VAIDADE: BARBA NO AMBIENTE DE TRABALHO?

A barba é um troço cada vez mais comum. Homens de todas as idades estão aderindo a essa moda. E as barbas são de todos os estilos, umas bem curtinhas e desenhadas, outras grandonas e cheias, e há também muitos que não ligam para as falhas na barba e as deixam crescer. Bigode? Também está em alta. Mesmo com este movimento crescente, ainda há preconceito à barba. Dá pra acreditar neste atraso? Em 2020? Sim, existe!

Vamos começar falando sobre um grupo de pessoas (homens e mulheres) onde praticamente não há essa bobagem contra a barba: nossos amigos nerds. Esses caras estão vários passos à frente por não ligarem muito para a opinião dos outros, eles são autênticos e fazem o que bem entendem. Afinal, eles estão preocupados com seu trabalho, seus compromissos. Tiro meu chapéu para eles – e tenho orgulho de ter um pé nesse grupo. A barba não merece rótulo, pois ela não é privilégio dos nerds, nem dos fortões, fracos ou lenhadores. Barba é algo natural dos homens, simples assim.

Alguns homens, entretanto, não deixam a barba crescer porque sentem alguma hostilidade em relação a isso em seu ambiente de trabalho. E vou contar pra vocês que eu também já sofri com isso. Foi logo depois da faculdade. Eu me formei em engenharia, mas assim que eu pude, resolvi me enfiar no tal do mercado financeiro. E a minha porta de entrada foi um grande banco. Eu gostava bastante de usar terno, gravata e fazer a barba todo dia, eu andava sempre impecável. Mas em uma determinada segunda-feira, eu apareci com uma barba de 2-3 milímetros, muito bem desenhada, também impecável, pelo menos para mim. Bom, talvez só pra mim. Logo que eu cheguei ao trabalho, meus colegas começaram a fazer piadinhas dizendo que eu ia levar uma bronca quando a chefe chegasse, e eles estavam certos. Quando ela me viu, ao invés do bom dia eu escutei: “Pensei que você trabalhasse em um banco”, seguido de “ali na esquina tombou um caminhão de lâminas de barbear, quer que eu vá buscar uma pra você?” e, terminando com “amanhã volte ao normal”. Normal?!?

Eu nunca “precisei” ter barba, mas me incomodava muito o fato de sua proibição. Tem algo mais natural que isso? Caramba! Cresce no nosso rosto e não podemos assumir isso? Pois eu trabalhei mais 3 anos depois desse puxão de orelha, sem nada de barba, nada mesmo. Depois, em empresas menos conservadoras, isso mudou e eu comecei a deixar a barba crescer. Hoje, uma barba grande e muito bem cuidada.

QUANDO PODE E QUANDO NÃO PODE

Para o João C. A., de São Paulo, ocorreu algo não muito diferente. No início de sua carreira ele não se sentia à vontade para deixar a barba crescer, sempre a deixando muito baixa. Atualmente, depois de uma trajetória consistente de mais de 10 anos como consultor estratégico, sente que isso mudou. Ainda assim, não é raro ouvir piadas e receber o apelido de “barba”, ou “barbudo”. Mas afirma que mesmo com as piadas, tem a certeza que isso não afeta a sua imagem profissional.

Tenho certeza que vocês, das mais variadas profissões (médicos, mecânicos, pilotos, recepcionistas, professores, atletas ou advogados) já passaram por algo semelhante ao que passei. E será que tem gente que nunca experimentou só pelo receio de ser chamado de “náufrago”?

Já para Rafael A., advogado com 29 anos, a reação a sua barba também já foi desagradável: “Ainda é comum que a barba seja relacionada a descuido ou a sujeira, mal sabendo eles que manter uma barba dá muito mais trabalho que deixar o rosto liso diariamente.” Temos que considerar que em algumas profissões realmente não é permitido por questões de segurança. Isso acontece em algumas plantas industriais onde se faz obrigatório a vedação da região da boca por máscaras que não funcionam com a barba. Mas são raras as atividades profissionais que formalizam a sua proibição.

Combater a acusação de desleixo é fácil, basta ter uma barba bem cuidada. E se você quiser uma barba desarrumada? Eu entendo que você deveria poder ter qualquer barba, basta entregar suas tarefas conforme combinado, certo? Mas tenho que admitir que ainda vivemos em um mundo cheio de códigos de aparência, com regras de roupas e comportamento. As mulheres também sofrem por não poderem usar saias ou decotes, pois dizem que é desrespeitoso. E a barba às vezes também é tratada como tal.

Está com dúvida se a barba é um problema? Converse com o seu gestor. Você poderá ter como surpresa uma resposta assim: “barba nunca será um problema, o mais importante é você estar bem aqui, sentir a motivação necessária para entregar um bom trabalho”. Resolvido isto, deixe a barba!

EXECUTIVO OU LENHADOR?

Tenho esperança na redução do preconceito no curto prazo. Digo isto com segurança, pois andando pela região da Avenida Paulista, onde estão localizadas muitas instituições financeiras e escritórios de advocacia, conhecidos por terem ambientes mais conservadores, é cada vez mais comum ver um cara de terno e barba grande, e bem feita, valorizando ainda mais um belo nó de gravata.

E os lenhadores? Eu sempre dou risada quando falam que a minha é “estilo lenhador”. E lenhador vai ao barbeiro a cada 20 dias? Usa óleo e balm para barba? Acho que não! Enfim, me divirto com isso.

Não importa o estilo de barba que você usa ou pretende começar a usar. O que importa é você estar bem e cultivar uma barba que não atrapalhe a sua rotina. Às vezes, o preconceito vem da gente e não percebemos isso. Às vezes, temos receio de deixar a barba porque não queremos chamar nenhum tipo de atenção, possivelmente por não estarmos felizes no nosso trabalho, e consequentemente trabalhando mal e, ainda assim, colocando a culpa – sem perceber – numa possível mudança no visual.

Convido vocês a darem uma olhada no vídeo do Blog da Barba no YouTube sobre esse assunto. Lá vocês poderão ler depoimentos de diversos barbudos. Pode ser uma experiência interessante para fechar essa discussão.