem, você não vai conseguir compreendê-la e representá-la com potência. O ator sempre precisa se colocar no lugar da personagem para entender seu comportamento, suas ações. Levar esse pensamento para vida real é um grande aprendizado para compreender e respeitar as diferenças.
Qual seria o maior desafio de uma atriz? E o da Camila dos Anjos? Acho que a profissão do ator é uma busca constante e o maior desafio é estar sempre à procura de personagens complexas e projetos interessantes. Tenho algumas personagens que sou apaixonada e que gostaria muito de interpretar no teatro. Meu maior desafio é conseguir colocar esses projetos em prática e realizar o desejo de dar vida a essas personagens.
Indo para o início, como foi que você despertou para a profissão de atriz? Alguma influência ou referência? Quando eu era criança meus pais costumavam me levar para assistir peças infantis. Aos sete anos disse para minha mãe que queria fazer teatro e ela me matriculou em uma escola de teatro para crianças. Junto com essa escola existia uma agência especializada no público infantil, então comecei a fazer diversos testes em São Paulo e nunca mais parei. Quando tive idade para entender, já tinha me apaixonado pela profissão e ela já tinha tomado conta da minha vida.
Você já recebeu prêmio revelação no teatro. Como isso te tocou? Que escola o teatro foi e é para você? Receber o Prêmio foi muito especial, principalmente porque foi através de um projeto que eu idealizei, com uma das personagens mais interessantes que já fiz. Apesar de ter começado a trabalhar ainda criança, o teatro entrou na minha vida de uma forma muito forte depois da faculdade de artes cênicas. Nos últimos seis anos, fiz doze peças e me sinto uma atriz muito mais madura depois disso. O mais bacana do teatro é que podemos nos aprofundar nos temas escolhidos e nas camadas das personagens. É um lugar onde estamos totalmente expostos, fisicamente e emocionalmente. É um lugar de coragem, de entrega absoluta, de descobertas e, acima de tudo, tanto para o ator quanto para o público, um lugar de transformação.
O teatro também me mostrou que posso ter mais autonomia. Além dos trabalhos que sou convidada, tenho minha companhia onde posso desenvolver trabalhos próprios. Tenho autonomia para produzir, escolher personagens que quero interpretar, convidar diretores e desenvolver projetos de autores que me interessam.
Em 2018 você estreia nas telonas com o longa “SP: Crônicas de uma cidade real”. Como foi participar e como o cinema te toca? O longa “SP: Crônicas de uma cidade real” é composto por seis histórias com um tema em comum: Cárcere. Foi bem especial participar deste filme. Além de trabalhar novamente com o diretor Elder Fraga, que é um parceiro antigo, pude contracenar pela primeira vez com Luciano Chirolli, um ator que admiro e que acompanho o trabalho no teatro há muito tempo.
E quando está com tempo livre, o que curte fazer? Quando estou em São Paulo procuro usar meu tempo livre para ficar com a minha família e com meus amigos. Também amo viajar e conhecer outras culturas.
O que curte ler, ver e ouvir ultimamente? Muitas vezes o que estou lendo tem a ver com o trabalho que estou desenvolvendo. No momento estou relendo a autobiografia “Memórias”, do dramaturgo Tennessee Williams, para um trabalho no teatro. Estou em Nova York há duas semanas e estou aproveitando para assistir muitas peças de teatro e conhecer novos dramaturgos. Ultimamente tenho escutado bastante Nina Simone, Janis Joplin e Elza Soares.
Você é muito vaidosa? Do que não abre mão? Não sou muito vaidosa, mas como trabalho desde criança, tomo bastante cuidado com a minha pele. Uso maquiagens e produtos de boa qualidade para limpar a pele. Nunca abro mão de sair de casa sem protetor solar.
Planos para 2018? Quais pode contar? Além do lançamento do longa “SP: Crônicas de uma cidade real”, começarei o ano realizando um projeto que idealizei no teatro, “A catástrofe”. É o segundo trabalho da minha Cia, onde colocaremos em cena os textos curtos “Mister Paradise” e “Fala comigo como a chuva e me deixe escutar”, ambos escritos por Tennessee Williams, aprofundando a pesquisa que realizamos sobre o autor no primeiro espetáculo da Cia. Espero que 2018 seja um ano repleto de desafios e personagens interessantes.