Carioca da gema, Paulo Lessa pode se gabar de ter emplacado três belos trabalhos seguidos nos últimos tempos. Seu talento e carisma não só conquistaram o público, mas também autores e diretores. Atualmente interpretando o misterioso Netuno em Família é Tudo (Globo), ele tem surpreendido por trazer um outro Paulo para dar vida ao personagem num pequeno espaço de tempo entre seu Jonatas de Terra e Paixão (Globo). Esse é o grande desafio para o ator e esse tem sido o grande diferencial do nosso homem da capa. “Espero no futuro estar orgulhoso do meu caminho e das minhas escolhas”, declarou ele ao longo dessa entrevista. Sem dúvida ele só terá orgulho diante da galeria de personagens marcantes que tem acumulado. E nós da MENSCH, sempre aqui acompanhando seus passos, fomos até o MGallery em Santa Teresa, no Rio de Janeiro, para produzir esse ensaio cheio de estilo que você confere logo abaixo.
Paulo, com seu trabalho atual em Família é Tudo, você pegou uma ótima sequência de personagens dentro da Globo. Esperava por isso ou foram surgindo os convites e você aceitando os desafios? Então, para falar a verdade, eu não esperava essa sequência, mas eu desejava muito. Mas eu não esperava, porque já fazia algum tempo que eu não fazia novelas na Globo. A última novela que eu fiz na Globo foi em 2017, A Lei do Amor. E aí, quando eu voltei para fazer Cara e Coragem, que foi o início dessa sequência. Eu estava tendo ali uma grande oportunidade de fazer um protagonista, com grandes atores, mas eu não sabia o que ia ser pra frente. Se eu tivesse mais oportunidades, como é que ia funcionar. E ainda bem que tudo correu bem, né? Que tudo certo, e as oportunidades continuam. E, para mim, como bom capricorniano, é o que eu mais quero. Trabalhar, continuar tendo oportunidade, é o que me interessa nesse momento. Caminhos abertos.
Depois de Jonatas veio o misterioso Leo / Netuno. Que é um personagem cheio de camadas. Como ator, quando se depara com um personagem assim o desafio deve ser ainda maior. Como foi ir descobrindo o Netuno? Pois é, os grandes personagens são sempre maravilhosos e o Netuno foi um mistério desde o começo. Eu não sabia exatamente como ia desenvolvê-lo, pois ele era um personagem misterioso até para mim e fui descobrindo aos poucos essas camadas do Netuno. Uma dessas partes que mexeu muito comigo, foi a descoberta da mãe, esse reencontro com a mãe, que eu fiz com a Alexandra, que é uma grande atriz, que a gente já trabalhou junto, mas foi difícil essa composição assim, porque acaba mexendo muito na nossa vida particular também, e enfim, está sendo um personagem incrível de fazer. Muitas vezes as pessoas falam, “a novela das sete, uma novela mais leve, uma novela mais tranquila”, mas é um personagem com conflitos muito importantes, muito sérios, e para mim, está sendo desafiador e muito gostoso de fazer.
Um personagem, e duas personalidades. Sabia muita coisa dele quando aceitou o papel? Então, como eu falei, o Netuno, desde o início, foi um grande mistério para mim. O Daniel Ortiz não me revelou muitas coisas logo de cara. Então, foi um personagem misterioso até para mim. Então, foi uma composição que foi acontecendo durante a novela. Eu fui descobrindo esses conflitos, pesquisando e tentando compor esse personagem. Claro, emprestando muita coisa para ele, porque eu acho que, inevitavelmente, acaba tocando em alguns conflitos nossos, particulares. E, inevitavelmente, a gente empresta para o personagem muita coisa da nossa vida. Mas é um personagem que, até quase agora, muita coisa eu fui descobrindo junto com o público, praticamente.
Depois de uma novela no horário das 21h, outra no horário das 19h. É sempre mais leve e divertido esse horário? Pra você faz alguma diferença? Pois é, é a minha segunda novela das sete e geralmente a novela das sete é a mais leve, a mais dinâmica e não se aprofunda tanto assim nos conflitos, nos dramas dos personagens. Então, é geralmente mais leve, mais ágil. Mas o Netuno, especificamente, meu personagem, desde o início da novela tem conflitos muito pesados. Então, o envolvimento com a criminalidade, tem o abandono…têm essa ausência da mãe. É um cara que não tem uma família. Então, são questões muito pesadas, mesmo numa novela muito leve, muito divertida, tem é essa contradição, mas que é muito bom, porque a gente alterna ali momentos muito divertidos do próprio Netuno.
Você caiu no gosto não só do grande público, mas de diretores e autores. A que se deve isso? Olha, modéstia à parte, eu acho que é dedicação, qualidade do trabalho. Acho que eles tiveram a oportunidade de conhecer um pouco mais de perto o meu trabalho. E eu acho que isso se deve à oportunidade, né? E eu fico muito feliz de ter tido muitas oportunidades agora recentes, que propiciaram isso, que permitiram que esses profissionais acompanhassem o meu trabalho um pouco mais de perto. E, com isso, acreditarem nesse trabalho. Então, fico feliz, fico muito feliz do público estar curtindo o meu trabalho, mas também dessa galera da classe artística como diretores e autores, admirarem o meu trabalho e acreditarem em mim, me dando a responsabilidade para criar bons personagens.
Existe alguma técnica para desapegar de um personagem e entrar no clima de outro totalmente diferente? Acho que a melhor maneira de desapegar é tirar férias mesmo. Apesar de nos últimos tempos eu não ter conseguido tirar tanto tempo assim, e não lamento isso, mas a minha saída é essa, pelo menos inicialmente, desapegar totalmente do lado profissional. Tentar ficar ali com a família, amigos, sabe? E fazer as coisas do dia a dia mesmo, como praia, uma boa viagem, tudo isso ajuda a gente a desapegar um pouco. Mas eu confesso que eu adoro trabalhar, adoro o que eu faço, e às vezes começar a composição do novo personagem é o que me faz desapegar do antigo.
Fora dos holofotes você parece ser um cara que sempre praticou esportes e cuidou bem da alimentação. Como costuma ser essa rotina? Do que não abre mão e quando se permite sair dela? Eu sempre gostei de me cuidar não somente por questões estéticas, mas muito mais por uma questão de saúde mesmo. Eu procuro manter uma vida e hábitos mais saudáveis, então, o que eu não abro mão, sendo nascido criado na zona sul do Rio de Janeiro, aqui em Copacabana, é de estar conectado à praia. Geralmente as minhas atividades físicas são sempre ligadas à praia. Gosto muito de fazer treinamento funcional na areia, gosto de correr na areia, sempre são atividades que são conectadas à natureza. E também, vale ressaltar que, hábitos saudáveis e atividade física, já fazem parte da minha vida, mas sem nenhuma obrigação. Não tenho nenhuma dieta muito rígida, mas na maior parte do tempo eu tento levar uma vida saudável, mas sem nenhum peso sem nenhuma obrigação.
Quando você está como telespectador, o que procura assistir? O que prende sua atenção? Como telespectador eu gosto muito das séries. Geralmente produtos menores, mas que a gente consegue maratona e termina logo, eu adoro! Principalmente do gênero de suspense Esses geralmente prendem muito minha atenção.
Após da novela, algum projeto em vista? O teatro é uma possibilidade? Depois de Família é Tudo a única coisa que eu penso é em férias! Descanso um pouco, o que já posso adiantar que não será por muito tempo (risos), pois já tenho um novo projeto para iniciar esse ano. Ainda não posso revelar por questões contratuais, mas logo logo todo mundo vai saber! Mas já fechei contrato, já comecei as leituras e a ter contato com os colegas também. E sim, o teatro é uma possibilidade. Já tem bastante tempo que eu não faço teatro, mas também gosto muito! Mas o audiovisual me pegou de um jeito que eu não consigo sair (risos), e o teatro geralmente a gente tem essa demanda de ensaios e preparação um pouco maior. Muitas vezes por questões financeiras, eu tive que escolher o audiovisual. E isso passa por questões de responsabilidade não apenas comigo, mas com a minha família também. Mas fazer teatro sempre foi uma possibilidade aberta em minha carreira.
Onde mora sua vaidade como ator? Acho que a minha vaidade como ator mora no desejo de emocionar as pessoas. Eu geralmente faço as minhas cenas, e se há alguma pretensão nelas, é conseguir tocar as pessoas, para que se identifiquem comigo, se inspirar não simplesmente com meu trabalho, mas com a minha presença ali, como eu já fui impactado com outros atores e personagens também. A gente sabe o quanto a representatividade importa e a minha vaidade como ator é estar nesse lugar, da minha presença, simplesmente, ser importante para o maior número de pessoas possíveis e que eu possa inspirar e emocionar muita gente.
E do que não abre mão como cidadão? Olha, eu acho que eu não abro mão do meu direito de ir e vir, meu e da minha família. Não deixar que a vida artística interfira nessa paz, nessa tranquilidade que eu adoro. Então procuro ter uma vida muito comum, fazer as coisas corriqueiras, do dia a dia. Então, como cidadão, não abro mão dessa minha liberdade. Eu acho que é tentar separar um pouco as coisas, não deixar que a vida artística me limite, nem limite minha a família de poder ter uma vida comum, é isso que eu não abro mão disso.
Quem é Paulo Lessa hoje e como se vê daqui há 20 anos? É difícil se definir, porque a gente pode ser muita coisa. Mas acho que o Paulo Lessa hoje é um ator em construção, um pai em construção. E espero que daqui a 20 anos eu esteja orgulhoso desse caminho, que eu possa continuar aprendendo e me desenvolvendo nesse tempo todo. Difícil essa pergunta, mas é isso, espero no futuro estar orgulhoso do meu caminho e das minhas escolhas.
Fotos Marcio Farias
Prod Executiva e styling Samantha Szczerb
Beleza Zuh Ribeiro
Agradecimentos M Gallery (locação), Raffer e Ori Rio (looks)