CAPA: JOÃO VITOR SILVA

De Pedrinho no Sítio do Pica-Pau Amarelo até Bruno em Verdades Secretas, já se vão quase 20 anos de carreira. Isso porque nosso homem da capa, João Vitor Silva, só tem 25 anos. Um verdadeiro garoto prodígio da TV, João encarou agora um de seus personagens mais desafiadores que o fez quebrar “barreiras” e mostrar que ele é capaz de ir muito longe. “Afinal de contas o trabalho do ator é baseado na versatilidade”, conclui ele ao longo dessa entrevista para a MENSCH.

João Vitor, como foi voltar a interpretar o Bruno 6 anos depois? Como foi esse reencontro? Bom, não vou negar que primeiro tive muita curiosidade sobre como seria essa experiência ser algo inédito na minha trajetória profissional – retomar um personagem tantos anos depois. Mas, quando iniciamos a preparação, percebi que o Bruno ainda estava muito vivo tanto na minha memória quanto na do público, o que acabou tornando esse reencontro muito mais fácil do que eu imaginava. O Bruno foi um personagem que marcou muito minha vida e minha carreira, e eu estava muito ansioso pra descobrir o que viria pela frente e quais seriam os novos desafios que surgiriam. 

Tanto você quanto ele mudaram muito ou apenas seguiram suas trajetórias? Ah, em seis anos dá tempo de mudar muita coisa. Acho que o principal é que, assim como eu, o Bruno cresceu e amadureceu nesse tempo. Viramos donos de nossas próprias vidas e, consequentemente, os únicos responsáveis por nossas escolhas. No meu caso, isso foi maravilhoso, já no do Bruno nem tanto assim. As sequelas deixadas pelas atitudes e pela morte do Alex ganharam uma lente de aumento nessa segunda fase da novela, tornando a trajetória do Bruno muito mais intensa, sofrida e perigosa. Bem “Verdades Secretas” mesmo (risos).

Bruno é um personagem complexo que traz temas como a sexualidade e a dependência química de forma muito forte. Algo te assustou quando você recebia os textos? O que foi mais difícil? Eu não costumo me assustar com os obstáculos dos personagens, não. Vou entender o que mais me desafia e começo um grande estudo para me ajudar na composição. Acredito que, quanto mais eu aprendo sobre o assunto que vou abordar na história, menos medo de arriscar eu tenho. E foi isso que fiz. Além de toda a experiência pessoal que eu tenho com esse tema, pois convivo com dependentes químicos em minha família, voltei a frequentar um grupo de apoio às famílias, assisti muitos filmes, séries e documentários com essa temática, e também revisitei o estudo que já tinha feito para a primeira fase da novela. Geralmente, me perguntam sobre a sexualidade do Bruno, colocando-a no mesmo grau de complexidade da dependência química – e eu, sinceramente, não consigo entender isso. A orientação sexual do personagem nunca foi algo que me amedrontou ou assustou, sempre foi só mais um dado.

Sem dúvida é o personagem mais ousado na sua carreira. Quebrou alguns tabus? Eu não considero o Bruno o personagem mais ousado da minha carreira, mas costumo dizer que ele foi minha escola preparatória de ousadia (risos). O Bruno me “desvirginou” em muitos aspectos, como nas cenas de sexo, nas cenas de droga, nos diálogos mais adultos… que não eram exatamente tabus, mas existia um certo mistério antes dele me proporcionar essas experiências. 

Como encarou as cenas mais quentes? Chegou a ter algum constrangimento? Foi normal, pra mim. Desde a primeira “Verdades Secretas” venho fazendo cada vez mais cenas desse tipo. Estou craque já (risos).

Imagina que depois do que você passou com Bruno, o resto será bronca boba? (risos) O que marcou mais? Olha, eu nunca subestimo o universo e também não simpatizo com a zona de conforto. Então, quanto mais um personagem me tira dela, mais eu me entrego e gosto dele. Afinal de contas, o trabalho do ator é baseado na versatilidade. 

Talvez muita gente nem lembre, mas um de seus primeiros personagens na TV foi o icônico Pedrinho do Sítio do Pica Pau Amarelo. Como foi essa experiência e que lembranças guarda? O ‘Sítio’ foi onde tudo começou. Apesar de ser criança, eu aprendi muito com as pessoas que faziam parte dessa produção e ganhei amigos pra vida toda. Me sinto muito privilegiado por, mesmo com tão pouca idade, poder representar um grande nome da nossa literatura folclórica brasileira e ter uma obra do Monteiro Lobato no currículo. Isso sem falar na sensação indescritível que era brincar tanto com o meu imaginário, quanto com o das crianças que nos assistiam. Sou parado na rua até hoje, reconhecido como Pedrinho. 

Você só tem 25 anos e já comemora 20 anos de carreira. Como assim?! (risos) Como avalia sua trajetória até aqui? O que mais te marcou nisso tudo? Pois é, já, já eu me aposento (risos)! Eu nem tinha me dado conta que já completei 20 anos de carreira. Sou muito grato por todas as oportunidades que vivi até aqui, por todos os personagens que me ajudaram a construir a minha história. Eu amo cada vez mais o que eu faço e quero continuar fazendo até quando for possível. Que venham mais alguns vinte anos de carreira!

O que é ser ator para você? O que a arte te proporciona? Ser ator pra mim é poder ser o que eu quiser ser. É brincar de acreditar nas coisas mais absurdas que existem. É dar vida a figuras que, através de simples histórias, podem mudar o pensamento ou até mesmo a vida de muitas pessoas. A arte me dá voz e me possibilita a troca com o público, a troca possibilita o debate e debater, é crescer. Arte é crescimento. Arte é resistência. Arte é necessária. E é por isso que eu amo o que eu faço.

Você conheceu sua cara-metade, a atriz Mariana Molina, na 1a fase de Verdades Secretas e nunca mais se largaram. Como foi isso? Sim, nos conhecemos nessa época, mas só nos envolvemos quando a novela terminou. Não sei se dá pra explicar o amor… (risos). De repente, foi dando aquele friozinho na barriga quando pensava nela, uma vontade de estar junto o tempo todo e foi isso. Casamos. Mari é minha grande parceira de vida. De lá pra cá, já vivemos tantas coisas juntos que, quanto mais o tempo passa, mais eu posso sentir que ela é realmente o amor da minha vida e que nosso destino é mesmo ficar juntos. Seis anos se passaram e eu ainda sou completamente apaixonado por ela. 

Você já declarou que evitava assistir às cenas mais ousadas dela por ciúmes. Como lidam com isso hoje em dia? Então, não é que eu não assisto. Claro que amo prestigiar o trabalho da minha esposa, mas quando ela quer rever alguns trabalhos, aí não precisa né? Já vi tudo que tinha que ver (risos)! Mari nesse ponto é menos ciumenta que eu – mas anda aderindo à minha técnica também. 

Com o tempo vai ficando mais fácil, é mais no começo da relação, quando a gente ainda sente aquele ciúme latente.

E na hora de relaxar, o que faz a sua cabeça? Gosto muito de assistir filmes e séries com a Mariana e ficar jogado no sofá sem hora pra nada. Mas o meu maior companheiro de verdade é o violão.

Para o próximo ano, algum projeto que possa compartilhar conosco? No começo de 2022 eu começo as gravações da quarta temporada de Impuros, série da Star+, e vamos retomar as gravações da série Fim, inspirada no livro da Fernanda Torres. 

Quem é o João Vitor hoje em dia? O que deseja pela frente? Eu sou um cara apaixonado pela vida e pelo agora, que deseja fazer o bem para as pessoas, distribuir amor e deixar boas marcas por onde passar. Quero que meus amigos e conhecidos se lembrem de mim sempre com um sorriso no rosto.

Fotos Márcio Farias

Produção Samantha Szczerb

Assessoria Marrom Glace Assessoria 

Locação Rua.Gastrobar

Agradecimentos Amil Confecções, Edu Bogosian, Eduardo Guinle, Vert, Hermes Inicencio