Foi pelo oceano que a humanidade teve a oportunidade de encontrar novas terras. Foi pelo mar que o homem enfrentou seus medos, superou seus limites, avançou territórios. A água foi cenário de muitas batalhas. E apenas ela serve como um ponto de conexão entre toda e qualquer cultura do mundo.
O mergulhador livre Guillaume Nery, natural de Nice, na França, encontrou na água uma forma de se encontrar. “Fascinante” é sua primeira resposta sobre estar submerso e cercado de um mundo azul. Medo? Sim, isso também faz parte de suas experiências.
A MENSCH teve a oportunidade de entrevistá-lo com exclusividade. Ele é parceiro da relojoaria de raízes italianas Officine Panerai desde 2019, ano em que a maison, além de anunciar relógios comemorativos com seu nome, passou a oferecer experiências exclusivas para seus clientes e colecionadores. Com Nery, 15 deles viajaram para a Polinésia Francesa para uma experiência de mergulho. Nery conversou conosco sobre sua expedição com clientes da maison, sua vida de mergulhador livre, medos e anseios.
Como foi sua experiência com clientes Panerai na Polinésia Francesa, em 2019? Foi uma experiência inesquecível. Eu realmente amo que o CEO da marca Jean-Marc Pontrué teve essa ideia de criar essa experiência de trazer os consumidores para o meu mundo porque, se a marca constrói o relógio com o meu nome, a ideia é trazer também o meu nome para o cliente. É algo que eu realmente amei. A Panerai trouxe pessoas que não sabiam absolutamente nada sobre o meu mundo, mas que eram fascinados por ele – algo que ao mesmo tempo pode ser assustador. E eu adoro trazer minha experiência e mostrar para eles a beleza e a mágica do mundo submerso.
E como foi para você lidar com diferentes culturas nessa expedição? Estou acostumado a lidar com pessoas de todo o mundo, pois eu viajo bastante, comparado com as experiências que eu já tive, havia uma conexão entre aquelas pessoas – o amor pela Panerai. Era uma verdadeira conexão entre eles, então era mais fácil de organizar. Depois, o que era difícil, era lidar com diferentes experiências pessoais. Algumas delas já tinham paixão pelo oceano e costumavam nadar, alguns mergulharam, mas era a primeira vez que alguns deles colocavam a cabeça sob a água. E eu os levei para nadar com tubarões. Então, foi interessante lidar com seus medos, suas expectativas. Tentamos criar esse grupo para que pudéssemos ajudar um ao outro, eu incluído, a sentirem-se confortáveis. No final, todo mundo descobriu algo. Eu me lembro que levei um cliente junto comigo, quase de mãos dadas, para ajudá-lo a lidar melhor com a água, sentir-se mais confortável, mostrar que o que eles tinham em mente sobre seus medos, sobre os tubarões, sobre o mundo sob as águas, monstros imaginários são apenas uma criação da mente, como todos os limites que temos em nossa vida.
Mas o medo não é uma exclusividade desses clientes. Você também tem medos, certo? Às vezes eu tenho medo – todo ano, quando eu chego perto dos meus limites, quando eu mergulho mais profundamente do que eu sempre fiz. Eu tenho momentos de medo, mas eu considero esse medo como algo normal e algo importante, pois é algo que ajuda você a ficar atento. Não é bom não sentir medo. Se você não tem medo, você tende a esquecer o quão perigosa a natureza pode ser. E não estou falando sobre o mergulho livre como um “lugar” perigoso. Eu digo sobre qualquer lugar na natureza requerer total atenção. Então, ter medo faz com que você fique atento. Sim, isso acontece comigo de vez em quando. O mais importante é lidar com esse medo, analisá-lo e aceitá-lo. Isso é importante.
Em 2015, você teve um acidente. Sofreu um blackout a poucos metros da superfície, após um erro de medição de profundidade em uma competição. Qual lição você aprendeu com esse incidente? Me afastei de competições por três anos. E a principal lição que aprendi é que, mesmo que você esteja preparado para qualquer coisa, você não pode estar preparado para o inesperado. Você está pronto, mas não controla qualquer coisa. Para superar isso, precisa estar preparado para além do desafio que você tem.
Como é estar submerso, completamente sozinho? É um sentimento fascinante. Por um lado, sei que onde estou é muito hostil. A água é fria, quase não tem luz, a pressão é imensa. As condições são extremas. É um lugar onde eu não deveria ir. Mas, por outro lado, esse é resultado de meu treinamento mental e físico. Se eu aceito essas condições, se eu não luto contra eles e se eu treino meu corpo para isso, eu me sinto muito confortável. Eu apenas experimento sensações incríveis e bons sentimentos. Eu amo esse paradoxo. Eu sinto como se eu estivesse em meio ao infinito, rodeado de azul. Me sinto muito leve, não sinto a gravidade. Sei que meu tempo é limitado. Sei que posso ficar por apenas alguns minutos. Mas esses minutos são muito intensos.
Você mergulha desde os 14 anos. Você notou algo diferente dentro de você desde que começou a mergulhar? Com certeza. O mergulho livre mudou muitas coisas na minha vida. Eu aprendi muitas coisas sob a água. Eu tenho muitas experiências de lá que eu trago de volta à superfície. Como ser apaixonado, como construir um projeto coletivo, em time. Eu sou filho único e sempre pensava em mim mesmo, um pouco egoísta. No mergulho livre, você precisa trabalhar com um time. Você precisa criar uma aventura em time. Existem tantas, tantas coisas que posso compartilhar sobre o que mergulho livre me trouxe. Paixão, sim eu já disse sobre paixão, espirito de coletividade. Algo muito importante é que, de vez em quando, na minha vida no dia a dia, coisas não acontecem como planejado. E, normalmente, como humano, sempre queremos lutar contra algo. Queremos mudar tudo. O mergulho livre me ensinou que você tem que aprender a deixar ir. Você tem que estar lúcido para saber o que você pode e o que você não pode mudar. Você tem que aprender a deixar coisas como estão. Tem que ser lúcido a saber o que você pode ou não mudar.
Quando estou mergulhando, esmagado pela pressão, o reflexo natural seria se proteger, lutar, tentar ser mais forte que a pressão, mas não há nada que eu possa fazer sobre isso. A única coisa que me permite descer ainda mais é aceitar totalmente. E isso é muito importante na vida – ter lucidez e ver o que eu posso realmente mudar e o que eu não posso. Se eu não posso mudar, não há necessidade de perder energia com aquilo. Tem que aprender a aceitar. Este é uma das lições mais importantes do mergulho que aprendi.
O QUE CHEGOU DE NOVO
Depois do imenso sucesso de modelos Panerai com Guillaume Nery, a maison lança mais um modelo para 2021 – já que as experiências não podem ser realizadas por enquanto. Trata-se de Panerai Luminor Marina 44 mm Guillaume Nery Edition. O modelo celebra o 70º aniversário do modelo Luminor, será limitado a 70 unidades e contará com 70 anos de garantia.
A peça presa pela resistência e legibilidade, com uma caixa em titânio enegrecido, um mostrador preto em dégradé com indicadores e ponteiros luminescentes. O protetor patenteado da coroa auxilia na entrega de até 300 metros de resistência sob a água. A pulseira, totalmente sustentável, é elaborada a partir de material PET reciclado com uma costura branca. panerai.com