A avião é algo que fascina os homens desde criança. Seja com os modelinhos de plástico ou no passeio de domingo ao aeroporto. Já a fotografia é a arte de olhar as coisas, agora imagine olhar tudo isso lá do alto, das nuvens?! Unir a aviação com a fotografia?! É a fotografia aérea. Um ramo pouco divulgado dentro do universo da fotografia tanto comercial como de arte. Um ramo que requer do profissional da fotografia não só apuro técnico e um olhar apurado para captar os melhores momentos (e não são poucos), mas muito estômago e coragem. Para conhecer e se informar sobre essa categoria da fotografia fomos bater um papo com Newman Homrich, que nos concedeu uma entrevista. Fotógrafo conceituado que se descobriu fotógrafo numa noite no meio de uma semana qualquer de 1985, onde estudava Administração na UFPE. Newman, que sofria para acordar cedo, largou as aulas de administração para se dedicar a fotografia, iniciada com um curso com o fotógrafo-mestre Firmo Neto. Como precisava pagar as contas, resolveu unir a necessidade ao prazer. Seu primeiro trabalho na área foi fotografando para um jornal de praia, que o acolheu e publicou suas primeiras fotos que logo em seguida resultou nos primeiros trabalhos de publicidade.
Questionado sobre o que veio primeiro, se a paixão pela aviação ou pela fotografia, Newman é categórico: “Tenho certeza que foi a paixão pela aviação, pois ela veio primeiro. Desde meus primeiros modelos plásticos, aqueles da Revell, ganhos no Natal do ano em que completei sete anos de idade, me encantei com o mundo da aviação. Li muito sobre Segunda Guerra para pesquisar sobre os modelos que montava e passei mais tarde a querer ser piloto também. Prestei exames para a EPCAR – Escola Preparatória de Cadetes do Ar e AFA – Academia da Força Aérea. Não passei e a FAB não perdeu nada, porque voltei a fotografar para ela na primeira oportunidade! Além da FAB pude na minha vida civil, viver oportunidades que não teria se fosse militar, com seus compromissos.”
E como se concentrar no foco, no ângulo… enquanto o avião faz as piruetas e o estômago dá aquela embrulhada?! “Não sei! (risos). Isto mesmo. Tive a sorte (e, às vezes, ajuda dos comprimidos…) de nunca passar mal em vôos de fotografia. Me concentro e me sinto à vontade voando de tal forma que não passo mal em vôos de foto aérea. Em fotos a bordo de caças e outras aeronaves de combate tive a ajuda dos anti-enjôos, recomendados pelos pilotos para aqueles que voam de “saco”, como chamam quem vai de carona, sem poder mexer em nada. Dizem que esses comprimidos dão sonolência, mas já cheguei a tomar dois (com a supervisão do médico da unidade aérea) e voltar eufórico, “adrenalizado”, com o sucesso da missão de foto e as imagens obtidas.”
E ao ser indagado sobre sua melhor experiência no ar, Newman foi direto: “Isso é o mesmo que perguntar ao Sultão qual a melhor do harém com elas todas olhando! Cada experiência tem um sabor especial. Pode ser em um vôo de formação com 27 AT-26 Xavantes, sendo o único civil participante, um pairado de helicóptero, assistindo manobras quase acrobáticas de outra aeronave do mesmo tipo a poucos metros de distância, acrobacias de uma aeronave solitária a 40.000 pés de altitude com manobras comandadas pelas minhas próprias mãos, vôos em ala para fotografar pela porta de pára-quedistas do Bandeirante ao entardecer no litoral sul, participar de exercícios e pousar de helicóptero a bordo de um navio da Marinha do Brasil que passa ao lado de uma baleia se apresentando para a platéia de marinheiros, ouvir o som dos motores de um R-35 Learjet acelerando para manter a ala acima das nuvens enquanto eu o fotografo, subir à bordo de um Bandeirante que acabou de pousar em uma auto-estrada, circular em vôo e voltar a pousar nesta, etc. São inúmeros os momentos gratificantes.”
Mas e qual as diferenças entre esses diversos tipos de fotografia? Segundo Newman o grau de controle sobre a criação e sobre os meios para se obter as imagens desejadas é muito maior na fotografia de aviação em vôo ou foto aérea. “Domino o equipamento, a técnica, o controle sobre os meios e com planejamento, procuro o momento ideal para marcar a realização das imagens. Procuro conhecer a ficha técnica e o envelope de emprego das aeronaves envolvidas para melhor aproveitar suas capacidades. Nas fotos publicitárias temos que seguir uma receita criada pela agência, com margem de influência pessoal reduzida. Nas fotos de modelos temos uma boa dose de liberdade de criação, mas as variáveis são tantas que temos que trabalhar em equipe para reduzir a carga de trabalho de um editorial de moda, por exemplo.”
Diante de tão belas fotos, fica difícil imaginar alguma que não foi feita ainda. Mas como a magia da fotografia é infinita, sempre se tem uma que se deseja saber. Perguntamos isso ao nosso intrépido fotógrafo: “A foto que ainda não foi feita é a minha melhor! Estou trabalhando nela!” E quais os planos para o futuro? “Popularizar produtos e vendê-los o suficiente para viver apenas disso seria como um sonho realizado. Algo como uma loja de produtos de aviação. Gostaria também de testar meus conhecimentos e meu inglês ao guiar um grupo de amantes da aviação em viagem para Oshkosh – Wisconsin – EUA, feira aérea que reúne cerca de 10.000 aeronaves em Wittman Field. Gostaria ainda de fotografar operações a bordo de porta-aviões, registrar em vôo as acrobacias com a Esquadrilha da Fumaça, fotografar uma grande aeronave comercial em vôo, etc.”