CAPA: RAPHAEL LOGAM É UM PERIGO EM “FAMÍLIA É TUDO”

Nosso homem da capa, o ator Raphael Logam é um veterano de séries de TV, do drama ao humor, ele já fez de tudo um pouco. De mocinho a bandido, Raphael ultimamente ficou a cara da série Impuros, onde desde de 2018 dá vida ao personagem Evandro. E para este ano vem mais com as estreias de O Jogo que Mudou a História (Globoplay) e Capoeiras (Star+). Porém, seu novo desafio tem sido outro, ele será o grande vilão de uma novela. No caso Família é Tudo que estreia no início da semana. A MENSCH foi conversar com Raphael para entender um pouco do que vem por aí e como ele está encarando este desafio.

Por Márcia Dornelles

Você vai viver o antagonista dos irmãos Mancini na nova trama das 19 horas da TV Globo Família é Tudo. Como vai ser seu personagem? Hans é um cara muito focado no trabalho e, merecidamente, tem o cargo mais importante do império da família Mancini (gravadora). Cargo esse que fica abaixo apenas da presidente, sua tia, Frida Mancini (Arlete Salles). Hans dá o sangue e o suor pra tocar o negócio de sua tia e, por isso, acha que também merece estar em seu testamento. Com o sumiço de Frida, ele vai fazer de tudo pra herdar essa herança, pois acha que seus primos não merecem receber nada, já que nunca fizeram nada para ter esse patrimônio – eles vivem da mesada da avó. Com isso, eles criam uma rivalidade. E para alcançar seu maior objetivo, Hans conta com sua mãe, Catarina (Arlete Salles), e Mila (Ana Hikari), sua secretária na Mancini.

Você fez participações em outras novelas, como está sendo o desafio de encarnar seu primeiro vilão? Sim. Fiz participações em diversas novelas. A última, que seria a maior, foi em Amor de Mãe, fazendo o professor Felipe. Mas, com a pandemia, tivemos que parar e tirar o personagem, porque ficaria dentro de uma sala de aula com os alunos, e na época não podíamos mais juntar uma certa quantidade de pessoas no mesmo ambiente. Fiz outros trabalhos no audiovisual, em plataformas de streaming, e voltei agora e com um personagem maravilhoso! É uma delícia interpretar o Hans e dividir cenas com a diva Arlete Salles, uma dama da TV e do teatro, super profissional que assisti desde cedo na TV, além de todos os companheiros e companheiras de profissão que me receberam muito bem. Me senti muito acolhido. E a Ana Hikari, outra parceira constante de cena, por cujo trabalho eu sou apaixonado – uma grande atriz e uma grande colega de trabalho, também. Ela e Arlete são atrizes potentes de gerações diferentes e isso tem sido ótimo pra minha vivência profissional.

Antes de começar as gravações de Família é tudo você estava envolvido no projeto Capoeiras como é sua vivência nesta arte? Exatamente. Terminei o projeto Capoeiras (nome provisório) e pouquíssimos dias depois, já estava em cena com os meus novos colegas. Pra falar sobre a minha relação com a Capoeira, precisaríamos de uma nova entrevista apenas com esse assunto (risos)… Mas, tentando resumir, tenho 38 anos de idade e faço capoeira há 36. Aprendi a andar, literalmente, na capoeira e, foram esses passos que me guiaram até aqui – e continuarão me guiando pelo resto da minha vida. O projeto Capoeira, é um sonho que eu vinha tentando realizar há mais de 20 anos por se tratar do livro do meu Mestre Nestor Capoeira, que li ainda muito jovem, lá pelos 14, 15 anos. Desde então, eu vinha tentando viabilizar este projeto. Tentei montar uma peça, tentei fazer longa-metragem, porque eram as únicas opções que tinha na época. Mas, finalmente, no momento certo, consegui juntar as pessoas certas e fazer acontecer, resultando num projeto muito bacana no audiovisual, e que vai contemplar um público amplo. Enfim, consegui juntar as duas coisas que mais amo fazer na minha vida (só sei fazer essas coisas, risos): atuar (o que faço desde os 12) e jogar capoeira (que faço desde sempre).

Você estreou (23/02) uma série com George Sauma, Luana Martau, Fernanda de Freitas, pode contar um pouco sobre a produção? Sim. Acabamos de estrear a nova temporada da série Matches, da Warner Channel, um projeto delicioso onde nos divertimos muito! Fizemos nosso trabalho com alguns colegas novos e outros de longa data, vindos dessa amada profissão. A série fala sobre esses quatro amigos que estão sem sorte no amor e se aventuram no app de relacionamento. Com isso, acontecem vários e hilários encontros. Uma delícia! O meu personagem é um chef de cozinha que abriu em SP – o Benjamin. Um restaurante que leva  seu nome e é super bem-conceituado. Ao se separar, ele perde tudo pra sua ex-mulher e vai passar um tempo no RJ com o Escovão (George Sauma), seu amigo que mora na capital fluminense e o convida pra ser sócio no bar que ele está reabrindo. Apesar de ser algo mais simples do que seu restaurante anterior, ele topa a empreitada e, nesse ínterim, através do aplicativo que Escovão sugere, ele começa a ter muitos encontros – e desencontros.

Como surgiu o convite para viver um policial com o Afroreggae para o Globoplay? Na pandemia, conheci pela Internet, através de um amigo querido, o José Júnior. Fizemos lives e conversamos muito por telefone. Ele me elogiou como ator e disse que iríamos trabalhar juntos, que ele tinha um personagem e que ele só conseguia me ver nele. E eu amei, nos demos super bem e realmente aconteceu. O jogo que mudou a história vem aí, e vem forte! Um elenco forte e uma história emocionante com uma superprodução do Globoplay. Na série, eu faço um personagem inspirado num amigo do Junior, com quem eu pude trocar ideia e fazer meu laboratório – ele é um policial penitenciário. Na história, ele começa como um estudante e vê uma oportunidade de emprego como agente penitenciário e topa a empreitada pra se manter na faculdade. Só que lá ele percebe que existe um problema no sistema prisional e vai mudando seu olhar nessa vivência.

Como foi participar do longa-metragem O Faixa Preta – A verdadeira história de Fernando Tererê? Eu fui convidado pra fazer uma participação de três dias. Como eu gosto muito de me jogar nos processos, de ensaiar, de fazer toda a pré, fazer laboratório, enfim, e fui fazer jiu-jitsu onde o Tererê dá aula, em Ipanema, na subida da comunidade do Pavão-Pavãozinho e Cantagalo, porque é o local onde o personagem que eu faria havia treinado por muitos anos (hoje ele mora na Suécia). Trocamos muitas ideias e acabei ficando amigo dele. Até então eu nem teria cenas de lutas, apenas uma bem específica. Passei um mês treinando, entendendo o que seria essa luta, tirando dúvidas sobre os movimentos, porque eu ainda sou faixa branca. Quando faltavam dois dias pra começar as filmagens, o ator que faria o Tererê precisou sair do projeto – e essa bomba-presente caiu no meu colo (risos)! Os investidores e o diretor, Caco Souza, queriam que fosse eu, mas eu só teria dois dias antes de gravar a primeira cena como Tererê! Então relutei, resisti, porque não queria fazer de qualquer jeito, não me sentia preparado pro papel no sentido da luta, mesmo, porque os movimentos dele eram mais precisos, e eu não queria me expor de uma maneira que não fosse bacana. Fui atrás do ator que faria o papel, e ele reforçou que não teria mesmo como permanecer no projeto.

Diante disso, não teve jeito, eu assumi. Porque eu sou ator preto, um homem preto, e um homem preto precisa estar preparado pra tudo. Eu fui me testando pro personagem, porque eu sou ator e o ator precisa estar em constante preparo. E assim foi o início de uma história maravilhosa que eu gostei de contar, porque é uma história forte, de superação mesmo! O Tererê ficou preso nos Estados Unidos sem saber falar inglês, tomando choque, tomando porrada, porque achavam que ele tinha relação com o terrorismo. A galera do jiu-jitsu o descobriu nessa condição e o trouxe pro Brasil, onde, depois de tudo que ele passou, se afundou na depressão, se envolveu com drogas, morou na cracolândia. Num dado momento, ele vira a chave com o auxílio de seu primo Leu, que cuidou dele com a família e o ajudou a dar a volta por cima. Nesse percurso entre a prisão nos EUA e a virada de chave, ele perdeu oito anos de vida, de treino, de tudo – enquanto os demais atletas seguiram se preparando e crescendo. Mas, ainda assim, ele volta aos treinos e entra nas lutas “passando o carro”, que é uma gíria que usamos no jiu-jitsu, porque esse esporte é um dom que ele tem. E ele entendeu que, mais uma vez, seria o jiu-jitsu que salvaria sua vida – e assim aconteceu. Além disso, com o dinheiro que ele foi ganhando ele abriu o Tererê Kids, academia onde ele segue dando aulas pra crianças que, fora dali, não teriam acesso a um esporte que é caro desde o quimono. E eu sigo sendo aluno dele.

Quando não está gravando ou envolvido com a arte da capoeira, o que você mais gosta de fazer para se divertir? Churrasco, samba, pagode… Tudo no modo caseiro ou em algum show de um ídolo e/ou amigo com a minha família e com amigos de fé que estão comigo desde sempre. E viajar! Amo me jogar em lugares desconhecidos ou revisitar lugares pelos quais me apaixonei aqui no nosso Brasilzão ou lá fora.

Sobre a vivência como um cidadão preto, você passou por situações delicadas em sua trajetória? Consegue perceber diferenças neste quesito entre antes e depois da fama? Sem dúvidas! Passei por poucas e boas nesses 26 anos na arte. Também precisaríamos de uma matéria exclusiva apenas para as histórias… Daria um filme! Com certeza as coisas melhoraram. A abordagem e os olhares são diferentes, mas como você mesmo disse, sou um homem preto, e este fato já faz de mim uma ameaça. E mesmo estando neste momento de vida, isso não me blinda de nenhum tipo de preconceito – e infelizmente vou levar isso pro resto da minha vida. Percebo um pouco alguma diferença nessa “pré-fama” (risos) – expressão que eu uso porque, por não ter estado até agora tão presente na TV aberta, muita gente ainda não me reconhece nas ruas, ou custa um pouco a reconhecer. Há pouco tempo passei por situações de abordagem policial e eu sempre tento não ser reativo nesses momentos, mas ainda assim é preciso que a polícia realize uma abordagem menos agressiva em qualquer cidadão. Então, só pelo fato de ser um homem preto neste país, é preciso estar sempre ligado. Sigo na fé dos meus Orixás, fazendo o caminho que eles, minha família, a Capoeira e a arte me ensinaram e sigo em frente construindo um mundo melhor pra quem tá vindo.

Como acha que seu trabalho e a evolução de produções audiovisuais podem melhorar a discussão sobre o tema? A resposta, todo mundo sabe –  parar de estereotipar. A criançada da favela tem que ter representatividade. Olhar a gente fazendo personagens bons pra que eles se inspirem e sonhem alto. E o meu trabalho é estar preparado pra personagens que vão mudar os pensamentos ruins dessas crianças e adolescentes que não têm o direito e nem tempo de sonhar. A minha galera tá fazendo acontecer. Tenho amigos maravilhosos e competentes em todas as áreas, pessoas preparadas pra mudar o mundo. E quem tem a caneta? Tá preparado e querendo mudar?

O que é preciso para conquistar Raphael Logam? Ah, aquilo tudo que faz com que a gente olhe pra outra pessoa com admiração, né? Que seja do bem, honesta, íntegra, trabalhadora, com caráter, que entenda meu trabalho, que goste de tomar banho (risos)… Sou leal à minha família e meus amigos. Então, se for uma pessoa que esteja chegando pra somar, vem que vai ser super bem recebida por esses que já estão na caminhada comigo.

Qual seu maior sonho? Buscar sempre a evolução como ser humano. E como ator, fazer mais e mais projetos com personagens bacanas e interessantes. Continuar evoluindo na carreira aqui e lá fora. Que eu tenha saúde e a benção dos Orixás pra isso!

Deixe uma mensagem para os leitores da MENSCH… Amem e respeitem suas famílias e amigos verdadeiros. Que seus sonhos se realizem e lembrem que, desistir deles não é uma opção. Tenha fé na sua fé e fé pra tudo! Avante!

Foto @leorosariophotos
Assessoria @marromglacecomunicacao