CAPA: LUÍS SALÉM DE VOLTA A TELINHA COM AUFREDO EM ‘VALE TUDO’

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Após 14 anos Luís Salém está de volta à TV aberta fazendo o que gosta, que é atuar. Desde que surgiu o convite da amiga Manuela Dias para interpretar a nova versão de um personagem marcante na clássica novela Vale Tudo, o Eugênio, Salém é pura satisfação. Isso por estar de volta aos estúdios de TV, por estar ao lado de grandes amigos, como a atriz Débora Bloch, e satisfação também por estar de volta a sua cidade natal, o Rio de Janeiro. Há oito anos morando em Salvador, onde atua no Projeto Axé, que é uma ONG que acolhe jovens das periferias de Salvador, Salém se sente realizado e realizando a diferença na vida de muitos jovens. Vindo de uma geração do humor onde já passou por diversos programas como Zorra Total, Sai de Baixo e Os Homens São de Marte, é para lá que eu vou. Mas ao final dessa entrevista exclusiva para a MENSCH percebemos que a satisfação foi toda nossa em tê-lo por aqui. Que tenhamos mais Salém na vida!

Após 14 anos fora da TV, como está sendo o retorno? Fiquei muito satisfeito, é claro, de receber o convite da Manuela Dias para interpretar o Eugênio, em Vale Tudo. Fiquei afastado das novelas por muito tempo. A minha última novela foi Aquele Beijo, do Miguel Falabella, e durante esse tempo eu fiz outras coisas. Enfim,  fui morar na Bahia – a vida mudou. Teve uma pandemia pelo meio, e é muito gratificante poder retornar ao gênero, a fazer novela na Globo, depois de tanto tempo, numa novela como Vale Tudo, que é uma novela icônica. Uma novela esperada, uma novela celebrada e, recebendo esse convite da Manuela Dias, que é uma pessoa que eu admiro demais, de quem eu assisti todas as produções – Amor de Mãe, Justiça 1, Justiça 2. Uma escritora com potencial imenso. Eu tive o privilégio de dirigir o primeiro texto que a Manuela escreveu para o teatro, quando ela ainda era uma menina de 18 anos. Então, a gente nunca mais trabalhamos juntos depois disso, mas agora pintou esse convite. Ela me chamou e eu atendi prontamente, não só pela alegria de poder retornar a fazer novela, mas de atuar num folhetim escrito por ela, um remake de Vale Tudo, que é uma novela brilhante – e é isso. É uma alegria poder estar de volta às novelas.

Como está sendo a expectativa de viver um personagem tão icônico, como foi o Eugênio, em Vale Tudo? A expectativa é imensa, da minha parte. O Eugênio era muito icônico, realmente, por conta das citações cinematográficas que ele fazia na primeira versão da novela, pela brilhante atuação do Sérgio Mamberti. Essa característica, essa relação que o Eugênio tinha com o cinema hollywoodiano, Manuela não colocou nessa versão. Ela tem outros planos para o Eugênio – ela está trabalhando, de uma forma geral, a gente perceber na novela, eu acho que a Manuela está humanizando todos os personagens, colocando-os com outras características. E o Eugênio, eu espero que ele também seja um personagem icônico, mas um outro tipo de iconicidade, aconitismo, sei lá como mais, icônica, porque ele agora tem uma relação muito afetuosa com Dona Heleninha Roitman. Dona Heleninha, que é uma alcoólatra, que sofre dessa doença que é o alcoolismo. E eu acho que as pessoas que passam por esses momentos, elas sempre precisam de um porto seguro. E o Eugênio representa esse porto seguro. Ele é essa pessoa acolhedora, que tem um carinho, que tem um afeto muito grande, e que, de alguma forma, entende o que a Heleninha está passando e apoia nesse retorno. Então, eu acho que o grande barato do Eugênio agora é esse lado – esse cara que está sempre ali perto da pessoa para acolher, para ajudar. Um outro tipo de icônico, né? Eu espero que as pessoas vejam o Eugênio por esse lado. E também não sei também o que Manuela Dias reserva para a vida de Eugênio, daqui para frente. A gente não tem acesso. Eu sei que ela planeja algumas coisas. Manuela é uma escritora muito… Como escritora, é muito particular. Ela vai… Quem viu Justiça 2 sabe que os personagens vão surgindo, as tramas vão se cruzando. E é muito interessante trabalhar. Eu tenho a maior confiança no traçado de Manuela Dias. E acho que a gente deve dar esse crédito a ela. As pessoas ficam com uma cobrança muito grande do Eugênio como ele foi. Vamos esperar para ver como é que o Eugênio será agora. Eu estou nessa expectativa junto com o público também, porque Manu não conta para a gente, totalmente o que vai acontecer. Mas alguma coisa há de acontecer.

Você chegou a rever algumas cenas dele na novela? Eu não precisei rever, porque a novela estava muito viva na minha memória – eu assisti a Vale Tudo. Então,  eu tinha lembranças de cenas ainda, claro que eu me lembrava do Eugênio, da presença dele na mansão Roitman, eu me lembrava de muitas coisas da novela. Foi uma novela muito marcante para quem assistiu na época. Eu não revi, não fui para a televisão ver, acabei vendo algumas cenas, porque a gente acaba vendo – as pessoas postam na Internet. Resolvi não assistir a novela, como eu te disse, porque eu já tinha uma lembrança muito viva na minha memória da novela – me lembrava. E também porque eu tento fazer uma coisa, ou estou tentando pelo menos fazer uma coisa diferenciada do Mamberti, com todo o respeito e toda a admiração ao trabalho do Mamberti, mas eu estou fazendo o meu Eugênio, esse Eugênio dessa versão, esse Eugênio desse momento. E é isso. Eu já tive experiências de fazer personagens interpretados por outros atores, eu fiz durante muito tempo, nas séries. Eu fazia o personagem Aníbal, que era defendido pelo Paulo Gustavo no cinema, ao lado da Mônica Martelli, no Os Homens São de Marte, é para lá que eu vou. Eu fiz o mesmo personagem, só que no GNT, nas quatro temporadas dessa série. E era o mesmo personagem, eu acho que eu tentava fazer quase que simultaneamente, porque o Paulo fazia no cinema e eu estava ali na TV fazendo, fazendo o mesmo personagem. E a gente fazia duas coisas totalmente diferentes – o Paulo na chave dele, que era maravilhosa, essa linguagem cinematográfica, e eu ali dentro da TV, fazendo, no GNT, esse Aníbal, que era um Aníbal diferenciado do dele, mas que, em essência, era o mesmo personagem, porque era o mesmo personagem, né? Eu fazia com uma visão minha e Paulo, com uma visão interpretativa dele, que era esplendorosa e maravilhosa. E acho que eu também fiz direitinho, do meu jeito, ou como eu entendia o personagem, e o Paulo fazendo o dele. A gente não tem que comparar muito as interpretações, mas a gente pode se inspirar. Evidentemente que alguma coisa tem do Eugênio Mamberti ali, tem o meu Eugênio, tem o meu jeito de fazer, o meu jeito de interpretar. 

Como você está construindo o seu Eugênio? Eu acho que eu já respondi meio na de cima, mas eu torno a repetir – eu estou construindo o meu Eugênio no afeto. Eu acho que o Eugênio criado por Manoela, é um cara que está ali, como eu falei antes, acolhedor. Ele é uma pessoa que tem uma compreensão, tem um carinho por Dona Helena. Na primeira versão da novela, o Eugênio era muito mais próximo de Dona Celina. Ele continua muito próximo de Dona Celina, mas nessa versão ele está muito próximo da Helena Roitman. Ele tem esse olhar acolhedor, carinhoso. Eu acho que ele é, de alguma forma, empático. Eu gravei uma cena onde ele explica para ela que ele também tem problemas, que ele tenta parar de fumar e que tudo é difícil. Ele tem esse olhar para ela, de estimular, de botá-la para cima, de dar essa força, que é muito importante. Não sei se é recuperação a palavra que se usa para falar dos alcoólicos, com perdão dos alcoólicos, mas é uma luta quando essas pessoas  param de beber, é uma luta diária. É uma briga constante consigo para não voltar, para não beber. E é muito importante ter um padrinho. No A.A.(Alcoólicos Anônimos) cada um tem um padrinho, a gente sabe disso. Eu acho que o Eugênio é meio que o padrinho ali, se fosse o A.A., não é o A.A., mas ele ocupa esse lugar – desse cara que estimula, que dá força, que está ali. Então, eu tenho construído ele com esse olhar. Eu tenho tentado trazer esse olhar carinhoso. Em algumas cenas, eu acho que tem rolado bastante isso – em cenas que a gente gravou. Eu fiquei muito satisfeito. A Paolla ficou satisfeita com essa troca, com essa relação. 

Como está sendo a parceria com a Paolla Oliveira, Malu Galli e a Débora Bloch? Está sendo um privilégio contracenar com essas atrizes maravilhosas, incríveis, ali no set. Poder  ver o processo delas de criação, como elas chegam no personagem, é muito estimulante. Através de um trabalho muito dinâmico, a gente grava o dia todo. Às vezes, as cenas são gravadas de ponta-cabeça numa novela – você grava a ressaca antes do porre, e é muito louco isso. Muitas vezes, a gente está gravando uma cena de uma coisa que ainda vai acontecer. Então, a gente tem que estar muito ligado, tem que estar muito junto ali, dando apoio, tentando se ajudar, mas de onde a gente veio agora, como é que eu cheguei aqui, e especialmente, especificamente, gravar com essas três atrizes deslumbrantes, que fazem parte do meu núcleo. A Débora, eu conheço há mais de 40 anos, é uma referência da minha geração, ela é a Bete Balanço da gente. Eu tive o privilégio de fazer novelas com ela, tive a sorte de produzi-la em teatro, como atriz – produzi uma peça para  ela com o Luiz Fernando. Então,  eu tenho uma relação antiga com a Débora, de carinho e de admiração. A Malu Galli, eu nunca havia trabalhado com ela, mas, evidentemente, a conhecia de trabalhos na TV, dos desempenhos incríveis da Malu, uma atriz esplendorosa. No que diz respeito à Paolla Oliveira, para mim, é um fenômeno, eu já era muito fã dela, muito fã, desde outros trabalhos que eu assisti. Essa admiração cresceu muito – Justiça 2 a aumentou. Imagine, poder trabalhar com ela. Paolla é uma atriz estudiosa, dedicada, trabalhadeira. Ela se dedica a tudo que ela faz, ela quer fazer, chegar lá. Paolla é uma pessoa muito ligada, e é um prazer poder estar ao lado dela, vivenciando esse momento tão esplendoroso, para ela, que é o exercício de fazer a Heleninha e eu seguindo junto ali, com meu Eugênio.

Veterano na TV, como você vê a nova geração de humoristas? Os humoristas são de um talento impressionante. A nova geração que chegou aí, eu digo que é uma geração que é criadora. Eles criam os personagens, eles inventam essa coisa do stand-up, eles falam os textos deles. É uma coisa que eu já fazia também há algum tempo atrás ao lado do Aloísio de Abreu e da Marcia Cabrita durante muitos anos. A gente fez Subversões, que era um espetáculo cantado, mas que parodiava músicas de sucesso – a gente colocava o nosso texto, que era cantado. Eu tenho muita admiração, especialmente por alguns atores, como Eduardo Sterblitch, que é um ator completo, Thalita Carauta, que tem veia humorística grande – tenho uma admiração imensa por ela. Tatá Werneck – um deslumbramento, um poder de improviso, um poder, uma coisa, eu sou admirador.  Eu acho muito legal que a gente que trabalha com humor, a gente veja essa nova geração chegando – acho que é a mesma alegria da qual me lembro quando eu cheguei pra trabalhar, quando eu comecei a aparecer. Agildo Ribeiro falou de mim, da minha entrevista, eu fiquei tão feliz. Eu espero que esses meninos que eu tô citando agora fiquem felizes também – eu tô citando eles com muito carinha de admiração, e acho que a vida é assim. O novo vai chegando, a gente vai ficando um pouquinho ali sentadinhos pra trás, é normal, supernatural que aconteça isso. Quando  cheguei para trabalhar, a turma que veio antes de mim, que tava lá, que era referência também, que era Agildo Ribeiro, Paulo Silvino… Tô falando de pessoas do Zorra Total com quem eu tive o privilégio de trabalhar. Lúcio Mauro, com quem eu tive a privilégio de contracenar e trabalhar, acho que essa geração é de um talento ímpar.

Você acha que o humor teve alguma modificação? Eu acho que sim. Acho que o humor sofreu modificações, como todos nós sofremos modificações. A sociedade sofreu modificações, a gente vai se adaptando – graças a Deus, aos novos tempos. E acho que, claro, a coisa do politicamente correto levou a gente a um outro lugar para fazer humor, para fazer comédia. A gente tem que ter cuidado. Eu não gosto do corpo politicamente correto. Eu acho que esse politicamente correto serve para a gente na nossa vida. A gente tem que ser correto. Não devemos ser homofóbicos, jamais sermos racistas, xenófobos, enfim, misóginos. A gente tem que ter esse cuidado na nossa vida. Isso se reflete no humor, evidentemente. Se algum tempo atrás a gente tinha, entre aspas, uma liberdade de brincar com as coisas, a gente agora tem que ter atenção, porque fazer humor não significa exatamente ofender alguém. E acho que, futuramente, a gente vai chegar num equilíbrio pro humor. Hoje em dia, as pessoas ainda estão muito radicais. Ah… não pode falar, porque não sei o quê lá, porque o humor não é uma coisa pra ofender – é pra, às vezes, para ressaltar, pra chamar atenção de alguma coisa com humor e com graça, alguma situação que tá acontecendo, entende? E o humor é muito importante, as pessoas precisam se divertir. Mas eu acho muito legal que hoje em dia o humor tenha dado essa guinada.

Você trocou Rio por Salvador já tem alguns anos. Como está sendo essa experiência? Eu troquei. Há oito anos eu fui morar em Salvador. Eu estava querendo sair do Rio, estava passando por situações muito particulares e pessoais minhas. Tinha perdido minha mãe, perdido algumas pessoas próximas a mim e o Rio de Janeiro já não era para mim, o que havia sido e eu não estava muito satisfeito de estar por aqui. E aí fiquei pensando “para onde eu vou”, para onde eu vou e eu falei, “cara, eu vou morar no lugar onde eu fui mais feliz na minha vida, que foi Salvador, onde eu como turista, como visitante, eu acho que foi o lugar que eu mais fui na vida”, tirando São Paulo, que a gente vai a trabalho, mas o lugar que eu mais fui assim porque eu queria estar, porque eu queria ir, foi Salvador. Então, acho Salvador uma cidade muito parecida com o Rio de alguma maneira. Primeiro que é uma cidade solar, tem praia e a energia do povo alegre, feliz, contente, e uma cultura muito grande, a cultura afrodescendente, a cultura preta, a cultura negra que pulsa e que movimenta aquela cidade. Isso sempre me atraiu muito. E aí eu resolvi ir para Salvador, mas sempre é uma grande alegria poder voltar ao Rio de Janeiro, que eu amo, apesar de ter escolhido Salvador para viver. Meu amor por essa cidade é imenso. Eu nasci aqui, eu tenho amigos, referências, eu vivi uma vida inteira aqui. Então, está sendo incrível poder estar aqui por esse período, mas poder voltar à minha casa em Salvador, estar lá e cá, mais cá do que lá, mas está sendo muito bacana essa experiência.

Você é um homem vaidoso? O que você faz pra cuidar da beleza e do bem estar? Eu sou cuidadoso, cuidadoso comigo – ma coisa que eu comecei a fazer meio tardiamente sabe? Se eu soubesse, eu teria me cuidado um pouco antes de tudo. Teria começado a me cuidar. E eu faço tudo que estiver ao meu alcance para me cuidar. É uma vaidade? Vamos dizer assim, porque vaidoso fica parecendo uma coisa meio… Não, eu acho que a gente chegou num lugar em que a gente tem que se cuidar mesmo para poder viver bem, para poder melhorar a nossa autoestima, para a gente poder ter confiança no nosso taco. Então, eu faço tudo. Eu faço de preenchimento ao botox – tudo com cuidado. Eu acho que tudo tem que ter um cuidado. Eu me exercito, vou à academia, faço dieta, tomo vitaminas. Eu faço tudo para me manter e cuido da minha pele, como deve ser. Faço exercícios, faço tudo. E se alguém me dá uma dica de alguma coisa para fazer, vou lá. Não tenho nenhum pudor com isso. Acho que todo mundo, homens, mulheres, eles, elas, eles, zelos, todo mundo tem que se cuidar para ser feliz e contente, para poder ter uma vida bacana com a sua autoestima resgatada. Agora, passando essa temporada no Rio de Janeiro, estou cuidando da beleza na Clinica Rio Arte, que tem protocolos exclusivos.

Quais são seus projetos pós-novela? Eu adoraria poder fazer outra novela, mas as novelas dependem de convites. A gente fica sempre dependendo de ser chamado para fazer alguma coisa, para ter um papel adequado para a gente. Alguém tem que nos convidar. Mas eu volto para a minha casa em Salvador e continuo com um trabalho que eu desenvolvi depois da pandemia, que é um trabalho social. Eu faço o Projeto Axé, que é uma ONG que acolhe jovens das periferias de Salvador. Jovens, às vezes, em situação de rua. É um trabalho lindo no Projeto Axé. E eu faço lá a minha contribuição social para esse projeto – é preparar os jovens que têm interesse em fazer teatro, em entrar para o mercado do audiovisual. Eu volto a partir de outubro. A gente começa uma oficina que vai durar um ano, apoiada pelo governo da Bahia, para esses jovens, em que a gente vai capacitá-los para o mercado do audiovisual – desde a interpretação, até como filmar, como gravar. É um trabalho muito gratificante, que eu tenho feito já há algum tempo e tem me dado muitas alegrias. Desde o fim da pandemia, eu venho me dedicando a isso. Assim que a novela terminar, e eu estiver livre aqui, eu volto para Salvador, para desenvolver, resgatar, na verdade, esse trabalho que me enche de alegria, mas sempre na expectativa de, quem sabe, ser chamado para uma nova novela, uma série, um filme… A gente vive assim. A gente está em tudo que é canto, onde tiver coisa para a gente fazer. Eu lembro da frase do… Frase de Chacal, um dos meus poetas favoritos, que é “enquanto tiver bambu, flecha nele”. A gente está fazendo flecha, está jogando, se atirando, e na luta. 

Fotos: Nanda Araújo / Styling: Samantha Szczerb / Agradecimentos: DLZ, Ellus e Democrata Assessoria de imprensa: Julyana Caldas